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    10 de setembro de 2031. Era o amanhecer do dia em que o leilão de caçadores seria realizado.

    Depois de pesquisar minuciosamente as resenhas sobre o leilão de caçadores nos blogs do NEVER, Eunha havia chegado às três da manhã, conforme aconselhava uma blogueira. Fora alertada com todas as letras de que, do contrário, levaria o dia inteiro só para emitir sua placa de certificação. Felizmente, conseguiu a placa antes do meio-dia, mas acabou enfrentando um desafio inesperado.

    — Gostaria de trocar algumas fichas.

    Era o capitalismo em sua forma mais amarga. Momentos antes, Eunha procurou o balcão de câmbio assim que entrou.

    — Bem-vinda. Quanto gostaria de trocar?

    Eunha pensou por um instante diante do sorriso hospitaleiro da recepcionista. Graças à sua preparação cuidadosa, sabia que precisaria de fichas para o leilão, e que poderia comprá-las no balcão de câmbio com moedas, dinheiro em espécie ou até cartão de crédito. Mas não sabia exatamente quanto seria ideal. Viu a pessoa antes dela trocar algumas milhares de fichas… Então deveria ter o suficiente para dar lances em um item de classe Relíquia.

    Eunha terminou de refletir e respondeu com calma:

    — Dez mil.

    Pelo que ouvira, era necessário pagar uma taxa significativa para trocar fichas, mas não se importava.

    No entanto, em contraste com a segurança de Eunha, a recepcionista a examinou com uma expressão um tanto desconfortável e abriu a boca com cautela.

    — …Hm, desculpe, mas poderia me mostrar sua placa por um momento?

    Eunha entregou a placa que havia recebido pela manhã. A dela era branca. Significava que era uma caçadora abaixo do rank C.

    — Obrigada pela confirmação. Sinto muito, mas o número máximo de fichas que pode trocar com uma placa branca é de mil e quinhentas fichas.

    — Mil e quinhentas?

    — Sim, isso mesmo.

    A recepcionista sorriu diante de Eunha, que ficou paralisada.

    — Se quiser trocar o valor máximo, posso ajudá-la. Caso precise de mais fichas, poderá consegui-las vendendo itens para outros caçadores no mercado livre. Quer que eu a oriente até o balcão de aluguel de estandes?

    — …

    Eunha ficou paralisada ao sair do centro de informações. Deuses… ela não imaginava que o número de fichas possíveis de trocar mudava conforme o rank. Sentiu nos ossos, mais uma vez, o quão importante era o rank de caçador no mundo moderno.

    “Será que tenho algo que possa vender? Vamos dar uma olhada primeiro.”

    Alguns ícones se ativaram no ar quando ela tocou levemente no vazio. Tocou, hesitante, no ícone da mochila, no canto inferior direito.

    Ding.

    【Carregando inventário.】

    Quanto tempo fazia desde a última vez que abrira a janela de itens? Quando comia carne de monstros e usava suas peles como cobertores, ela vivia abrindo. Mas desde que escapara do Portão Desconhecido, nunca mais havia checado direito o inventário.

    【Há muitas informações para carregar. Isso pode levar algum tempo.】

    【- – – Carregando – – -】

    Uma janela de carregamento repentina surgiu diante de seus olhos. Precisava mesmo carregar só pra exibir o inventário? Esperou em silêncio, e a janela se abriu depois de uns cinco minutos. Porém…

    — …?

    O tamanho da janela de inventário era extraordinário. Estreita na largura, mas tão comprida que quase tocava o chão. Eunha rolou a tela lentamente e examinou o conteúdo.

    【Pele de tigre negro x9999】

    【Pele de tigre negro x9999】

    【Pele de tigre negro x9999】

    【Pele de tigre negro x9999】

    【Pele de tigre negro x9999】

    Desistiu de contar e arrastou o dedo rapidamente pra baixo. Então, dessa vez…

    【Presa afiada x9999】

    【Presa afiada x9999】

    【Presa afiada x9999】

    【Presa afiada x9999】

    Passou direto.

