Índice de Capítulo

    A segunda parte da gravação começou. Diferente da primeira, que apresentou os dez caçadores e explicou o tema do programa, a segunda era um talk show com uma sessão de perguntas e respostas.

    O apresentador perguntou:

    — Qual foi o portão mais memorável entre os que vocês enfrentaram até agora? Vamos ouvir?

    — Hmm… Acho que foi o portão de Rank A que se abriu na Ilha Nami, cinco anos atrás — respondeu Turbinado.

    — Uau… — A plateia murmurou. O portão de Rank A da Ilha Nami havia surgido em 7 de agosto de 2026. Na época, a Associação o classificou como Rank A, mas o monstro chefe, Olho do Demônio, era nível 76. A média de nível dos monstros em portões de Rank A ficava entre 41 e 60. Ou seja, o ‘fenômeno de falha de classificação’ também havia ocorrido naquele caso.

    Era preciso pelo menos cinco caçadores de Rank A lutando com estratégia para derrotar um monstro de nível 70 ou superior. Caso contrário, caçadores de Rank S eram essenciais. Infelizmente, entre os primeiros enviados para lá, não havia nenhum Rank S, e apenas três eram Rank A.

    Foi então que o Doutor Planta apareceu como um cometa, durante o combate difícil contra o chefe. O curandeiro mais famoso da Coreia e dono da Guilda Rosa, ele era um dos seis caçadores de Rank S do país.

    — Meu Deus, o Doutor Planta? — O estúdio começou a se agitar. O apresentador não conteve a empolgação e fez uma pergunta fora do roteiro — Como era o Doutor Planta?

    — Como dá pra ver nos vídeos, ele era lindíssimo e imponente. Suas habilidades eram inimagináveis. As pétalas que ele invocava cobriam nossos ferimentos, e as vinhas que criava levavam os feridos para fora do portão em segurança. Foi uma cena incrível.

    — Caçadores de Rank S são realmente de outro nível.

    — Sim. Sem ele, eu não estaria aqui. Fui procurá-lo depois da varredura, e ele… — Turbinado se estendeu contando o que havia acontecido naquele dia. Fazer uma varredura ao lado do Doutor Planta devia ter sido mesmo uma experiência marcante. Todos ouviam com atenção, embora pudesse parecer entediante. Turbinado era o único ali que havia participado de uma missão com um caçador de Rank S, o que o tornava ainda mais especial.

    — E a Princesa da Chama Negra? — Uma luz se acendeu sobre Eunha. Seu rosto surgiu no enorme telão de LED atrás deles. — Qual portão foi memorável para você?

    Eunha fechou a boca diante da pergunta do apresentador. Um breve silêncio pairou no estúdio. “Um portão memorável?” Eunha pensou rapidamente nos portões que já havia limpado. Eram literalmente incontáveis. O mais memorável, claro, seria o Portão Desconhecido em que ela ficou presa por tanto tempo. “Mas não posso falar disso aqui.”

    Pensando no que dizer, com o microfone em mãos, respondeu devagar:

    — …Foram tantos que nem lembro.

    Alguém zombou:

    — Você limpou só dois portões até agora. Quer dizer que esses dois já foram esmagadores?

    Um caçador sentado entre os caçadores comuns falou com evidente sarcasmo.

    Isso provocou os demais, e outro caçador abriu a boca:

    — Não peguem tão pesado. Ela é uma caçadora de conceito. Pode acontecer. A atividade principal deles nem são os portões.

    Ela viu um redator lançar um olhar ao produtor, mas o produtor não interrompeu nem suspendeu a gravação. Apenas cruzou os braços e ficou observando. Como era um programa gravado, ele podia simplesmente cortar as partes problemáticas depois.

    — Ouvi dizer que você também eliminou um monstro de nível alto. Por que insiste em ser caçadora de conceito? Nem dá dinheiro — disse outro caçador comum.

    A plateia silenciou. Em meio ao estúdio gelado como uma rua congelada, um caçador se levantou de súbito:

    — Já deu.

    Era o caçador de chapéu, sentado na ponta esquerda dos caçadores de conceito. Ele bateu com força o punho na mesa, tão forte que as veias saltaram. Não parecia querer esconder a raiva.

    — Isso não tá no roteiro.

