No dia seguinte, 11h da manhã

    — Vamos indo agora.

    Assim que Jehwi verificou que Eunha havia entrado no carro e colocado o cinto de segurança, ele pisou lentamente no acelerador.

    — Você terminou a pulseira?

    — Sim, bem… terminei, de alguma forma. — Eunha tirou algo discretamente de dentro dos braços. Era uma pulseira de desejos trançada com fio laranja.


     

    Na noite anterior.

    — Então você vai até a sede da Guilda Legião? Sozinha?

    — Você deve cumprir suas promessas.

    — Hmmmmmm…

    Jehwi parecia querer impedir Eunha de ir sozinha até a sede da Legião. Era óbvio. A Lobo tinha muitos rivais, e a Legião era um deles. Mas Jehwi não tinha nem capacidade nem autoridade para impedi-la. Depois de observá-la por vários meses, concluiu que ela nunca voltava atrás em suas decisões. Em vez de chamá-la simplesmente de teimosa, seria mais apropriado compará-la a um chifre de rinoceronte.

    No fim, Jehwi decidiu respeitar as decisões de Eunha. Sem Si-u por perto, ele não fazia ideia de como detê-la.

    — Entendido. Vou preparar algo para amanhã de manhã.

    — Preparar algo?

    — É uma questão de boa educação levar um presente quando se visita a casa de alguém, não é? Normalmente recomendo frutas ou bebidas… Mas como é o Trapaceiro, fico um pouco preocupado.

    Dissem para escolher algo bonito, se possível. Seria melhor enviar um presente com o qual o Trapaceiro ficasse satisfeito. Ao lado de Jehwi, que estava perdido em pensamentos, Eunha de repente falou.

    — Sr. Park, sou eu quem vai dar o presente, então eu mesma vou prepará-lo. Mas tenho um pedido.

    — Você já tem algo em mente?

    — Tenho.

    Eunha estendeu a pulseira de desejos no pulso. Era a nova pulseira de desejos que Jehwi e Si-u haviam feito para ela.

    — Acho que isso seria bom.

    — Perdão? Mas por que você…

    — Porque eu fiquei feliz.

    Eunha sorriu levemente ao tocar sua pulseira de desejos.

    — Quando recebi isto, fiquei muito feliz.

    Desde então, Jehwi lhe conseguiu os materiais para fazer uma pulseira de desejos, e Eunha logo pôde completá-la sozinha. Ela não fazia uma desde os tempos do ensino fundamental, então estava um pouco perdida, mas conseguiu.


    “Espero que ele goste.”

    Agora que havia feito a pulseira, pensou tardiamente que talvez devesse ter preparado algo mais. Será que devia ir até um supermercado próximo e comprar outra coisa?

    Enquanto isso, Jehwi descansava o queixo no volante quando lançou um olhar para o banco do passageiro.

    — Vai dar tudo certo. O que importa em um presente é a intenção de quem dá. Você se esforçou para fazê-la, então o Trapaceiro certamente vai reconhecer isso.

    — Vai mesmo?

    — Vai sim. Você reconheceu, não reconheceu? — Jehwi sorriu.

    — …É, reconheci. — Só então o rosto de Eunha se suavizou um pouco.

    Ela guardou novamente a pulseira de desejos com carinho, com uma expressão aliviada, enquanto se aproximava gradualmente da sede da Guilda Legião.


    Songpa, Seul. Sala de produção no subsolo da sede da Guilda Legião.

    — Mestre, o senhor parece animado.

    Junhwan colocou uma grande caixa no chão e lançou um olhar para Minju.

    Clack clack.

    Suas mãos pequenas eram bastante ágeis enquanto ele manipulava o rifle. Normalmente, ele bloqueava totalmente qualquer conversa paralela durante o trabalho, mas, de forma incomum, respondeu.

    — Estou mesmo. Ela chega em breve. — Minju tirou os óculos de proteção e sorriu. — Quero fazer o máximo que puder antes que ela chegue. Tem muita coisa que quero mostrar pra ela. Isso e aquilo.

