Índice de Capítulo

    Numa noite em que a lua amarela brilhante se escondia atrás das nuvens, Junhwan subiu até o topo do hospital universitário após um chamado repentino do Grande Sábio, Igual ao Céu.

    — Você tá passando por apuros.

    Slurrrp.

    O vinho tinto, de um vermelho rubi intenso, encheu o copo de papel. Yuhwan mastigava uma perna de lula seca e indicou com o queixo como se dissesse para Junhwan pegar.

    — Ah… Obrigado. — Junhwan aceitou o copo de papel, hesitante. Não sabia muito sobre bebidas, mas, pelo rótulo e o número 1947 na garrafa, imaginou que não devia ser nada barato.

    — Pensei que queria beber com outro ‘Hwan’ e tinha uma bebida boa guardada, então trouxe. Que tal?

    — Boa, gosto do aroma.

    — Né? Sabia. Os ‘Hwans’ falam a mesma língua. — Ahaha! Yuhwan mostrou as presas e deu uma gargalhada estrondosa. Os dois esvaziaram os copos no telhado sob a luz da lua.

    Quando os petiscos na frente deles estavam pela metade, Yuhwan notou que as bochechas de Junhwan estavam coradas e mudou de postura.

    — Ouvi dizer que o garoto está bem melhor.

    — Sim. Disseram que está estável. É tudo graças à Doutora Planta, que cuidou muito bem dele.

    Hic…

    — Ah, me desculpa. — Junhwan rapidamente cobriu a boca. Yuhwan riu em voz baixa e virou o resto do vinho do copo de papel na boca, depois começou a falar devagar.

    — Não é graças ao pó de fada… Quer dizer, à Princesa da Chama Negra?

    Pausa.

    Junhwan parou com o copo perto da boca. Ficou paralisado como pedra e olhou para Yuhwan apenas com os olhos. Em vez de embriaguez, o que tingia seu olhar enevoado era vigilância. Yuhwan soltou uma risadinha.

    — Não faz essa cara. Nem precisei investigar, ouvi diretamente da Doutora Planta.

    — Isso é…

    — Eu sei. Bom, contanto que vocês fiquem de bico calado, não tenho intenção de sair espalhando. Pareço ser tão imprudente assim? — Yuhwan deu de ombros e voltou a encher o copo de papel enquanto continuava: — Vocês não são os únicos leais. A Imortal também é. A Imortal também deve a ela.

    — Deve… a ela?

    — O Portão Desconhecido do Mercado Jagalchi de Busan outro dia. — Gulp. Yuhwan engoliu o vinho e alcançou os petiscos enquanto acrescentava: — A Princesa da Chama Negra salvou nossos membros da guilda naquela ocasião.

    — …

    Aquilo tinha acontecido? Ele não fazia ideia. Junhwan ouviu em silêncio.

    — Não tá surpreso — murmurou Yuhwan. Junhwan ergueu a cabeça e o encarou. No instante em que seus olhares se cruzaram, os lábios de Yuhwan se curvaram num sorriso. — Parece que você nem está curioso sobre como uma caçadora rank F conseguiu isso.

    — Isso é…

    — É. Ela não é uma simples rank F. — Yuhwan já havia trocado golpes com ela e podia dizer isso com convicção. — A convocação da Associação. Chegou até a Legião também, né? Aquela AGI ou CIA. Parece que deixaram uma profecia bem sinistra.

    A notícia com certeza já havia sido repassada ao segundo no comando da Legião, Junhwan. Não era necessário entrar em detalhes. Yuhwan pousou o copo de papel e foi direto ao ponto.

    — Precisamos da ajuda dela.

    — …

    A ‘ela’ de quem Yuhwan falava. A Princesa da Chama Negra.

    Junhwan ficou em silêncio por um tempo, depois olhou para ele como se realmente não entendesse.

    — Por que está me dizendo isso?

    “Ha, olha só.” Yuhwan arqueou as sobrancelhas e riu em silêncio. Era fácil descobrir que a Princesa da Chama Negra havia deixado a Lobo, bastava investigar um pouco. O que restava era bater nas portas da Legião. Ela tinha pago alegremente quatrocentas mil moedas pelo pó de fada para o Trapaceiro. Essa ação, por si só, já provava a relação entre a Princesa da Chama Negra e a Legião.

    — Você sabe onde ela está.

