Capítulo 121
— Mestre, eu realmente não me dou bem com Lobos.
— Cale a boca e siga minhas ordens… Hã?
Yuhwan parou diante da cena à sua frente enquanto ia ao banheiro e voltava com Jaemin.
— … Mestre?
— Quieto.
Si-u e Eunha se encaravam de perto. O que estava acontecendo? Aquilo não parecia normal. Yuhwan os examinou com seriedade. Ele não conseguia ver a expressão de Eunha em seu campo de visão, mas podia ver a de Si-u com certeza. Embora Yuhwan fosse famoso por ser apático em tudo, exceto em treinamento e batalha, ele sentiu na pele. O olhar nos olhos de Si-u. Ele tinha certeza.
— Garoto. — Yuhwan disse, orgulhoso, com os braços cruzados. Então, ele subitamente se virou e fez um sinal para Jaemin, que estava ao seu lado. — Esqueci meu celular no banheiro. Siga-me.
— P-Perdão?
Yuhwan decidiu desocupar o local por mais um pouco para os jovens.
“Ver aqueles olhos ardentes também me faz lembrar dos velhos tempos…”
Era assim que um homem considerava os outros.
Isso havia acontecido cerca de vinte anos antes.
— Arremesso de costas! É isso aí! Muito bem!
— Eu sabia, Yuhwan!
— Não deveria pegar um autógrafo antes que ele se torne medalhista de ouro?
Naquela época, Yuhwan era um promissor praticante de judô. Todos ao seu redor acreditavam que Yuhwan se tornaria um futuro medalhista de ouro, e o próprio Yuhwan também almejava isso. Ele nunca pensou em uma vida sem judô.
Naquele dia, após passar mais de dez horas no ginásio, Yuhwan pegou o metrô para ir para casa.
— Sente-se aqui, Senhora.
Yuhwan pulou no momento em que viu uma senhora de idade com uma bagagem pesada. E não foi só isso; ele também levantou o enorme embrulho dela e o colocou no compartimento de bagagens.
— Ah, obrigada. Você é muito educado, Jovem.
Ele era, de fato, um modelo a ser seguido, com não apenas talento e habilidades, mas também lealdade aos colegas e consideração pelos outros.
Até que ele foi gravemente ferido em um súbito acidente de trânsito.
— É uma pena, mas parece que você deve abandonar os esportes agora.
O diagnóstico do médico foi como um trovão. A sensação na perna esquerda não foi a única coisa que Yuhwan perdeu naquele dia. Ele também perdeu a esperança na vida, o futuro que sonhava e a expectativa de seus colegas.
— Hwan, é muito cedo para desistir. Vamos tratar isso primeiro.
— Mas, Senhor, eu…
— Está tudo bem. Você consegue.
Mesmo assim, o Assessor do ginásio não desistiu de Yuhwan. Yuhwan não queria decepcionar o Assessor e mergulhou no tratamento de reabilitação usando todos os tipos de métodos, como injeções, massagens e fisioterapia. Ele continuou o tratamento de reabilitação sem interrupções por três anos. Os resultados não foram muito promissores. Ele conseguiu sair da cadeira de rodas e das muletas, mas, por mais que tentasse, não conseguia retornar ao seu corpo anterior ao acidente.
— Yuhwan. Você não precisa vir amanhã.
Até mesmo o assessor que não poupava encorajamento e apoio começou a mudar gradualmente.
— Eu também hesitei muito antes de dizer isso. Sinto muito. Mas não é hora de aceitarmos a realidade? Tanto você… Quanto eu.
Mesmo no momento final em que deixou o ginásio, o assessor não olhou para Yuhwan. Seus colegas do ginásio que comiam junto com ele também apenas deram tapinhas em seus ombros e não disseram nada por ele.
No caminho de volta para casa, sozinho, enquanto mancava com o pé esquerdo e entrava no metrô, uma mulher fez um gesto cauteloso para Yuhwan.
— Jovem, sente-se aqui.
A princípio, Yuhwan nem percebeu que ela estava falando com ele. Yuhwan olhou em volta e encarou a mulher um instante tarde demais.
— Perdão…? Estou be…
— Sente-se agora. Parece que suas pernas não estão bem… Eu vou descer na próxima estação de qualquer forma. — A mulher sorriu gentilmente e fez Yuhwan sentar em seu lugar.
— …
Por quê? Não foi gratidão, calor ou arrependimento que Yuhwan sentiu naquele momento.
