Índice de Capítulo

    Os olhos azuis de Si-u varreram rapidamente o interior do quarto de hospital. Por cima do ombro de Ijun, ele viu Eunha dormindo profundamente sob um cobertor branco. Si-u voltou o olhar para Ijun.

    Ijun parecia indiferente, mas havia algo que ele não conseguia esconder. O cabelo desalinhado. O peito subindo e descendo. A respiração ofegante. Estava tão ansioso e tenso quanto Si-u, que acabara de entrar pela porta.

    “Ele correu até aqui? Estava preocupado com ela? Por quê?” Si-u se sentiu, de algum modo, incomodado, e encarou Ijun com mais dureza do que o necessário. — O que está fazendo aqui?

    Ijun não respondeu. Apenas lançou outro olhar para Eunha, que dormia. Estava em sono profundo por causa do indutor que tomara, e não despertava facilmente como normalmente faria diante de uma conversa.

    — Eu perguntei o que está fazendo aqui.

    — …

    — O fato de ela estar hospitalizada, e neste hospital. Como você soube? — Si-u insistiu, como se o interrogasse. Mas o que veio de Ijun não foi a resposta à sua pergunta.

    — …Parece que não há muitos ferimentos externos. Você sabe de algo?

    As sobrancelhas de Si-u se contraíram visivelmente. Pelo comportamento de Ijun, parecia não ter intenção de responder. Nesse caso, Si-u também não tinha intenção de compartilhar nada com ele. — Não tenho informações pra você.

    Claro, Si-u tinha acabado de chegar ao hospital e não sabia nada sobre o estado de Eunha. Mas mesmo que soubesse, não teria intenção ou necessidade de contar.

    Si-u avançou e se enfiou entre Ijun e Eunha.

    Swish!

    Si-u ergueu o braço, bloqueando-o como se o afastasse de vez. Seus cabelos sob o capuz começavam a ficar brancos.

    — Ela está sob minha proteção. Então não posso compartilhar informações com alguém cujo papel — amigo ou inimigo — desconheço.

    — Proteção? — Ijun zombou. Disse algo estranho, com um sorriso distorcido nos lábios. — Você está protegendo a Eunha?

    Eunha? A luz nos olhos de Si-u mudou ao ouvir o nome estranho. Ijun ignorou completamente a mudança e afrouxou um pouco a gravata impecável.

    — Então está fazendo isso errado. Se realmente tivesse protegido, ela não estaria de camisola hospitalar, deitada num lugar como esse.

    Swoosh…

    O cheiro de perfume. Si-u instintivamente cobriu o nariz. Era um aroma tão sutil que pessoas comuns nem notariam, mas Si-u tinha um olfato extremamente sensível e reconheceu na hora. Aquilo não era perfume. Nem sangue.

    “Feromônio.”

    Ou, em certo sentido, odor corporal. Si-u franziu a testa, a mão ainda sobre o nariz, e falou:

    — Acho que você não tem o direito de dizer isso.

    Si-u se lembrava com clareza. O rosto de Eunha quando mencionou o nome de Ijun pela primeira vez. Os olhos dela enquanto o observava de longe na busca no Portão de Ruptura. A voz dela ao relembrar o passado com ele. Era difícil de descrever, mas tudo parecia um pouco diferente do normal. Uma diferença sutil, mas evidente aos olhos de Si-u.

    — Ela queria te ver. — Um traço de desagrado coloria seus olhos azuis. Si-u franziu levemente a testa, como se não gostasse daquilo. Cerrando um pouco o punho, perguntou de novo:

    — E você?

    — …

    Por um instante, houve uma centelha estranha no rosto de Ijun. Um momento minúsculo, mas Si-u com certeza notou a mudança. O aroma denso que preenchia o quarto também desapareceu como fumaça. Estava agitado?

    “Não sei.” Si-u continuou o ataque.

    — Vai fingir agora que é colega dela? Se for isso, chega a ser cômico. Não é mesmo, Maestro?