    — …

    — Não, só me passa o contato dela. Eu falo com ela pessoalmente.

    Junhwan se levantou com essas palavras. A embriaguez que coloria suas bochechas desapareceu sem deixar vestígio. Junhwan olhou diretamente para Yuhwan.

    — Obrigado pelo vinho. Mas não podemos fornecer nenhuma informação sobre ela.

    — …Não podem?

    “Entendi.” Yuhwan se sentou no banco com as pernas cruzadas e ergueu os olhos para analisá-lo. Junhwan poderia ter vacilado diante daquele olhar sem o menor traço de sorriso, mas respondeu sem tremer:

    — Ela é família para a nossa Legião, e alguém a quem juramos lealdade junto com o nosso mestre. Além disso… — Junhwan lançou um olhar ao vinho sobre a mesa e acrescentou, devagar: — Não será com uma bebida cara que você vai diluir a lealdade da Legião.

    — …

    — Peço desculpas por não poder pagar pela bebida.

    Swish…

    O vento cortou o telhado do hospital. As flores vermelhas no canteiro do terraço obscureciam a visão. Uma risadinha escapou entre eles e foi levada pelo vento.

    — É por isso que gosto de você.

    Humph.

    Yuhwan se ergueu e ficou frente a frente com Junhwan. Junhwan também não era baixo, mas parecia um adolescente diante de Yuhwan, que beirava os dois metros.

    — Nem me sinto mal pela bebida. Tenho algumas centenas dessas no depósito. — Falou com ar de superioridade, mas Junhwan sabia que ele não estava blefando.

    Yuhwan passou por Junhwan, que continuava imóvel como uma estátua, e seguiu em direção à saída do terraço.

    Creak.

    A porta se abriu com um rangido. Yuhwan virou-se para trás.

    — Imagino que não haja mal em transmitir minhas palavras a ela, certo?

    — …

    — Por favor, diga que eu, o Grande Sábio, Igual ao Céu, Yuhwan, estou procurando por ela com sinceridade. E que vou preparar bebidas muito mais caras do que essa, além de pagar o preço pelo pingente daquela vez.


    Em vez de ir direto para casa após a aula, Eunha pegou um táxi. Seu destino era uma colina silenciosa. Era onde sua mãe descansava.

    Pisando na grama bem cuidada, com o som dos grilos como companhia, Eunha pensava na conversa que acabara de ter com Junhwan. Que o Grande Sábio, Igual ao Céu, estava procurando por Eunha, pela Princesa da Chama Negra.

    — …Acho que deve ter a ver com aquele assunto da Associação de que te falei antes.

    Eunha apenas respondeu que entendeu. Após encerrar a ligação, Junhwan lhe enviou pelo mensageiro o número da sede da Imortal, junto da informação de que não havia entregue os dados de contato dela para a Imortal.

    【Imortal】

    02-XXXX-XXXX / Ramal XXX

    Eunha encarou o número na tela e depois guardou o celular de volta no bolso.

    Folhas secas rolavam pelo caminho de pedra no meio do gramado. Quando ela avançou por ele, logo pôde ver o túmulo da mãe à distância. No entanto…

    — …?

    Eunha parou de repente e inclinou a cabeça. Havia alguém em frente ao túmulo de sua mãe.

    “Quem é?”

    Era um homem estranho. Um visitante de luto? Não dava para ver direito porque estava parcialmente escondido por uma árvore, mas o terno preto e as mãos juntas com elegância eram o bastante para fazê-la pensar nisso.

    Eunha observou as costas do homem e se lembrou da primeira vez que visitou o túmulo da mãe após retornar ao mundo moderno. Haviam se passado trinta anos no tempo moderno enquanto ela esteve presa no Portão Desconhecido. O túmulo, que ela achava ter ficado abandonado todo aquele tempo, estava tão limpo que era estranho. As cinzas levemente queimadas ao redor da lápide eram, com certeza, vestígios de um visitante. Alguém além dela havia estado ali. Eunha juntou as peças do quebra-cabeça em sua cabeça e permaneceu longe, observando o homem misterioso.

    “Loiro…”

    Desde o surgimento dos Despertos, as pessoas modernas passaram a ter cabelos e olhos de diversas cores. Era precipitado demais achar que ele era estrangeiro só por ser loiro. No momento em que ela estava prestes a se mover devagar para vê-lo mais de perto…

    Rrrrr…

    Um telefone tocou. Não era o de Eunha. O homem de mãos unidas e olhos fechados tirou o celular do bolso frontal.

