Capítulo 55
Eunha se abaixou para verificar Jehwi. Coral havia crescido sobre suas costas, ombros, bochechas e praticamente o corpo inteiro. Mas, felizmente, ele ainda parecia respirar, o que significava que ainda havia uma saída para ele.
“Preciso remover o coral antes que passe muito tempo.”
No momento em que estendeu a mão para Jehwi, percebeu que ele estava abraçando alguém com força.
— Eu disse que tenho uma irmã mais nova.
Os traços em seu rosto lembravam os de Jehwi. Devia ser sua irmã. Ela também estava coberta de coral.
— Ugh… Senhor, me dê mais uma chance…
Jehwi gemeu. Sua irmã também. Pareciam estar tendo alucinações, como Eunha tivera cerca de uma hora antes. Mas a diferença era que Eunha havia despertado, e eles não.
“É natural que pessoas não despertadas tenham atributos gerais e resistência menores que os despertos.” E, em comparação com a resiliência de Eunha, forjada em incontáveis provações, a deles era como a de um recém-nascido.
“…”
Eunha lançou um olhar para o monstro-chefe. Ele apenas sorria e a observava, sem cantar.
Então esta era a sua chance.
Smack! Smack!
Eunha ergueu a mão e começou a esmagar todo o coral que cobria os dois. Era um método simples, mas choque externo era a forma mais eficaz contra habilidades de controle mental como charme ou confusão.
— S-Senhor…
Mas mesmo depois de destruir quase todo o coral, Jehwi não abriu os olhos. Parecia que as alucinações já haviam devorado sua mente. Se esse método não funcionava, restavam os itens. Mas Eunha obviamente não tinha nenhum item útil com ela.
Então…
【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas revira seus pelos.】
【Parabéns! Você adquiriu a bala de hortelã que tira todo o seu sono!】
【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas confirma que eles ainda não viraram 100% coral, então esse item vai servir.】
Pop!
Duas balas brancas e redondas caíram na palma da mão de Eunha.
【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas diz: — Pff, não é que eu goste tanto dele, mas por sua causa…】
— Obrigada — disse Eunha para a janela de mensagem, enquanto olhava para a bala de hortelã em sua mão.
A janela amarela se tremeu.
【Hmm, ela mexe os bigodes dizendo que é bom ouvir esse tipo de coisa.】
【Purrrrrrrrr…】
Eunha colocou os doces na boca de Jehwi e de sua irmã.
— Ugh…
Logo, Jehwi abriu as pálpebras.
— Está acordado?
— …C-Caçadora Lee?
Ao reconhecer Eunha, Jehwi ergueu o tronco e arregalou os olhos.
— O que aconteceu? Eu estava no Mercado Jagalchi… Digo, espera!
Pedaços de coral caíram de sua bochecha quando virou o rosto. Como conseguia se mover daquele jeito, parecia não ter ferimentos externos.
— E o programa? O que aconteceu com o programa de TV, por que você está aqui?!
— Como assim?
Ele falava de trabalho mesmo naquela situação. Quando Eunha curvou os lábios, admirada com seu profissionalismo, Jehwi ficou pálido.
— N-Não me diga… você perdeu?
— Perdi.
Meu Deus. O queixo de Jehwi caiu.
O fato de a caçadora Yura Lee, sempre tão séria e responsável, ter perdido um compromisso importante já era chocante, mas o fato de ela ter ido até ali por sua causa era ainda mais inacreditável.
— Por que…
— Parece que sua irmã também está bem, graças a Deus.
Eunha olhou para baixo. A irmã de Jehwi, que acabara de acordar da alucinação, se empurrava para se sentar.
— Jehwi…?
— …Jerim Park! — disse Jehwi, recuperando o juízo num instante e se ajoelhando para segurar os ombros da irmã. — Você é idiota ou o quê? Foi por isso que eu mandei você vir para Seul!
Nem mesmo Eunha havia visto Jehwi tão furioso. E sua irmã também não, pois desviou o olhar ao encará-lo.
— R-Realmente, Jerim! O que você faria se algo tivesse acontecido…? Você é sempre assim, e por isso eu…!
— Shhh — disse Eunha, com um aviso suave.
Quando Jehwi fechou a boca ao ser repreendido…
【…♫♪】
Eles ouviram novamente o canto da Maga Benevolente.
【Nv. ??? Maga Benevolente usa uma habilidade. ► Canção da Tentação】
【O poder da Canção da Tentação é levemente reduzido pelo forte som da cachoeira.】
— J-Jehwi…! — Ao encontrar o monstro, Jerim se escondeu atrás do irmão, assustada. — O q-que é aquilo? Uma sereia? E-Está cantando…
— Shh, abaixa a voz. Provocar isso só vai piorar as coisas — disse Jehwi com sobriedade, dando um passo à frente para proteger a irmã. Engoliu seco.
Eunha viu que os dedos em volta da irmã tremiam discretamente.
Mas durou apenas um instante. Jehwi moveu os lábios devagar, com uma expressão resoluta.
— Senhorita… Tenho algo a dizer.
A Princesa da Chama Negra. Ele sabia bem que ela era uma caçadora de Rank F, e também que seria difícil para ela derrotar aquele monstro com suas habilidades.
