Capítulo 119
— Assim, concluímos aqui a reunião especial sobre o portão da costa sul.
Gwanghyeon, que sorriu ao se levantar, parecia um tanto cansado. Graças às entradas repentinas da Ladra Misteriosa e do Trapaceiro, a reunião que ele achara que acabaria rápido terminou muito além do previsto.
— Preparamos um pequeno evento para vocês. Se tiverem tempo, juntem-se a nós no Grande Salão de Banquetes para uma refeição em comemoração ao nosso lançamento.
— Agradeço a consideração, mas precisamos voltar. Temos compromissos. — Hagyun levantou-se e recusou educadamente. Não tinha tempo nem motivo para participar de cerimônia de abertura ou refeição.
— Também não estou com vontade de ir à cerimônia.
— Preguiça demais. Acho que vou pra casa comer ramyeon1.
Minju e Ayeon também demonstraram desinteresse em sequência. Ayeon, principalmente, havia passado a reunião bocejando sem parar, como se estivesse morrendo de tédio. Parecia ansiosa para sair daquela Associação abafada e tediosa.
— Que pena. — Enquanto isso, Yuhwan, de braços cruzados, abriu a boca devagar. — É um lugar preparado para nós. Que tal cada um tomar um drinque leve e depois ir? Quando mais teríamos a chance de nos reunir todos em um só lugar?
Claro, ele também estava de olho nas bebidas e comidas que a Associação preparou… Yuhwan se levantou e percorreu os rostos um a um.
O próprio Grande Sábio, Igual ao Céu, e Jaemin Heo ao seu lado. Doutora Planta e Myrtle Berry da Rosa. Trapaceiro da Legião, e sua família Junhwan Bae e Suhyeon Ham. Hagyun Lee, sub-líder da Lobo, e o homem de máscara ao seu lado. E por fim, com Ayeon Kang, a Ladra Misteriosa, e Yura Lee, a Princesa da Chama Negra, havia ao todo onze caçadores presentes. Tirando o homem de identidade oculta por trás da máscara, todos eram caçadores poderosos com habilidades certificadas. Eram verdadeiramente aqueles no topo da indústria de caçadores coreana. Contudo…
— Não quero dizer isso, mas nem todos nós talvez consigamos voltar quando o portão da costa sul abrir.
O ar ficou pesado no mesmo instante com as palavras de Yuhwan. Era prova de que dizia a verdade. Ninguém ali podia prever que tipo de batalhas enfrentariam no portão da costa sul. Mas todos podiam imaginar que não seria fácil.
— Estou errado, irmã? — Yuhwan lançou um olhar a Eunha, que permanecia em silêncio. — Você vai, certo? Estou preparado para a segunda rodada. E você?
Eunha ponderou por um instante. Estava considerando se comeria o ensopado picante de frango do jantar de ontem, ou se comeria ali…
Não demorou muito para tomar a decisão.
— Sim. — Quando Eunha assentiu, Yuhwan sorriu satisfeito, como se já esperasse. E então…
Pausa.
Minju e Ayeon, que já iam saindo da sala de conferências, pararam ao mesmo tempo.
— Hmm, se ela vai, então…
— …Pensando bem, não vejo motivo para recusar comida de graça.
Enquanto isso, não foram apenas os dois que pararam. Hagyun abriu a porta da sala e saiu, mas lançou um olhar de volta.
— Jovem mestre? Não vai?
Si-u permanecia parado, encarando as pessoas barulhentas dentro da sala. Logo disse, com voz grave: — …Pode voltar primeiro.
Iria participar da cerimônia? Hagyun duvidou por um instante da decisão inesperada e logo descartou.
“Ele deve ter seus próprios planos.”
Era um encontro de outros Ranks S. Havia grande chance de que falassem não apenas do portão da costa sul, mas também de outros assuntos. Ele era calculista, devia estar considerando várias coisas.
— Entendido. Voltarei e cuidarei do que me pediu.
— Certo. — Si-u respondeu curto, sem desviar os olhos da sala.
