Capítulo 91
Quando Eunha voltou para seu apartamento, ela olhou para baixo com um semblante preocupado.
— …
O cachorro branco que a seguiu até ali estava sentado quietamente, observando Eunha. Ela esperou por mais de uma hora, caso ele tivesse um dono, mas ninguém que parecesse ser seu dono apareceu.
— Ai, que fofo! Posso tocar… Argh!
Ele até sabia parecer dócil, mas mostrava os dentes para os pedestres que se aproximavam, como se fosse realmente morder.
Eunha ergueu a mão furtivamente e acariciou a cabeça do cachorro. Seus olhos se fecharam devagar, como se estivesse gostando. Por alguma razão, o cachorro era muito amigável com Eunha. Mas ela não podia criá-lo. Porque…
【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas chora tristemente e soluça.】
【— Você não gosta mais de mim. Como pode fazer isso? Como pode abandonar um gato tão fofo como eu?! — E ela te cutuca com as patas dianteiras.】
【— Eu vou fugir se você não expulsar esse cachorro agora! Eu avisei! — ela te ameaça.】
O gato estava assim fazia um tempo. Parecia achar que Eunha tinha sido roubada. Eunha não tinha o costume de consolar os outros e escolheu ignorá-lo. Achava que melhoraria com o tempo.
【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas diz — Aquele filho da p–––! Pulguento! Sarnento! — e xinga furiosamente.】
【––– Sistema:{ }P49/Y?2kXXXSQnX】
【Não foi possível converter em texto.】
…Mas não parecia estar funcionando.
Diziam que cães e gatos não se davam bem. Pensando bem, o gato já tinha demonstrado forte aversão a coisas relacionadas a cachorros no passado. Eunha ponderou e ligou primeiro para Jehwi, para dizer que estava cuidando temporariamente de um cachorro e pedir conselhos sobre o que fazer.
— Você disse… Um cachorro? — Jehwi respondeu simplesmente após ouvir o que aconteceu. — Na verdade, isso é ótimo! Jerim está me implorando por um cachorro faz tempo. Que tal cuidarmos dele por um tempo até acharmos o dono?
— Agradeceria muito.
— Estou resolvendo umas coisas aqui perto, passo aí assim que terminar.
Dito e feito, Jehwi chegou ao apartamento duas horas depois.
— Ainda não contei nada para a Jerim. Ela nem sonha. Nossa, ela vai amar.
Jehwi entrou no apartamento com um sorriso radiante. Devia ter passado em alguma loja no caminho, já que a grande sacola de compras que carregava estava cheia de itens para cachorro, como tapetes higiênicos, petiscos e brinquedos. Porém…
— …!
Jehwi congelou como uma estátua ao ver o cachorro sentado docilmente no sofá. Chegou até a suar frio, sem motivo aparente. Enquanto isso, o cachorro só descansava preguiçosamente no sofá, sem latir nem se aproximar. Era estranho.
— Senhor Park?
— Ah — Jehwi voltou a si e gemeu, ainda com os olhos fixos no cachorro. — Uhm… Senhorita. Sinto muito, mas acho que não vai dar.
【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas diz — Não vai dar? Ei, moço. Como assim não vai dar? — e duvida do que ouviu.】
Eunha também ficou confusa com a mudança repentina.
— Não vai dar?
Jehwi recuou do cachorro quando Eunha perguntou e acrescentou — É-é que… Nossa casa é alugada. E eu preciso da autorização do proprietário para ter um cachorro… Ah, e a Jerim tem um pouco de medo de cachorros grandes.
— …
Eunha observou Jehwi em silêncio. Jehwi sorriu sem jeito e rapidamente escondeu a sacola de produtos caninos atrás das costas, para ninguém ver.
Eunha desviou o olhar de Jehwi para o cachorro branco. O jeito como ele os encarava intensamente parecia demonstrar que entendia do que estavam falando, e isso a fez se sentir mal.
