Índice de Capítulo

    Uma manhã de fim de semana tranquila. O contrato havia terminado, ela havia encontrado o pó de fada, e Eunha não tinha mais o que fazer, todos os dias pareciam um fim de semana para ela.

    Eunha se aproximou da geladeira e pegou uma lata de cerveja gelada. Beber sozinha era o melhor em dias de folga. ‘Beber sozinha’ era uma expressão que Eunha havia aprendido recentemente. Ao se jogar no sofá frio e ligar a TV, estava passando uma reprise do especial de verão do programa ‘Isso é o que eu quero saber’.

    — A Princesa da Chama Negra. A mulher de vestido preto é mesmo apenas uma figura imaginária das lendas urbanas?

    Pausa.

    Eunha parou o movimento de abrir a lata no sofá e virou-se para a tela da TV.

    — Uma caçadora de conceito apareceu na Lobo, guilda considerada a maior da Coreia, em maio de 2031.

    — Seu apelido é ‘Princesa da Chama Negra’. Esse nome único traz à mente uma imagem que todos nós conhecemos.

    — É uma história de fantasmas entre caçadores desde o início dos anos 2000. Um vestido preto e uma sombrinha preta. Uma mulher inteiramente vestida de preto. Na internet, há vários relatos de pessoas que dizem tê-la visto.

    Ao som de uma música de fundo sombria, vários relatos de testemunhas na internet começaram a aparecer na tela.

    — Como podem ver, há muitos relatos sobre a Princesa da Chama Negra. Teriam relação com a caçadora da Lobo? Nossa equipe de produção ficou intrigada e foi até a sede da Lobo solicitar uma entrevista com a Princesa da Chama Negra.

    — Porém…

    — Ouvimos que o contrato entre a Princesa da Chama Negra e a Lobo já havia terminado. Apesar de que contratos entre caçadores freelancers e guildas normalmente duram de um a cinco anos.

    — E então surgiu uma pergunta.

    — Por que a Princesa da Chama Negra finalizou seu contrato às pressas em menos de um ano?

    — E essa não é nossa única dúvida.

    — A equipe de produção não conseguiu encontrar o paradeiro da Princesa da Chama Negra e decidiu procurar o Sr. Park, da Administradora Lua Prateada, que foi seu assessor.

    …Sr. Park? Não pode ser. Aquele Sr. Park, assessor dela?

    Eunha ajeitou a postura quando estava prestes a levar a lata aos lábios, e concentrou-se na tela da TV.

    <○○Park│Funcionário da Adm. Lua Prateada│ Suspeito de ser o assessor da Princesa da Chama Negra>

    (Modulação de voz) — Ah, eu não sei! Já falei pra irem embora!

    — E-Espere! Senhor?

    (Modulação de voz) — Eu disse pra irem embora. Caramba, se continuarem com isso, vou chamar a polícia. Hein? Tô falando sério!

    — …

    Mesmo com a voz modulada e o rosto borrado, era claramente Jehwi. Eunha olhou a TV com uma expressão apática e tomou um gole da cerveja. A transmissão seguiu.

    — O Sr. Park se opôs veementemente à entrevista. Estaria escondendo algo?

    — Recebemos um relato anônimo de um membro da Guilda Wolf, e o conteúdo é o seguinte:

    <○○Kim│Membro da Guilda Lobo há 7 anos>

    (Modulação de voz) — Dizem que a Princesa da Chama Negra assinou contrato com a Lobo por alguns meses, mas nem eu nem meus colegas jamais vimos essa mulher. E ninguém na sede parece ter visto também.

    Eunha assistia à entrevista confusa. De fato, ela nunca tinha ido à sede…

    — Será que ela era mesmo uma ‘caçadora’?

    — …Talvez, neste momento, ela esteja observando você com uma sombrinha preta na mão, em algum canto da cidade.

    — O programa ‘Isso é o que eu quero saber’ está à procura de testemunhas ou qualquer um que tenha informações sobre a Princesa da Chama Negra.

