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    — Hã? Estética canina?

    Slurp.

    Ayeon arregalou os olhos enquanto sugava o canudo da bebida.

    Numa cafeteria perto da academia de Eunha, as duas almoçavam juntas pela primeira vez em muito tempo.

    — Faz só uma semana. — Eunha enrolava o espaguete no garfo e respondeu de forma indiferente.

    “Estética canina… Não combina nada com ela.” Ayeon piscou rapidamente os olhos grandes e redondos. Essa mulher realmente a surpreendia toda vez que a via.

    — E você?

    — Eu? O que tem eu?

    — Queria saber se aqueles caras ficaram quietos desde então.

    — Ohh. — Ayeon sorriu. — O que podem fazer? Se forem espertos, vão fingir que foi só um evento qualquer. Bom, se vierem atrás de mim, melhor pra mim. Tenho provas de que fui agredida. — Ayeon exibiu o celular com orgulho. Era uma selfie sua com os dedos em ‘V’ e o rosto coberto de hematomas. — Também gravei tudo. Ou seja, esse papo de que eu sou ladra tá tudo aqui.

    Tap, tap.

    Ao tocar algumas vezes na tela, a voz gravada de Verde saiu do alto-falante do celular.

    — Foi você, não foi? Roubando meus itens.

    — Como assim? Você tem prova de que fui eu?

    — Não consigo pensar em mais ninguém além de você.

    — Ei, moço. Isso é só o que você acha, não é prova.

    Um diálogo entre inglês e coreano. Na época, eles se comunicaram sem problemas graças aos crachás, mas a gravação estava em inglês puro.

    Ainda assim, era o suficiente como prova.

    “…Ela é meticulosa”, pensou Eunha, observando Ayeon com um sorriso de canto. Era impressionante como ela conseguiu gravar aquilo mesmo sendo espancada.

    — Ah, e aquele pó de fada que você venceu no leilão? Conseguiu entregar pro seu amigo direitinho? — Ayeon bateu palmas, como se acabasse de se lembrar, e guardou o celular.

    Eunha tinha passado por um sufoco para conseguir aquelas fichas e venceu o leilão do pó de fada por um preço absurdo. Ayeon ficou chocada ao saber que ela daria o item de presente a um amigo.

    — Sim. Acho que ele está melhorando. Mas não sei se é por causa do pó de fada.

    — Oho. É mesmo? — Ayeon cruzou os braços, pensativa, e de repente abriu um sorriso e aproximou o rosto de Eunha. — Se colocarem pó de fada no leilão de novo no ano que vem, acho que vou participar. Se funcionar mesmo, dá pra vender caríssimo! Né?

    — Talvez.

    Ayeon iluminou o olhar diante da resposta seca de Eunha.

    — Já que estamos nesse assunto, vamos juntas ao leilão de caçadores no ano que vem!

    — Bom. Agora, eu…

    Agora? Ayeon pareceu confusa com a frase inacabada de Eunha. Ela abaixou o garfo e ergueu a cabeça.

    — No mês que vem, vou entrar em um curso profissionalizante e tirar licença de estética canina.

    — Hã…?

    “Curso profissionalizante…? Licença…? O que ela está falando?”

    — Significa que não sei bem o que vai acontecer no ano que vem. — Eunha girava o canudo no copo de refrigerante enquanto falava. Ayeon abriu e fechou a boca sem saber o que dizer, até que saltou da cadeira ao cair em si.

    — Não, espera. Tá dizendo que vai parar de caçar assim, do nada?

    Eunha sugou o canudo em silêncio e olhou o celular.

    12:43h

    Estava na hora de ir.

    — Vou indo. Tenho aula à uma.

    — Quê?

    — Até mais. — Eunha saiu apressada do café. Caminhar até a academia levava cerca de dez minutos. Ela conferiu no reflexo da vitrine de uma loja se o chapéu e a máscara cobriam bem o rosto, e seguiu para a academia.

    — Espera!

    Alguém correu em sua direção justo quando ela ia subir no elevador. Ao parar a mão que ia apertar o botão de fechar, um rapaz enfiou a cabeça pela porta que quase se fechava.

    — Eh, Yura?

    Yunho Han. Estudava na mesma academia que Eunha.

    — Que alívio. Se você ainda está aqui, quer dizer que a aula não começou. Ufa. Corri tanto que nem vi as horas.

    Camisa xadrez cinza estilosa e jeans. O rapaz com a ecobag preta sorriu com simpatia e se postou ao lado de Eunha. Estava no ano sabático de uma universidade renomada, fazia bicos dando aulas particulares e começara a estudar estética canina. O motivo de Eunha saber tanto sobre ele era simples: Yunho era o aluno mais popular da academia. Gentil e simpático com todos, era bem visto pelo diretor, professores e alunos.

    — Voltando do almoço?

    — Sim.

    — Ah. Eu também. Onde você comeu? Tem algum lugar bom por aqui?

    — Uma cafeteria no centro. Não sei o nome.

    — Comeu o quê?

    — Massa.

    — Com quem?

    — Uma amig… — Eunha ia responder ‘uma amiga’, mas parou e ficou em silêncio, encarando Yunho. Ele piscou, meio sem graça, depois coçou o pescoço e sorriu tímido.

