Capítulo 97

— Eunha. É Cha Eunha, não é?

Woncheol caminhou lentamente até Eunha. Alegria, saudade, alívio. Tudo isso se misturava no olhar arregalado dele. Talvez por isso, Eunha passou um bom tempo evitando seu olhar.

— …

Eunha não conseguiu dizer nada, como se tivesse um nó na garganta. E não parecia ser só porque tinha perdido seu nome no contrato com o gato.

— Vi uma caçadora de conceito parecida com você na TV e fiquei em dúvida. Mas era você mesmo.

— …

Caçadora de conceito. Ela conseguia imaginar com facilidade qual programa ele devia ter visto só por essa palavra. Então ele também a viu com aquele vestido chamativo, brandindo a sombrinha. Sem perceber, apertou mais forte a alça da bolsa. O que o general pensou ao ver aquilo? Mas as palavras seguintes de Woncheol foram bem diferentes do que Eunha esperava.

— É um alívio você estar viva. Achei que estivesse morta. Graças a Deus… — Ele pressionou os olhos com as mãos, depois encarou Eunha com os olhos vermelhos. — Como tem passado? Deve ter ouvido sobre o Ijun. Que virou não só o primeiro rank S da Coreia, mas também um Prime. Aquele cara que nem conseguia segurar um fuzil direito floresceu.

Ijun. Eunha ergueu a cabeça com o nome. Tinha esquecido completamente disso diante do reencontro inesperado com o general do acampamento. Seus olhos negros vasculharam os arredores rapidamente. Ela precisava ir atrás dele.

— Certo. Eu estava indo encontrar o Instrutor Jang. Você deve lembrar. Que tal? Venha comigo, se não estiver ocupada.

Woncheol estendeu a mão e convidou Eunha, que ainda procurava ao redor, para acompanhá-lo. Mas Eunha deu um passo para trás, reflexivamente, antes mesmo que a mão a alcançasse. Reagiu de forma tão fria que até Woncheol parou.

— Cha Eunha?

— …Ah.

Eunha soltou um som baixo e tocou o pulso esquerdo por hábito. A pulseira dos desejos. Não era mais aquela pulseira de antes, que parecia prestes a se romper, mas uma muito mais limpa e de um azul bem mais nítido.

— Me desculpa… — Eunha ficou tocando a pulseira por um bom tempo antes de abrir os lábios, devagar. — Parece que o senhor me confundiu com outra pessoa.

Ela disse essas palavras secas, mas manteve os olhos fixos no chão, sem coragem de olhar para o general do acampamento. Que expressão ele teria agora?

— Como assim? Não tem como eu não reconhecer você.

Ela não via seu rosto, mas a voz continuava a mesma. Ele estava absolutamente certo de que ela era a Cha Eunha que conhecia. Eunha segurou a pulseira no pulso esquerdo com a mão direita e falou de novo:

— Eu não sou a Eunha que o senhor está pensando.

De forma mais firme.

— …

Woncheol a encarou com atenção, e Eunha não olhou para ele nem por um segundo. De repente, os olhos de Woncheol se moveram da figura dela para a bolsa em seu ombro.

Academia de Estética Canina de Haengwook Kang.

O logotipo gravado ali. Quando o encontrou, os olhos dele tremeram. Fechou os lábios entreabertos e ficou em silêncio novamente. Eunha, Yura, se virou lentamente nesse silêncio e disse:

— …Estou com pressa.

Ele não insistiu. Apenas moveu os olhos e encarou em silêncio a figura de Eunha se afastando. Eunha também sentia seu olhar. Mesmo depois de se distanciar tanto, era como se os olhos grudados em suas costas não a deixassem ir. Ela apressou o passo. Seria para correr atrás de Ijun ou fugir de alguma coisa? Não sabia, mas não olhou para trás nem uma vez.

— …

Eunha só olhou para trás lentamente depois de passar por um beco estreito e virar várias esquinas. Mesmo esperando por um tempo, o general do acampamento não apareceu. Confirmou que não estava sendo seguida e saiu do beco.

Carros trafegando pela rua. Inúmeros pedestres caminhando pelas calçadas. Eunha se misturou naturalmente à paisagem.

— …Conheço. É alguém que conheço.

Mais precisamente, alguém que conheci no passado. O rosto do general do acampamento estava muito mais enrugado do que Eunha se lembrava. Os cabelos brancos e as costas curvadas também eram novos. A diferença de tempo que ela não sentiu ao ver Ijun a atingiu como uma maré.

Eunha se forçou a apagar o rosto dele da memória e levou a mão ao pescoço para erguer o pingente. Não, ela tentou.

Beep… Beep… Beep…

Embora o celular estivesse no modo vibrar, o som disparou ruidosamente. Eunha remexeu o bolso e puxou o telefone.

…Era o aviso de portão que já nem a surpreendia mais. As pessoas ao seu redor estavam ocupadas em silenciar o alarme sem nem ler direito o conteúdo.

— Ah, não! Tava vendo um vídeo!

— Não dá pra desativar esse alerta, não? Que saco.

— Vai em configurações. Dá pra desativar o aviso de emergência. Eu desliguei aqui. Bagulho chato.

