Índice de Capítulo

    Minju, deitado na maca médica móvel, não se movia, como se estivesse morto. O topo dos lençóis estava completamente tingido de escarlate, como se já fossem vermelhos desde o início. Ela não precisava verificar para saber. Era tudo sangue de Minju.

    — Mestre…! — Surpresa, Suhyeon cobriu a boca. Ela não conseguia nem gritar ao ver o estado brutal de Minju e começou a tremer.

    — …

    Tanto os membros da Guilda Legião quanto Eunha, que nunca demonstrava nenhuma expressão, estavam iguais. Eunha não se movia, como se estivesse enraizada no lugar, com os olhos negros arregalados.

    — G-Guardião. Agora não…

    Suhyeon passou pelo agente de transporte e se arrastou até Minju. A bandagem ensanguentada cobria toda a pequena cabeça do garoto, até mesmo os olhos, e havia suor frio e miúdo ao redor do nariz que mal aparecia. Mesmo alguém sem nenhum conhecimento médico podia ver que ele estava em estado crítico.

    — Mas…M-Minju…

    Suhyeon estendeu uma mão trêmula. Antes mesmo que sua mão o tocasse, a capa de Minju caiu, sem forças, no chão. A capa verde estava tão encharcada de sangue que parecia enegrecida. As estrelas bordadas em fio dourado agora estavam negras.

    Ugh… — Suhyeon cobriu a boca e desabou ali mesmo. As lágrimas que não conseguiu conter caíram como gotas de chuva grossas.

    — Vamos transportá-lo agora. — O paramédico falou com pesar e segurou na alça da maca. Nesse instante…

    — …Na.

    Twitch.

    Minju, que até então não se movia como se estivesse morto, mexeu levemente o dedo. Expirou com dificuldade e abriu os lábios muito levemente.

    — Noo… Mo… delo…

    — Sim, Mestre. A senhorita Yura está aqui. — A voz saiu extremamente abafada. Era Junhwan. Ele mordeu com força o lábio inferior e se virou para Eunha.

    Eunha encontrou seu olhar e hesitou um pouco, então se aproximou de Minju com cautela.

    — …

    Mas foi só até aí. Eunha ficou paralisada, sem conseguir nem mover os lábios, porque o estado de Minju era tão terrível que não conseguia descrever de perto.

    Rustle…

    Ela ouviu um ruído vindo dos lençóis. Enfaixado, Minju estendeu a mão com todas as forças. A pequena mão que costumava brincar com o rifle que ele mesmo fez estava agora transformada, como uma folha podre. Com uma agulha mais grossa que seu dedinho fincada no topo da mão, Minju tateava o ar sem rumo.

    — Noo- na…você…tá aí?

    — …Sim — respondeu Eunha baixinho. Talvez a voz tenha saído baixa demais. Minju tateou o lençol e abriu os lábios novamente, com dificuldade.

    — Nu…Na, você…tá aí?

    — Sim, eu tô aqui. — Desta vez, ela respondeu mais alto. Mas a mão de Minju ainda estava no ar.

    — Junhwan…Noo…na…

    …Como se não conseguisse ouvir a voz de Eunha.

    Minju não se moveu mais, nem um pouco.

    O rosto de Eunha se enrijeceu com a tensão crescente, e ela só então percebeu o novelo de linha que as pequenas mãos seguravam. Estava sujo de terra, mas Eunha sabia. Aquilo já foi laranja. Era uma pulseira de desejos laranja.


    — Que diabos aconteceu?

    O corredor estava sombrio. A voz de Suhyeon, que reprimia a raiva, tremeu e ecoou.

    Entre os membros da guilda que abaixavam a cabeça como se não tivessem rosto, Junhwan abriu a boca com dificuldade.

    — Se acalme. A recuperação do Mestre vem primeiro agora.

    — Recuperação? — Suhyeon franziu a testa, como se aquilo fosse absurdo ao ouvir Junhwan.

    Suhyeon já havia confirmado o estado de Minju. Era possível se recuperar daquilo?