Desespero. Foi desespero absoluto.
Quando Yuhwan finalmente percebeu a realidade, foi o momento em que ele desistiu de tudo.
Como ele viveu depois disso? Agora que pensava a respeito, ele literalmente viveu da forma que deu. Quando ligou a TV, pôde ver seu colega do mesmo ginásio se tornar um famoso judoca e conceder uma entrevista. Yuhwan segurou o controle remoto e olhou lentamente ao redor. Tudo naquela casa escura eram cartazes de emprego amassados, pratos sujos de restaurante chinês e quimonos de judô empoeirados. Naqueles dias, ele mal conseguia dormir direito sem beber. Ao beber loucamente todos os dias, logo gastou todo o dinheiro que tinha.
Yuhwan precisava ganhar dinheiro para comprar bebidas e começou a procurar empregos que rendessem algum valor. A única qualificação que ele tinha era o nível três em processamento de texto, que havia obtido durante os tempos de escola. Ele sempre foi péssimo em inglês, e estava tão imerso no judô que tinha zero experiência em trabalhos de meio período, muito menos em uma carreira de tempo integral. E ele mancava de uma perna por causa do acidente de carro, então sua paixão e motivação estavam no fundo do poço.
Naquela época, a única vantagem que Yuhwan tinha era ser mais alto e mais forte do que os outros. Não havia muitos empregos para escolher. Em um canteiro de obras que substituiria uma favela, Yuhwan tinha o trabalho relativamente simples de mover pesos pesados como areia, azulejos e tijolos. Ele era mais forte e mais robusto do que as pessoas normais, e isso era muito adequado para Yuhwan, que vivia de salário a salário.
— Ugh, está chovendo. Vamos parar por aqui.
Assim, tinha a grande desvantagem de ser afetado pelo clima.
— Então… Quando posso voltar?
— Bem. Eu também não posso dizer com certeza. Como você sabe, o próprio canteiro de obras está instável.
O homem coçou a bochecha e lançou um olhar para algum lugar.
A Construtora ○○ segue adiante com a obra ignorando os pedidos dos moradores! Não precisamos de compensação! Respeitem os direitos humanos!
– Todos os moradores de △△
Os cartazes de oposição à construção estavam ficando molhados pela chuva negra.
— Bom, eu sei que você está em uma situação urgente, então espere um momento. Eu ligo para você primeiro se tivermos trabalho. Certo, certo. Recuar, todos, recuem!
— …
No final, Yuhwan saiu do local com algumas notas na mão. Yuhwan já estava se virando com álcool e ramyeon. Se pensasse na estação chuvosa que começaria hoje, ele teria que passar fome por pelo menos alguns dias, ou mais de uma semana. Isso seria o de menos. Se os moradores se opusessem com muita força e a construção fosse interrompida…
— Feww.
Yuhwan suspirou profundamente e usou todo o dinheiro que ganhou hoje em um supermercado próximo para comprar álcool e salgadinhos secos. Ele não podia comer tudo sozinho, mas levou tudo o que conseguiu. Sentado em um banco adequado, abriu a bebida e a tomou em um único gole, sem abrir seus salgadinhos.
— … Bom.
O forte cheiro de álcool vibrou em seu nariz. Parecia mais doce do que o normal hoje.
Clang! Tumble…
Empurrando a lata vazia com o pé direito, Yuhwan levantou a cabeça para olhar o céu escuro. Nesta pobre favela à beira-rio, uma chuva forte caía tristemente.
— Ótimo clima.
Em meio ao ar turbulento, Yuhwan deitou-se cambaleante no banco úmido. Ele podia sentir os transeuntes cochichando e se afastando rapidamente, mas não se importava com os olhares dos outros. Era um mundo cruel onde nada dava certo para ele, mas agora que bebia à vontade e estava extremamente bêbado, ele se sentia mais livre do que qualquer um. Ao beber até cair, sentia que seu corpo estava flutuando. Yuhwan gostava dessa ilusão.
“…Ah, acho que estaria tudo bem morrer assim. Foi exatamente quando ele pensou isso na chuva negra.”
Slosh, slosh!
— Senhor!
Ele ouviu o som de passos em poças, e uma jovem garota apareceu de repente na frente de Yuhwan. A garota, de capa de chuva amarela e cabelo preso em duas chiquinhas, parecia ter seis anos, no máximo.
