Capítulo 13 - O poder de um gênio
O sol mal havia subido completamente no horizonte quando Kaizhat se viu no refeitório do castelo, segurando um pedaço de pão meio seco enquanto tentava se manter acordado. Seu corpo ainda doía do treinamento brutal do dia anterior, e cada músculo parecia implorar por descanso.
Fred, sentado ao lado dele, devorava o próprio café da manhã como se não houvesse amanhã.
— Cara… nunca pensei que pão seco e sopa rala poderiam ser tão gostosos. Depois do inferno de ontem, qualquer comida parece um banquete.
Kaizhat riu fracamente, dando uma mordida no pão.
— Verdade… Mas ainda preferia o café da manhã de casa.
Fred sorriu.
— Ah, sim… Eu daria tudo por uma boa salsicha alemã agora.
Os dois continuaram comendo e conversando, tentando ignorar a fadiga, até que um grupo se aproximou.
Os passos firmes ecoaram pelo refeitório, e uma mulher de cabelos curtos e negros, com olhos cinzentos e um olhar afiado, parou em frente a eles. Sua postura era ereta, e o ar de superioridade era evidente.
Ela cruzou os braços e olhou para os dois como se estivessem no lugar errado.
— Então, são vocês… O lixo do baixo escalão.
Kaizhat e Fred pararam de comer ao mesmo tempo.
Fred piscou, surpreso, e Kaizhat engoliu em seco.
— Hã? — Fred arqueou a sobrancelha. — Você tá falando com a gente?
— Tem mais alguém aqui que se encaixa nessa descrição? — A mulher inclinou a cabeça, seu tom carregado de desdém.
Atrás dela, quatro pessoas se alinhavam, como se estivessem prontos para qualquer coisa.
Kaizhat percebeu que não era um grupo qualquer. Pelo jeito que se portavam, tinham confiança e provavelmente habilidades notáveis.
— Quem são vocês? — Kaizhat perguntou, ainda tentando entender o que estava acontecendo.
A mulher sorriu de canto.
— Meu nome é Reika, e sou a líder deste grupo. Nós não somos como vocês, novatos despreparados que só estão aqui porque foram jogados nesse mundo à força. Nós já sabíamos como lutar antes mesmo de chegarmos aqui.
Os outros ao redor dela sorriram com arrogância.
Reika apontou para um jovem musculoso ao seu lado, de cabelos castanhos e barba rala.
— Esse é Garren, nosso escudo, ninguém passa por ele.
Garren estalou os dedos e sorriu, mostrando os dentes.
— Espero que não chorem se levarem um soco meu.
Reika continuou, apontando para uma mulher de cabelos loiros amarrados em um coque apertado, com um olhar afiado e uma adaga na cintura.
— Tessia, assassina. Se quiserem dormir tranquilos à noite, tomem cuidado com ela.
Tessia sorriu de lado e lançou um olhar frio para Kaizhat e Fred.
— Duvido que tenham reflexos para me acompanhar.
Depois, Reika gesticulou para um jovem alto de pele escura, de expressão calma, mas com um machado gigante preso às costas.
— Duran, nosso especialista em combate pesado.
Duran não falou nada, apenas assentiu lentamente.
Por fim, Reika indicou um jovem de óculos, cabelo escuro bem penteado e vestes mais elegantes que os demais.
— E este é Edwin, nosso estrategista e mago.
Edwin ajeitou os óculos e lançou um olhar estudioso para os dois.
— É um desperdício estarmos no mesmo campo de treinamento que vocês.
Fred já estava ficando irritado.
— Certo… e o que vocês querem? Vieram só pra falar besteira?
Reika soltou uma risada curta.
— Apenas queria deixar claro que vocês nunca vão chegar ao nosso nível. Vocês são os fracos, jogados de um mundo para outro sem nenhuma preparação. Eu e meu grupo já éramos lutadores antes mesmo de virmos parar aqui. Não vamos dividir espaço com lixo.
O tom dela inflamou a situação.
Fred se levantou, puxando a cadeira para trás.
— Quer dizer que vocês já sabiam lutar antes? E daí? Todo mundo aqui vai passar pelo mesmo treinamento.
— Não é tão simples assim. — Edwin ajeitou os óculos. — Quando se nasce fraco, continua fraco. O talento é algo natural.
Kaizhat sentiu a raiva borbulhar.