    Não. Nunca. Minju já tinha passado por uma cirurgia, mas estava em um estado pior do que antes. Os cabos do eletrocardiograma colados por todo o corpo, o tubo grosso que entrava pelos lábios para garantir a respiração, e a agulha intravenosa que perfurava sem dó a pele fina no dorso da mão. Além disso, havia aparelhos médicos que ela nem sabia o nome grudados naquele corpo minúsculo.

    — O Mestre nunca foi ao hospital nem quando pegou gripe. Ele odeia agulhas desse tanto…

    Suhyeon mordeu o lábio inferior e estreitou o olhar.

    — Fala. Agora. Eu vou matar — acrescentou Suhyeon, e algo escorregou debaixo de sua capa. Era uma cauda. A cauda de um pássaro com penas azuis.

    Junhwan a encarou em silêncio e respondeu em voz baixa. — Pare. O que você pretende fazer? O Portão Desconhecido já foi fechado. Tudo que podemos fazer é rezar pela recuperação do Mestre.

    — Mas como…! — gritou Suhyeon, agarrando Junhwan pelo pescoço. Suas veias azuis saltavam do punho cerrado. — O que você estava fazendo? O que você estava fazendo pra deixar o Mestre naquele estado?!

    — …Não fizemos nada. Saímos do Portão por ordem dele.

    — O quê? — Suhyeon piscou, como se fosse absurdo. — Tá dizendo que fugiram, deixando o Mestre pra trás?

    Junhwan não se soltou das mãos de Suhyeon que o seguravam pelo pescoço e a encarou nos olhos. — Derrotamos todos os monstros nomeados dentro do portão, inclusive o chefe. Confirmamos a mensagem de conclusão, e a saída abriu com certeza. Mas não houve nenhum item deixado para trás, e só conseguimos pensar que havíamos finalizado tudo. — O rosto de Junhwan se obscureceu ao relembrar o que aconteceu. Ele recitou cada palavra como se estivesse vomitando.

    — E? Então não fizeram nada? Até o Mestre ficar daquele jeito? — Suhyeon quase gritou.

    Junhwan falou, ainda com a gola sendo segurada. — Isso mesmo. Não fizemos nada. Porque o Mestre ficou daquele jeito no lugar da gente. Sozinho.

    Sua voz ficou embargada.

    — Então, por isso, não tínhamos que fazer nada.

    — …

    — …Desculpa.

    Suhyeon não teve escolha senão fechar a boca. Porque os olhos dele, ao falar…

    — Eu… sinto muito…

    Estavam vermelhos demais.

    A mão de Suhyeon, que segurava a gola de Junhwan, caiu lentamente.

    — Você. Não é médico?

    Era possível ouvir a voz de Gyeongho além das portas fechadas. Ele estava tão agitado quanto Suhyeon. Sem sequer ajeitar a capa bagunçada, Junhwan se virou em silêncio.

    Clique.

    Quando a porta se abriu, como esperavam, puderam ver Gyeongho em fúria contra o médico. Ele estava tão furioso que parecia prestes a virar a sala de tratamento de cabeça pra baixo.

    — O quê? Ferimentos de portões são diferentes de ferimentos comuns? E daí? Vai deixar assim mesmo?

    — Faremos o possível, mas como sabe, é difícil tratar com a medicina moderna quando se trata de maldições…

    O médico repetia a mesma coisa de novo e de novo.

    Eunha estava encostada num canto da sala e observava tudo em silêncio, sem intervir nem sair. Na verdade, todos ali sabiam que não era culpa do médico Minju estar naquele estado. Mas mesmo assim…

    — Droga! Você é médico. Não é seu trabalho salvar pessoas?

    Não conseguiam suportar aquilo sem descontar em alguém. Justo quando Gyeongho agarrou o médico pela gola…

    — Pare com isso.

    Houve um som seco de salto, e passos desconhecidos se aproximaram.

    — Só porque são médicos, não quer dizer que sejam deuses.

    Gyeongho parou e virou lentamente a cabeça ao ouvir a voz. — …Doutora Planta?

