Capítulo 75

Um silêncio pesado caiu sobre a sala de tratamento.

Eunha permanecia em silêncio ao lado deles quando pegou a lista e conferiu o conteúdo calmamente. De fato, era absurda. Tudo o que preenchia um lado do papel eram ingredientes para fabricar um único tipo de remédio.

Mesmo à primeira vista, havia facilmente mais de uma centena. Havia itens que nem mesmo Junhwan, com seus onze anos de caçadas, tinha visto antes. Embora houvesse alguns que apareciam com mais frequência…

As quantidades exigidas eram inimagináveis. Mesmo se virassem o armazém da guilda de cabeça para baixo, não seria suficiente.

— Vocês terão que vasculhar portões por conta própria pra encontrar esses itens, ou procurar guildas que os tenham e bater em suas portas. Vai ser necessário pelo menos dois meses pra reunir a maioria dos ingredientes. E vocês vão ter que esperar um ano, ou mais, pra conseguir os itens que só aparecem em portões especiais.

Não, isso seria tarde demais. Precisavam encontrar o remédio o quanto antes. Mesmo agora, Minju estava entre a vida e a morte.

— …

— …

Enquanto ninguém abria a boca, Rose manteve o silêncio por um longo tempo, até mover os lábios lentamente.

— Existe uma maneira que é a mais rápida e eficaz.

Junhwan ergueu o rosto na hora. Mas o semblante de Rose, ao encará-lo, estava mais pesado do que nunca.

— Pó de Fada — disse Rose em voz baixa, tão rígida quanto sua expressão. — É um item de classe Relíquia que remove maldições, confusão, petrificação ou qualquer tipo de anormalidade de status.

Assim como os caçadores, os itens também tinham classes. Eram cinco tipos: Avançado, Raro, Heroico, Relíquia e Lendário, nessa ordem. Era um padrão criado pela Associação Internacional de Caçadores e usado no mundo todo, assim como as classificações dos caçadores. Nem precisava dizer, mas quanto mais alta a classe, melhores os efeitos do item, e pior a chance de obtê-lo.

“Pó de Fada…”

Eunha parou no meio do caminho. O pó de fada que Rose mencionou era classe Relíquia. Ou seja, a classe mais difícil de se obter, excetuando a classe Lendária. De repente, a imagem de Minju deitado na cama como um cadáver veio vividamente à mente.

— Eu volto logo. Você pode vir me ver de novo em alguns dias?

— Yay, ouviram, né? Prometeu! Tem que vir!

Minju havia sorrido e corrido de um lado para o outro diante dos olhos dela como um esquilo, mas em poucos dias, agora ele nem conseguia respirar sozinho sem aparelhos médicos.

Pó de fada. Só isso bastava pra ele voltar ao normal?

Uma janela de mensagem subitamente apareceu diante de seus olhos. Eunha a encarou em silêncio, então abriu a boca como se tivesse se lembrado de algo.

— Você tem pó de fada, por acaso?

Então, uma pequena ampulheta girou diante dos olhos dela. O gato devia estar revirando os próprios pelos. E, depois de um momento…

Ding.

— Verifique direito.

Eunha não conseguia entendê-lo e franziu levemente a testa. Alguém podia morrer, mas ele estava falando de benefícios. De repente, Eunha entendeu.

Uma janela de mensagem quadrada surgiu diante de seus olhos. Não dava pra falar sobre humanidade com um gato cuja aparência ela nem podia ver.

Era isso mesmo. O gato era uma Criatura Mítica. Não era um monstro que atacava humanos, mas também não era um humano. O motivo da gata ser amigável e ajudar Eunha era só porque haviam feito um contrato. Talvez, com o tempo, tenham ficado mais próximos… ou talvez fosse apenas um capricho da gata.

— Por favor. Por favor, verifique direito. Pra mim… Pra ele, ele realmente precisa do pó de fada.

— Porque somos amigos.

— Assim como você e eu também somos.

Eunha ergueu a cabeça e observou a janela de mensagem.

Quando Eunha voltou para seu apartamento, sentou-se na cama e não se mexeu por um longo tempo, como se tivesse sido petrificada. A pedido dela, o gato verificou de novo, meticulosamente, se tinha o pó de fada. Mas parecia que não conseguiu encontrar.

…Não dava pra saber se ela realmente não tinha ou se estava apenas fingindo, já que Eunha não podia vasculhar os pelos da gata por conta própria. O que lhe restava agora? Eunha estava perdida em pensamentos, quando de repente ergueu a cabeça.

Tap.

Eunha pegou o celular na mesa e hesitou, então começou a discar.

Trim…

Os toques se repetiram algumas vezes, e uma voz familiar veio do outro lado.

— Alô.

— Sou eu — respondeu Eunha em voz baixa. Então, ouviu o som de algo caindo. Eunha olhou para o celular com estranhamento e voltou a encostá-lo na orelha.