— …Nesse caso, não há o que fazer. Vou procurar o dono por alguns dias e depois entrar em contato com a polícia ou algum abrigo de cães.
— O quê?! Ah, ahh, não! — Jehwi pulou de repente. Eunha também se assustou e o encarou.
— Por quê? Não se preocupe. Deve existir algum abrigo que seja contra a eutanásia. Vou procurar um — disse Eunha calmamente. Ela sabia bem que muitos cães levados para abrigos eram sacrificados sem serem adotados.
“Primeiro, vou tirar uma foto e espalhar cartazes. Se mesmo assim não encontrarmos o dono, procurarei um bom abrigo.” Talvez até conseguisse ajuda da academia. Enquanto Eunha pensava em vários métodos, o suor na testa de Jehwi começou a escorrer pelo queixo.
— Você sabe como o mundo anda cruel hoje em dia. Se colocá-lo em algum lugar estranho, nunca se sabe o que o Jov… digo, esse cachorro bonito pode passar.
— Hmm.
— P-Por favor, cuide dele por enquanto. Eu mesmo vou procurar uma solução. Acho que tenho um amigo que queria criar um cachorro também. E vai que o cachorro volta sozinho pra casa nesse meio-tempo.
— Sozinho?
— Sim. Os cachorros de hoje são muito espertos.
— … — Eunha o encarou desconfiada por alguns segundos e então assentiu lentamente. — Tudo bem. Alguns dias.
O rosto de Jehwi se iluminou como por mágica com a resposta de Eunha. Ao mesmo tempo…
【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas diz — O quê?! Seu –––––】
【––––– Sistema:{ }P49/Y?2kXXXSQnX】
【Não foi possível converter em texto.】
Eunha fingiu não ver a janela amarela de mensagem que apareceu em sua visão de forma aterrorizante.
No dia seguinte…
— Um cachorro?
— É um pastor? Não? Um husky?
— Olha os músculos das pernas dele. Não é brincadeira.
— Quantos anos ele tem? É tão dócil.
O cachorro que a seguiu até a academia fez muito sucesso.
— Qual é o nome dele?
Eunha fechou os lábios diante da pergunta inesperada. Um rolo de lenços umedecidos chamou sua atenção ao flutuar pelo ar. Estava em cima da mesa de alguém.
— …Lenço.
Os olhos azuis do cachorro se voltaram rapidamente em sua direção. Seu pelo branco lembrava mesmo lenços higiênicos. Apesar de ter péssima habilidade para nomes, Eunha estava orgulhosa por ter dado um nome até que razoável ao cachorro.
— Nossa. Você é todo bonito, mas seu nome é uma gracinha.
— Lenço, olha aqui. Tão bonzinho.
Embora Lenço não agisse com violência, como latir ou morder, ele estava tenso, como se não gostasse de estar cercado por pessoas. Eunha nem imaginava que isso podia ser por não gostar do próprio nome.
— Ele é seu?
Yunho, que apareceu de repente, enfiou o rosto no meio. Ele também estava com aquele sorriso refrescante de sempre.
【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas diz — Não! Diz que não! Diz que não cria cachorro nenhum, e que gatos salvam o mundo! — e grita.】
Eunha fingiu que não via a janela amarela diante dos olhos e respondeu com indiferença:
— Ah… Aconteceu. Estou colando cartazes e procurando o dono, mas ninguém entrou em contato ainda.
— Então você está cuidando dele temporariamente. Você tem um bom coração, Yura.
— Só vou cuidar dele por alguns dias — Eunha respondeu evasiva, olhando propositalmente para outro lado. Mesmo agora, a janela amarela fazia ding, ding, ding… e continuava aparecendo sem parar.
— E depois desses dias?
— O asses… Digo, meu amigo está procurando um abrigo adequado. Um lugar que seja contra a eutanásia.
— Hmm. Conheço um lugar assim — Yunho continuou naturalmente a conversa e se aproximou com um sorriso caloroso. — Quer que eu te passe a informação?
