Capítulo 106

“Ahem, Lady Neuschwanstein?”

Piscando, eu me virei e encontrei um cavaleiro na casa dos vinte anos parado ali, sorrindo de maneira constrangida. Seu cabelo castanho e olhos roxos lhe davam uma presença viva e calorosa.

“Sir Toreo? O que houve?”

“Bem, eu…”

O jovem cavaleiro continuou hesitando, o que não combinava com sua aparência amigável. Finalmente, ele puxou a mão de trás das costas e estendeu um pedaço de papel.

Com o rosto vermelho, ele gritou: “D-desculpe, mas por favor, aceite minha carta sincera!”

Eu fiquei sem palavras.

De boca aberta, olhei para o pedaço de papel à minha frente. Uma carta de amor?

Eu mal consegui dizer: “Isso é… uma piada?”

“I-isso não é uma piada! Como eu poderia ousar zombar de sua senhoria…? O que quero dizer é que você é tão bela e gentil que eu-eu-eu me apaixonei por sua senhoria!”

Como eu me meti nesta situação? Eu estava atordoada.

Fui lembrada de uma peça que vi há muito tempo, uma comédia sobre os problemas que surgiram depois que a mãe da heroína bebeu uma poção que fez todos os homens do bairro a seguirem.

“P-p-peço desculpas se ofendi sua senhoria, mas eu não pude mais aguentar. Eu—”

“Eu não estou ofendida,” eu disse e encarei o jovem cavaleiro corado.

Que mulher não ficaria satisfeita em ser cortejada por um cavaleiro robusto? No entanto…

“Hum, estou apenas surpresa porque é inesperado. Nunca imaginei que alguém como você, Sir Toreo, faria isso…”

“Perdão? Como você pode dizer uma coisa dessas? T-todo cavaleiro do império vê sua senhoria como uma deusa! Se não fosse pelo seu filho, hã… n-não, esqueça. O ponto é que estou sinceramente apaixonado por sua senhoria!”

“Obrigada pelas palavras gentis, mas…” Eu parei e engoli em seco.

Era certo rejeitar uma confissão tão honesta e tímida?

“Eu… sinto muito, Sir Toreo. Mas não posso aceitar esta carta de amor.”

Os olhos do jovem cavaleiro caíram no chão. Ergh… eu me sinto uma pessoa má.

“Suponho que nunca poderia capturar o afeto de alguém como sua senhoria…”

“Não, não é isso. A verdade é que estou interessada em alguém.”

Meu Deus! Como essas palavras saíram da minha boca?!

Mesmo sendo eu quem disse, me surpreendi. Foi meio impulsivo, como se uma parte de mim estivesse desesperada para contar ao mundo inteiro como eu me sentia.

“Perdão? S-sério? Meu Deus. Posso perguntar quem é essa pessoa sortuda…?”

“Ouvi dizer que havia uma confusão aqui em cima. Agora vejo o que era.”

Tanto Sir Toreo quanto eu nos viramos, de olhos arregalados, para a voz grave que nos interrompeu de repente. Encontrei o filho do duque observando Sir Toreo com um sorriso torto.

“Confusão?”

“Oh… uh, eu…”

Enquanto eu parecia confusa, Sir Toreo estava olhando de um lado para o outro entre Norra e eu, dizendo algo ininteligível antes de correr para baixo do convés.

Eu continuei parecendo atordoada. “Uma confusão? Aconteceu algo entre os cavaleiros?”

“Oh, não é grande coisa. Aparentemente, eles estavam provocando uns aos outros para serem os primeiros a lhe dar uma carta de amor.”

“O quê…? Você está brincando, certo?”

“Não. Você não tem ideia de como é popular. Isso está começando a me preocupar,” ele provocou, então pegou minha mão e se sentou no corrimão.

Eu corei e sorri quando senti o batimento cardíaco dele através do nosso toque.

“Eu sou quem deveria estar preocupada,” eu disse.

“Por quê?”

“Você é o filho do duque, o objeto de desejo de todas as filhas nobres. Eu sei que há muitas por aí que querem se casar com você.”

De fato. Norra atraía a atenção feminina onde quer que fosse, e não apenas por causa de seu nome.

Phew, quando penso em todas as pessoas que devem ter chorado por ele… ele poderia se apaixonar por quem quisesse.

Enquanto esses pensamentos deprimente passavam pela minha mente, Norra parecia me examinar. Para minha surpresa, ele jogou a cabeça para trás e riu.

“Puah ha ha ha!”

“O-o que? Por que você está rindo?”

“É só que—ha ha ha ha! Shuri!”

“P-por que você está rindo?! O que é tão engraçado?!”

Eu olhei para Norra com raiva. Eu estava me sentindo tão solene, e ele apenas riu—e não parecia que iria parar tão cedo.

Eu estava perplexa. Esse garoto maldito está me testando.

“Você e Jeremy me consideram uma tola, não é?!”

Custaria muito para esses garotos passarem um dia sem me provocar?! Eu me virei.

Norra, que parecia muito divertido consigo mesmo, agarrou minha cintura e me puxou para ele. Eu quase gritei.

“É porque você é fofa,” ele disse. “Isso é tudo.”

