Capítulo 13 — Tabuleiro dos Nove [2]
Cavaleiro de E4 para G5, eu tomaria o bispo dele e se ele respondesse com cavaleiro de F3 para G5.
‘Chegaríamos ao fim da partida.’
Com um lance simples, mas fatal, dama de A4 para D1, finalizando num xeque-mate limpo, sem quaisquer reações pelo bispo em G4 protegendo a dama. Mas é claro que nem tudo seria fácil assim, minha suposição do futuro estava errada.
Afinal, no lance de meu cavaleiro de B6 para A4 ele reagiu com dama A3. Quebrando toda a teia de mate que eu havia imaginado. Sem muita dificuldade, joguei cavaleiro de A4 para C3, trocando material, o cavaleiro dele pelo meu, além de duplicar peões na coluna C.
‘Preciso tomar as rédeas novamente, minha previsão não acabou acontecendo, mas eu ainda consigo forçar um mate ainda mais…’
E dessa maneira, movi meu cavaleiro que até então repousava em F6 em prontidão para E4, sem nenhuma ameaça para tomar e ameaçando novamente o bispo de G5. O ser de tinta à minha frente parecia cada vez mais abalado, como se não esperasse tais movimentos.
‘Mas… Por que xadrez? Qual era a ligação entre xadrez e o teatro? Ou a pintura?’
Talvez eu soubesse a resposta, embora quão absurda fosse, a realização fez os pelos da minha nuca se enrijecerem, minha faceta, embora por trás de uma máscara — invisível — não esbanjasse nada, eu tinha finalmente a resposta perfeita.
‘Por que o xadrez também é uma arte. Tudo o que eu passei até então, foi uma arte, não é?’
Começando pelo salão de espelhos, embora existisse aquele reflexo distorcido, aquilo era um tipo de arte refratária, depois, a catedral, uma arte arquitetônica que lembrava a arquitetura gótica.
O quadro estranho e o seu mundo, um tipo de arte expressionista ao máximo que internalizava ao máximo as emoções que alguém poderia sentir, nuas e cruas. E então, o teatro.
A realização de uma peça baseada na tragédia, uma arte que refletia também o mundo, como no salão dos espelhos, mas com uma diegese que podia chamar dela mesma.
Por fim, o momento atual, uma partida de xadrez, que, embora seja definido como um esporte, também é uma arte. Uma arte onde colocamos e potencializamos ao máximo que podemos a nossa cognição, para encontrar apenas um.
Apenas um movimento fatal que importa. Um sorriso leve finalmente escapou dos meus lábios, enquanto minha mente retornava para o jogo à minha frente. A realização trazia um certo calor palpável.
‘Esse meu lance de cavaleiro em E4, é mais um caminho fatal, pois eu posso tomar de graça o bispo em G5, caso ele tente retomar com o cavaleiro de F3 para G5, deixaria o meu bispo de G4 livre para capturar a torre em D1.’
Tentando ferrar com a minha jogada, a criatura jogou bispo G5 em E7, ameaçando tanto a minha dama em D8 quanto a torre em F8. Para não perder a minha dama ainda, esperando o momento perfeito, movi dama em C6.
‘Uma boa tentativa, já que se ele tomasse a torre de F8 com o bispo, eu poderia retomar com bispo de G7 para F8 e estaria alfinetando a dama dele em A3.’
Como contra medida, ele desenvolveu finalmente o bispo de F1 para C4. Liberando a posição de roque com urgência, enquanto ameaçava o peão de F7.
O azar dele, é que eu já havia pensado em mais uma contramedida para isso. Cavaleiro de E4 para C3, tomando o peão dele e ameaçando novamente a torre de D1.
‘Ele não pode tomar com a dama de A3 para C3, pois eu poderia retomar a chance de mate movendo a torre inativa desde o começo de A8 para E8, deixando minhas duas torres lado a lado.’
E isso só pioraria, se ele jogasse com roque menor agora, eu tomaria o bispo dele de E7 com a torre de E8. Mesmo se ele tentasse segurar suas peças, não executando o roque e movendo a dama para E3, o cataclismo já estaria feito.
Afinal, eu tomaria com o bispo de G4 para F3 o cavaleiro dele, que provavelmente reagiria com o bispo de G2 para F3 e eu poderia reagir com bispo G7 para F6, ameaçando o bispo dele em E7, onde se ele tentasse tomar, deixaria a dama sem proteção além do bispo.
No fim, a única opção que ele teve após eu jogar com cavaleiro C3 foi bispo de E7 para B5, ameaçando minha dama em B6.
‘Uma ótima jogada, eu diria… Se eu mover qualquer peça errada, eu perco 2 peças totalmente de graça…’
Então, cheguei a uma resposta. Movendo minha torre de F8 para E8 e executando um xeque. A criatura logo reagiu com rei em F1.