— Ei, vamos logo! Deu fome de repente!
— Pirralho, sai da frente. Ela vai comigo.
— Deve ter um bom álcool. Não é, irmã?
— …
Mesmo até Hagyun sair por completo, os olhos azuis de Si-u permaneceram fixos em um único ponto.
Eles se mudaram para o Grande Salão de Banquetes, no salão especial dois, conforme a orientação da Associação, e tiveram uma pequena festa sob o nome de cerimônia simples de abertura. Excluindo Hagyun, que saiu primeiro, havia dez pessoas participando.
Mas a comida e as decorações ali eram luxuosas demais para terem sido preparadas apenas para dez. Lustres deslumbrantes e bufês intermináveis se estendiam sob eles. Cartões dourados com nomes e vasos repletos de flores de todas as cores enfeitavam as mesas.
— Ainda bem que não fui direto pra casa. Uau, isso aqui tá um arraso! — Ayeon enfiou um bolinho em cubo polvilhado com pó dourado na boca e olhou em volta. — Mana, prova isso… Hã?
Mas Eunha, que estivera sentada ao lado dela até agora, havia sumido. Para onde foi? Quando Ayeon se levantou para procurar, Jaemin se aproximou segurando um prato abarrotado de comida.
— Talvez tenha fugido de você? — Jaemin se sentou naturalmente ao lado de Ayeon. Ela fez cara de vômito e torceu o nariz.
— Por que está sentado aqui? Esse lugar é da minha mana.
— E daí se eu sentar?
— Ugh, por quê. Vai sentar ao lado do peludo… quer dizer, do Grande Sábio, Igual ao Céu.
— Se você não comer isso, eu vou. — Jaemin ignorou e pegou o bolinho do prato dela.
— Mas que diabos?!
Enquanto o clima azedava, Eunha escapou para a varanda e olhou para trás. Felizmente, parecia que ninguém a tinha seguido.
— …Ufa.
Eunha ergueu a cabeça levemente cansada. A lua amarela e redonda estava alta no céu. O tempo havia passado voando enquanto sofria alternadamente entre Minju, Ayeon e Yuhwan.
Não era que ela desgostasse daquela atmosfera barulhenta. Apenas não estava acostumada. Eunha pretendia descansar um pouco na varanda silenciosa e depois voltar. Enquanto se apoiava no guarda-corpo gelado de vidro e observava a vista noturna da Seul adormecida…
— Olá.
Ouviu uma voz feminina calma atrás de si. Em vez do jaleco branco, um vestido longo e um xale translúcido… Era a Doutora Planta, Rose Geum.
— Vi você vir para a varanda e a segui. Atrapalhei?
— Não.
Quando Eunha respondeu brevemente, Rose disse, — Ótimo — e sorriu ao se aproximar. Os cabelos cor de vinho de Rose balançavam suavemente com a brisa noturna. — Acho que não agradeci devidamente naquele dia.
Aquele dia? Eunha lançou-lhe um olhar. Encontrou os olhos de Rose enquanto ela passava os dedos elegantes pelos cabelos.
— O que aconteceu no Monte Bokgye. Se não fosse por você, teria havido uma tragédia… Só de pensar me dá arrepios. Graças a você, a Rosa teve menos responsabilidade. Muito obrigada.
Ah. Pensando bem, o exame de qualificação de apoio na Colônia dos Mortos fora organizado pela Guilda Rosa. Eunha reconheceu novamente esse fato e respondeu secamente: — Só fiz o que tinha de ser feito.
Se ninguém tivesse se erguido, todos os participantes teriam ficado presos lá. Se ela tinha a capacidade e as condições, em uma situação em que alguém precisava agir, Eunha o faria sem hesitar. Ao refletir, sempre fora assim, desde que perdera seu lar e sua família. Nada de novo.
— …Mas. — Rose abriu a boca suavemente. — Como foi que você não teve o nome roubado pelo monstro chefe?
Pausa.
Eunha se congelou um pouco e voltou a encarar Rose. — …Você sabe dos detalhes.