    Hehe.

    Minju sorriu enquanto esfregava o topo do nariz. As obras que ele já havia terminado na noite anterior formavam uma fileira de dominós ao seu lado. Havia uma faca bowie com feitiços lançados, granadas incendiárias em forma de coelho e até granadas de fumaça com cores de arco-íris. Junhwan passou os olhos por elas e abriu a boca discretamente.

    — Mas então, Mestre. O senhor acha que é verdade que ela fechou o Portão Desconhecido do Mercado Jagalchi, em Busan? E que ela duelou com o Grande Sábio, Igual ao Céu? A internet está em alvoroço com isso.

    — Vai saber. — Minju respondeu secamente, sem nem olhar para ele. Junhwan achava que ele zombaria, diria que era absurdo ou lhe daria uma bronca por falar bobagens, mas isso não aconteceu.

    “Será que ele sabe de algo?” Junhwan ficou curioso, mas não perguntou de novo e fechou a boca. Achava que, mesmo que perguntasse, ele não responderia.

    Tap.

    Minju manipulava o rifle que havia colocado sobre a mesa como se fosse feito de argila.

    【Passiva ▶ Moinho de Arroz de Coelhinho ativada. Coisas legais são divertidas! Sua imaginação toma forma.】

    Então, a superfície rígida do rifle começou a se agitar como massa de sujebi. Junhwan, ao lado dele, assistia como se estivesse enfeitiçado, um espectador vendo um truque de mágica. Era sempre interessante quando o observava.

    — Pronto! — Minju ergueu o rifle com uma expressão satisfeita. Tcharam! Estava completo.

    — Hmm, vejamos. O próximo…

    Minju arregaçou as mangas e voltou à fabricação com um olhar empolgado no rosto.

    Mash mash.

    Ele até cantarolava de vez em quando. Um sorriso surgiu no rosto de Junhwan enquanto permanecia ao lado de Minju.

    “Ele está tão feliz assim?”

    Beep.

    Um bip soou no relógio de Junhwan. Parecia que a visitante havia chegado.

    Junhwan saiu silenciosamente para não atrapalhar Minju.


    — Estávamos esperando.

    Enquanto Eunha fechava sua sombrinha ao chegar na entrada da sede, Junhwan, de alguma forma, já sabia e veio recebê-la. Eunha olhou discretamente ao redor. Parecia haver uma câmera de segurança por ali.

    — Se tivesse avisado com antecedência, eu teria ido buscá-la. Ah, vou guardar a sombrinha.

    Junhwan estendeu a mão em direção à sombrinha de Eunha. Ela olhou para a mão estendida e piscou lentamente.

    — Primeiro, fique atenta. Segundo, fique atenta. Por favor, senhorita. Tudo bem?

    Ela se lembrou de Jehwi, que lhe pediu insistentemente que tivesse cuidado, até o momento em que saiu do carro. Eunha respondeu sem soltar a sombrinha.

    — Está tudo bem. É mais confortável segurá-la.

    Ela não tinha hostilidade em relação a Minju. Pelo menos, para Eunha, ele era apenas um garoto que admirava soldados. Mas acidentes costumavam acontecer onde menos se esperava. Não havia motivo para ignorar o conselho de Jehwi.

    — Hmm, entendi. — Junhwan recolheu a mão de forma meio constrangida. Aquele vestido e a sombrinha deviam ser desconfortáveis, mas até onde ia a fidelidade dela ao conceito?

    “Bem, o Mestre dorme abraçado com a bazuca.”

    Como Junhwan servia de perto um fanático como Minju, entendia esse tipo de coisa.

    — Vamos entrar, então?

    Ao seguir Junhwan para dentro da sede da Legião, Eunha viu que o interior era simples e até lembrava uma pousada. Era um pouco maior do que a mansão de Si-u. Diziam que era uma das quatro grandes guildas da Coreia, mas a sede parecia mais comum do que ela imaginava. Ou talvez fosse a mansão de Si-u que fosse fora do padrão.

