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    11 de setembro. O segundo dia do leilão de caçadores.

    — Pó de fada…

    Eunha folheava o panfleto que havia recebido de Ayeon no dia anterior. Parecia bem fino, mas o conteúdo era surpreendentemente denso, e era difícil encontrar a informação que queria sem arregalar os olhos e procurar com atenção.

    “Aqui.”

    Quando o panfleto já estava quase todo amassado, Eunha finalmente encontrou informações sobre o pó de fada.

    “Tinha sido leiloado no ano retrasado.”

    O lance vencedor havia sido de 157 mil moedas. Ayeon estava dizendo a verdade. Felizmente, ele seria exibido este ano no estande K. Às 14:30h do dia 13. O expositor era confidencial. Havia apenas uma unidade registrada. Eunha lia atentamente as informações, até que seus olhos pararam em um ponto específico:

    Condições para participar do lance: 10.000 fichas

    “Dez mil fichas?”

    Com uma placa branca, o máximo que podia trocar eram 1.500 fichas. Ela havia conseguido cerca de quatro mil fichas no dia anterior. Mesmo que vendesse hoje a mesma quantidade que vendeu ontem, ainda não seria o suficiente.

    “Não vai ser fácil.”

    Eunha apoiou o queixo na mão, com expressão séria. Ao lado dela, uma janela amarela de mensagem apareceu.

    【A Criatura Mítica Viajante Felina das Trevas encara o balcão com cara emburrada.】

    【— Eu poderia te dar quantas moedas quisesse, mas nunca imaginei que você precisaria de fichas — ela reclama, dizendo que os humanos eram mesmo uma raça traiçoeira.】

    Desde que o gato descobriu que Eunha precisava de fichas para dar lances, vinha agindo assim. Devia estar extremamente descontente com o fato de sua atuação estar sendo desperdiçada.

    “Fazer o quê?”

    Se o leilão fosse conduzido só com moedas, teria sido fácil, já que Eunha possuía pelo menos quatrocentas mil. E mesmo se não tivesse o suficiente, o gato a apoiaria sem hesitar.

    “Afinal, os organizadores também precisam lucrar.”

    As fichas eram um meio de renda para eles. Dava pra entender. Por outro lado, Eunha encarou a janela de mensagem à sua frente e então disse:

    — Se tá tão incomodado, me dá uns itens que eu possa vender.

    Na mesma hora, a janela amarela brilhou.

    Eureka!

    【— Como não pensei nisso antes?! — A Criatura Mítica Viajante Felina das Trevas pede que você espere e começa a remexer dentro do próprio pelo.】

    【Ela garante, com confiança, que vai tirar algo bom para não desanimar sua mordoma.】

    【- – – Carregando – – -】

    Mordoma? Quem o gato tava chamando de mordoma? Eunha riu com a janela de carregamento. E, após um instante…

    【Parabéns! Você adquiriu Sal Refinado!】

    【Parabéns! Você adquiriu Pimenta-Preta Fragrante!】

    【Parabéns! Você obteve ‘Sabor celestial com só uma gota! O Melhor Óleo de Trufas!’】

    Ding, ding, ding.

    Janelas do sistema pipocavam uma atrás da outra. Aqueles itens eram claramente…

    “Do Portão Desconhecido.”

    Exato. Eram os temperos que a gata havia dado a ela enquanto devorava carne de monstro para sobreviver.

    — Pra que eu vou usar isso?

    【A Criatura Mítica Viajante Felina das Trevas diz — Hã? — e expressa dúvida diante da sua mudança de atitude, dizendo que na época você tinha adorado.】

    — Porque naquela época eu tava presa dentro do portão. Agora é diferente — respondeu Eunha com firmeza. Temperos assim podiam ser encontrados com facilidade em qualquer mercado por ali.

    — Aposto que o Si-u Shin teria me dado alguma coisa mais útil numa hora dessas — ela murmurou isso meio como piada, porque achava graça nas reações do gato.

    Já tinha encerrado o contrato com Si-u, e mesmo que não tivesse, jamais pediria ajuda a ele com esse tipo de coisa. Mas havia duas coisas que Eunha não levou em conta.

    A primeira era que Eunha não tinha talento pra piadas.

    E a segunda, que o gato nutria muito mais hostilidade por Si-u do que Eunha podia imaginar.

    【- – – Carregando – – -】

    A gata desapareceu de repente, às pressas.