— Porque recebi um relatório.
Swish…
De repente, um vento soprou pela varanda e fez os tecidos de suas roupas ondularem. Justo quando Eunha ia abrir os lábios após pensar…
Wham!
— Irmã, quando vai voltar? As bebidas estão esfriando.
Yuhwan abriu a porta da varanda e apareceu.
— …Hmm? Rose?
Entrou com vigor, mas parou seco ao encontrar Rose ao lado de Eunha.
— Estavam discutindo algo importante?
— Não. Só agradecendo pelo que houve no Monte Bokgye. — Rose sorriu e falou ao puxar de volta o xale que escorregava do ombro. — Senhorita Yura… certo? Agradeço novamente. Bom, com licença. — Rose acenou levemente e deslizou para fora da varanda. Eunha a acompanhou com o olhar silencioso de seus olhos negros.
— Bonita, não é?
De repente, Yuhwan enfiou a cabeça à frente dela. Ele sorria mostrando as presas, mas de algum modo parecia orgulhoso.
— É natural não conseguir desviar os olhos se a visse pela primeira vez hoje. Porque eu também não consegui. Hmm. Eu entendo, irmã. — Yuhwan assentiu e fitou o vazio com ar nostálgico, como se relembrasse velhos tempos.
…Parecia que ele tinha um pequeno mal-entendido. É verdade, Rose era tão bela que homens e mulheres viravam o rosto para vê-la, mas Eunha não estava cativada pela aparência. E não era a primeira vez que a via. O que a preocupava era outra coisa.
— Como foi que você não teve o nome roubado pelo monstro chefe?
O monstro chefe que encontrara na Colônia dos Mortos, o Homem que Perdeu o Nome. Mas ele não era, de fato, o verdadeiro monstro chefe. Segundo o Sr. Palhaço, era um caçador que desaparecera há muito tempo no Monte Bokgye. Para ser exata, era seu corpo, sua casca; desmoronaram como pó quando a luta terminou, sem deixar nem ossos.
De qualquer forma, o verdadeiro chefe era um monstro do tipo fada chamado o Governante dos Espíritos Vingativos, que roubava não só a vida dos vivos, mas também seus nomes. Não havia espaço para dúvida, já que no instante em que Eunha derrotou o Governante dos Espíritos Vingativos, o Homem que Perdeu o Nome também colapsou como uma marionete de cordas cortadas e o fenômeno de conversão em masmorra cessou. Todos os caçadores ali haviam testemunhado. Ninguém além de Eunha sabia que, antes de derrotar o Governante, ele tentou roubar-lhe o nome. Ou seja, a Doutora Planta dissera ter recebido um relatório, mas isso era falso.
— Certo, vamos entrar também. Achei um álcool bem bom. Parece que o presidente mão de vaca da Associação se esforçou desta vez.
Yuhwan cantarolava enquanto abria as portas da varanda. Com dúvidas na mente, Eunha lentamente o seguiu.
— Ah, você está aqui.
Minju correu até ela assim que voltou ao salão, largando o sanduíche que comia por perto. Também viu Ayeon chamando-a de longe, acenando. Mas Yuhwan enfiou a mão no meio, como se os bloqueasse.
— Crianças, caiam fora.
Minju parou no meio da corrida ao ouvir aquilo, e arregalou os olhos. E então…
— Mas que diabos esse peludo está falando?
— Pfft…!
Junhwan e Suhyeon, que bebiam em taças ao lado de Minju, cuspiram suco de laranja ao mesmo tempo. Assustados, enxugaram as bocas e olharam para Yuhwan. Mas ele, de alto astral, apenas ria do comentário atrevido de Minju. Isso não era o que importava para ele agora.
— Certo, vamos começar? — Yuhwan lançou um olhar a Eunha enquanto se sentava e erguia uma garrafa de álcool com expressão mais séria. — Está pronta?
Era o início da segunda rodada pelo título de Dionísio coreano.
- Miojo.[↩]

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