— Faz dodói se você dormir aqui!
A criança pôs as mãos na cintura como se estivesse o repreendendo e levantou as sobrancelhas o máximo que pôde para fazer uma cara de brava. Claro, não dava medo nenhum. Yuhwan sorriu com a aparição da criança fofa e acenou com a mão no ar.
— Digo o mesmo. Está chovendo, você vai pegar um resfriado. Vá para casa rápido.
— Ugh, o senhor fede a álcool! Senhor, o senhor bebeu aqui, certo?! — Mas a criança nem fingiu ouvi-lo e cobriu o nariz com uma mão pequena. — Não está vendo isso? Não se pode comer neste parque! Não é permitido! — Então, ela apontou para a direita com a outra mão.
É proibida a alimentação de todos os visitantes no parque para criar um ambiente agradável e proteger a natureza.
Yuhwan olhou para o cartaz que a criança apontou e, em seguida, recostou-se em seu braço novamente. A criança que ele pensou que desistiria logo não saiu do lado de Yuhwan mesmo depois disso e continuou tagarelando.
— Senhor, faz DODÓI se você dormir aqui!
— Tudo bem. Que doa. — Yuhwan respondeu calmamente com os olhos fechados. E daí se ele morresse assim? Talvez fosse melhor. Ninguém lamentaria, e ele não tinha um testamento para deixar.
— Hein…
A criança bufante logo desapareceu na chuva. Finalmente, ficou quieto. Sem abrir os olhos, Yuhwan apalpou o banco com uma única mão. Então, ele levantou a garrafa de álcool que sua mão tocou e a virou na boca enquanto estava deitado. O som da chuva ficou mais alto com o tempo, mas o coração de Yuhwan gradualmente se sentiu à vontade. Assim, Yuhwan se desligou na chuva negra.
Algum tempo depois disso…
— Mãe, aqui! Por aqui!
A criança de capa de chuva amarela veio trotando. Havia uma mulher segurando um guarda-chuva branco atrás da criança.
— Meu D…
Ao encontrar Yuhwan, o homem enorme estendido no banco, a mulher que o encontrou ficou paralisada em choque. A criança perguntou a ela: — Mãe, esse senhor está morto?
— Narae, você não deve dizer coisas assim.
A mulher que repreendeu a filha se aproximou dele cautelosamente, como se para verificar sua condição. Há quanto tempo ele estava na chuva? Seu rosto estava pálido como um cadáver. Garrafas vazias de álcool e lanches molhados estavam espalhados aleatoriamente ao seu redor. A mulher que o estudou por um tempo se concentrou em sua perna esquerda, que havia caído debaixo do banco. O tornozelo estava virado impotente, como se estivesse dobrado. Uma cicatriz visível. Será que… Ele tinha uma perna ruim? Rose estendeu a mão cautelosamente para ele. No momento em que uma luz verde-pálida se espalhou por sua mão…
— …
Yuhwan, que parecia ter desmaiado, abriu lentamente os olhos.
— Uau, senhor! Este senhor não está morto! Graças a Deus!
A criança animada começou a pular. A água da chuva acumulada nas poças atingiu impiedosamente o rosto de Yuhwan em sincronia com os movimentos dela, mas Yuhwan abriu bem os dois olhos e não se moveu. Seus olhos estavam fixos unicamente na mulher à sua frente. Uma pessoa tão branca como a neve não combinava com aquele céu preto cheio de nuvens de chuva. Essa foi sua primeira impressão dela.
— Narae… Minha filha disse que alguém estava doente aqui, então eu vim, mas me desculpe se interrompi seu descanso.
— N-Não é…
Yuhwan tentou se levantar num salto, mas de repente cambaleou, porque forçou sua perna esquerda dormente. Ele conseguiu recuperar o equilíbrio, resultado da longa reabilitação, mas Rose finalmente se convenceu ao ver aquilo.
“Eu sabia, a perna esquerda dele…”
— Onde você mora? Vou chamar alguém para levá-lo até lá. — Rose falou de maneira cautelosa e gentil com Yuhwan.
— …
Yuhwan abaixou a cabeça e não respondeu.
— Gah! Mãe! Este senhor deve ser um morador de rua! O que devemos fazer?
Rose segurou gentilmente os ombros da criança que pulava e falou novamente no mesmo tom. — Por acaso você não tem para onde ir?
