Capítulo 2 - Um novo mundo?
A rotina seguia normalmente. As aulas começaram, e Kaizhat tentava manter o foco, mas de vez em quando se distraía. História, química, literatura… algumas matérias despertavam seu interesse, outras apenas pareciam uma eternidade sem fim.
Ele rabiscava algo no caderno enquanto o professor explicava a matéria no quadro. Sentia os olhos pesados, o sono acumulado da noite anterior querendo vencê-lo.
Mas então…
Um som.
Um barulho estranho e abafado ressoou em sua mente, como um sussurro distante. Ele piscou, tentando ignorar, achando que era só sua imaginação. Mas o som veio de novo, agora mais forte, ecoando como um chamado.
Confuso, ele ergueu a cabeça e olhou para a janela.
E foi aí que viu.
Uma torre colossal erguia-se no horizonte.
Ela não estava lá antes. Não podia estar. Era impossível algo tão gigantesco simplesmente aparecer sem que ninguém notasse. A estrutura era alta, antiga, cercada por uma estranha névoa escura que parecia se contorcer ao seu redor.
Kaizhat arregalou os olhos. O que diabos estava acontecendo?
Ele olhou ao redor, esperando ver alguém reagindo, mas… ninguém parecia notar. Os alunos continuavam escrevendo, o professor seguia com a explicação. Tudo estava normal. Como se ele fosse o único vendo aquilo.
Tudo parou.
O som da sala sumiu. O ponteiro do relógio congelou no lugar. Nenhuma folha se movia, nenhum ruído, nenhuma respiração.
Kaizhat se levantou desesperado, sua cadeira arrastando com um barulho alto—ou pelo menos deveria ter sido alto. O silêncio absoluto engoliu tudo.
Seu coração disparou.
— O que… o que está acontecendo?
Ele olhava ao redor, tentando encontrar respostas, mas nada fazia sentido. Era como se o tempo tivesse parado.
E então, o som voltou.
Dessa vez, não era um sussurro.
Era um chamado,e esse chamado era para ele.
O coração de Kaizhat batia acelerado. O silêncio era sufocante, a torre parecia cada vez mais próxima, e aquele som estranho ainda ecoava dentro de sua mente.
De repente, uma dor aguda percorreu sua cabeça.
Ele gritou, levando as mãos à têmpora. Tudo começou a girar. Seu corpo perdeu a força, as imagens à sua frente se tornaram borrões, e, antes que pudesse reagir…
Tudo ficou escuro.
Kaizhat abriu os olhos abruptamente. Sua visão ainda estava embaçada, sua cabeça girava. Por um momento, ele não sabia onde estava.
Mas logo percebeu que não estava mais na sala de aula.
O chão abaixo dele era de pedra dura e fria. O teto era alto, sustentado por colunas imponentes, e enormes janelas deixavam entrar a luz de um sol desconhecido. Estava dentro de uma grande sala, que mais parecia o interior de um castelo.
Ele tentou se levantar, mas suas pernas estavam fracas.
— Então, o chamado deu certo.
A voz era grave, firme, carregada de autoridade.
Kaizhat olhou ao redor e viu várias pessoas vestindo armaduras e mantos. Eram homens e mulheres de aparência imponente, com olhares avaliadores sobre ele. Entre eles, um homem se destacava.
Era alto e robusto, com cabelos grisalhos e olhos afiados. Sua presença era intimidadora. Ele vestia uma armadura decorada com detalhes dourados e uma longa capa azul.
— Você está acordado. Isso é bom.
Kaizhat engoliu em seco.
— O… o que está acontecendo? Onde eu estou?!
O homem cruzou os braços e respondeu com calma:
— Seja bem-vindo a Estier. Meu nome é Xavier, sou o comandante do exército mágico. Você foi convocado para este mundo.
A mente de Kaizhat entrou em colapso.
Convocado? Exército? Outro mundo?!
Nada fazia sentido. Ele olhou ao redor, tentando encontrar algo familiar, tentando convencer a si mesmo de que ainda estava sonhando.
Mas aquilo não era um sonho.
Era real.
O choque percorreu cada célula do corpo de Kaizhat. Ele sentia o ar preso nos pulmões, sua mente trabalhando freneticamente para entender o que havia acabado de ouvir.
— O quê?! Outro mundo?! Como assim?!
Ele deu um passo para trás, olhando ao redor. Tudo aquilo—o salão, as armaduras, os rostos desconhecidos—parecia real demais para ser um sonho.
— Isso não pode estar acontecendo… Eu estava na escola! Eu… eu tenho uma família! Meus irmãos, minha mãe…
A voz dele começou a tremer.
— Como eu volto para casa?
O comandante Xavier permaneceu inexpressivo. Sua postura era firme, os braços cruzados sobre a armadura dourada. Ele não demonstrava qualquer empatia pela confusão do garoto.
— Isso não é relevante agora. — disse Xavier, com a voz fria.
Kaizhat sentiu um arrepio subir pela espinha.
— O quê…? Como assim?! Eu fui tirado do meu mundo! Você acha que isso não é relevante?!
Xavier suspirou. Seu olhar penetrante parecia atravessar Kaizhat como se estivesse analisando cada parte dele.
— Eu entendo que isso seja difícil de aceitar. Mas você não é o único. Milhares de pessoas foram convocadas para este mundo. E todas vocês têm um propósito aqui.
Kaizhat piscou, confuso.
— Milhares…?
O comandante assentiu.
— Durante meses, magos de alto nível realizaram rituais para trazer guerreiros de outros mundos. Pessoas com potencial para se tornarem soldados, lutarem e protegerem este reino.
Ele fez uma pausa antes de continuar.
— Estier está em guerra. E precisamos de reforços.
Kaizhat sentiu um nó se formar em seu estômago.
— Guerra…? Contra quem?!
Xavier olhou para os outros cavaleiros na sala antes de responder.
— Contra aqueles que ameaçam a ordem deste mundo. Contra aqueles que desejam destruir tudo.
Kaizhat não sabia o que responder. Ele sentia que havia muito mais naquela história, mas o comandante não parecia disposto a dar muitos detalhes.
— Mas… e esse mundo? Como ele funciona? Tem magia de verdade aqui?
Xavier acenou com a cabeça.
— Sim. Magia é parte essencial deste mundo. Existe um sistema de níveis e especializações. Cada pessoa tem um potencial mágico que pode ser aprimorado com treino, poções e artefatos.
Kaizhat engoliu em seco. Ele sempre achou magia fascinante, mas uma coisa era ler sobre isso em histórias ou jogar em MMORPGs. Outra era estar em um mundo onde isso era real.
— E eu…? O que eu tenho que fazer aqui?
Xavier sorriu levemente, mas não era um sorriso amigável.
— Agora, você é um recruta. Você começará do zero, assim como todos os outros. E a partir de hoje, sua única escolha é evoluir ou ser deixado para trás.
Kaizhat sentiu um arrepio. Seu destino havia sido traçado sem que ele tivesse qualquer escolha.
Ele queria acreditar que ainda poderia encontrar um jeito de voltar para casa.
Mas, no fundo, uma parte dele sabia.
Sua antiga vida acabou.
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