“Mas se não for derrotar… e sim apenas fugir…”
Jehwi colocou a mão sobre a da irmã. Em seguida, se curvou tanto que parecia querer bater a cabeça no chão.
— Eu serei a isca. Em troca, por favor, pode salvar só a minha irmã?
Não importava se tivesse apenas 1% de chance de sucesso. Era a única maneira que ele via de salvá-la.
— … — Eunha não disse nada. Jehwi se curvou ainda mais e abriu a boca, desesperado.
— Eu sei que é atrevido. Mas por favor, por favor… eu imploro.
— Jehwi, o que você quer dizer com isso?!
Jerim pulou de trás dele. Jehwi disse: — Fique quieta — e a empurrou para o lado.
Eunha se abaixou devagar enquanto os observava e pegou algo do chão. Era uma concha vazia.
— Jehwi.
— S-Sim?
Ela não ia bater nele com aquilo, ia? Jehwi engoliu em seco, nervoso. Felizmente, Eunha não balançou a concha, apenas moveu os lábios com indiferença.
— Se algo der errado, nós três vamos morrer aqui.
“…”
Jehwi fechou a boca. Ela estava certa. Ela havia concordado em manter segredo de Si-u e em dar a ele um dia de folga. Além disso, mesmo sendo uma caçadora de Rank F, entrou voluntariamente num Portão Desconhecido, abrindo mão de um evento importante para salvar Jehwi e sua irmã. Mesmo que todos pudessem morrer ali de forma inútil.
— Entrar num deserto pelado não é bravura. É só imprudência — disse Eunha.
— Me desculpe, de verdade… — foi tudo que Jehwi conseguiu dizer. Ele sabia muito bem. Sabia que jamais conseguiria salvar a irmã com sua força. Ainda assim, se jogou como uma mariposa no fogo.
“Porque somos família.” Jehwi cerrou os punhos.
Mas para Eunha, nem Jehwi nem Jerim eram família. Foi por causa dele que ela, que deveria estar gravando agora, acabou presa num Portão Desconhecido, longe de tudo, em Busan.
— Você foi muito imprudente.
— …Eu sei. Me desculpe — respondeu Jehwi, mordendo os lábios e falando em voz baixa.
Eunha o encarou, com os ombros caídos, e logo depois voltou a falar:
— Mas eu também teria feito o mesmo.
— …O quê? — Jehwi ergueu a cabeça de repente e encontrou o olhar dela. Eunha tinha os olhos indiferentes e frios de sempre, mas Jehwi teve a impressão de que ela havia acabado de consolá-lo.
— Aqui. — Eunha entregou uma concha para cada um dos dois irmãos.
— Tapem os ouvidos com isso por enquanto. Não vai durar muito, mas será eficaz por um tempo.
Eunha lembrava claramente da mensagem que havia surgido antes:
【O poder da Canção da Tentação é levemente reduzido pelo forte som da cachoeira.】
Ela deduziu que sons diminuíam o poder daquela habilidade. Algo como diluição. E Eunha estava convencida de que essa era a chave para lidar com aquele Portão Desconhecido e seu monstro-chefe.
— Não deem atenção ao monstro, e se concentrem em resistir ao encantamento.
— Mas… E se ele atacar de repente?
— É bem provável que não ataque — disse Eunha, lançando um olhar em direção ao monstro. — Primeiro, ele não atacou os alucinados, mesmo sendo o caminho mais fácil.
— I-Isso é verdade — Jehwi assentiu.
Mas isso ainda não bastava para convencê-lo. Talvez o monstro só estivesse esperando que amadurecessem para devorá-los. Ou talvez estivesse simplesmente satisfeito.
Eunha abriu a boca mais uma vez diante da hesitação de Jehwi:
— E segundo, ele está repetindo uma habilidade que já falhou.
Num combate de vida ou morte, nunca se repetia algo que já falhou duas ou três vezes. Se confirmasse que não funcionava, ou se o inimigo percebesse, o melhor era mudar de tática. Mas insistir no mesmo método podia significar…
— Talvez essa seja a única habilidade que ele tenha.
Eunha olhou para a sereia. Havia ainda um motivo que não contou a Jehwi: aquela bolha d’água ao redor dela. Por que estava escondida numa esfera tão apertada? Talvez porque, apesar de suas habilidades, seu corpo principal fosse frágil. Como caçadores de longo alcance, que eram fracos no combate corpo a corpo.
“Eu tenho uma chance.”
Depois de se virar para longe da sereia, Eunha voltou a olhar para os dois irmãos.
— Fiquem o mais perto possível da cachoeira, para abafar a canção. E não tirem as conchas dos ouvidos até eu dar o sinal.
— E v-você? — perguntou Jehwi, nervoso. Ao olhar ao redor, não viu mais nenhuma concha útil. As que encontrava estavam quebradas ou corroídas. Jehwi olhou para a concha em sua mão e, como se tivesse tomado uma decisão, a estendeu para ela.
— Eu estou bem. Pode usar a minha.
“…”
Por quê?
— Não. Eu estou bem. Você que deve usá-la.
Ijun, do passado, veio à mente de Eunha. Ela olhou para a concha oferecida por Jehwi e então esboçou um leve sorriso.
— Obrigada.
Splash…
O cabelo preto que descia até sua cintura balançava de forma sedutora sob a queda d’água.
— Mas eu não preciso.
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