Capítulo 59

— Mestre, o senhor chegou.

Jaemin, o segundo em comando da guilda Imortal, tinha sido o primeiro a chegar em Busan e cumprimentou Yuhwan antes de qualquer um.

Yuhwan respondeu brevemente com um — Hmm — e varreu a área com os olhos. Percebeu de imediato que havia poucos homens por ali.

— Como pode ver, todos os membros da guilda, incluindo Seong-yun Do, ainda não retornaram.

Yuhwan acariciou o queixo em silêncio ao ouvir o relatório de Jaemin.

O Homem de Ferro Seong-yun Do, o terceiro em comando da Imortal. Não precisava de apresentações. Ele confiava nele o bastante para deixar a missão sob sua responsabilidade, certo de que, mesmo que todos os outros membros fossem aniquilados, Seong-yun voltaria.

Mas ele não voltou.

— Abandone seu senso comum. Pelo menos nessa missão.

De fato. Jaemin lançou um olhar a Yuhwan, que esboçou um leve sorriso.

— …Mestre. Na verdade, há mais uma coisa a relatar.

— Hmm?

— Uma caçadora contratada pela guilda Lobo chamada Princesa da Chama Negra invadiu o portão sem permissão.

— O quê?

A expressão de Yuhwan endureceu. O que chamou sua atenção não foi o ‘invadiu’, e sim ‘Lobo’.

Jaemin se apressou em completar, vendo o rosto de Yuhwan se fechar ainda mais a cada segundo.

— M-Mas… dizem que ela é Rank F. Então provavelmente não há pro…

— Besteira.

Yuhwan o cortou.

— Você realmente acha que a Lobo mandaria uma caçadora Rank F pra cá? — sua voz grave ecoou como um sussurro dentro de uma caverna. Sem seu sorriso habitual, o rosto de Yuhwan parecia o de uma fera selvagem.

O ar congelou de imediato.

Mas então, Yuhwan deu uma gargalhada como se nada tivesse acontecido. — Bem, tanto faz. Podemos considerar como mais saque.

Mas ninguém riu com ele. A malícia fria ainda rastejava sobre suas peles.

Yuhwan passou pelos homens e examinou a fenda negra que oscilava como um buraco negro. A entrada do portão ainda estava aberta. Isso significava que, embora ninguém conseguisse sair de dentro, ele ainda podia entrar. Isso já bastava.

— Esvaziem a área em vinte minutos.

Aquela espiral escura causava calafrios até em caçadores veteranos. Yuhwan começou a se alongar diante dela.

— Eu irei também, Mestre.

Quando o estalo dos ossos cessou, Yuhwan respondeu firme, sem se virar:

— Eu dou conta sozinho.

Foi quando ele deu o primeiro passo decidido rumo ao vórtice…

Woooooooo…

— M-Mestre!

A fenda negra, antes silenciosa, começou a se desfazer como se estivesse corrompida por pixels quebrados. Galhos e pedras ao redor se desintegravam como se atingidos por um tufão.

— O q-que est…

— Ele conseguiu.

Yuhwan desviou facilmente uma pedra que voou em sua direção com um leve movimento de pescoço. Está vendo? Que Portão Desconhecido o quê?

— Eu sabia. O Seong-yun Do nunca me decepciona.

Jaemin olhou ao redor às pressas ao ouvir o comentário.

— O Seong-yun Do voltou?

— Exato. Ele terminou de limpar o portão. O que está esperando? Peguem suas ferramentas. Entrem antes que feche completamente e recolham tudo que for útil.

Yuhwan escancarou os dentes e fitou a entrada do portão com olhos confiantes. E logo, como havia previsto, alguém saiu de dentro.

— O quê! Ela é…

Um dos membros da Imortal tapou a boca com a mão. Tinha certeza. A mulher estranha de vestido preto era a Princesa da Chama Negra.

Click clack…

No Mercado Jagalchi, seus sapatos elegantes soaram nitidamente acima dos gritos das gaivotas na brisa da manhã.

— S-Senhorita. Aquele homem… — Jehwi murmurou cautelosamente atrás de Eunha. Quando sussurrou algo em seu ouvido, os olhos negros dela se voltaram para onde Yuhwan estava.

