Capítulo 8 - Apreendendo a vivier nesse mundo
Enquanto os outros estavam entretidos com suas próprias descobertas, Choi Miu caminhava sozinho pelas ruas da cidade, com passos calculados e olhar atento. Ele não estava ali apenas para passear, mas para entender melhor o funcionamento daquele novo mundo em que fora lançado.
O reino tinha um aspecto medieval, mas não era completamente primitivo. As ruas de pedra estavam desgastadas pelo tempo e pelo tráfego constante de carroças e pedestres. As construções eram de pedra e madeira, algumas com belos adornos esculpidos, outras mais simples, indicando a diferença de classes sociais entre os moradores. Pequenas bandeiras e letreiros escritos em um idioma desconhecido pendiam sobre as lojas, algumas exalando cheiros fortes de especiarias e ervas, outras carregadas pelo aroma de pão recém-assado.
Choi Miu fez sua primeira parada em uma loja modesta de utensílios básicos. Ele precisava entender como funcionava a moeda local antes de fazer qualquer compra precipitada. Ao se aproximar do balcão, viu um comerciante idoso, de barba grisalha e olhos experientes, organizando algumas sacas de mantimentos atrás do balcão.
— Bom dia. Gostaria de saber mais sobre a moeda daqui. Sou novo na cidade.
O velho levantou os olhos, observando Choi Miu por um instante antes de assentir.
— Ah, um dos despertados, hein? Bem, é simples. Aqui usamos quatro tipos de moedas. Vou te explicar:
Moeda em relação ao latão
Ouro = 1000 latões
Prata = 50 latões
Bronze = 10 latões
Latão = 1 latão
— Então um único ouro equivale a mil latões? — Choi Miu confirmou, processando as informações.
— Isso mesmo, jovem. Ouro é coisa rara, viu? Só os nobres ou grandes comerciantes costumam lidar diretamente com isso. A maioria do povo trabalha com prata e bronze no dia a dia. Latão é o mais comum, usado para pequenas compras, como um pedaço de pão ou uma bebida barata.
Choi Miu assentiu, assimilando as informações. Pegou um pequeno saco de moedas que Xavier havia deixado para seu grupo e começou a separar os valores, estudando as texturas e pesos das diferentes moedas. O ouro era mais pesado e brilhante, a prata possuía um leve tom azulado, o bronze tinha um reflexo avermelhado e o latão era um simples metal amarelado, sem brilho algum.
— Obrigado pela explicação.
— Hah! É raro um jovem perguntar tanto antes de gastar. Bom sinal. Se precisar de algo, tenho de tudo um pouco.
Choi Miu agradeceu e saiu da loja, caminhando até a praça central. Lá, observou diversos comerciantes negociando com mercadores de outras regiões. Notou como os preços variavam dependendo da qualidade dos produtos e da habilidade do vendedor.
Parou próximo a uma tenda de armaduras, onde um ferreiro robusto martelava uma peça de metal incandescente sobre a bigorna. O som do impacto ressoava no ar, mesclando-se com as vozes agitadas do mercado.
— Qual o preço de uma armadura simples? — perguntou Choi Miu, mais interessado em entender o mercado do que em comprar de fato.
O ferreiro ergueu o olhar, secando o suor da testa com o antebraço.
— Depende. Quer couro, ferro ou algo mais refinado?
— Algo funcional, sem extravagâncias.
— Couro reforçado? Uns 80 bronzes. Ferro comum? 2 pratas. Mas se quiser algo realmente bom, como aço endurecido, estamos falando de 10 ouros ou mais.
Choi Miu fez as contas mentalmente. Armas e armaduras de qualidade eram extremamente caras, e aquilo apenas reforçava a importância do dinheiro naquele mundo.
— E os soldados do exército? Eles recebem equipamentos ou compram os próprios?
O ferreiro deu uma risada curta.
— Os soldados rasos ganham o básico do reino: armadura de ferro simples e uma espada ou lança. Mas se quiserem algo melhor, têm que pagar do próprio bolso. Por isso, a maioria só usa as armas que encontra ou toma dos inimigos.
— E os cavaleiros mágicos?
O ferreiro arqueou uma sobrancelha.
— Ah, esses são um caso à parte. Eles recebem equipamentos reforçados e, dependendo da patente, armas encantadas. Mas não pense que é fácil conseguir algo assim. O exército não gasta recursos com qualquer um.
