Capítulo 69
Era setembro. Com o tempo, o que havia mudado era que a diferença de temperatura começava a se intensificar, ela havia voltado para casa após a alta, e seu contrato com Si-u estava rompido.
【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas sugere jogar o jogo de cadeia de palavras pela primeira vez em muito tempo. Você aceita?】
O gato devia estar satisfeito por ter rompido o contrato, já que parecia estar de muito bom humor. Eunha encarou em silêncio a janela de mensagem que surgiu diante de seus olhos e, de repente, se lembrou do que acontecera antes.
【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas começa a tremer e diz — Lá fora é perigoso e assustador, todo mundo me odeia.】
A atitude do gato quando disse que queria fugir do Portão Desconhecido. Parecia que não queria sair, e que queria que Eunha também ficasse com ela.
【Ela diz, chorosa, que queria brincar sozinha com você, e que você era sua única família.】
Ele havia entregado o último item escondido, no fim… Os olhos de Eunha se tornaram mais densos enquanto encarava a janela amarela de mensagens.
Aliado ou inimigo. Se alguém perguntasse a Eunha o que o gato era entre essas duas opções, estaria mais próxima de um aliado. Ainda assim, ela não conseguia apagar a sensação de relutância que não sabia de onde vinha.
【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas diz — Hein? Hein? — e insiste para que você jogue o jogo de palavras.】
…Embora fosse apenas um gato sem nada de suspeito. Um animal que não estava entre as doze criaturas míticas, o gato. O que ele realmente era, e por que era tão gentil com Eunha. Pensando bem, Eunha sabia muito pouco sobre ela.
【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas diz — Tudo bem, por que não! — e promete recompensar você com 1.000 moedas se vencer no jogo de cadeia de palavras. Você aceita?】
【Tópico ▶ Eu te amo】
Eunha encarou a janela de mensagem intensamente, como se tivesse algo a dizer, mas engoliu as palavras e falou em voz baixa:
— Ulex.
Tlin…
【Parabéns! Você adquiriu 1.000 moedas!】
Ela decidiu que, por ora, continuaria apenas observando.
No dia seguinte…
— Parabéns pela alta!
Jehwi apareceu logo de manhã cedo para a festa de alta de Eunha. Na verdade, já fazia duas semanas que ela tinha recebido alta, mas, segundo Jehwi, esse tipo de detalhe não importava quando se tratava de fazer uma festa.
— Você ainda não comeu, né? Trouxe isso no caminho… Ah, é kimbap e tteokbokki. E peguei isso escondido na casa da Jerim, mas é um licor bem caro. Isso mesmo. Royal Salute. Hoje é um dia importante, então achei que devia caprichar.
O dorso da mão de Jehwi, que usou para limpar o nariz, estava roxo. Disse que tinha caído feio de bicicleta recentemente e parecia ainda estar todo machucado. Mas Jehwi insistiu que ela não precisava se preocupar e evitou tocar no assunto.
— Ah, pedi uma pizza no caminho, mas não sabia do que você gostava, então pedi metade de um sabor e metade de outro por enquanto.
— …
— Ah, vou arrumar a cozinha primeiro. Meu Deus. Quantas latinhas de cerveja são essas? Você bebeu tudo isso de novo? Não faz nem tanto tempo que teve alta.
Jehwi vestiu o avental com naturalidade e habilidade. Embora fosse um avental da casa de Eunha, era praticamente dele, já que ela nunca o havia usado.
— É por isso que o diretor se preocupa… Cof, cof. Enfim, senhorita. Não é bom cultivar o hábito de beber cerveja antes de dormir.
Clank.
Jehwi reuniu todas as latas de cerveja em um canto e as guardou.
Eunha o observava em silêncio, até que de repente falou. — Sr. Park.
— Nossa, onde foi parar o amendoim que deixei aqui dias atrás… Sim? — Jehwi arregalou os olhos.
— Eu já disse antes, mas você pode parar de vir.
— …Ah. — Jehwi abaixou devagar o saco de lixo. Depois, lançou um olhar triste a Eunha, com os ombros caídos. — Será que… estou sendo um incômodo?