    Eunha dissera que ela e Ijun haviam sido colegas durante um período nada curto, na época das grandes mudanças. Mas a forma como Ijun tratava Eunha não era a de alguém que valorizava uma colega querida. Pelo que ouvira, ela tinha sido suspensa por influência dele. Que tipo de gratidão era essa com alguém que lhe deu a vida e acabou presa em um portão por isso?

    “Não, mais do que isso.”

    O que mais o desagradava era a atitude dele ao aparecer de repente pedindo para cancelar o contrato. Mesmo investigando, o caçador Maestro era tão discreto e de outra nacionalidade que havia um limite para o que se podia descobrir. Esta era a conclusão de Si-u Shin: ele não confiava em Ijun Baek, mesmo sendo o primeiro caçador Rank S da Coreia e um dos primeiros despertos, como Eunha.

    — …

    — …

    Seguiu-se um silêncio. A respiração suave e adormecida de Eunha era o único ruído no quarto. Ijun não recuava, e tampouco Si-u. Foi uma batida na porta que rompeu a tensão.

    — Com licença…

    Logo, um médico do hospital entrou pela porta. Ao ver os dois homens bem construídos frente a frente, interrompeu o passo. — Jovem mestre? E este é…

    — Estou indo por hoje. — Ijun, que parecia ser o tipo de homem que não recuaria por nada, desistiu surpreendentemente com facilidade diante da presença do médico.

    Ijun caminhou até a porta e segurou a maçaneta, quando Si-u perguntou:

    — Está planejando informar a Associação?

    Ijun sabia que Eunha estava hospitalizada. Antes mesmo de Si-u saber. Isso significava que era bem provável que também soubesse que Eunha havia ignorado a suspensão e entrado no Portão Desconhecido em Busan. Se Ijun, que atualmente era ligado à Associação, tivesse essa informação, as penalidades sobre Eunha seriam inevitáveis.

    Ijun olhou por cima do ombro com a mão na maçaneta. Os olhos cinzentos que se encontraram com os de Si-u sorriram, de repente.

    — Veremos.

    Click.

    Ijun foi embora, deixando apenas aquela resposta ambígua para trás.


    — Com licença, senhor. Aqui é Jehwi Park.

    — Entre.

    Jehwi abriu discretamente a porta do quarto assim que Si-u lhe deu permissão. Era o quarto 810, ao lado do de Eunha.

    — Ouvi dizer que o senhor ficará com a Caçadora Lee neste hospital por enquanto, então trouxe algumas coisas que podem ser úteis.

    — Deixe ali.

    Si-u indicou com o queixo a mesa ao lado do sofá. De algum modo, ele não parecia contente. Jehwi lançou um olhar a Si-u e colocou cuidadosamente os itens sobre a mesa.

    — Uhm… Senhor. — Jehwi começou a falar lentamente, sem sair do quarto. — Como ela está?

    — …

    Os olhos azuis voltaram-se para Jehwi. Este se encolheu, como se aqueles olhos tivessem espinhos.

    Si-u desviou o olhar do abatido Jehwi e respondeu, com frieza:

    — Está surpreendentemente bem, apesar de ter passado por duas batalhas intensas.

    — É-É mesmo?

    — O corpo todo foi curado, sem ferimentos nem cicatrizes.

    Jehwi soltou um longo suspiro com as palavras de Si-u, como se aliviasse um peso. Era mesmo… um alívio. Talvez pela sensação de alívio, esfregava os olhos avermelhados.

    Si-u perguntou com naturalidade — E sua irmã?

    — …Perdão?

    Si-u estava sentado com as pernas cruzadas e o queixo apoiado na mão, encarando Jehwi de lado.

    — Como está sua irmã?

    — Ah. — Jehwi piscou devagar. Irmã… Provavelmente se referia a Jerim. — Ela está bem, sem nenhum arranhão. Ouvi dizer que está procurando um trabalho de meio período para se preparar para se mudar para Seul.

    — É? — Si-u se virou de costas, como se não se importasse.

    Jehwi encarou o perfil dele e, devagar, falou novamente. — E o senhor… Vai ficar bem?