    — Ah, desculpa. Me meti demais.

    — …

    — É-É que… eu queria te conhecer melhor, Yura. Já que estamos na mesma turma…

    Seus olhos fugiam, e as orelhas estavam vermelhas. Yunho pigarreou alto e lançou um olhar para Eunha.

    — Uhm, Yura. Você tem namorado…?

    Ding dong…

    O elevador chegou.

    — Ah, Yunho chegou! Guardamos seu lugar.

    — Oh, ohhh… Oi — Yunho saiu correndo do elevador e olhou para trás. Depois, murmurou quase sem som para Eunha, que saía logo depois. — A gente se vê.

    Yunho sorriu tímido e se afastou.

    A aula começou a todo vapor, e Eunha, nervosa, tirou os instrumentos de tosa da bolsa. A instrutora observava cada aluno com atenção, dando conselhos e fazendo demonstrações.

    — Oh, Yura. Você tem mãos rápidas. Já fez isso antes?

    — Não, é a primeira vez.

    — Nossa, parece que tem talento. Yura, acho que já pode parar de escovar e começar a treinar com tesoura amanhã mesmo. Se continuar nesse ritmo, vai tirar sua licença rapidinho! — elogiou a instrutora. Eunha piscou, um tanto atônita.

    — Não exagero ao dizer que é a aluna mais talentosa que já ensinei. Dá pra ver pelo jeito que escova. E olha que faço isso há uma década.

    Eunha abaixou os olhos e encarou a escova na mão, depois murmurou baixinho:

    — …Obrigada.

    Aperta.

    Ela segurou a escova com mais força.


    Ela saiu da sala com passos mais leves do que o normal depois da aula. A bolsa cheia não parecia nada pesada.

    O caminho para casa era exatamente o mesmo de ontem. Nada havia mudado, então por que tudo parecia diferente hoje?

    【Sr. Park】 【18:58】

    Senhorita! Fiz arroz na panela elétrica, então não peça pé de galinha hoje, e coma direito!!

    Também deixei uns acompanhamentos na sua geladeira, então coma :))

    Era uma mensagem de Jehwi. Eunha encarou as mensagens na tela e depois digitou lentamente no teclado.

    【Eu】 【18:59】

    Ok

    Obrigada

    Logo depois, o celular vibrou com uma nova mensagem.

    【Sr. Park】 【18:59】

     ദ്ദി₍𝄐⩌𝄐₎

    Um sapo corado dando joinha apareceu na tela. Era um emoticon que Jehwi usava com frequência.

    — …Combina com ele.

    Eunha sorriu de leve e guardou o celular.

    Swaa…

    Uma brisa fresca tocou suas bochechas. As folhas coloridas dançavam em seu campo de visão. Eunha passou a mão suavemente pelos cabelos negros esvoaçantes. O cheiro do outono pairava na ponta do nariz.

    “…Está bom”, pensou, de repente. Sob o sol poente, Eunha apreciava a brisa quando voltou a andar devagar. No entanto…

    — …?

    Alguém a observava. Vinha de sua esquerda. Eunha virou-se naquela direção.

    — …

    — …

    Um cachorro estava sentado sozinho perto de um poste de luz, encarando-a fixamente.

    “Um husky? Não… Um malamute?”

    Eunha se aproximou do cachorro como se estivesse hipnotizada. Apesar de uma estranha se aproximar, o cachorro não deu um pio, nem sequer piscou, e continuou sentado calmamente.

    Olhando de perto, não parecia nem husky nem malamute. Tinha olhos azuis, mas o corpo branco lembrava um samoieda. Só que o pelo era curto, e o corpo esguio, semelhante ao de um cão de caça, era estranho. Seria um vira-lata?

    — Que bonitinho — murmurou Eunha em voz baixa, ao se agachar. O cachorro piscou devagar, como se a entendesse. — Por que está sozinho? Onde está seu dono?

    Swish, swish…

    O rabo se mexia lentamente. Eunha olhou para o pescoço dele. Não havia nada que se parecesse com uma placa de identificação. Também não estava preso por coleira no poste ao lado. Pelo pelo limpo e por não correr ou latir para uma pessoa, provavelmente tinha dono…

    Eunha, agachada no chão, fitava os olhos azuis do animal.

    — …

    Ao observar aqueles olhos azuis, de repente se lembrou de Si-u. Pensando bem, como ele estava? Talvez pressionado por seu olhar, o cão branco não se moveu, como se estivesse congelado. Até o rabo parou de balançar. Eunha sorriu em silêncio ao encará-lo.

    — Desculpa por encarar. — Eunha inclinou levemente a cabeça. Seus longos cabelos negros escorreram como ébano. — É que seus olhos são lindos demais.

    Seria só impressão sua? O cachorro pareceu se assustar, mesmo sem que ela o tocasse. Talvez estivesse estressado. Podia ser pelo tempo que passou com uma estranha.

    — Tchauzinho, cachorrinho.

    Justo quando estava prestes a se levantar…

    Grp!

    O cachorro branco, dócil até então, mordeu a barra da calça de Eunha.

    【A criatura mítica Viajante Felino das Trevas grita — Larga ela, seu cachorro idiota! Ela já tem a mim!】

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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