Ele se lembrou das palavras de Frida no outro dia. “Os fracos com os fracos, os fortes com os fortes.”
Era assim que eles viam tudo?
O alvoroço começou a chamar a atenção dos outros recrutas. Algumas pessoas começaram a se aproximar, sussurrando entre si.
Davidson, que estava sentado com seu próprio grupo, percebeu o que estava acontecendo e se levantou, sorrindo.
— Olha só, briga? Eu adoro brigas.
Xiao Mijin cruzou os braços, observando a cena sem expressar muita emoção.
Star e Choi Miu, que haviam acabado de entrar no refeitório, também notaram o tumulto.
Choi Miu suspirou, como se já soubesse que algo assim aconteceria.
— Isso não vai acabar bem.
Fred deu um passo à frente.
— Se acham que são tão melhores, por que não provam?
Reika sorriu, balançando a cabeça.
— Não desperdiçamos tempo com fracos.
— Hah! — Fred riu. — Então só sabem falar?
As provocações inflamavam o ambiente. O grupo de Reika claramente queria humilhar os outros, mas Fred não estava disposto a deixar isso passar.
Antes que qualquer coisa piorasse, uma voz firme ecoou pelo refeitório.
— Basta.
Todos pararam e se viraram ao mesmo tempo.
Xavier havia chegado.
Seu olhar afiado percorreu o salão, analisando a situação.
— Eu não ligo para o ego de vocês. Se querem brigar, esperem o momento certo. Amanhã, no campo de treinamento, quero ver se toda essa arrogância se sustenta.
Ele então olhou diretamente para Reika.
— Se são tão superiores, vão provar isso lutando.
Reika cerrou os punhos, mas manteve a postura.
— Vamos mostrar a diferença entre nós e eles.
Xavier se virou e saiu do refeitório, encerrando o tumulto.
Kaizhat respirou fundo. Amanhã… ele teria que enfrentar esse grupo de frente.
E não podia se dar ao luxo de perder.
[Mais tarde]
O campo de treinamento fervia sob o sol escaldante da tarde. O ar pesado de suor e poeira misturava-se ao som incessante de espadas colidindo, gritos de esforço e passos firmes sobre a terra batida. O treinamento era brutal, e Xavier não pegava leve com ninguém.
Kaizhat sentia os braços queimarem com cada puxada da corda de seu arco. Sua precisão estava melhorando, mas ainda longe do ideal. Ele olhou para o lado e viu Fred sendo derrubado por um soldado mais experiente. Frida, por outro lado, estava impecável, desviando de ataques com sua lança e contra-atacando com precisão mortal.
No entanto, o verdadeiro espetáculo do treinamento era Davidson.
O jovem loiro, com sua armadura impecável e espada brilhante, se movia com uma destreza que impressionava a todos. Cada golpe seu era preciso, cada esquiva parecia natural, como se tivesse nascido para lutar.
Seu estilo era agressivo, mas ao mesmo tempo refinado. Sua espada cortava o ar com velocidade absurda, e seus oponentes mal tinham tempo de reagir antes de serem desarmados.
— Esse cara é um monstro… — murmurou Kaizhat, observando de longe.
Fred, que estava jogado no chão se recuperando de um golpe, levantou a cabeça e resmungou:
— Por que ele tem que ser tão bom?
Choi Miu, que analisava tudo com os olhos afiados, ajustou os óculos.
— Ele tem talento natural. Mas não é só isso… Ele aprende rápido. Extremamente rápido.
Xavier, que observava de longe, esboçou um raro sorriso satisfeito.
— Ele realmente tem potencial…
No entanto, nem todos compartilhavam desse entusiasmo.
Entre os soldados regulares, havia um homem chamado Randolf, um guerreiro veterano que servia no exército de Estier há anos. Ele era alto, musculoso e carregava uma espada longa nas costas. Seu rosto demonstrava desdém enquanto observava Davidson brilhar no campo de treinamento.
Ele não gostava do que via.
— Hah… Esse moleque chegou ontem e já está se achando. — murmurou para outro soldado ao lado. — Só porque veio de outro mundo e tem essa tal de ‘classe de herói’…
O outro soldado riu, mas não respondeu.
Randolf cruzou os braços, rangendo os dentes.
— Ele precisa aprender seu lugar.