    【Parabéns! Você adquiriu um Jurel1 com Aroma de Mar!】

    — …

    【A Criatura Mítica Viajante Felina das Trevas enfatiza que realmente estimava esse peixe, mas está dando só pra você.】

    【— E então? — Ela jura que nem aquele cachorro conseguiria achar um peixe tão fresco e brilhante!】

    …Parecia que não havia nada realmente útil entre os itens que o gato possuía. Eunha refletia enquanto encarava o Jurel com Aroma de Mar recém-adicionado ao inventário. Ainda assim, apreciava o esforço do gato. Fechou a janela do inventário e agradeceu. Embora não tivesse conseguido nada significativo, a arrecadação de fichas seguia sem problemas.

    — Ainda tem mais peles de tigre negro?

    — É uma ficha por vinte presas, né?

    — Aqui, dez fichas. Quero trocar por cento e cinquenta pacotes de pele.

    — Se eu comprar cem fichas de uma vez, você me dá algo de brinde? Haha.

    — Vai ser difícil.

    No ritmo em que estava, conseguir pelo menos três mil fichas seria fácil. Só estava um pouco cansada. Os ponteiros do relógio já apontavam para as três da tarde. Tinha ficado tão concentrada em arrecadar fichas que nem almoçou, e nem notou o tempo passar. Estava prestes a arrumar o balcão e se sentar um pouco para descansar quando…

    — Com licença. Ouvi dizer que é uma ficha por quinze peles de tigre negro.

    Um caçador jovem se aproximou. Cabelos verdes e olhos verdes. Sardas discretas e um nariz grande, com olhos escuros. Era um estrangeiro. E por que não teria clientes estrangeiros? Ela sabia da função de tradução automática da placa. Eunha não se abalou e recebeu calmamente o último cliente antes do descanso.

    — Fique à vontade.

    — Tem bastante coisa além das peles. Hã, isso…

    Os olhos do homem pararam de repente.

    Sangue coagulado de monstro. Era um item que ela só tinha colocado no balcão pra preencher o espaço vazio das peles. Também era um dos poucos itens de classe Rara que ela tinha ali.

    — Isso. Quantas fichas posso trocar por ele?

    O caçador demonstrou interesse, e Eunha pensou por um instante antes de responder. Sinceramente, nunca havia negociado seus itens assim antes, muito menos participado de um leilão como aquele. Não fazia sentido esperar que soubesse os preços das coisas, quando nem sabia quanto custava uma corrida de táxi.

    O homem sorriu ao ver Eunha pensativa.

    — Que tal cem fichas?

    Cem fichas? Mesmo sendo de classe Rara, ainda era só sangue de monstro. Cem não estaria bom? Era bem mais do que as peles ou presas que vinha vendendo até agora. Como Eunha não respondeu de imediato, o homem continuou:

    — Se fechar negócio agora, posso pagar até cento e cinquenta fichas.

    Cento e cinquenta fichas? Ela só conseguiria isso vendendo duas mil e duzentas peles. Mas, pelo jeito como ele aumentou o preço tão rápido, deu pra sentir que aquele sangue coagulado talvez fosse mais valioso do que aparentava. Porém, se perguntassem para Eunha se achava aquele item útil, ela diria que não.

    — Tudo bem.

    Eunha terminou de pensar e assentiu, estendendo sua placa. Vender e trocar por fichas naquele momento era vantajoso. Se ambas as placas se tocassem e a troca fosse aprovada, as fichas seriam transferidas para o lado dela. O homem também esticava sua placa quando…

    — Pare — alguém se intrometeu. — Nem pensar, senhor. Cadê sua consciência?

    Boné rosa. Ayeon apareceu do nada.

    Tst tst.

    Ayeon estalou a língua e correu até Eunha para sussurrar:

    — Esse cara é um golpista.

    — …O quê?

    — Ele é um caçador de rank A da Escócia, chamado ‘Verde’. No ano passado, enganou vários caçadores que não sabiam vender direito. E parece que te escolheu este ano. Aff, eu sabia. — Ayeon soltou um suspiro alto e lançou um olhar fulminante para o estrangeiro.

    — Tá tentando levar na mão grande, é? Francamente. Fica aí quietinha. Deixa isso comigo.

    Ayeon se considerava bastante honesta nas vendas. Pelo menos, nunca pegaria o dinheiro do lanche de uma criança como aquele cara.

    Ela marchou até ele com firmeza e mostrou as duas palmas da mão.

    — Mil.

    — …O quê?

    — Mil, senhor — Ayeon sorriu. — É pegar ou largar.


    Beep.

    Número de fichas restantes: 10.515 ⓒ

    Eunha conferiu o número na tela e recolheu sua placa. No fim, havia conseguido juntar dez mil fichas em apenas dois dias.

