As ruas de Estier estavam movimentadas naquela manhã. Fred e Frida caminhavam lado a lado, observando a cidade com olhos curiosos. Fred, como sempre, tagarelava sem parar, enquanto Frida permanecia em silêncio, apenas absorvendo o ambiente ao redor.

    — Esse lugar é realmente incrível, né? Tudo tem aquele estilo medieval clássico, tipo aqueles filmes de cavaleiros e dragões! — disse Fred, animado.

    Frida não respondeu. Apenas continuou andando.

    — Mas será que tem dragões por aqui? Porque, sinceramente, se tem, eu preciso saber o quanto preciso me preocupar.

    Silêncio.

    Fred olhou para ela de canto de olho e pigarreou.

    — Então… você é sempre tão quieta assim, ou é só porque está tentando me ignorar?

    Nada.

    — Eu vou interpretar isso como um “talvez”.

    Eles continuaram andando, até que Fred parou ao ver uma construção de madeira robusta, com uma placa pendurada acima da entrada. As palavras estavam escritas no idioma local, mas ele conseguiu entender com facilidade.

    Taverna da Espada Quebrada

    Seus olhos brilharam.

    — Uma taverna! Eu preciso experimentar a cerveja desse mundo!

    Ele olhou para Frida, esperando alguma reação. Nada. Apenas um olhar rápido na direção do local e um breve aceno com a cabeça, como se dissesse “faça o que quiser”.

    Antes de entrarem, Fred lançou mais uma pergunta:

    — Ei, só pra constar, quantos anos você tem mesmo?

    Frida olhou para ele sem expressar nenhuma emoção e respondeu com simplicidade:

    — Dezenove.

    Fred soltou um suspiro de alívio e bateu de leve no próprio peito.

    — Ufa! Isso me faz sentir menos velho perto de você.

    Ele sorriu e entrou na taverna, com Frida logo atrás.

    Assim que passaram pela porta, o cheiro de madeira envelhecida, especiarias e álcool tomou conta do ar. A taverna estava cheia de vida—várias mesas espalhadas pelo salão, algumas ocupadas por grupos de aventureiros, outros por mercadores bebendo e rindo alto.

    Fred se dirigiu diretamente ao balcão. Atrás dele, um taverneiro parrudo, com barba cheia e uma cicatriz no rosto, limpava uma caneca com um pano encardido.

    — O que vai querer, forasteiro? — perguntou o taverneiro, com uma voz grossa.

    Fred bateu a mão no balcão com empolgação.

    — Me dá a melhor cerveja que vocês tiverem! Quero sentir o gosto da bebida desse mundo!

    O taverneiro riu.

    — Gostei da sua atitude. Mas aviso logo, a cerveja de Estier não é para qualquer um.

    Ele pegou um barril atrás do balcão e serviu a bebida em uma caneca de madeira. A espuma transbordou um pouco, escorrendo pela lateral. Fred pegou a caneca com um sorriso largo e deu um grande gole.

    No mesmo instante, sentiu um calor forte percorrer sua garganta e seu peito. A bebida era amarga e encorpada, mas ao mesmo tempo tinha um toque adocicado no final.

    Ele piscou algumas vezes, surpreso.

    — Uau… essa cerveja é forte!

    O taverneiro riu.

    — Se chamasse “cerveja fraca”, ninguém ia querer beber.

    Fred riu junto e tomou mais um gole, aproveitando cada segundo.

    Frida, por outro lado, ficou observando a movimentação no ambiente. Seus olhos percorreram as mesas e, então, pararam em um grupo específico.

    Rostos conhecidos.

    Outros despertados estavam ali, espalhados em diferentes grupos, conversando entre si. Alguns pareciam despreocupados, enquanto outros mantinham olhares atentos para todos ao redor, como se ainda estivessem processando a nova realidade.

    Frida deu um leve cutucão no ombro de Fred, que ainda estava saboreando sua bebida.

    — Tem gente do outro mundo aqui.

    Fred engoliu rapidamente o gole de cerveja e olhou na direção que ela indicava.

    Ele franziu a testa.

    — Hmm… Será que são amigáveis ou vão tentar puxar briga?

    Frida continuou séria.

    — Não sei. Mas é melhor ficarmos atentos.

    Fred olhou para sua caneca e suspirou.

    — E eu só queria tomar uma cerveja em paz…

    A atmosfera na taverna parecia comum, mas agora Fred e Frida estavam em alerta. Afinal, naquele novo mundo, qualquer encontro poderia mudar o rumo de suas vidas.

    A porta da taverna se abriu de repente, e o barulho da madeira rangendo atraiu a atenção de todos.

    Xiao Mijin e Davidson entraram, seguidos por seus respectivos companheiros de grupo. Assim que pisaram no salão, um silêncio momentâneo se instalou. Os olhares dos outros despertados e dos habitantes locais se voltaram para eles, como se a simples presença daqueles indivíduos já fosse suficiente para dominar o ambiente.