— …Alô?

— …

— Você tá bem?

— …

— Desculpa ligar assim de repente. Queria perguntar uma coisa.

— …

Talvez Si-u nem estivesse ouvindo, já que não respondia. Talvez tivesse achado desagradável o contato, mesmo com o contrato entre eles encerrado…

“Se fosse isso, ele nem teria atendido.” O Si-u que Eunha conhecia tinha gostos e desgostos muito claros.

Justo então…

Houve um estalo, um toque e um baque do outro lado da linha. Eunha ouviu a resposta de Si-u um minuto depois daquele barulho.

— …O que foi?

A voz dele estava muito abatida. Que barulho era aquele que ela tinha escutado antes? Não tinha como saber.

— Estou procurando por pó de fada. Queria saber se consigo alguma informação.

— O que tem ele?

— Nada. Só fiquei curiosa, dizem que é um item valioso.

— …

E o silêncio voltou. Eunha esperou uma resposta dele, então acabou abrindo a boca primeiro. — Deixa pra lá. Se você não souber, tudo bem. Vou desligar.

— …Pó de fada.

Justo quando ela estava prestes a encerrar a ligação, uma voz baixa escapou do receptor.

— Pó de fada é um item que só cai em portões com monstros do tipo fada, e ainda por cima, portões de rank S ou superior. Como você sabe, monstros do tipo fada são bem raros por si só, e o item é classe Relíquia, então a chance de queda é baixa. Eu mesmo nunca vi.

— …Sério?

— É. Mas isso não quer dizer que não exista um jeito. E já tá na hora. O leilão de caçadores vai acontecer em breve.

Eunha piscou, ainda com o celular na orelha.

— Leilão de caçadores?

— O leilão que acontece uma vez por ano em Sejong. Talvez você encontre pó de fada lá.

— Onde em Sejong ele é realizado?

— …Você vai mesmo? Mesmo que tenha lá, o preço vai ser astronômico. E vai ter muita gente de olho.

— Entendi — respondeu Eunha sem rodeios.

Silêncio de novo. Nem som de respiração havia na linha. Eunha aproveitou o tempo para continuar pensando em outras coisas, então abriu os lábios em voz baixa.

— Tudo bem, por enquanto era só isso. Obrigada.

— …

— Vou desligar, então.

— …

— …

Eunha conferiu a tela do celular. A chamada, que ela achava que ele encerraria primeiro, não mostrava sinais de ser finalizada, mesmo após alguns segundos.

— …Vou desligar.

— …

Si-u nunca respondeu. Talvez tenha achado que ela já tinha desligado e simplesmente enfiou o celular no bolso de trás.

Tap.

Eunha acabou encerrando a ligação primeiro. Era pelo telefone, então não podia ver a expressão dele e ter certeza, mas ele estava diferente do Si-u que ela lembrava. Não conseguia explicar bem, mas parecia diferente.

— …Primeiro.

Eunha estava absorta em pensamentos, então foi até a sala e ligou o laptop sobre a mesa. O leilão de caçadores, como Si-u havia dito.

Tap tap…

Eunha esticou os dois dedos indicadores e começou a digitar rapidamente no teclado.

310 moedas… Eunha estava rolando a página para baixo quando parou por um instante, perdida em pensamento.

— O que dá pra fazer com 300 mil moedas?

— Bom. É difícil converter moedas em moeda comum, mas… uns trinta milhões de dólares?

Se a memória de Eunha estava certa, era isso que Si-u tinha dito. Trinta milhões de dólares por trezentas mil moedas. O que significava dez mil dólares por dez mil moedas, e cem dólares por uma moeda. Então, calculando…

…Custa mais de trinta mil dólares só pra participar?

Os organizadores deviam estar malucos. Ou o leilão de caçadores era tão gigantesco que fazia qualquer um ficar de boca aberta. Caso contrário, era difícil acreditar nesse valor. Se levasse em conta o pagamento atual de caçadores modernos, nem era uma quantia tão absurda assim. Mas era diferente para Eunha. Ela nunca tinha gastado mais de mil dólares de uma vez na vida. Claro que era preciso considerar o custo de vida na Coreia da época em que Eunha vivia, mas mesmo assim. E claro, o que pediam ali eram moedas, e não dinheiro comum. E, felizmente, a criatura mítica com quem Eunha tinha contrato, Viajante Felino das Trevas, tinha o hábito de patrociná-la com moedas.

“Certo, eu vou ter moedas suficientes.”

Ela não tinha conferido recentemente, mas da última vez que olhou, tinha mais de quatrocentas mil moedas sobrando, então não faltaria. Eunha moveu a mão e continuou rolando a página para baixo.

Logo, os olhos negros de Eunha se fixaram na última linha da janela do navegador.

Era dali a apenas dois dias.