    — Hello.1

    Eunha parou no lugar. Inglês. O idioma que ele usava era claramente o inglês.

    — Yeah, I’m going soon. Alright.2

    Click.

    O homem desligou e guardou o celular de volta no bolso. Então, ergueu a cabeça. Os olhos avermelhados, como se estivessem maquiados. Íris acinzentadas, de cor vazia, ao centro. Cabelos bege claro.

    Eunha não se moveu, como se estivesse congelada.

    “…Ijun?”

    Não havia como estar enganada. O homem parado diante do túmulo de sua mãe era, sem dúvida, Ijun.

    “Por que Ijun Baek estaria aqui?”

    Confusão tingiu os olhos negros de Eunha. Desde o recente reencontro com Ijun na festa, ela tinha certeza de que ele havia mudado completamente. Que o Ijun que conhecera não existia mais. Mesmo assim…

    — Voltarei outra vez — murmurou Ijun, curvando-se respeitosamente diante da lápide fria. Deu alguns passos para trás e se virou com calma. Então, desapareceu pelo caminho oposto ao lugar onde Eunha estava escondida.

    — …

    Frsh…

    Eunha enfim se revelou lentamente da sombra da árvore quando ele já havia desaparecido por completo. Um buquê entrou no canto de sua visão. A vela de incenso soltava uma fumaça branca na direção do vento e ainda queimava. Os olhos de Eunha estavam tomados apenas pela confusão ao encarar aquilo tudo.

    A pessoa que cuidava do túmulo esse tempo todo era ninguém menos que Ijun? Mas ele estava na América. Eunha fitou o buquê amarrado com um laço branco e ergueu a cabeça devagar. Ijun já havia sumido pela trilha na colina.

    — Parece que você continua caçando com essa roupa ridícula para se adaptar aos tempos modernos, mas vai mesmo ser caçadora de conceito?

    — Sabe… Eu odeio o fato de gente como você ser caçadora.

    Aquele Ijun, naquela noite. E…

    — Mesmo assim, quero ser como você. Quero dizer, espero que continue assim no futuro.

    — Gosto de você como é. Q-Quer dizer, gosto no sentido de…

    Swaa…

    Os cabelos negros de Eunha esvoaçaram com o vento que varria as colinas silenciosas.

    — …Mas que diabos.

    Ele não devia ter ido muito longe ainda. Eunha se moveu na direção por onde ele sumira, como se algo a puxasse.

    Tap, tap-tap!

    Seus passos lentos começaram a acelerar gradualmente. Ela precisava perguntar. Se ele realmente cuidava do túmulo de sua mãe. E, se sim, por quê.

    Eunha desceu a colina e vasculhou os arredores com agilidade. Ijun não estava em lugar nenhum. Teria entrado em algum beco? Eunha ofegava levemente e fechou os olhos com calma.

    【Passiva ► Bigodes de Gato ativada.】

    Esquece. Havia gente demais ao redor para conseguir rastrear sua presença. Eunha desistiu rapidamente e abriu os olhos novamente. Então, tirou de dentro da blusa um pingente escondido.

    — Rastreamento.

    【Feitiço detectado: Rastrear Localização】

    【Você solicitou Rastrear Localização. Ativar o artefato Pingente de Rosa Negra?】

    — Ati…

    Ela mal havia separado os lábios.

    — …Eunha Cha?

    Pausa.

    Eunha congelou com o pingente na mão. Alguém a havia chamado. Não foi Yura Lee nem a Princesa da Chama Negra… Foi, com certeza, Eunha Cha. Ela virou rapidamente na direção da voz.

    — …!

    E travou no lugar. Não era Ijun, que acabara de desaparecer, quem estava ali.

    — Eunha Cha. Todos aqui perderam suas famílias. Eu também perdi minha filha.

    …General.

    — Haverá muitas outras pessoas que você vai salvar, além daquelas que não conseguiu.

    — Espero que isso te conforte.

    Mais de trinta anos atrás. O general do acampamento que cuidara dela durante os dias de treinamento, o de cabelos grisalhos, Woncheol Gyeon, estava ali.

    1. Alô.[]
    2. Uhum, eu já vou ir. Certo.[]
    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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