Choi Miu agradeceu e seguiu adiante, absorvendo cada pedaço de informação. Ele já tinha aprendido o básico sobre a economia, os preços das armas e a estrutura do exército. Agora, sabia que, se quisesse se equipar bem no futuro, precisaria ganhar dinheiro de alguma forma.
Enquanto caminhava pelas ruas movimentadas, ele observava as expressões das pessoas. Camponeses carregavam sacos de trigo, artesãos vendiam seus trabalhos, crianças corriam brincando entre as barracas. O mundo seguia seu ritmo, indiferente à chegada dos novos despertados.
Choi Miu gostava daquela sensação de estar aprendendo. Cada detalhe era uma peça do quebra-cabeça que ele precisava montar para sobreviver ali.
E ele não tinha intenção de ficar para trás.
Depois de aprender sobre a moeda local e estudar o mercado, Choi Miu decidiu que era hora de começar as compras. Seu objetivo era simples: adquirir o máximo de suprimentos essenciais sem desperdiçar uma única moeda a mais do que o necessário.
Ele começou pelas barracas mais modestas, onde os preços eram geralmente mais baixos. Primeiramente, comprou alguns utensílios básicos para a cozinha—facas, tábuas de madeira e algumas panelas de ferro. Depois, buscou alimentos duráveis: sacas de arroz, carne seca, alguns temperos e frutas secas.
Choi Miu era um excelente negociador. Ele conhecia os truques dos vendedores, sabia quando estavam inflacionando preços e como pressioná-los para obter descontos. Quando um comerciante lhe disse que um saco de arroz custava “2 pratas e nada menos”, Choi Miu apenas cruzou os braços e deu um sorriso discreto.
— Dois pratas por um arroz que nem é dos melhores? Seu vizinho está vendendo um de qualidade superior por 1 prata e 80 bronzes. Se quer vender, vai ter que abaixar esse preço.
O vendedor coçou a cabeça e resmungou, percebendo que aquele jovem não era um cliente comum.
— Tá bom, tá bom! Faço por 1 prata e 90 bronzes.
— 1 prata e 70 bronzes. — retrucou Choi Miu.
— 1 prata e 85 bronzes!
Choi Miu estreitou os olhos.
— 1 prata e 75. Fechado?
O vendedor suspirou, mas estendeu a mão.
— Fechado.
Com um sorriso vitorioso, Choi Miu pagou e seguiu para a próxima compra. Mas foi então que encontrou um verdadeiro adversário.
Numa barraca de tecidos e roupas, um velho baixinho, de cabelos brancos e olhos afiados, observava os clientes como um falcão. Ele parecia ter décadas de experiência em vendas e sabia identificar um bom negociador à primeira vista.
Choi Miu pegou um manto simples e perguntou o preço.
— 2 pratas. — respondeu o velho, sem hesitar.
— 1 prata e 20 bronzes.
O velho riu.
— Eu gosto de você, garoto. Mas 1 prata e 80 bronzes.
— 1 prata e 40.
— Está tentando me roubar? 1 prata e 70, e já estou no prejuízo.
Choi Miu cruzou os braços.
— “No prejuízo”? Esse tecido não vale nem 1 prata e meia.
— Ora, seu moleque, eu comprei esse tecido diretamente dos melhores artesãos de Vardenhall!
— E eu sou filho do rei.
Os dois se encararam por um momento, analisando quem cederia primeiro. Outros clientes da barraca começaram a notar a cena e, aos poucos, uma pequena plateia se formou.
— Vamos lá, 1 prata e 50. — disse Choi Miu.
— 1 prata e 60, e eu te dou um par de luvas de brinde.
— 1 prata e 55, e você me dá as luvas.
O velho soltou um suspiro longo, como se estivesse entregando sua alma.
— Fechado, moleque esperto.
Os dois se cumprimentaram, trocando um olhar de respeito mútuo.
— Você me lembra de mim quando era jovem. Mas não ache que pode vencer todas, garoto.
Choi Miu sorriu de lado.
— Nem você.
E assim, ele seguiu para a próxima barraca, satisfeito com suas compras e com o pequeno duelo verbal que havia travado.
No fundo, ele sabia que aquele velho não estava realmente irritado—ele apenas gostava da disputa tanto quanto Choi Miu.
Talvez, finalmente, ele tivesse encontrado um rival à altura.
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