— …

— …

Os olhos de Yuhwan e Eunha se encontraram no ar. Ele estava de braços cruzados, observando-a, e Eunha voltou a caminhar.

Click clack…

— Espere.

Não foi Yuhwan quem a deteve. Foi o homem de óculos escuros que não conseguiu impedi-la de entrar no portão na noite anterior.

— Você, como saiu de lá?

— Como eu saí?

Eunha respondeu com indiferença, como se fosse óbvio. O procedimento padrão era derrotar o monstro chefe para sair de um portão, e foi exatamente isso que ela fez.

— …

O homem a examinou de cima a baixo. Ela parecia muito mais desarrumada do que ao entrar. Parecia ter enfrentado uma verdadeira batalha lá dentro.

— Não toquei em nenhum recurso do portão, como prometido. Pode conferir.

Com o rosto cansado, Eunha apontou para a entrada do portão com o queixo.

— Vamos. — disse ela aos irmãos Park, que olharam ao redor e a seguiram de perto.

— Ah.

Quando Eunha parou de repente, Jerim, que vinha colada atrás dela, esbarrou em suas costas.

— Isto.

Swish…

Eunha lançou algo para Yuhwan, que a observava em silêncio de longe.

—É o saque. Não havia essência do portão.

Tap!

Yuhwan olhou para a mão após pegar o objeto que Eunha arremessou. Uma janela azul do sistema apareceu diante dele.

Era um item de classe Relíquia com efeitos extraordinários. A resistência contra atributos de água e o aumento de sorte já eram inacreditáveis. Mas o mais surpreendente era…

“…Imunidade total a habilidades de controle mental?”

Era absurdo. Yuhwan piscou, atônito. Jamais vira um item de classe Relíquia completamente imune a anomalias de status, mesmo nos leilões mais exclusivos.

“E abaixo do nível 99…”

O nível máximo que um monstro podia ter era 99. Portanto, só de possuir aquele colar, o usuário ganhava imunidade a todas as habilidades de controle mental. Era um item incrível, sem preço possível. Mas… será que aquela mulher o devolveu sabendo disso? Não, provavelmente não. Se soubesse o valor, não teria devolvido tão facilmente. Era um tesouro pelo qual valeria a pena morrer, mesmo sem ser uma ladra.

Algo mais chamou a atenção:

Os olhos de Yuhwan pararam em um ponto específico nos detalhes do item.

“Já foi usado? Onde?” Foi nesse momento que a dúvida surgiu.

— Mestre! O Seong-yun voltou!

O grito de Jaemin fez Yuhwan voltar à realidade e se virar. Três sombras saíam da fenda negra. Eram Seong-yun Do e os dois membros que haviam sido enviados com ele.

— M-Mestre…

Seong-yun abaixou a cabeça ao encarar os olhos de Yuhwan, como um pecador. Não, ele era, de fato, um pecador. Não conseguiu concluir o portão. Havia falhado com Yuhwan.

Com os braços cruzados, Yuhwan o observou em silêncio. Então, abriu a boca devagar:

— Só vocês três?

— Desculpe — respondeu Seong-yun em voz baixa, sem conseguir levantar a cabeça. Os olhos vermelhos de Yuhwan, geralmente sorridentes, agora o encaravam sem um traço sequer de expressão.

Tap.

Yuhwan pousou a mão, grande como a pata de um leão, sobre a cabeça de Seong-yun.

— Você fez bem.

Talvez isso tenha sido o gatilho. Jaemin, que observava a cena ansiosamente, avançou como um tiro e agarrou os ombros de Seong-yun com força.

— Seong-yun Do, você…!

Os olhos vermelhos de Jaemin se encheram de lágrimas. Droga, ele não queria chorar, mas suas lágrimas não pareciam pensar o mesmo.

— Você… você… Eu achei que tinha morrido! Como é que…

— Quase morri.

— Viu só? Eu disse que devíamos ter entrado juntos! Disse que você precisava ir comigo!

