Capítulo 18 — Pequena Estrela
Eu estava quase dormindo, até que comecei a escutar murmúrios estranhos. Estranho. Era como se algo estivesse tentando ser dito no meio do turbilhão de pensamentos que tive desde que sai daquele lugar estranho.
Os sons não eram claros, mais pareciam sussurros na beira da audição, vindos de lugar nenhum e de todos os lugares ao mesmo tempo.
‘De novo não…’
Fechei os olhos com mais força, tentando afastar as vozes. Eram diferentes das que eu costumava ouvir durante aquele estado. Essas pareciam mais antigas, mais distantes. Como se fosse algo que estava próximo de acontecer.
Olhei para a janela, para a mesma lua que parecia me vigiar todas as noites, quase cheia, derramando sua luz fria sobre o chão do quarto. Os murmúrios pareceram se intensificar com o meu olhar, uma onda de estática percorrendo minha mente.
‘É a lua… definitivamente tem algo a ver com a lua.’
Meu corpo ainda estava pesado e dolorido, uma consequência de dias deitada e dos… dias de sofrimento. A simples ideia de me mover trazia uma pontada de exaustão. Respirei fundo, o cheiro de antisséptico e poeira do hospital preenchendo meus pulmões.
Era um cheiro de monotonia, de sofrimento contido, mas era melhor que o cheiro metálico e estéril de onde eu vim. Pelo menos aqui havia uma janela. Foi quando um som diferente cortou o silêncio do quarto.
‘O que foi? Toda dor que senti naquele lugar estranho não foi o suficiente?’
Um rangido baixo e arrastado. Vinha da porta.
Meu corpo inteiro enrijeceu, e os murmúrios em minha mente cessaram abruptamente, como se também prendessem a respiração. Virei a cabeça lentamente sobre o travesseiro, meus olhos fixos na fresta de escuridão que se alargava. A luz fraca do corredor desenhou uma linha no chão, e nela, uma silhueta se formou.
Era um homem. Ou pelo menos, tinha a forma de um. Mas havia algo terrivelmente errado.
‘Por que ele está usando máscara? E que tipo de máscara é essa? Nada apropriado para um hospital…’
Alarmada, permaneci com o corpo ereto e pronta para invocar a espada estranha, entretanto, a figura nada fez, apenas se manteve parada. Suas roupas também eram de um paciente, seria outro adormecido?
“Quem é você?”, disse, tentando parecer o mais firme possível, não dando aberturas para qualquer brincadeira de mau gosto.
‘Isso deve ser o suficiente para acabar com essas esquisitices.’
A figura na frente do quarto não disse nada, nem mesmo reagiu por poucos segundos, segundos esses que pareceram uma eternidade para mim. Uma eternidade que poderia resultar em muitos tipos de acontecimentos estranhos.
“Você pode me chamar de… Clarividente.”
Quando a figura finalmente me respondeu, senti algo estranho, sua voz, embora calma, parecia ressoar entre meus ossos com um tipo de força que até mesmo me causava urgência.
Medo. Uma urgência causada pelo medo. Eu queria perguntar algo, mas estava travada, não conseguia confiar na pessoa à minha frente, mas também sentia que tais palavras carregavam um peso ainda maior, um peso que eu não tenho forças para aguentar.
“Oh, talvez você pense que eu sou um farsante, não é ‘Catalisador’? Dentro de cinco dias, algo especial irá acontecer, use a sua espada quando se tornar necessário.”
‘Como? Como ele sabe que o meu arquétipo é dito como catalisador pela tela? Como ele sabe sobre a espada? E o que acontecerá em cinco dias? O que está acontecendo? Por que mais perguntas sem respostas?’
Engoli em seco, tentando manter a compostura, embora rachada, me mantive firme, escolhendo minhas melhores palavras para reagir a essa situação absurda. O mundo já havia virado de cabeça para baixo recentemente e agora? Figuras enigmáticas aparecendo por aí?
Encarei o Clarividente, minha mente girava com as implicações de suas palavras. Cada frase dele parecia um quebra-cabeça, adicionando camadas de mistério a uma situação que já estava caótica.
“O que você quer dizer com catalisador? E como você sabe sobre a espada? Quem é você de verdade?”
Ele inclinou a cabeça ligeiramente, sua máscara ainda ocultava suas feições, mas eu podia sentir um ar de ironia vindo dele.
“As perguntas são algo natural, Pequena Estrela, mas algumas respostas só podem ser descobertas através da experiência. Você, Aurora, está na divisão entre algo grandioso. A espada é uma ferramenta, uma extensão da sua vontade. Ela se tornará fatal quando você mais precisar dela.”
Minha frustração cresceu. Todos esses enigmas só me faziam sentir uma raiva ainda mais borbulhante, mas me segurei no lugar, não sabia suas verdadeiras intenções.
“Isso não responde às minhas perguntas… O que irá acontecer em cinco dias? E o que você quer de mim?”
O clarividente se aproximou um passo, a sombra da máscara parecendo se alongar no chão do quarto.
“Eu sou apenas alguém qualquer, um observador que anda por aí” respondeu com uma calmaria estranha. “O que irá acontecer é um evento que alterará o seu caminho e de todos os outros que ‘aquilo’ tocou. Esteja preparada. E quanto ao que eu quero… apenas que você cumpra o seu papel.”
Se virando, a figura parando na divisa da porta, a silhueta da máscara se destacava com a luz fraca do corredor.
“Lembre-se, o mundo é muito maior do que você imagina, e a verdade nem sempre é fácil de aceitar. Confie nos seus instintos e na sua espada. Os cinco dias passarão rápido.”
E logo, tão silenciosamente quanto apareceu, ele desapareceu, fechando a porta com o mesmo rangido suave de antes.
‘Por que fez isso?’ O tom de Aigle parecia realmente que ele não entendia as minhas reais intenções, seria influência da máscara dos erros?
‘Há certas coisas que fazemos para nos proteger, essa é uma delas, embora não nos conhecemos totalmente, sei quem ela é… Sua habilidade, se for o que estou pensando, faz ser a pessoa mais forte que eu já conheci.’
Finalmente, a máscara se desmaterializou, olhei de um lado ao outro antes de retornar ao quarto, meu corpo já estava bem melhor do que mais cedo, os próximos dias provavelmente seriam ainda mais difíceis do que hoje, então eu precisava estar preparado.
Só não sabia que seria essa conversa que teria mudado todo o rumo do futuro…
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