— Não. Não é isso. Mas sei que você ainda não está completamente curado. — Sentindo-se como a vilã, Eunha baixou o tom de voz e continuou: — Como sabe, rompi o contrato com Si-u Shin. Isso significa que você não tem mais obrigação de cuidar de mim…
Mas teve que parar de falar ao ver que Jehwi havia abaixado os ombros de forma desanimada e parecia extremamente triste.
— Senhorita, estou bem. Só estou com uns roxos, mas graças ao Sr. Shin… Não, de verdade, estou bem. Acredite em mim. Ou será por causa das minhas broncas? É tudo pelo seu bem… Esquece. Não falo mais nada.
— …
— Só estou fazendo isso porque quero. Você salvou a minha vida e a da minha irmã.
— Mas você não tem outro trabalho a fazer?
— Eu não… tenho mais nada. — A resposta arrastada e o olhar desviado deixavam claro que havia algo suspeito. Não surpreendentemente, havia duas coisas que Jehwi não contara a Eunha.
Primeiro, que já havia entregado sua carta de demissão.
Segundo, que Si-u a cancelou ao recebê-la e ordenou que ele ajudasse Eunha à distância por enquanto.
Embora, na prática, ele não estivesse nem um pouco à distância.
— Se me permitir, gostaria de trabalhar para você, e não por obrigação. — Jehwi fez uma reverência diante de Eunha.
— …Tudo bem. — Eunha assentiu, por fim.
Depois de tudo que ele disse, não tinha como simplesmente colocá-lo para fora. E, além disso, nada era inconveniente em tê-lo por perto. Graças a ele, a casa estava impecavelmente limpa. A geladeira nunca ficava vazia, e as roupas e cobertas sempre tinham cheiro de amaciante. Cerca de dez minutos depois, Jehwi já estava de mangas arregaçadas e havia montado uma mesa tão cheia de comida que parecia prestes a quebrar.
— Pronto, prove, senhorita. Parabéns pela alta, mais uma vez. Ah, e também pelo fim da suspensão de caça.
— Obrigada. — Eunha agradeceu brevemente enquanto pegava um dos pratos. Como Jehwi dissera, sua suspensão tinha acabado. Ela havia recebido o aviso na noite anterior da Associação de Jurisdição dos Caçadores da Coreia.
— Que alívio. Parece que a Associação ainda não sabe que você entrou no Portão Desconhecido em Busan.
Jehwi estava radiante. Não era como se não soubesse que a internet estava pegando fogo com os rumores sobre a Princesa da Chama Negra. Estava preocupado, mas agora falava com expressão aliviada.
— É mesmo o Grande Sábio, Igual ao Céu. Parece que aquele boato de que ele fundou uma guilda só por lealdade era verdade. Talvez seja a forma dele de agradecer por ter salvado membros da Imortal? — Jehwi sorriu aliviado. Assim, os dois brindaram ao fim da suspensão da Princesa da Chama Negra.
E cerca de uma hora depois…
— Ai, minha barriga…!
Weep.
Totalmente bêbado, Jehwi afundou a cabeça na mesa. — Como isso é possível… Senhorita… Você passou por tanta coisa… e conquistou todas as suas conquistaaas!
— … — Eunha tomou um gole e lançou um olhar a Jehwi.
Ele encarava o celular com uma expressão de pura tristeza. — Por que aquela máquina podre te avaliou como Rank F? Se não fosse isso, você já podia ser Rank A+, ou até Rank S! Não é? Você nem ficou pra trás na luta contra o Grande Sábio, Igual ao Céééu!
— Sr. Park, você está bêbado.
— Não! Eu tô muito bem. É o mundo que tá erradoo! — Jehwi gritou e bateu no próprio peito, como se tudo fosse uma grande injustiça. — Como é que você pode ser uma caçadora de conceito de Rank F? Tá, você usa um vestido chamativo, beleza. E carrega aquela sombrinha apavorante! Mas hein?! Onde já se viu uma caçadora de conceito tão poderosa?
— …
Eunha desistiu de tentar convencê-lo e desviou o olhar.
— A essa altura, você já devia estar nadando em honra e riqueza… Isso é tão injusto, tão injusto… É isso. — Jehwi ergueu a cabeça, determinado, e começou a digitar no celular. — Pelo menos vou contar pra todo mundo o quão forte e justa é a nossa caçadora…
— Sr. Park — murmurou Eunha com calma. — Tá tudo bem.