Informação? Ah, pensando bem, esse cara fazia trabalho voluntário com cães abandonados com frequência.
— Agradeceria.
— Hmm. Vou precisar dos seus contatos e tal, posso te seguir nas redes sociais, se não for um proble… Argh!
Foi nesse momento.
Au! Au au!
Lenço começou a latir alto. Todos na sala de aula se assustaram. Eunha também. Lenço, que até então estava calmo, rosnava ferozmente para Yunho, mostrando os dentes. Se Eunha não estivesse segurando a guia, Yunho já teria levado uma mordida na coxa.
【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas diz — Tá vendo. Esse cachorro deve estar com raiva. Não tem mais discussão. Tem que mandar ele pro abrigo agora ou fazer alguma coisa — ela insiste veementemente.】
— Raiva? — Eunha franziu a testa por um instante.
Então, Yunho disse — Ah! — e a olhou de volta. Eunha piscou enquanto encarava seu rosto apavorado.
— Ah, eu estava falando sozinha. Não me entenda mal — Eunha se corrigiu com calma e afagou Lenço nas costas, como para acalmá-lo. Ele não latiu mais, mas continuou rosnando para Yunho.
— Que estranho. Ele estava tranquilo até agora.
— Ah, haha…
Yunho ficou tão assustado que já tinha se afastado bastante. Eunha acalmou Lenço e se virou para ele.
— Desculpa! Ele não tem raiva, pode ficar tranquilo. Sobre o que estávamos falando mesmo?
— Ah, uhm. Não era nada importante. Depois da aula… Digo, a gente conversa amanhã.
Yunho voltou correndo para seu lugar, como se estivesse sendo perseguido. Mesmo depois disso, Lenço não tirou os olhos dele. Seu olhar era tão feroz que parecia capaz de despedaçar alguém. No fim, Eunha se retirou da aula e deixou Lenço na sala da administração da academia enquanto a aula acontecia.
— Fica quietinho, tá?
— …
— Nada de latir ou fazer barulho. As pessoas vão se assustar. E podem te entender mal.
Talvez ele realmente entendesse linguagem humana. Lenço sentou obedientemente no chão com as palavras de Eunha. Mas seus olhos pareciam um pouco tristes.
— Já volto. Se ficar quietinho, a gente passeia quando voltar pra casa.
Ele abanou o rabo discretamente. Parecia mesmo que tinha entendido.
— Bom garoto — Eunha sorriu de leve e fez um último carinho cuidadoso na cabeça de Lenço.
【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas diz — Uh… — Ela para e ergue o olhar com uma expressão triste.】
Oops. Eunha olhou confusa para a janela amarela de mensagem.
— Y-Yura! — ela ouviu uma mulher gritar atrás de si. Correndo apressada, uma das colegas que fazia aula com ela se aproximou.
— Huff, puff, abriu um portão aqui perto! Precisamos evacuar agora. Rápido!
— Perto? Onde?
— Deve ser no prédio do outro lado da rua. Você não recebeu a mensagem de emergência? Aquele spa. Não, a gente não devia estar aqui. Pega suas coisas logo!
— …
Eunha não se moveu, mesmo com o apelo da mulher. Apenas observou com indiferença a paisagem do lado de fora da janela.
“O prédio do outro lado da rua.”
Era verdade. Como a colega disse, uma fenda verde oscilava no prédio com apenas uma faixa de pedestre entre eles. Ou seja, era estimada como um Rank B. Vários civis, como idosos e crianças, olhavam ansiosos para a fenda verde ali por perto.
— Cuide do Lenço pra mim — disse Eunha com calma, segurando as grades de ferro da janela com as duas mãos.
— …O quê? Y-Yura?!
Creeeeek…
Foi uma cena inacreditável. Eunha puxou as grades com ambas as mãos como se as arrancasse, e atirou o corpo por entre as barras que se abriram como caramelo derretido.
— Aaargh!
Ela saltou do quarto andar direto para o primeiro.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.