Ha! Fofa? Eles me chamavam de Bruxa do Castelo de Neuschwanstein na minha vida passada, e agora ele estava me chamando de fofa!

Eu tentei dar a ele um olhar fulminante, mas falhei por causa do sorriso persistente dele.

A mão dele me puxando para mais perto me fez corar. “D-deixe-me ir. E se alguém ver?”

“Deixe que vejam. Não há ninguém aqui de qualquer maneira.”

Isso era verdade. Nós éramos as únicas pessoas deste lado do convés.

“Mas e se alguém sair?”

“Não acredito que haja uma regra que proíba namoro em navios.”

“C-claro que não, mas…”

“Tudo bem. Você parece ter medo de ser vista comigo,” disse Norra lentamente e me soltou.

Eu ajeitei minhas roupas de maneira desajeitada e depois olhei para ele.

Eu também não tinha certeza do que estava com medo. Meu coração já estava decidido, então por que hesitei? Embora eu fosse mais velha, sabia pouco sobre namoro e não sabia o que fazer com essas sensações de borboletas no estômago.

Meu casamento com meu falecido marido não me ensinou nada sobre isso.

O que um garoto e uma garota normais da nossa idade fariam no convés de um navio sem mais ninguém por perto?

Eu tentei olhar furtivamente para Norra, mas ele estava olhando para a própria mão.

Será que ele estava magoado? Parecia possível. Talvez eu devesse ter esperado que ele ficasse magoado. Depois da confissão dele e minha confirmação, agora eu estava sendo fria com ele.

Ansiosa, falei cuidadosamente: “Hum, você sabe…”

“Sim?”

“Ahem. Como você disse, ninguém está nos observando deste lado do convés. Então… uh…”

Eu queria dizer a ele que ele poderia me abraçar, mas achei que soaria tolo demais.

Ele pode me abraçar? Que coisa ridícula de se dizer!

Será que eu poderia dizer algo mais direto e romântico? Algo que namorados normais diriam um ao outro?

Eu talvez precise começar a ler os romances que Rachel gostava.

Enquanto eu sofria, Norra cruzou os braços e me observou. Eu acabei dizendo qualquer coisa que saiu.

“De qualquer forma, você e eu somos—ahem. Quero dizer que você é meu, então pode me abraçar ou me beijar e eu não vou ficar brava.”

Seguiu-se um breve silêncio. Norra me encarou com uma expressão indecifrável. Eu tive o impulso de agarrar a cabeça.

O que eu acabei de dizer?! Nem um tolo iria tão longe! Sou uma imbecil! Estou perdida! Eu estraguei tudo!

Depois de um silêncio muito constrangedor, meu cavaleiro finalmente falou. “Eu não quero.”

“O quê?! Por quê? Por que não?”

Eu poderia ter dito algo ridículo, mas como ele poderia responder tão friamente? Isso o incomodou quando eu disse que ele é meu? Eu estava iludida?

As próximas palavras que ouvi em meio à minha confusão foram…

“Porque há algo em que estou mais interessado do que apenas abraçar e beijar.”

“E o-o que é isso?”

“O que você acha que é?” Havia um sorriso estranho nos lábios de Norra enquanto ele se inclinava ligeiramente em minha direção com os braços cruzados.

Meu coração acelerou.

“Está tudo bem?”

Está tudo bem? O que está tudo bem?

Eu não sabia do que ele estava falando, mas assenti mesmo assim.

Nós nos encaramos em silêncio por um momento. Mal respirávamos.

Não sei quem foi o primeiro a se mover. A próxima coisa que soube, Norra estava segurando meu corpo com força, seus lábios pressionados contra os meus.

Por surpresa ou inevitabilidade, aceitei totalmente.

Seus lábios quentes se abriram e sua língua tocou a minha.

Eu senti como se meu corpo estivesse caindo. Todo o meu ser foi paralisado por uma nova sensação quente e trêmula. Eu queria que ele parasse, mas também queria que ele continuasse. Meu coração ia e voltava.

Quando finalmente nos afastamos sem fôlego, me senti triste de alguma forma.

Mesmo em um momento como este, não pude deixar de pensar no passado—nas memórias do meu casamento com Johan.

A única coisa romântica que fizemos antes de ele morrer foram beijos leves.¹ Eu nunca tinha tido uma experiência tão apaixonada e doce como esta em nenhuma das minhas vidas.

Eu me sentia confusa e também arrependida.

Isso pode parecer descarado de se dizer… mas meu Deus! Eu estava sem isso o tempo todo?!

“Shuri?”

Na verdade, o que há de tão especial em um beijo? É só pressionar os lábios juntos e usar um pouco de língua.

O que tornou esse ato comum especial, foram esses olhos azuis examinando meu rosto enquanto ele segurava minhas bochechas entre as palmas das mãos. Meus próprios olhos se refletiam de volta para mim.

Não estávamos vendo outra pessoa um no outro. Não queimávamos com um desejo possessivo. Essa sensação suave, sonhadora e doce era como mágica. Me fez querer encontrá-lo novamente se eu renascesse.

1. meu deus, shuri cortou meu clima com esse pensamento[↩]