    — O Mestre está no subsolo. Vou levá-la até ele agora. Ele está esperando com o pescoço esticado desde as seis da manhã.

    Ao passarem pela cozinha e abrirem uma grande porta de ferro, ela viu uma escada que descia ao subsolo. Quando o acompanhou escada abaixo, um cenário inimaginável se revelou diante de seus olhos.

    “…Um bunker?”

    O subsolo da sede da Legião lembrava uma base secreta de um estado militarizado. As espessas portas de aço nas paredes internas tinham seus próprios discos de senhas mecânicas, e o piso também feito de aço emitia sons frios e metálicos a cada passo que ela dava. Enquanto caminhava, Eunha observava as diversas armas militares dispostas dos dois lados do corredor e percebeu algo estranho.

    — Parece que não tem ninguém aqui.

    Na mansão de Si-u, às vezes encontrava faxineiros ou assistentes ao sair do quarto. Mas aqui era diferente. Embora tivesse descido da superfície e caminhado por um bom tempo, não havia sequer uma formiga à vista. Para ser a sede de uma das quatro grandes guildas do país, aquele silêncio era estranho.

    — Neste momento, só o Mestre e eu estamos na sede. Dois dos outros cinco estão em missão no Portão de Rank A de Gwangju, e os outros dois foram apoiar a guilda Agulha de Pinho. Normalmente, nos movimentamos em grupos de dois ou três.

    Junhwan explicou enquanto dobrava os dedos um por um.

    — Minha parceira é a Suhyeon, mas ela teve que ir à Associação e está fora.

    — Entendi.

    — Todos sabem que temos uma visitante hoje, então vão voltar antes do jantar. Salvo algum imprevisto, tentamos jantar os sete juntos.

    — Sete pessoas?

    — Isso. Nossa Legião é composta por apenas sete pessoas.

    …Será que ouvi direito? Eunha piscou devagar diante da resposta de Junhwan.

    — Normalmente, quando se fala em legião, não significa um grupo militar com milhares?

    — Somos sete que valem por setenta mil. — Junhwan sorriu. — Somos todos assim.


    — Noona1!

    Tap tap.

    Um garotinho correu na direção dela. Era Minju, com o rosto todo coberto de poeira de carvão.

    — Por que demorou tanto?

    — Desculpe, Mestre. Demorei um pouco guiando ela pelo subsolo da sede.

    — É mesmo? Ah, ouvi dizer que você foi hospitalizada! Está bem? Eu queria procurar o hospital só por precaução, mas seria um escândalo se eu fosse. — Ele ainda era o Mestre de uma das quatro grandes guildas da Coreia. Conseguir a informação de que Eunha estava hospitalizada era fácil. Minju se aproximou de Eunha e sussurrou discretamente em seu ouvido: — Aquele maluco peludo viciado em lutas. Ele não é nada, né?

    — …Como? — Eunha olhou de relance para Minju. Ele sorriu e mostrou os caninos, depois se afastou dela.

    — Vi na internet. Bom, além disso, tem muitos buracos por onde dá pra escutar também. Você está em alta ultimamente.

    — …

    Eunha não respondeu.

    Minju provavelmente não esperava uma resposta, pois já se virava para fuçar uma caixa de brinquedos.

    — Enfim, olha só. Muito legal, né?

    Tagarela, tagarela, tagarela.

    Minju estava animado, e Eunha ficou em silêncio ao lado dele, ouvindo. Junhwan os observava em silêncio, a alguns passos de distância. O duelo com o Grande Sábio, Igual ao Céu. A colaboradora oculta no Portão Desconhecido. Ultimamente, muitos rumores cercavam a Princesa da Chama Negra, mas Junhwan não se interessava muito. O que importava naquela situação?

    — Veja isto também! — Hehe. A risada de um menino.