— Mas voltei com vida. — Seong-yun coçou a bochecha e desviou o olhar. Claro, ele só conseguiu voltar vivo por causa daquela mulher. A mulher que havia enfiado a sombrinha rendada na testa da boneca. Depois a incendiou, e então jogou o carvão que restou no chão como se não estivesse satisfeita. Tudo isso em menos de dois segundos. Naquele instante, ela derrotou um monstro de nível 80 e salvou os três.

“Mas não foi só isso.”

Achavam que tinham escapado da morte, mas logo enfrentaram novos perigos. Estavam sem forças, física e mentalmente. A canção ainda ecoava. Quando perceberam, já estavam caindo nas alucinações. Quando abriu os olhos, a mulher que achava ter ido embora estava lá novamente.

— Vocês vão ficar bem agora.

Ela estava acompanhada por duas pessoas que pareciam civis. Seong-yun soube instintivamente: aquela mulher havia voltado depois de derrotar o chefe.

— Esses corais…

— Eram meus colegas. Não, foram meus colegas.

Ela se aproximou dos corais ao ouvir as palavras de Seong-yun. Então, fitou-os longamente com olhos contidos e pressionou o pingente contra a superfície deles.

Seong-yun percebeu que aquele pingente era especial. Mas não importava o quão extraordinário fosse, não existiam itens que ressuscitassem os mortos.

— Não há o que fazer. Aqueles que se tornaram corais por completo não podem voltar a ser humanos, seja o que for que você tente.

Eunha finalmente afastou o pingente com lentidão, como se relutasse. Não ofereceu consolo a Seong-yun nem aos seus colegas. Apenas se levantou e perguntou:

— Quer que eu ajude a carregá-los?

Seong-yun a encarou surpreso. Mas logo esboçou um sorriso amargo e balançou a cabeça.

— …Não, esta tudo bem.

— Entendo.

Ela não insistiu. Apenas se virou e saiu do portão com os dois civis.

— Seong-yun Do, está ouvindo? Nunca mais comece a concluir um portão sem minha permissão…

Seong-yun ignorou as reclamações de Jaemin e olhou ao redor. A mulher de vestido preto. Ele reencontrou os olhos de sua salvadora. E então…

— …!

— …!

Todos os presentes ficaram surpresos, pois o Homem de Ferro Seong-yun Do, conhecido por seu orgulho na guilda…

— Muito obrigado.

…havia se curvado a noventa graus em sinal de respeito. Até Yuhwan arregalou os olhos diante da cena inesperada.

Seong-yun nunca havia se curvado a ninguém além de Yuhwan. Não nos últimos quinze anos.

Mas no momento em que o gato suspirou aliviado, Jaemin gritou, ao ver a cena:

— Ei! O que está fazendo? Aquela mulher é uma espiã da Lobo!

Jaemin marchou até Seong-yun e agarrou seu ombro.

— Desde quando sua cabeça ficou tão vazia? Não é pra abaixá-la pra qualquer um!

— Cuidado com o que diz. Ela salvou nossas vidas. Não vou perdoar nem você, Jaemin Heo, se insultar minha salvadora.

— Não ouviu? Ela é da guilda Lobo.

— E daí? Isso não muda o fato de que salvou nossas vidas.

— Você…

Jaemin Heo e Seong-yun Do. Faíscas intensas voaram entre o segundo e o terceiro em comando da Imortal. Até dentro da guilda, as opiniões estavam divididas.

— Aquela mulher nos ignorou e invadiu o portão. Isso é claramente um desafio da Lobo.

— Mas ela disse que não tocou em nenhum recurso do portão. E salvou nossos membros…

— Como podemos confiar nela? Não importa o que aconteceu, ela tem que pagar por ignorar os Imortais. Devíamos pegar aquela sombrinha agora e… Ugh!

Smack…!

Aconteceu em um segundo.

Um dos membros da guilda, que estava fervendo de raiva e expressando sua opinião com veemência, foi lançado pelos ares como se tivesse sido atropelado por um caminhão. Tudo tão rápido que a maioria nem entendeu o que tinha acontecido. Mas Eunha e o gato sabiam.

Yuhwan acabara de socar um membro da própria guilda.

1. Refrigerante[↩]