    — Existe alguma regra que diz que temos que seguir só o roteiro? Assim o programa fica entediante. Ninguém aqui tá curioso pra saber por que a novata mercenária da Lobo tá usando vestido e se prestando a esse papel de conceito? Ninguém se pergunta?

    Caçadores comuns e de conceito, a plateia e até a equipe técnica se voltaram para Eunha. Ela disse lentamente:

    — É verdade. Eu só participei de duas varreduras. Mas isso não é porque sou uma caçadora de conceito. — Eunha virou-se para o caçador do chapéu, ainda de pé e com expressão sombria. — Esse caçador aqui participou de seis varreduras este ano.

    O caçador afrouxou o punho cerrado. Ela lembrava do que ele havia dito de passagem na sala de espera?

    Eunha desviou o olhar dele e encarou os caçadores comuns. Então, moveu seus lábios escarlates, levemente curvados:

    — Quantos portões vocês limparam este ano?

    Tanto caçadores comuns quanto de conceito ficaram em silêncio, como se tivessem levado um balde de água fria.

    Turbinado, que estava calado há um tempo, abriu seu leque e cobriu a boca:

    — Dinheiro importa mais que quantidade. Vou fazer um comentário cauteloso, já que você é uma caçadora novata e ainda não entende muito bem, mas nem todo caçador recebe o mesmo valor.

    — Então vou mudar a pergunta. — Eunha se virou para Turbinado. O rosto da Princesa da Chama Negra preencheu o telão atrás deles, sem sombra de sorriso. — Quantas pessoas você salvou este ano?

    Mais uma vez, o estúdio mergulhou em silêncio.


    Foi provavelmente aí que a competição entre caçadores comuns e de conceito começou de fato. Coincidentemente, o tema da terceira parte da gravação era ‘disputas’. Naturalmente, os times foram divididos entre caçadores comuns e de conceito.

    A primeira prova foi de queda de braço. O formato era de torneio, e os caçadores de ambos os times entrariam em ordem conforme o roteiro. O primeiro do time dos caçadores comuns foi Turbinado. Um a um, ele foi vencendo os caçadores de conceito, como se estivesse provando que sua fama não vinha apenas da aparência. O segundo caçador comum sequer teria vez.

    — Ah… É aqui que o time dos Caçadores de Conceito cai? Será que o time dos Caçadores Comuns vai levar o vale-compras de sete milhões de won1?! — O apresentador virou-se para o placar no centro do estúdio. O placar marcava 3 a 0 para os caçadores comuns.

    — Agora é minha vez. — O Sr. Palhaço, o quarto entre os caçadores de conceito, levantou-se. Seus companheiros de equipe o observavam com olhos preocupados.

    — Como é que escalam logo o Turbinado pra primeira partida? Sujo demais.

    — O orgulho deles deve ter ficado bem ferido. Mostra pra eles do que é feito, Sr. Palhaço!

    — Olha, nunca achei que a gente fosse vencer, mas levar um 5 a 0 vai me envergonhar diante da minha filha. — O Sr. Palhaço caminhou para o centro.

    — Senhor, vai ficar bem? — Turbinado segurou a mão direita do Sr. Palhaço e sussurrou tão baixo que só ele pôde ouvir. A confiança dele transbordava, até Eunha percebeu.

    — Certo, preparados — gritou o apresentador. — Três! Dois! Um!

    Quando a contagem terminou, veias saltaram nos braços dos dois. Talvez Turbinado tivesse se cansado enfrentando os três anteriores, pois parecia estar tendo mais dificuldade.

    Hiya! — O braço direito do Sr. Palhaço tremia, enquanto o esquerdo agarrava a mesa com força suficiente para rachá-la. Seu rosto estava avermelhado, e os dentes rangiam com força. Resumidamente, ele estava dando tudo de si.

    — Tá desesperado por dinheiro, é? — Turbinado curvou os lábios em um sorriso. — Mas tem que jogar conforme a idade.

    Bam!

    A mesa rachou violentamente. O estúdio congelou no mesmo instante. O apresentador piscou, atônito, depois retomou a postura e ajustou o microfone.

    — Uhm, ah… T-Turbinado vence!

    Piiiii!