    Enquanto assistia atentamente à TV…

    Ding dong…

    A campainha tocou. Ao levantar a cabeça, o interfone piscava. Devia ser do saguão do primeiro andar. Quem seria a essa hora? Ela ia fazer compras com Jehwi à tarde, mas ele não poderia ter chegado tão cedo. Eunha desligou a TV e se levantou para ver quem era.

    — Aqui é Junhwan Bae, da Legião.

    O rosto de Junhwan apareceu no monitor do interfone. Depois de confirmar a identidade, Eunha abriu a porta sem pressa, e a campainha tocou de novo. Ao abrir a porta, viu Junhwan parado sozinho, com um olhar estranho. Ele tirou a boina e fez uma reverência profunda.

    — Peço desculpas por vir sem avisar.

    — Não, tudo bem. Aconteceu alguma coisa? — perguntou Eunha com cuidado. Talvez por ter assistido a um programa estranho, sentia uma ansiedade sem motivo. Será que ele também tinha ouvido o mesmo rumor esquisito? Não… talvez algo ruim tivesse acontecido com Minju.

    — …

    Junhwan parecia estar com pensamentos complicados e não abriu a boca com facilidade. Eunha o observou em silêncio, depois indicou o interior do apartamento com o olhar. — Você deveria entrar primeiro.

    Só então Junhwan entrou hesitante no estúdio. Os dois se sentaram frente a frente à mesa de jantar. Mesmo assim, Junhwan não começava a falar e apenas mantinha os olhos abaixados.

    — Aconteceu algo com o Minju?

    — N-Não… Não é isso.

    — Então? O pó de fada não funcionou?

    — …

    Pó de fada. O rosto de Junhwan ficou ainda mais sério ao ouvir essas palavras. Ele apertou os punhos apoiados de forma respeitosa sobre os joelhos.

    — Senhorita, ouvi pela Doutora Planta.

    Junhwan levantou os olhos devagar.

    — …O pó de fada. Fiquei sabendo que foi a senhorita Yura quem conseguiu.

    — Ah…

    O rosto de Eunha ficou visivelmente incomodado, pois tinha acabado de ler artigos e posts em comunidades sobre isso antes de ligar a TV e se sentir perturbada.

    — Ela me contou contra a vontade, porque insisti muito. Não se preocupe, isso nunca será revelado. Eu juro pela minha vida e pela Legião. Mas… houve uma coisa que eu queria perguntar, e foi por isso que vim, mesmo sabendo que era impróprio.

    — O quê?

    Quando Eunha perguntou, Junhwan hesitou e fechou a boca. Sua voz, ao retornar, tremia levemente. — Por que você fez isso?

    — …

    — Digo, eu quis dizer… O motivo de ter gastado uma quantia tão absurda de dinheiro, eu realmente não… me desculpe. — Junhwan calou-se novamente. Mordeu o lábio inferior como se não soubesse como, nem o que dizer. — Como sabe, o Mestre está em estado crítico… E acho que seria difícil retribuir agora. Mas se nos der um tempo, com certeza nós…

    — Não.

    “…?”

    Junhwan ergueu a cabeça. Eunha falou com calma.

    — Não precisa. Isso não é uma dívida.

    — Perdão? Mas…

    “Vocês disseram que somos família.”

    Eunha encarou Junhwan diretamente nos olhos. Ele também a olhava. Eunha apenas sorriu, sem dizer nada, ao encontrar seu olhar. Depois arrastou a cadeira e se levantou devagar. — Não precisamos falar sobre isso. Quer beber algo? Tenho refrigerante e café enlatado. Ou cerveja? — disse ela, enquanto remexia a geladeira. Não houve resposta de Junhwan.

    Quando Eunha tirou duas bebidas, fechou a geladeira e se virou…

    — …?

    Ploc.

    Junhwan, de repente, ajoelhou-se no chão da sala.

    — M-Muito… obrigado…

    Com a testa encostada no chão, ele se curvou diante de Eunha, que estava congelada com duas latas nas mãos. Eunha fitou a nuca dele em silêncio e molhou os lábios.

    — Felizmente, eu tinha dinheiro o suficiente, e alguém que me chamou de família só precisava de algo. — Ela completou em voz baixa: — Eu só comprei.

