Capítulo 16 - Mais treino (2)
A manhã seguia fria e nublada, como se o clima refletisse a presença da Tenente Velka Frostbane. Os cadetes estavam em círculo, atentos à mulher que se posicionava no centro do campo de treinamento. Sua postura era impecável, e seus olhos prateados percorriam o grupo com uma calma gelada.
— Antes de começarmos, quero que entendam algo essencial. — Velka começou, sua voz clara e firme. — A magia não é apenas um dom. Não é algo que simplesmente “surge” em vocês.
Os cadetes se entreolharam, alguns claramente confusos.
— A magia é uma extensão da sua alma. Cada pessoa tem uma afinidade única, e o primeiro passo para dominá-la é compreendê-la.
Fred cruzou os braços e franziu a testa.
— Tá, mas como a gente faz isso?
Velka olhou para ele com um sorriso mínimo.
— Primeiro, entendam que a magia se manifesta de diferentes formas. Existem cinco grandes categorias.
Ela levantou uma das mãos, e um cristal de gelo surgiu na ponta de seus dedos.
— Elemental, que envolve a manipulação da natureza: fogo, água, terra, vento e suas variações.
Ela fechou a mão e o gelo desapareceu.
— Reforço, que fortalece o corpo, as armas e as defesas.
Davidson sorriu de canto ao ouvir isso, claramente satisfeito consigo mesmo.
— Ilusão, que mexe com os sentidos e engana os inimigos.
Alguns cadetes pareceram desconfiados dessa categoria.
— Arcana, que envolve telecinese, portais, conjuração de feitiços complexos e magias misteriosas.
Choi Miu, sempre analítico, prestou atenção especial a essa parte.
— E, por fim, Divina e Maldita, que são as mais raras e envolvem cura, purificação, necromancia e feitiços proibidos.
Star sorriu ao ouvir “cura”.
— Minha magia se encaixa aí!
Velka olhou para ela, um pouco surpresa.
— Magia de cura, hein? Raro para iniciantes.
— A Star é diferente, professora. — brincou Fred.
— Isso é bom. — Velka cruzou os braços. — Mas controlar magia não é só sobre saber sua afinidade. É preciso sentir a energia dentro de você.
Fred coçou a cabeça.
— E como a gente faz isso?
— Fechem os olhos.
Os cadetes hesitaram, mas obedeceram.
— Respirem fundo e tentem sentir… algo. Um calor, um frio, uma pressão. Qualquer coisa dentro de vocês.
O grupo se concentrou.
Frida foi a primeira a sentir algo. Uma vibração leve, como se o chão ao redor dela respondesse à sua presença. Ela abriu os olhos rapidamente.
— Eu senti.
Velka assentiu.
— Magia de terremoto. Não me surpreende.
Fred abriu os olhos em seguida, um brilho dourado envolvendo seus braços.
— Eu também!
— Magia de reforço defensivo. Isso será útil.
Aos poucos, outros cadetes foram conseguindo sentir suas magias. Alguns tiveram dificuldades, outros sentiram apenas um leve resquício de poder.
Mas havia dois que se destacavam.
Davidson estava impaciente.
— Pra mim, isso tudo é perda de tempo.
Ele estendeu a mão e, em um piscar de olhos, uma chama azulada surgiu, rodopiando em sua palma.
O fogo era intenso, mas perfeitamente controlado. Velka estreitou os olhos.
— Isso não é fogo comum.
Davidson sorriu.
— Claro que não. É a Chama do Herói.
Os cadetes o encararam com espanto.
— Isso é… muito avançado. — murmurou Velka.
Davidson girou a chama nos dedos como se fosse um brinquedo.
— É só prática.
Fred revirou os olhos.
— Convencido como sempre.
Velka ignorou a provocação e voltou-se para o outro prodígio do grupo: Star Uonk.