‘Mover a dama? Não, nesse momento ela é apenas um estorvo para o xeque-mate, a melhor opção é a entregá-la se minha vitória chegará em cima da troca de algumas peças.’
Joguei bispo G4 para E6, ameaçando o bispo C4 dele, protegendo o meu pelo peão de F7 e sacrificando a minha dama. Não percebendo minhas intenções, o ser de tinta tomou a minha dama com bispo C5 para B6.
E eu logo reagi, tomei o bispo C4 e fiz mais um xeque no rei dele em F1. Sem muita saída, ele moveu o rei para G1. Como instinto, movi cavaleiro de C3 para E2. Xeque novamente.
‘Agora acabou. O ganhador já foi decidido.’
Ele moveu rei de volta para F1. E logo movi novamente cavaleiro para D4, tomando peão, descobrindo o rei e xeque novamente. Voltando rei para G1. Retornei cavaleiro para E2, xeque.
Rei foge para F1, jogo cavaleiro C3, rei em xeque pelo bispo de C4 novamente, rei volta para G1, tomo o bispo que estava em B6 dele com peão de A7. Abrindo caminho na ala da dama com as duas torres conectadas em A8 e E8.
Para defender a dama, ele jogou dama B4, ameaçando tanto o meu cavaleiro quanto o meu bispo e eu rapidamente jogo torre A4, defendendo o bispo, próximo movimento das brancas foi dama B6, tomando o peão duplo.
Reivindico a torre em cavaleiro D1. Para tentar fugir ele joga peão h3 e eu respondi com torre A2, tomando mais um peão. A criatura respondeu com rei H2, tentando fugir dos xeques e joguei cavaleiro de D1 para F2, ameaçando torre.
O ser de tinta, desesperado, joga torre E1, tentando oferecer uma troca de torres, como já tinha o tempo de jogo, decidi trocar, tomando torre E1 com a de E8. Em resposta, ele moveu dama para D8, xeque.
‘Ele quer esfriar o jogo…’
Em resposta, movi bispo F7 para E8. Logo, ele tomou com cavaleiro de F3 para E1 na torre. Ameaçando ainda mais o peão G2 dele, movi bispo de C4 para D5.
Tentando esfriar o jogo, brancas moveram cavaleiro de E1 para F3 de volta. Reagi com cavaleiro E4. Abrindo a possibilidade para colocar o rei em uma posição segura de G7.
Entendendo um pouco minhas intenções, ele moveu dama B8, tornei com peão de B7 para B5, deixando-o no alcance do peão de C6 que tomou o bispo anteriormente. A criatura respondeu com peão H4, tentando dar respiros para o rei.
No entanto, movi meu peão de H7 para H5, não deixando ele progredir mais. Sem muitas escolhas, ele moveu cavaleiro para E5. Finalmente, pude mover rei para G7. Tentando melhorar a posição do rei, ele jogou G1.
‘Não vou te deixar fugir.’
Movi o bispo de F8 para C5, xeque. Rei f1, respondo com cavaleiro G3, xeque. Foge em E1, torno em bispo D4, xeque. Rei D1, jogo bispo B3, fugindo do alcance do cavaleiro de E5 e novamente aplicando xeque. Rei busca refúgio em C1. Jogo cavaleiro em E2, xeque novamente.
Ele move o rei rapidamente para B1. Respondo com cavaleiro C3, xeque. Retorna rei para C1. E eu finalmente fecho o caixão com torre C2.
“Xeque-mate.”
A partida havia acabado. E o meu destino não estava mais selado. A voz que mais se assemelhava a alguém que um dia eu conheci, tocou meus ouvidos, com um aperto no coração.
‘Esse era o jogo favorito do Damian, não era?’
O mundo de tinta, aos poucos desmoronava, a própria criatura, começava a perder sua forma, ficando a cada instante mais vazia, perdendo sua própria vida.
『 Adormecido Damian, parabéns por finalizar a sua primeira provação.』
***
Nota: bom, esse foi o fim do primeiro ‘arco’ e esse capítulo acabou sendo mais curto do que os outros, mas importante. Foi divertido escrever as coisas nas entrelinhas. Para aqueles que não reconheceram essa partida, não visualizarão direito ou sequer entenderam ela, essa partida é real, jogada em 1956, o confronto do lendário — ainda jovem, Bobby Fischer e o campeão anterior do US Open Chess Championship, Donald Byrne. Confesso que queria ter feito uma partida do zero para essa novel, mas, embora eu goste de xadrez, eu seria incrivelmente ruim e não seria nada interessante a partida xD, é isso. Nos vemos nos próximos capítulos!
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