    — …

    Junhwan ainda estava prostrado no chão quando ergueu a cabeça, atordoado. Seus olhos se encontraram no ar. Junhwan se levantou devagar, mas com firmeza.

    — …Nossa Legião jamais esquecerá sua generosidade.

    Quando finalmente ficou de pé, Junhwan fez outra reverência a Eunha. Não tão baixa quanto antes, um cumprimento formal. Mas, quando seus olhos reapareceram, já não havia neles nenhum traço de culpa ou ansiedade.

    — Senhorita Yura… digo, Princesa da Chama Negra. Em nome da Legião, juro a você nossa tropa de seiscentos mil homens.

    — Jura?

    — Sim.

    Ele ergueu o punho fechado sobre o peito esquerdo.

    — É um voto de que, a partir de agora, nossa Legião jamais hesitará em ser sua espada.


    — Acabamos comprando bastante coisa hoje.

    Jehwi limpou o suor da testa enquanto pegava as sacolas do porta-malas. Eles tinham acabado de voltar das compras do mercado.

    — Acho melhor eu ir sozinho às compras por enquanto. Vai ser problemático se o que aconteceu hoje acontecer de novo.

    Jehwi balançou a cabeça, desgostoso. Tinha sido difícil porque sempre havia gente que reconhecia Eunha em qualquer mercado que fossem. No fim das contas, levaram mais de três horas para fazer as compras.

    A maioria das pessoas apenas fofocava de longe quando a via, mas algumas se aproximavam e a bombardeavam com perguntas como se ela era mesmo a Princesa da Chama Negra, se ela realmente tinha duelado com o Grande Sábio, Igual ao Céu, se podiam tirar fotos com ela; e os perseguiam durante toda a compra. O boné que Eunha apertava na cabeça acabou não servindo de nada. Teria sido tranquilo se fosse só isso. Com o avanço da tecnologia, havia até um grupo compartilhando o progresso de Eunha nas redes sociais. Na saída do supermercado, depois de fazer as compras, havia de fato um grupo de pessoas na frente do prédio que pareciam repórteres. Se tivesse demorado mais um pouco, teria esbarrado neles sem ter como escapar.

    — São mesmo que nem fantasmas. Argh, devem ter ficado esperando o dia inteiro, feito hienas famintas.

    — Nem me fale.

    — Desculpa pelo transtorno. Da próxima vez, ou a gente vai para o mercado da cidade vizinha ou eu vou sozinho. Preciso dar um jeito nisso.

    Jehwi suspirou, desgostoso, enquanto esperavam o elevador.

    — …Ah, só um instante.

    Eunha largou as coisas no chão como se tivesse lembrado de algo, e foi em direção à caixa de correio. Já estava quase na época de pagar a taxa de condomínio. Agora que o apartamento era de Eunha, embora estivesse no nome de ‘Yura Lee’, ela teria que pagar por conta própria a partir daquele mês. Quando abriu a caixa, viu alguns envelopes brancos, como esperava. Um era a conta do condomínio, outro era uma propaganda de seguro, e o outro…

    — Senhorita, o elevador chegou.

    — …

    — Hã? Senhorita? — Jehwi segurava o elevador quando inclinou a cabeça e se aproximou de Eunha. — O que foi?

    — …Isto — Eunha murmurou baixo, sem tirar os olhos do envelope na mão.

    O envelope vermelho se destacava entre os brancos. Sob o enfeite dourado em forma de borboleta, as palavras ‘PARA: A Princesa da Chama Negra’ estavam bem nítidas.

    — Talvez uma carta de fã?

    — Como saberiam meu endereço?

    — Hmm. É verdade.

    Os olhos dos dois se encheram de desconfiança. A Princesa da Chama Negra era um alvo aberto para os internautas, mas ela não achava que seu endereço também tivesse vazado.

    — Se isso estiver te incomodando, que tal jogar fora? Hmm, ou talvez você devesse ver o conteúdo primeiro? — Jehwi comentou ao lado dela. Eunha virou o envelope devagar e olhou o verso. E então…

    — …Ugh!

    Os olhos de Jehwi se arregalaram. Eunha também ficou completamente paralisada.

    ‘De: Maestro’

    Havia palavras inesperadas no verso do envelope.

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