Diferente de Davidson, que exibia sua magia como um troféu, Star estava completamente concentrada. Ela segurava as mãos diante de si, e uma luz dourada brilhava entre seus dedos.
Não era apenas magia de cura. Era algo além.
— Impressionante. — Velka murmurou.
Os outros pararam para observar.
O poder de Star não apenas curava. Ele parecia purificar o ambiente ao redor, criando um leve campo de energia dourada.
— Você já usou magia antes? — perguntou Velka.
— Só um pouco… — Star respondeu, tímida. — Mas acho que minha energia é mais forte quando estou ajudando alguém.
Velka cruzou os braços, pensativa.
— Isso faz sentido. O poder de cura se manifesta melhor quando há necessidade real.
Fred sorriu.
— Nossa anjinha brilhando de novo.
Star corou um pouco, mas sorriu.
Velka respirou fundo e bateu palmas.
— Muito bem! Agora que sentiram suas magias, é hora de praticarmos conjuração.
Os cadetes se preparam.
Davidson e Star já estavam em um nível acima. Mas os outros… teriam um longo caminho pela frente.
E o treinamento estava apenas começando.
O sol já estava alto no céu quando Velka retomou a instrução. Ela caminhava de um lado para o outro diante dos cadetes, sua postura imponente e sua voz clara, carregada de autoridade.
— Agora que vocês sentiram sua magia e entenderam suas afinidades, chegou o momento de aprenderem algo fundamental: como convocar feitiços poderosos e como imbuir magia em equipamentos.
Os cadetes se entreolharam. A maioria ainda estava lidando com o básico e já iam aprender algo avançado?
Fred suspirou.
— Não podemos ter um dia de descanso?
— Descanso não gera progresso. — Velka retrucou rapidamente, seu olhar gelado cortando qualquer reclamação.
Ele ficou em silêncio.
— Antes de tudo, vocês precisam entender um conceito importante: conjuração mágica.
Ela ergueu uma das mãos e, com um movimento delicado, cristais de gelo se formaram ao redor de seus dedos.
— Magia não é simplesmente energia. É uma força que responde à sua vontade, sua emoção e seu controle.
Os cristais giraram no ar, formando padrões complexos.
— Existem três formas principais de conjuração.
Ela abaixou a mão, e os cristais se dissolveram no ar.
— O primeiro tipo de conjuração é o mais básico: Conjuração por Canais Mágicos.
Choi Miu ajustou os óculos, interessado.
— E o que são esses canais?
— São os caminhos por onde a mana flui dentro do seu corpo. Pensem neles como veias mágicas. — Velka explicou. — Se vocês não têm controle sobre os canais, sua magia sairá fraca e instável.
Ela olhou para Frida.
— Você tem afinidade com a terra, certo?
Frida assentiu.
— Então, tente canalizar sua energia para seus braços e concentre-se no solo.
Frida fechou os olhos e inspirou fundo. Aos poucos, os cadetes sentiram o chão vibrar sob seus pés.
— Bom começo. Agora, tente focar melhor. Não jogue sua energia de qualquer jeito. Direcione-a.
A vibração no solo ficou mais forte. Algumas pequenas rachaduras se formaram no chão.
Velka sorriu levemente.
— Melhor. Agora parem e tentem sentir o que fizeram.
Frida abriu os olhos. O chão voltou ao normal.
— Eu… consegui?
— Conseguiu. Mas precisa de mais precisão. Você tem força, mas ainda não tem controle total.
Fred ergueu a mão.
— E qual é o segundo tipo de conjuração?
Velka virou-se para ele.
— Conjuração por Encantamento. Esse método usa palavras ou símbolos para amplificar a magia.
Ela estendeu a mão e murmurou algo em um idioma antigo. O ar ao redor dela congelou instantaneamente, criando uma névoa fria.
Os cadetes olharam, fascinados.
— Isso parece útil. — comentou Star.
— É, mas exige mais tempo e concentração. Magos experientes podem conjurar encantamentos em segundos, mas para vocês… seria um processo bem mais lento.