Com isso em mente, ele pegou sua espada e se dirigiu até onde Davidson estava.
Davidson acabava de finalizar um treinamento contra dois soldados quando Randolf parou à sua frente.
— Ei, ‘Herói’.
Davidson ergueu as sobrancelhas.
— Hm?
Randolf sorriu de lado.
— Você luta bem… para um novato. Mas será que consegue lidar com um soldado de verdade?
Os recrutas ao redor se entreolharam, sentindo a tensão no ar.
Davidson inclinou a cabeça.
— Isso foi um desafio?
Randolf sorriu.
— Se você não estiver com medo.
Davidson riu.
— Medo? Hah! Tá falando com a pessoa errada.
Antes que o clima esquentasse ainda mais, a voz firme de Xavier ecoou pelo campo.
— Já que querem lutar, então lutem.
Todos se viraram para ele, surpresos.
Xavier cruzou os braços e olhou para Davidson.
— Você tem talento, Herói, mas talento precisa ser testado. Vou permitir esse duelo.
Depois, ele voltou sua atenção para Randolf.
— Mas espero que não esteja subestimando seu oponente.
Randolf apenas sorriu.
Os soldados e recrutas começaram a formar um círculo ao redor dos dois combatentes. Murmúrios e apostas surgiram entre os espectadores.
— Esse Davidson parece bom, mas Randolf tem experiência…
— Mas o garoto tem aquela tal ‘Magia do Herói’…
Kaizhat, Star, Fred, Frida e Choi Miu estavam na primeira fileira, atentos.
Frida observava tudo com o olhar frio de sempre, mas Star estava visivelmente animada.
— Isso vai ser interessante!
Kaizhat não sabia se sentia empolgação ou preocupação.
Davidson girou a espada nos dedos e sorriu confiante.
— Vamos acabar logo com isso.
Randolf puxou sua espada longa e a segurou com firmeza.
— Vamos ver se sua boca é tão rápida quanto sua lâmina.
Xavier ergueu a mão.
— Comecem!
No mesmo instante, Randolf avançou com velocidade surpreendente. Sua espada cortou o ar com força, mirando diretamente no peito de Davidson.
O loiro sorriu e desviou para o lado, movendo-se com graça.
— Lento.
Randolf franziu o cenho e girou a lâmina para um ataque lateral.
Davidson se abaixou, esquivando-se por centímetros. Em seguida, contra-atacou com um golpe ascendente.
Randolf mal teve tempo de bloquear.
O impacto fez Randolf recuar alguns passos. Ele olhou para Davidson, surpreso.
— Você… realmente é rápido.
Davidson piscou.
— Descobriu isso agora?
Randolf rosnou e investiu novamente, dessa vez usando sua força bruta para tentar esmagar a defesa de Davidson.
Mas Davidson não recuava.
Ele desviava, contra-atacava e ajustava seu ritmo a cada segundo. Era como se estivesse aprendendo o estilo de Randolf em tempo real.
Os espectadores começaram a notar.
Choi Miu ajustou os óculos.
— Ele não está apenas lutando… Ele está estudando o oponente.
Fred arregalou os olhos.
— Ele realmente tá melhorando no meio da luta?
Kaizhat sentiu um frio na espinha.
Era isso que tornava Davidson perigoso.
Randolf, percebendo que não conseguia acertá-lo com golpes normais, decidiu apelar.
— Vamos ver como lida com isso!
Ele ativou sua Magia de Reforço, aumentando sua velocidade e força momentaneamente.
Mas Davidson apenas sorriu.
— Boa tentativa.
No instante seguinte, Davidson ativou sua própria magia.
— Chamas do Herói!
Seu corpo brilhou em um tom dourado e suas habilidades físicas aumentaram.
Ele avançou contra Randolf em uma fração de segundo.
Randolf não conseguiu reagir a tempo.
Davidson deslizou por baixo de um golpe, girou no ar e acertou um corte direto na lateral da armadura do soldado.
Randolf cambaleou.
Davidson pousou suavemente e apontou a lâmina para ele.
— Você perdeu.
O campo de treino ficou em silêncio.
Xavier sorriu satisfeito.
— Hah… interessante.
Randolf caiu de joelhos, respirando pesado.
O Herói havia provado seu talento.
E Kaizhat sabia…
Se um dia tivesse que enfrentar Davidson, ele não teria chance.
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