Vários demonstravam irritação com o som incômodo do alarme.

“…É aqui perto.” Eunha encarou a mensagem de alerta na tela e pensou no general do acampamento com quem acabara de se encontrar. “Será que ele está bem?”

Uii-iuuu…

— Atendimento de emergência. Atendimento de emergência.

— Pedimos aos motoristas que cedam passagem para entrada rápida no local e garantia da segurança.

Dava para ver as viaturas, caminhões dos bombeiros e ambulâncias avançando pela rua com as sirenes ligadas.

— …

Eunha ficou parada, como se congelada, e enfiou o celular fundo no bolso. Os caçadores logo chegariam de qualquer forma. O leilão do portão já devia ter começado, e várias guildas estariam disputando a vitória. Havia muitos caçadores que seguiriam naquela direção.

“…Mesmo que eles não sejam eu.”

O celular, agora em silêncio, ainda vibrava em seu bolso. Eunha ignorou a vibração até que cessasse e apertou seu pingente.

E naquela noite…

Beep…

A porta se trancou com um clique. Eunha não tirou os sapatos ao voltar para casa e, em vez disso, se escorou contra a porta fria da entrada.

— …

Então, apertou o pingente no pescoço com a mão. Ela não conseguiu encontrar Ijun nem mesmo usando a habilidade de rastreamento.

Falhou uma vez após a outra. Seria apenas um erro simples? Ou talvez Ijun tivesse alguma habilidade ou traço especial que bloqueava rastreamento. De qualquer forma, Eunha não conseguiu segui-lo e teve que voltar sem perguntar nada.

Eunha tirou os sapatos devagar e entrou pelo corredor. A sensação do piso de mármore gelado tocando seus pés descalços era vívida. Ela ficou parada na sala escura e tateou a parede dura, então naturalmente umedeceu os lábios.

— Lenço!

Eunha só se deu conta tarde demais, diante do silêncio imutável. Certo. Lenço não estava mais ali.

Ela nem sequer havia passado uma semana com Lenço. Mas levaria bem mais que isso para acalmar o vazio deixado por sua ausência, considerando que mesmo dois dias depois ela ainda não conseguia se acostumar.

Aquilo era calor. Se ficava com você e depois ia embora, fazia você se sentir ainda mais frio.

Eunha colocou a bolsa da academia sobre a mesa e pegou o controle remoto ao lado do sofá. Em seguida, ligou a TV com facilidade. Mesmo sem sentar para assistir de fato, era um hábito que tinha desde que passou a viver sozinha após a morte da mãe.

— E agora, no noticiário: a temporada de chuvas começa oficialmente na Ilha de Jeju nesta sexta-feira.

A luz da TV iluminava o chão frio de mármore. Só então parecia que o silêncio sufocante que envolvia toda a casa começava a afrouxar.

— Especialmente na costa sul, nuvens de chuva se formarão em alta altitude devido à instabilidade atmosférica, e espera-se um tufão forte com rajadas de vento, relâmpagos e trovões. Um representante da Agência Meteorológica declarou, a respeito da notícia de uma monção sem precedentes em pleno mês de outubro…

Eunha não prestava muita atenção à voz da apresentadora e caminhou até a geladeira, de onde tirou uma lata de cerveja.

Fizz…

Em seguida, virou metade da lata ali mesmo. Quando a cerveja gelada a ponto de causar arrepios desceu por sua garganta, sua mente apertada e tumultuada pareceu clarear um pouco.

— Por volta das 16:31h de hoje, uma fenda surgiu em Yeongdeungpo, Seul, nas proximidades do Colégio ○○.

— …

Eunha estava tomando a cerveja perto da geladeira quando lançou um olhar para a TV. O portão de que falavam ali era o mesmo do alerta que ela havia recebido no celular mais cedo.

— O Centro de Gestão de Portões da Associação de Caçadores da Coreia classificou a fenda como de Rank B+. Mas a Pegasus, que participou do leilão do portão, foi revelada como responsável por uma tentativa de manipulação na oferta vencedora, o que gerou revolta entre outras guildas e a opinião pública. Enquanto os caçadores foram enviados com atraso por causa do problema no leilão, foi relatado que um cidadão corajoso entrou na fenda. Quem traz a matéria é Gyujin Hwang.

Manipulação de ofertas? Coisas assim aconteciam? Leilões de portão não existiam na época de Eunha, e aquilo tudo lhe era bastante estranho. Ela foi atraída até o sofá e fixou os olhos na tela da TV.

— Cerca de quinhentas pessoas, entre professores e alunos, foram evacuadas às pressas, mas uma jovem de dezoito anos, de sobrenome Kim, que estudava na biblioteca para os exames, acabou sendo arrastada para dentro da fenda sem ter como reagir.

— O campus e o pátio da escola foram tomados pelas chamas momentos antes da abertura do portão. E a pessoa que apareceu diante da aterrorizada Kim…

A mão de Eunha parou no ar, levando a lata de cerveja à boca de forma distraída.

— …foi o Sr. Gyeon, um caçador aposentado e general de um campo de treinamento de trinta anos atrás.