Fred coçou a cabeça.
— Então, qual é o terceiro?
Velka olhou para ele e sorriu.
— Conjuração Instintiva.
Os cadetes se entreolharam.
— Esse é o método mais avançado. Você não precisa de palavras, gestos ou símbolos. Apenas sente a magia e a molda conforme a necessidade.
— Então… é como respirar? — perguntou Star, curioso.
— Exato. Mas alcançar esse nível requer experiência e um controle absurdo sobre sua própria mana.
Davidson sorriu.
— Parece o meu estilo.
Velka olhou para ele.
— Para alguém como você, que já desperta uma magia única, esse método pode vir naturalmente. Mas não se deixe levar pela arrogância.
Davidson apenas riu, confiante.
Velka deu um passo à frente.
— Agora, vamos falar sobre imbuir magia em equipamentos.
Fred ergueu a mão.
— Isso significa deixar minha espada mais forte com magia?
— Exatamente. Quando você imbui mana em uma arma ou armadura, ela ganha características mágicas.
Ela puxou uma adaga do seu cinto e a segurou entre os dedos.
— Existem três formas principais de imbuir magia em um equipamento.
Os cadetes estavam atentos.
— O primeiro método é Fluxo de Energia.
Ela segurou a adaga e uma aura azulada envolveu a lâmina.
— Esse é o mais básico. Vocês apenas canalizam mana diretamente para o equipamento. Isso aumenta a resistência e o impacto dos golpes.
Ela girou a adaga e, com um único movimento, fincou-a no chão. O gelo se espalhou instantaneamente.
Fred assobiou.
— Impressionante.
— O segundo método é Fusão Elemental.
Ela retirou a adaga do chão e, dessa vez, murmurou um encantamento. A lâmina começou a brilhar em um tom azul gélido.
— Diferente do Fluxo de Energia, aqui a magia se mistura permanentemente com o equipamento, concedendo-lhe uma propriedade específica.
Ela passou o dedo sobre a lâmina. Um rastro de gelo ficou no ar.
— Isso significa que armas podem ser encantadas com fogo, eletricidade, gelo…
— Então, se eu fundisse minha magia de reforço defensivo com um escudo… ele ficaria mais resistente? — perguntou Fred.
— Correto.
Ele sorriu.
— Isso eu quero aprender.
— O terceiro método é Marcação de Runas.
Velka desenhou rapidamente alguns símbolos na lâmina da adaga com um brilho mágico. Os símbolos brilharam por um instante e sumiram.
— Isso é mais avançado, mas permite que magias sejam ativadas sob comando.
Star ficou fascinada.
— Como um botão?
— Exatamente.
Frida estava absorvendo todas as informações. El nunca imaginou que magia fosse algo tão técnico.
Velka cruzou os braços.
— Agora, vocês vão tentar.
Os cadetes pegaram suas armas ou tocaram seus equipamentos.
Fred tentou infundir magia no próprio escudo. Ele conseguiu, mas o brilho desapareceu rapidamente.
Frida tentou canalizar sua energia para a lança, mas acabou tremendo de leve.
Choi Miu experimentou o método de fluxo de energia com sua espada, e a lâmina brilhou fracamente.
Enquanto isso, Davidson e Star já estavam muito à frente.
Davidson fez sua espada brilhar com chamas azuis instantaneamente.
Star, por outro lado, segurou seu cajado e fez um brilho dourado envolver sua mão.
Velka sorriu.
— Não esperava nada menos de vocês dois.
O treinamento prosseguiu por mais algumas horas, cada um tentando aprimorar suas técnicas. Alguns conseguiam, outros falhavam, mas todos estavam dando o melhor de si.
No final do dia, mesmo exaustos, todos tinham aprendido algo novo.
E, mais importante… estavam um passo mais perto de se tornarem verdadeiros guerreiros mágicos.
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