— Mas…
— De verdade — repetiu, com firmeza.
No canto da mesa, estava virado um talão de poupança. Era o que Si-u havia deixado para ela pouco antes do rompimento do contrato. Seria o mínimo por lealdade? Ou apenas pena? Ela não sabia. Com aquela quantia, podia viver por anos, talvez décadas, sem se preocupar com comida. Era tanto assim. E o apartamento também agora estava no nome: Yura Lee.
— Mas ninguém te reconhece.
— Eu nunca desejei ser reconhecida. — Nunca desejou antes, nem agora, nem no futuro. — Já é o bastante. — Eunha ergueu a cabeça e encarou Jehwi. — Você, sua irmã, e a Guilda Imortal. Isso é suficiente.
Ela nunca quis ser uma caçadora famosa.
“Na verdade…”
Se pudesse, gostaria de encontrar algo que pudesse fazer fora da vida de caçadora. Agora, queria buscar isso. Uma vida normal. Queria voltar a uma vida normal, aquela que achava ter perdido. Se não fosse tarde demais.
— …Senhorita…
Justo quando Jehwi fungava,
Ding dong…
A campainha tocou. Seria a pizza?
— E-Eu atendo. — Jehwi, que estava com o rosto afundado na mesa, voltou a si e se levantou. Estaria fingindo estar bêbado…?
Alguns segundos depois…
— O q-q-que a Guilda Legião tá… fazendo aqui?
A voz de Jehwi veio da entrada. Legião? Eunha se levantou devagar da mesa.
— Estou aqui para escoltar a Princesa da Chama Negra sob ordens do Mestre.
Era uma voz masculina desconhecida. Eunha parou de andar.
O homem usava uma capa verde com estrelas bordadas em linha dourada.
— Sou Junhwan Bae, da Legião.
E lá estava o nome Legião, a guilda da Trapaceiro Minju Song, brilhando em sua insígnia. Ainda assim, Jehwi já trabalhava nesse meio havia mais de dez anos. Não havia como ele não saber quem era.
“Junhwan Bae, Vice-Mestre da Guilda Legião.”
Por que alguém como ele — um caçador famoso nas posições mais altas entre os Rank A — estaria ali? Será que sabia sobre o Portão Desconhecido? Mas provavelmente aquilo não tinha relação com a Legião.
Não, na verdade… que tipo de conexões ela tinha para conhecer tanto Maestro quanto o Trapaceiro?
Jehwi olhou de relance para Eunha. Já estava completamente sóbrio fazia tempo.
— …?
Eunha inclinou a cabeça e franziu as sobrancelhas. Do lado de fora, parecia que estava falando com alguém que nunca tinha visto antes.
— Ouvi dizer que salvou nosso mestre no Portão de Yeouinaru, e também que foi suspensa de caçar por causa disso.
— …Ah.
Só então a expressão confusa de Eunha desapareceu. Ela se lembrou de quem era. Ele era um dos homens que a seguiram quando levou Minju para a casa de sopa de carne.
Na época não sabia, mas agora sabia. Ele não era um sequestrador, mas alguém da mesma guilda que Minju. Ela o havia levado para casa naquela ocasião, e ele deve ter descoberto o endereço por meio do próprio Minju.
— Me desculpe pelo que houve antes.
— Está tudo bem. Eu é que deveria pedir desculpas.
Quando Eunha fez uma leve reverência, Junhwan a respondeu com uma ainda mais profunda.
— Gostaria de agradecer em nome da família Legião. Muito obrigado.
— Não foi nada. Só fiz o que devia — respondeu com naturalidade. Junhwan ergueu devagar a cabeça.
Pensava que ela era uma caçadora de conceito de Rank F impossível de decifrar.
— Mestre, por que você gostava tanto dessa caçadora de conceito?
— Vai gostar dela também, depois que conversar um pouco.
— …
Junhwan a encarava em silêncio e então segurou firme a boina ao fazer nova reverência.
— O kit do modelo que ele prometeu montar com você chegou, e ele pediu que a senhorita visitasse a sede.
Eunha piscou devagar ao encarar a nuca curvada de Junhwan. Um modelo…? De lado, Jehwi observava os dois com dúvidas crescendo no rosto.
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