    Junhwan, de algum modo, sentiu os olhos se encherem de lágrimas. Não lembrava a última vez em que tinha visto o Mestre tão inocente. Esperando que os dois se divertissem, Junhwan se retirou. A partir dali, o tempo voou para Minju. Ele arrastou uma caixa maior do que ele mesmo até a frente de Eunha. Quando retirou o pano branco que a cobria, revelou-se um enorme modelo de tanque.

    — Isso também é uma miniatura?

    — É sim. Não comprei, eu mesmo fiz. Se olhar de perto, tem gente dentro também. Quer ver? — Minju apontou para a janela do tanque com o dedo indicador.

    — É verdade.

    — Né? Né?

    Como ele disse, havia uma pequena figura humana, com cerca de dois centímetros, visível pela janela.

    — E agora… — Minju abriu a gaveta com uma expressão determinada. O que ele tirou cuidadosamente com suas duas mãos pequenas foi…

    Tcharam! É uma placa de identificação dourada!

    — …

    A placa dourada balançava diante dos olhos dela. Ao vê-la, os olhos de Eunha tremularam levemente por um instante.

    — Hora do quiz.

    Minju levantou de repente o dedo indicador.

    — Esta placa é verdadeira ou falsa?

    Eunha piscou lentamente diante do quiz repentino. Mas não demorou a responder.

    — …É falsa.

    — E por quê?

    — Se fosse verdadeira, não teria ‘MADE IN KOREA’ escrito nela. E a data de emissão também está errada. — Eunha esfregou a superfície da placa. Fevereiro de 1998. — Naquela época, as placas eram emitidas a cada três meses. Então poderia haver uma de janeiro, mas não de fevereiro.

    — … — Minju encarou Eunha por um momento e então sorriu. — Correto. Eu esperava que você notasse que era uma réplica, mas sabe mais do que imaginei.

    Swish.

    Minju tirou a placa da frente dela e voltou a vasculhar a caixa. Eunha observou em silêncio suas costas pequenas.

    “Agora há pouco…”

    Seria só impressão dela? Os olhos de Minju pareciam ter mudado de repente…

    Wham!

    — Mestre, a comida está pronta! — A porta se abriu com força. Junhwan segurava uma espátula suja de óleo e os chamava com um gesto.

    — Já vou.

    Minju se levantou, disse — Você também vem! — e sorriu.

    Antes que Eunha pudesse dizer qualquer coisa, Minju a empurrou e a fez sentar à mesa. Em um piscar de olhos, uma multidão se reuniu ao redor dela.

    — Você chegou! Olá, sou Suhyeon Ham, e caço com o apelido de ‘Pássaro Azul’.

    — Desculpe a demora. Sou Gyeongho Seok. Meu apelido é ‘Atacante’. Ouvimos muito sobre você pelo Mestre.

    — Ah… Certo.

    Eunha lançou um olhar para Minju. Ele rasgava um pacote de pão com a expressão inocente de sempre. Talvez fosse só impressão dela. Ela o encarava com um olhar estranho.

    — Não vai comer? — Minju sentiu o olhar dela e se virou. Seus olhos castanhos eram apenas inocência.

    — Agora há pouco…

    Justo quando Eunha ia abrir a boca…

    — Mestre, ela nunca comeu do nosso jeito. A gente tem que explicar primeiro!

    De repente, alguém se enfiou entre Minju e Eunha. Era um dos membros da Guilda Legião.

    Nosso jeito de comer? Os olhos de Eunha se estreitaram quando ela olhou para a comida na mesa. Em vez de pratos, havia bandejas de aço. Pão embalado, dois hambúrgueres um pouco menores que a palma da mão, salada de repolho com molho, geleia de morango e leite em caixinha. E só isso.

    — Já ouviu falar? Bag nasty! — alguém gritou com orgulho.

    1. Palavra coreana usada por homens para se referir a uma mulher mais velha, como uma irmã mais velha ou uma amiga próxima, com um tom de respeito e carinho.[]

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