    Uma das caçadoras de rank S da Coreia e a curandeira mais famosa e talentosa. Era Rose Geum, a mestra da Rosa.

    O som ritmado dos sapatos continuou em meio ao silêncio sufocante, até que pararam num ponto.

    Tap.

    Rose afastou suavemente a mão de Gyeongho que segurava o médico pela gola.

    — Por melhor que seja um médico, não dá pra salvar todos os pacientes. Assim como caçadores não conseguem salvar todos os civis.

    — …

    — E você deve ter ouvido também. O ferimento do Trapaceiro vem de uma maldição. Então pare de descontar sua raiva em quem não tem nada a ver com isso.

    Gyeongho mordeu o lábio inferior às palavras de Rose. Ela estava certa. Ele já sabia disso. Sabia, mas…

    Gyeongho desabou ali mesmo. — Urgh…! — Deixando Gyeongho, que chorava feito uma criança, Rose se virou calmamente para o médico assustado.

    — Você já deve saber, mas mantenha a boca fechada sobre o Trapaceiro. Principalmente com os repórteres. Isso vai sair na mídia e causar um alvoroço nas buscas em tempo real.

    — Sim, vou manter isso em mente. — O médico assentiu apressadamente.

    — Eu mesma entrarei em contato com a Associação. Você deve focar primeiro na recuperação do Trapaceiro.

    — Perdão? Mas a maldição…

    — Faça o possível para impedir que piore. Vou mandar alguém da Rosa. Esvazie esta ala e proíba a entrada, exceto equipe médica e responsáveis. Rigorosamente. Pode sair agora.

    Quando Rose fez um gesto com o queixo em direção à porta, o médico saiu apressado, como se estivesse esperando por aquilo.

    Rose se apoiou levemente na mesa e suspirou baixo, então passou os olhos pelas pessoas restantes, uma por uma. Gyeongho ainda estava caído no chão, chorando como se tivesse enlouquecido. Junhwan cruzava os braços e permanecia calado, com expressão pesada. E…

    — …?

    O olhar de Rose mudou. Uma caçadora encostada na parede, observando tudo. Vestido preto e sombrinha preta. Ela estava claramente gravada na memória de Rose.

    — …Entendo. Você.

    Os olhos de Rose, fixos em Eunha, se tingiram de um brilho indecifrável. Justo quando ia abrir a boca para falar com Eunha…

    — Tudo isso é culpa sua, que jogou nosso mestre no Portão Desconhecido. — Gyeongho, que estava no chão, agora olhava para Rose com ressentimento. Os olhos de Rose se moveram de Eunha para Gyeongho.

    — Pare, Gyeongho Seok. Algum dos rank S precisava ir ao Portão Desconhecido.

    Junhwan tentou detê-lo, mas Gyeongho não desviou os olhos ameaçadores de Rose.

    — Então por que tinha que ser nosso mestre?!

    Rose não respondeu. Apenas os encarava em silêncio. Em silêncio, como se não tivesse nada a dizer, nem precisasse dizer.

    — Doutora. Não tem mesmo… nenhuma forma de curar o Mestre? — Junhwan perguntou a Rose. Parecia mais calmo que Gyeongho, mas sentia o mesmo que ele. Com certeza queria virar o mundo de cabeça pra baixo e fazer qualquer coisa para curar Minju.

    As palavras que vieram de Rose não foram muito esperançosas. — Só podemos preparar todos os itens que possam surtir efeito contra maldições e dar pra ele. Já que só quem lançou a maldição saberia os efeitos.

    — Vamos encontrar. Seja o que for.

    Rose observou o rosto determinado de Junhwan, suspirou baixinho, então vasculhou os bolsos do jaleco. — Tem certeza de que conseguem? — Logo, ela tirou um papel cheio de caligrafia organizada. Parecia ser a tabela de combinação de medicamentos que havia registrado.

    — É isso que precisamos encontrar? — Junhwan pegou o papel apressado e checou o conteúdo. No entanto…

    — E então? Vai ser difícil, né?

    — …

    Tap.

    Junhwan deixou cair o papel com um rosto tomado pelo desespero.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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