    O apito que marcava o fim da partida ecoou pelo estúdio silencioso.

    — Esta transmissão segue as normas de segurança, com ambulâncias e pessoal de emergência à disposição! Crianças, não tentem isso em casa! — O apresentador emendou suavemente, como se não tivesse travado um segundo antes.

    Depois disso, o Sr. Palhaço voltou ao assento andando lentamente, ainda usando sua voz caricata.

    — Foi uma partida decepcionante… — Ele escondia da câmera a mão direita inchada, mas os caçadores de conceito ao redor, inclusive Eunha, tinham visto. Gotas de sangue escorriam do topo do pulso, cortado pela quina da mesa.

    — Que crueldade. Tudo bem que é uma competição, mas ainda é um programa… Isso tava no roteiro?

    — Se o Turbinado tinha força pra quebrar a mesa, por que demorou tanto? Tava só brincando com ele?

    Os caçadores de conceito começaram a se agitar. Um deles, que estava calado até então, levantou a mão.

    — Espera. Acho que ele tá mais ferido do que parece — disse o caçador do chapéu, com raiva.

    O apresentador olhou para o produtor, confuso. O produtor cruzou os braços e fez um X. A redatora mais nova da equipe correu até eles.

    — Desculpa, mas não podemos atrasar a gravação. Vou buscar o kit de primeiros socorros depois, então vamos continuar…

    — Como é? Depois? Não tá vendo que ele tá sangrando agora?

    Quando o caçador de hanbok gritou, a redatora hesitou. No fim, o produtor falou com indiferença:

    — Pelo visto, caçadores de conceito não têm habilidade de autocura.

    O ar no estúdio pesou. O que rompeu o silêncio foi a risada gentil do Sr. Palhaço.

    — Hahaha. Isso não é nada perto dos ferimentos num portão. Tá tudo bem, podemos continuar!

    — Mas…

    O caçador de hanbok ainda não aceitava a situação, mas o Sr. Palhaço segurou seu pulso. O rosto pintado com traços brincalhões ficou sério por um instante.

    — Está tudo bem — sussurrou o Sr. Palhaço.

    No fim, a gravação continuou. A equipe trouxe uma nova mesa para o centro do estúdio, e Turbinado voltou a se sentar com expressão tranquila.

    — Vamos logo com isso. Tem ferido pra cuidar, afinal.

    A plateia riu com o comentário. Alguns murmuraram como se o criticassem, mas a maioria ali era fã dele. As poucas vozes preocupadas se perderam em meio aos risos e desapareceram.

    O apresentador checou a ficha de andamento e levou o microfone à boca.

    — Muito bem, plateia! O placar está 4 a 0. Resta apenas a Princesa da Chama Negra. Será que ela vai interromper essa sequência de vitórias?

    A câmera subiu, e o rosto de Turbinado apareceu no telão de LED ao fundo do estúdio. Eunha levantou-se, e a cadeira arrastou alto pelo chão.

    — Não força muito. Aquele idiota parece que não tem piedade.

    — Pois é. Você nem tá aqui pra vencer.

    — Só finge que tentou, evita se machucar e volta.

    Os caçadores de conceito a encorajaram. Ela deu um passo e se virou.

    — Não se preocupem. — Seus lábios vermelhos se curvaram num leve sorriso. Os olhares de preocupação se tornaram de espanto. Eunha caminhou até Turbinado e ficou diante dele, arregaçando a manga direita em silêncio.

    — Nossa, que agressiva. — Turbinado deu de ombros.

    Eunha não respondeu e apenas apoiou o cotovelo sobre a mesa.

    — Eu pareço uma caçadora de conceito? — falou baixo, só para que ele ouvisse. No instante em que Turbinado franziu as sobrancelhas, ouviram a voz empolgada do apresentador vinda de todas as caixas de som do estúdio.

    — Uau, que confiança! A Princesa da Chama Negra! Será que ela vai derrotar Turbinado…

    Bam!

    Um som alto ecoou pelo estúdio. A mesa se partiu ao meio e caiu no chão. As luzes do teto tremeram com o impacto. O estúdio mergulhou em silêncio no mesmo instante. Assim como antes, a partida parecia ter terminado em um único momento.

    — Próximo. — Mas, desta vez, o resultado era outro.

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