    【Osso animal firme x9999】

    【Osso animal firme x9999】

    【Osso animal firme x9999】

    【Osso animal firme x9999】

    Tinha passado tanto tempo trancada em um Portão Desconhecido que sua janela de inventário estava cheia de itens de monstros do tipo besta. Além disso…

    【Cristal vermelho x186】

    【Veneno desconhecido x73】

    【Asa rasgada x11】

    E outros tantos. Um monte de itens variados que nem lembrava quando ou onde havia conseguido. A testa de Eunha se fechou ainda mais à medida que vasculhava o inventário. Achava que teria pelo menos um ou dois itens que poderiam ser vendidos.

    “É só isso?”

    Os olhos de Eunha vacilaram levemente enquanto encarava seu inventário.

    — Há um jeito que é o mais rápido e eficaz.

    — Pó de fada.

    A voz sussurrou em seus ouvidos. Eunha não se moveu do lugar, apenas mordeu devagar o lábio inferior.

    Dez da manhã. Ao redor, o movimento já começava, e os caçadores começaram a montar seus estandes um a um.

    【Deseja retirar o item selecionado do inventário?】

    【Confirmado.】

    【Há muitas informações para carregar. Isso pode levar algum tempo.】

    【- – – Carregando – – -】

    …Mas ela realmente não podia voltar de mãos vazias.


    — Mas, olha só, mesmo assim…

    As duas haviam terminado o almoço e voltado ao parque. Ayeon murmurava com um ar ausente, como se estivesse fora de si.

    — Nunca vi ninguém carregando dezenas de milhares de itens tão aleatórios.

    E qual seria a capacidade de inventário dela? Para guardar tudo aquilo, ou era uma caçadora de rank A ou superior, ou tinha alguma característica relacionada… Como, por exemplo, o traço, ‘baú de tesouro’, da própria Ayeon. Ah, talvez ela também tivesse feito um contrato com uma Criatura Mítica. Ayeon estava com esse pressentimento.

    — Então você vai vender tudo isso?

    — Sim.

    — Você precisa de tantas fichas assim? Vai tentar comprar um item de classe Relíquia, é isso?

    — …

    — …

    Silêncio.

    — …É sério?

    Em vez de responder, Eunha começou a organizar a estante. Ayeon piscava enquanto olhava para as costas dela, e agora começou a se contorcer segurando a barriga.

    — Ha! Caramba! Você é incrível.

    Uma caçadora de rank F entrando num Portão Desconhecido. Carregando dezenas de milhares de itens inúteis. Indo ao leilão de caçadores atrás de um item de classe Relíquia. Ayeon achava que o mais interessante nela era a roupa esquisita, mas quanto mais descobria, mais interessante ela ficava.

    — Putz. Isso foi hilário. E qual item você quer?

    Frush, frush…

    Eunha não parava de organizar os itens no balcão e abriu a boca discretamente:

    — …Pó de fada.

    — Pó de fada… Você quer dizer aquele item de recuperação de classe Relíquia? Acho que vai ser difícil.

    Eunha levantou ligeiramente os olhos.

    — Esse item é tão valioso assim?

    — Bom, o valor é um dos fatores. Mas tem uma organização que varre todos os itens de recuperação de classe Heroico ou superior em cada leilão. Pagando preços absurdos — disse Ayeon, antes de se aproximar de Eunha e sussurrar. — Você ouviu falar, né? Que o Sol da Meia-Noite tá sob a ‘Maldição do Imortal’. Sol da Meia-Noite. O Sol da Meia-Noite. O mestre da Guilda Lobo — completou Ayeon, recuando de novo e dando de ombros. — Bom, o leilão é conduzido de forma privada, então isso é só uma suposição minha.

    De todo modo, ela queria dizer que era melhor nem sonhar com aquilo. Itens de classe Relíquia já começavam com competição feroz. E o número de fichas para dar o lance prévio era significativo…

    — Mesmo que venda esses itens inúteis e junte fichas, não adianta no começo do leilão se não tiver moedas.

    Ayeon pegou um doce do bolso e colocou na boca. Eunha ouvia em silêncio, até que lambeu os lábios lentamente.

    — Ainda assim, preciso do pó de fada.