    — Por que não ficaria?

    — Em permanecer aqui. Se for desconfortável para o senhor, posso ficar em seu lugar.

    Gwihun estava hospitalizado havia muito tempo no Hospital S, embora em uma ala diferente. Jehwi não entendia bem por que Si-u, que odiava tudo relacionado ao pai, escolheria ficar ali sozinho. Se era por preocupação com Eunha, poderia muito bem deixar que ele cuidasse dela.

    — Então por que entregou uma carta de demissão? — perguntou Si-u, em tom cortante.

    — … — Jehwi não tinha o que responder e abaixou os olhos com um semblante complicado.

    — Não a conheço há muito tempo, mas uma coisa descobri — Si-u disse de repente, mexendo as pontas dos pés. — Ela sabe retribuir o que recebe. Seja bom ou ruim.

    — …

    — Deve ter recebido algo de você. Quis retribuir. Faltando à gravação, entrando no portão. Então agora é a sua vez. — Si-u ergueu a cabeça. — Mas ainda pretende encerrar isso com uma demissão?

    O silêncio se instalou entre os dois. Si-u não continuou. Apenas manteve seus olhos azuis fixos em Jehwi, esperando uma resposta.

    — Eu…

    Logo, Jehwi cerrou os punhos devagar. Os ombros tremiam levemente.

    — Desejo continuar servindo a senhorita. No futuro… também.

    Ouviu-se um riso seco, vindo de algum lugar. Quando ergueu os olhos discretamente, Jehwi viu Si-u com uma expressão mais relaxada.

    — Vá em frente, então.

    — …Senhor. — Quase chorou.

    No instante em que Jehwi umedeceu os lábios com os olhos vermelhos, Si-u acrescentou com firmeza:

    — Mas ficarei ao lado dela enquanto estiver no hospital. Não será por muito tempo, apenas cerca de uma semana, então não será problema. E…

    Si-u interrompeu o fim da frase e ergueu o queixo, que antes estava apoiado na mão.

    — O fato de meu pai estar aqui é o motivo pelo qual é melhor que eu também esteja.

    E ele não sabia o que poderia acontecer enquanto Eunha estivesse no hospital. Por exemplo, se um visitante indesejado como o Maestro aparecesse de novo.

    — …Sim, senhor. — Jehwi não discutiu.

    — Pode ir agora.

    — Ah.

    — O que foi? Tem mais alguma coisa?

    Jehwi coçou a nuca e hesitou, sem conseguir encará-lo nos olhos. Pensou se deveria mesmo dizer, mas acabou abrindo a boca, como se agarrando a uma última chance.

    — Na verdade, houve um incidente em que a pulseira dela se quebrou durante o duelo com o Grande Sábio, Igual ao Céu.

    — Pulseira? — Si-u inclinou a cabeça devagar.

    — Sim. A pulseira que ela sempre usa no pulso esquerdo. Não sei os detalhes, mas parecia muito preciosa para ela.

    A atitude de Eunha, que mudou no instante em que a pulseira quebrou, ainda estava clara em sua mente. Assim como o olhar dela para a pulseira rompida dentro do carro, no caminho de volta a Seul.

    — Gostaria de conseguir outra igual para ela, mas, por mais que eu procure em lojas de acessórios ou shoppings online, é difícil encontrar. E-Então… pensei se o senhor conhecia algum lugar onde poderia comprá-la.

    — Não sei. Não me interesso por esse tipo de coisa.

    — C-Certo? Me desculpe. Não devia ter dito nada. — Jehwi sorriu sem jeito. De fato, não havia motivo para Si-u conhecer lojas que vendem pulseiras. Seria mais rápido perguntar à irmã.

    — Mas você precisa comprar? — murmurou Si-u, pensativo.

    — C-Claro, mesmo que eu consiga algo igual, nunca será exatamente como a que ela valorizava… Mas ainda assim…— Quero dizer — começou Si-u, erguendo a cabeça e olhando para Jehwi — acho que seria mais rápido você fazer uma.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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