    Tinha ficado muito preocupada, já que, como caçadora de rank F, podia trocar no máximo mil e quinhentas fichas, e entre os itens que enchiam seu inventário, não havia nada realmente valioso…

    Depois de guardar a placa, Eunha olhou ao redor.

    “Nem consegui agradecer a ela.”

    Ayeon discutira com o caçador estrangeiro por um tempo e acabou arrancando mil fichas dele. Mas quando Eunha concluiu a troca com a placa e se virou para agradecer, Ayeon já havia desaparecido.

    “Queria devolver isso também.”

    Eunha encarou o panfleto em suas mãos. Já tinha conferido todas as informações de que precisava, e não precisava mais dele. Estava um pouco amassado, mas ela queria devolvê-lo antes que perdesse o valor.

    “Será que procuro por ela?”

    Talvez ainda estivesse por perto. Antes de voltar para a pousada onde estava hospedada, Eunha decidiu dar uma volta pelo local do leilão.

    — O quê? Você não conseguiu nada?

    — Não tive escolha. Sabe o quão alto ela falava? Se eu continuasse discutindo, todo mundo ao redor teria nos notado.

    Pausa.

    Eunha olhou para trás.

    O caçador de rank A da Escócia, Verde. O homem de cabelos verdes conversava com outros caçadores que pareciam ser seus colegas. Parecia que falavam de Ayeon. Eunha se escondeu atrás de uma árvore. Não foi de propósito; foi reflexo.

    — E quanto à Máscara de Hannya? Aquele item de classe Avançado que um caçador japonês de rank D colocou à venda por cento e cinquenta fichas.

    — Perdi também. Pra mesma pirralha.

    — O quê? Como assim? Ela também é uma Degustadora?

    Degustadora. Era um termo de gíria usado entre caçadores, referindo-se àqueles que frequentavam leilões de caçadores ao redor do mundo para bisbilhotar o mercado livre, sem participar do leilão no último dia. O objetivo deles não eram os itens caros colocados à venda. Eles miravam os novatos, caçadores que não conheciam o valor dos próprios itens. Eram o tipo que vasculhava entre os raros vendidos por preços abaixo do mercado. Verde e seus colegas também eram Degustadores.

    — Não sei quanto aos outros, mas e se também levarem a Máscara de Hannya? Era um dos nossos principais objetivos nesse leilão. Não vamos ter o que mostrar pro chefe.

    — E então? Ela ficava me seguindo onde eu tentava negociar e atrapalhava. Pedia três mil fichas de cara, tive que desistir.

    — Três? Três mil?! Isso nem é o leilão, é o mercado livre, e mesmo assim ela cobrou tudo isso?

    — Pois é.

    O olhar de Verde mudou. Parecia ter travado os lábios como se estivesse pensando, depois olhou ao redor e sussurrou baixinho:

    — Ela não é uma Degustadora. Aquela garota.

    — …

    Os colegas fecharam a boca com a mesma expressão. Todos pareciam pensar a mesma coisa.

    — Mas relaxa — Verde falou de novo. — Trouxe o restante. Com certeza, tá tudo aqui… — Verde tocou no ar, parecia estar conferindo o inventário. — Eles devem estar… Aqui… Aqui…?

    Verde congelou no lugar como uma estátua.

    Não estavam lá. Os itens de classe Avançado e Raro que ele definitivamente tinha empilhado no inventário.

    — …Não tem nada aqui.

    — O quê? Olha direito. Você apertou o botão de organizar?

    — Que se dane organizar, o inventário tá vazio. Tudo. Até os itens antigos sumiram.

    — Não vendeu sem avisar a gente, né?

    — De jeito nenhum. Droga. Mas como…

    Foi nesse momento que uma lembrança atravessou sua mente.

    — Um dia você vai aprender a lição se continuar vivendo às custas dos outros. Cuide bem dos seus bolsos, senhor.

    Tap tap.

    “Aquele sorriso, enquanto batia no meu ombro…”

    Um boné rosa.

    — Droga, aquela pirralha!

    Verde se virou num rompante. Era possível roubar itens do inventário de outra pessoa? Ele não sabia. Mas não conseguia imaginar ninguém além daquela garota convencida.

    Tap!

    Verde correu às pressas para algum lugar. Seus colegas hesitaram, mas logo seguiram na mesma direção.

    — …

    Eunha saiu lentamente de trás da árvore.

    Click clack.

    O som de sapatos pretos seguiu logo atrás deles.

    1. Um peixe, também conhecido como Cavala Chilena[]
    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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