    — …

    Ayeon girava o doce na boca quando lançou um olhar de lado para Eunha. Será que ela estava mesmo ouvindo?

    — Teve pó de fada ano retrasado, e se lembro bem, o lance mais alto foi de cento e cinquenta e sete mil moedas.

    Aquilo dava 1,4 milhão de dólares.

    — Não importa — respondeu Eunha, com simplicidade. — Eu tenho que conseguir.

    Não importava o quão caro fosse. A voz calma dela não tinha o menor tom de brincadeira ou blefe. Ela parecia tão séria que Ayeon quase acreditou que ela realmente tinha aquele tanto de moedas.

    — …

    — …

    O vento cortava entre as duas.

    — Não consegui preparar o dinheiro pra cirurgia.

    — Quer dizer… que o diretor morreu por falta de dinheiro? Mesmo podendo… ter sobrevivido…?

    Ayeon quebrou o doce na boca com os molares. Os cílios projetaram uma sombra sutil sobre as bochechas.

    — …Hm. É isso?

    Ayeon começou a remexer os bolsos.

    — Acho que você vai precisar disso.

    De repente, Ayeon estendeu um livrinho para Eunha.

    — É um panfleto especial pra caçadores de rank B ou superior. Com ele, dá pra saber quando, onde e quais objetos vão aparecer. Se tiver algo que não quer perder de jeito nenhum, é essencial verificar com antecedência — explicou Ayeon.

    — Caçadores de rank baixo que querem comprar itens fazem de tudo pra pôr as mãos nisso.

    — Quanto custa? — perguntou Eunha. Se Ayeon estivesse dizendo a verdade, talvez houvesse alguma informação sobre o pó de fada escrita naquele panfleto.

    — Custava uns trinta mil dólares por página no ano passado, mas esse ano tem mais gente. Então deve estar entre quarenta e cinquenta mil, acho? Mas depende do vendedor.

    Cinquenta mil…

    A luz nos olhos de Eunha vacilou. Ela virou discretamente de costas para que Ayeon não visse e vasculhou a roupa até achar sua bolsinha de pinguim.

    Clac.

    Ao abrir o bico do pinguim, viu uma nota amassada e algumas moedas. Tinha pegado um táxi até ali, e aquilo era tudo o que restava.

    “Claro que tenho dinheiro na conta…”

    Eunha estava num dilema.

    O talão de cheques sobre a mesa do apartamento. Com tanto dinheiro que ela nem sabia contar. Era o que Si-u tinha dado ao romper o contrato. Mas Eunha hesitava em gastar aquele dinheiro, pois o havia recebido sem ter cumprido devidamente o combinado. E sentia ainda mais receio de gastar vários milhares de dólares só por um panfleto.

    — …

    Do outro lado, Ayeon observava Eunha em silêncio, vendo que ela havia congelado de repente.

    — Eu não disse que ia vender.

    Tap, tap.

    Ayeon deu leves batidinhas nos próprios lábios com o panfleto e sorriu.

    — Vou te dar de presente.

    Eunha piscou.

    …Dar de presente?

    — Já memorizei tudo mesmo.

    O panfleto que custava cinquenta mil dólares foi estendido para ela com a maior naturalidade. Eunha ficou olhando em silêncio e, aos poucos, moveu os lábios.

    — …Mas…

    — Tá tudo certo. Pega antes que eu mude de ideia.

    — E desculpa de novo por ter atrapalhado seu negócio.

    Ayeon sorriu e se virou com firmeza. “Ai, meus cinquenta mil dólares. Eu estaria mentindo se dissesse que não é um desperdício…”

    “Mas de vez em quando, fazer uma boa ação não faz mal.”

    Ela levantou a cabeça e olhou para o céu. O sol começava a se pôr. Ayeon ficou alguns segundos encarando o vazio antes de se virar levemente.

    — Não sei quem é essa pessoa, mas espero que melhore. Até a próxima. — Ayeon acenou e se afastou. Eunha ficou olhando para suas costas e, então, baixou os olhos.

    27º Panfleto do Leilão de Caçadores da Cidade Sejong

    Quando voltou a olhar pra frente, a garota de cabelo curto já tinha desaparecido no meio da multidão.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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