— …
Yuhwan não disse nada de novo. Mesmo assim, Rose não alterou sua expressão nenhuma vez.
— Então… Você gostaria de vir comigo?
Com isso, Yuhwan, que estivera de cabeça baixa o tempo todo, levantou-a lentamente.
“Por quê?”
Os olhos apáticos nutriam dúvidas e vigilância.
— Eu sou uma Doutora. — Rose deu um sorriso branco à sua frente. — Se há alguém que parece que vai morrer diante dos meus olhos, e se eu puder salvar essa pessoa, é claro que eu devo ajudar.
Era um sorriso tão lindo, como uma flor desabrochando.
— …
— …
Enquanto a forte chuva obstruía a visão, Rose e Yuhwan trocaram olhares por um longo tempo.
Yuhwan examinou Rose, que não evitava seus olhos. Era muito estranho. Naquele momento, o som da chuva batendo em seus tímpanos, a voz da criança tagarelando, o som das buzinas de carros soando ao longe, ele não conseguia ouvir nada disso agora. Ele só conseguia ouvir uma coisa.
— Siga-me, se estiver tudo bem para você.
Tão deslumbrantemente branca.
— Eu vou ajudá-lo.
A voz dela.
Yuhwan seguiu Rose como se estivesse possuído. Ele descobriu que ela era a primeira caçadora de cura Rank S da Coreia, a Doutora Planta, logo no dia seguinte.
Yuhwan questionou por que essa famosa Doutora Planta o havia acolhido. Cada vez que ele perguntava sobre isso, Rose respondia: — Você. Parecia que você morreria se eu o deixasse daquele jeito.
Ele não conseguia aceitar isso no início. Ela não teria motivo para intervir se um estranho que ela nunca tinha visto antes morresse na chuva ou não. Mas quanto mais tempo passava com Rose, mais Yuhwan podia aceitar isso gradualmente. A Guilda Rosa liderada por Rose, e as muitas instituições administradas pela Guilda Rosa, estavam cheias de pessoas que perderam suas casas e famílias, e pacientes diagnosticados com doenças incuráveis no hospital. Rose estendeu a mão para cada uma dessas pessoas. Ela insistia que, embora não pudesse salvar todos na Terra, não podia ignorar aqueles que precisavam de ajuda diante de seus olhos.
— Eu acho que essa é a própria razão pela qual fui Desperta como uma caçadora de cura.
A mulher chamada Rose Geum, Doutora Planta, era muito maior do que diziam na mídia e do que ele pensava. Não apenas porque ela consertou a perna de Yuhwan, para a qual todos os médicos balançaram a cabeça em descrença, em menos de um único mês, mas ainda mais porque ela limpou a vida nublada de Yuhwan de uma vez. A perna de Yuhwan não foi a única coisa que Rose consertou. Seu coração, sua vida, até mesmo seu sonho. Ela havia colocado todas essas peças rangentes de volta em seus lugares, ou as consertado para ficarem melhores do que antes.
Yuhwan, cuja perna foi recuperada, tornou-se Desperto um dia por acaso e logo assinou um contrato com uma Criatura Mítica, o macaco. Foi um ano depois que Yuhwan subiu ao Rank S entre os caçadores coreanos, ficando atrás apenas de Rose. Foi realmente uma série de eventos mágicos, como presentes.
Yuhwan pensou que, se Rose foi Desperta para ajudar pessoas, ele foi Desperto para ajudá-la.
— Mãe! Eu desenhei isto!
A criança pequena, Narae, filha de Rose, correu com seu caderno de esboços.
— Deixe-me ver. Uau, Narae é boa em desenhar.
Rose olhou para o desenho que sua única filha fez e sorriu feliz.
— Esta é Narae, esta é a mamãe… E quem é este?
— É o Tio Yuhwan! — Narae respondeu com firmeza e um rosto inocente. Antes que ele se acostumasse com a mudança em seu título de ‘senhor’ para ‘Tio Yuhwan’ a esperta e inteligente Narae fez algo louvável novamente.
— Mãe, sabe o que a Narae pensa? Eu queria que o Tio Yuhwan fosse meu pai.
— Meu… — Rose piscou.
— Ahem, ahem. — Corado, Yuhwan limpou a garganta repetidamente. Deve ter sido tão engraçado, já que Narae gargalhou de forma hilária. Eram dias felizes como pinturas.
Isso foi, até que Narae foi varrida pelo Portão Desconhecido.

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