    Sentada ao lado de Fred, Frida observava a cena com uma expressão neutra. No entanto, por dentro, sua mente estava processando um detalhe intrigante.

    “Duas pessoas fortes no mesmo grupo… Xiao Mijin e Davidson… Então é assim que eles estão nos separando. Os fracos com os fracos e os fortes com os fortes.”

    Era uma estratégia clara de hierarquia. Quem possuía talento e poder, ficava cercado por outros do mesmo nível. Já aqueles que estavam abaixo desse padrão, formavam grupos separados.

    “Eu já sabia que isso era uma competição, mas agora está ainda mais claro.”

    Mesmo com esses pensamentos, Frida não demonstrou nenhuma reação externa. Seu rosto permaneceu inexpressivo, os olhos frios e distantes, como sempre.

    Davidson e seu grupo escolheram uma mesa no centro da taverna. Eles pareciam descontraídos, conversando animadamente sobre qualquer assunto que estivesse em pauta. Davidson, como sempre, estava no centro da atenção, gesticulando e rindo alto.

    Foi então que seus olhos vagaram pelo salão e encontraram Frida.

    Por um instante, o tempo pareceu desacelerar para ele.

    Frida tinha um rosto frio e belo, como se tivesse sido esculpida em mármore. Seus cabelos eram longos e brancos como a neve, caindo suavemente sobre os ombros e descendo pelas costas. Seus olhos, de um azul profundo, eram gélidos e penetrantes, como se pudessem perfurar a alma de quem ousasse encará-los por muito tempo. Sua pele era clara, quase pálida, contrastando com a atmosfera rústica e calorosa da taverna.

    Davidson sentiu um arrepio.

    “Que mulher incrível…”

    Ele sorriu de lado, ajeitou os cabelos loiros com uma das mãos e levantou-se da mesa.

    Fred, que estava ao lado de Frida, percebeu a movimentação e murmurou baixinho:

    — E lá vem o galanteador…

    Frida nem precisou olhar para saber que alguém se aproximava. O som dos passos confiantes já entregava quem era.

    Davidson parou ao lado dela, apoiou um braço casualmente no balcão e inclinou levemente o corpo na direção dela. Seu sorriso era charmoso, confiante.

    — Não sabia que anjos bebiam cerveja em tavernas.

    Fred quase cuspiu a bebida.

    Frida, por outro lado, nem piscou.

    Davidson manteve o sorriso e continuou:

    — Você tem um olhar que me faz sentir que estou em perigo… e, sinceramente, eu gosto disso.

    Fred reprimiu uma risada e virou o rosto para não atrapalhar o “espetáculo”.

    Frida, no entanto, permaneceu impassível. Seu olhar azul frio encontrou o de Davidson por um breve momento, antes de ela simplesmente virar o rosto e continuar observando o salão, como se ele sequer estivesse ali.

    Davidson piscou algumas vezes.

    Ele não estava acostumado a esse tipo de resposta—ou melhor, à total falta de resposta.

    Ele insistiu:

    — Qual é, pelo menos me diz seu nome.

    Frida suspirou, entediada.

    — Frida.

    — Nome bonito. Combina com você.

    Silêncio.

    Davidson sorriu mais uma vez, tentando uma abordagem diferente.

    — E então, Frida, o que acha de se sentar comigo e meu grupo? Podemos conversar mais, nos conhecermos melhor.

    Ela o olhou novamente, dessa vez com um leve arqueamento de sobrancelha.

    — Não.

    Davidson piscou, surpreso com a resposta direta e fria.

    Fred não conseguiu segurar e soltou um riso abafado.

    Davidson se recuperou rápido e abriu um sorriso maior, fingindo não se importar.

    — Você joga duro, hein? Gosto disso.

    Ele passou a mão pelo cabelo e deu um passo para trás.

    — Tudo bem. Eu sou paciente.

    Dizendo isso, ele voltou para sua mesa, mas não sem antes lançar um último olhar para Frida, como se estivesse aceitando um desafio silencioso.

    Frida, por sua vez, apenas pegou seu copo e tomou um gole, completamente indiferente.

    Fred olhou para ela com um sorriso divertido.

    — Sabe… não é sempre que alguém consegue calar o Davidson.

    Frida pousou o copo na mesa e respondeu com simplicidade:

    — Eu só não gosto de conversa fiada.

    Fred riu.

    — É, eu percebi.

    Enquanto isso, Davidson voltou para sua mesa e, embora tentasse manter a postura confiante, era evidente que ele ainda pensava na rejeição que acabara de sofrer.

    “Interessante… muito interessante.”

    Afinal, ele estava acostumado a ser o centro das atenções. Mas Frida? Ela simplesmente o ignorou como se ele não fosse nada.

    E isso só fez com que ele quisesse sua atenção ainda mais.

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