Capítulo 19

“Ainda me arrependo do que aconteceu,” suspirei. “Como vocês sabem, me falta experiência e conhecimento. Eu poderia… eu poderia procurar vocês, senhoras, para pedir conselhos se algo assim acontecer novamente?”

“Claro. Meu Deus, você é tão jovem, e cuidar dos filhos de outra mulher não é fácil também. Pode vir pedir conselhos a qualquer momento,” disse Lady Bayern.

Elas reagiram com uma mistura de empatia e condescendência. Pareciam me ver como uma criança adorável, exatamente como eu pretendia. Eu interpretava uma jovem viúva que não sabia nada do mundo, mas que também era humilde e buscava aprender, e funcionou.

O senso de superioridade delas era natural. Eu era tão jovem, ainda assim tinha a posição dos maridos delas, e lá estava eu, buscando ativamente o conselho delas.

Antes, eu era ingênua e imatura. Odiava a ideia de que outras pessoas me vissem como jovem. Eu agia como uma gata com as garras de fora e a cabeça erguida.

Eu não sabia que parecer inexperiente não era algo ruim. Eu não sabia que o orgulho não importava se você queria alguém do seu lado.

As nobres estavam na vanguarda da sociedade. As filhas de nobres podem ser jovens, frescas e rápidas para crescer, mas nunca poderiam usurpar as nobres mais velhas. O conhecimento e a experiência delas as tornavam verdadeiras serpentes.

Além disso, as nobres tinham autoridade exclusiva sobre um costume particularmente antigo, a arma mais letal.

O famoso ‘Por trás das cortinas’.¹

Acho que atingi meu objetivo hoje. Vou usar esta situação para—

“Aaaahhh!”

“Oh m-meu Deus!”

“A-alguém pare eles!”

Em questão de segundos, o banquete animado se transformou em pandemônio.

Muitas filhas de nobres bem vestidas desceram correndo as escadas que ligavam o primeiro e o segundo andar, gritando de medo.

Mães, horrorizadas, se levantaram. Pais trocaram olhares perplexos. Filhos correram para as escadas.

Meu Deus, o que é desta vez?

Corri para o andar de cima às pressas, temendo que Jeremy tivesse começado uma briga com seu futuro rival.

E quando cheguei à varanda do segundo andar… Meu Deus!

Houve um grande estrondo.

A varanda tinha sido decorada com orquídeas frescas e lâmpadas a óleo, mas estava claramente uma bagunça há algum tempo.

“Jeremy!”

Quatro garotos estavam trocando socos, Jeremy entre eles.

Para minha surpresa, ele não estava lutando com o filho do Duque Nürnberger. Na verdade, pareciam estar unidos contra os outros dois. Desde quando eles estavam do mesmo lado?

Elias era quem costumava se envolver em brigas assim. Como Jeremy se envolveu? Ele era tão impetuoso quanto Elias, mas não reagia com socos primeiro. E seu oponente nem era seu rival destinado.

“Jeremy, pare!” Elias gritou. “Acalme-se!”

“Pare, Jeremy!” Rachel gritou. “Mamãe vai ficar brava!”

Para minha surpresa, o endiabrado Elias e os gêmeos estavam tentando parar Jeremy em vez de atiçar o fogo. Era admirável, mas não muito eficaz.

Jeremy e Norra tinham ambos cerca de quatorze anos. Seus oponentes pareciam estar no final da adolescência. Se fosse apenas uma questão de diferença de idade, eles deveriam ter derrotado Jeremy e Norra facilmente. No entanto, seus oponentes pareciam ratos de biblioteca. Era uma luta feroz e equilibrada.

Os quatro filhos de nobres elegantemente vestidos realmente fizeram um espetáculo, jogando-se uns contra os outros como cães brigando em um mercado noturno.

Os convidados os observavam boquiabertos. Cardeais piedosos murmuravam orações e faziam o sinal da cruz.

Quando me movi para intervir, Theobald colocou a mão no meu ombro e entrou na briga. Ele tinha a mais alta patente entre os presentes.

“Pare,” ele bradou. “Isso é um decreto imperial!”

O Duque Nürnberger foi o próximo a falar. Eu nunca tinha visto uma expressão tão assustadora e severa no rosto dele antes. O duque era um dos dois pilares da sociedade nobre.

“Qual é a razão disso?” ele perguntou ao seu filho.

O decreto imperial de Theobald interrompeu a confusão imediatamente.

Reunimos os envolvidos na sala de estar: meu filho mais velho, o filho do Duque Nürnberger, e seus oponentes—os sobrinhos do Duque Heinrich.

O banquete continuou no primeiro andar como se nada tivesse acontecido.

Eu já havia estendido minhas sinceras desculpas ao Duque Heinrich, que inclinou a cabeça. Ele partiu com seus sobrinhos, deixando minha família e os Nürnberger.

Theobald estava sorrindo com os braços cruzados, mas o Duque e a Duquesa Nürnberger não poderiam parecer mais sérios. O duque emanava um ar gelado. A duquesa tinha uma expressão ansiosa no rosto. Ela entrelaçava e destrançava as mãos.

“Norra! Peça desculpas por isso imediatamente!” O duque bradou. Sua voz trovejante parecia fazer o lustre tremer. “Imaturo como você é, como pôde causar tal confusão na presença de Sua Alteza?”

Fazia muito tempo desde que a voz de um homem adulto ressoava nesta casa.

O filho travesso do duque franzia a testa e olhava na minha direção. Ele permaneceu em silêncio.

Jeremy não era diferente. Ele se recusava a admitir o que causou a briga brutal.

“Meu Deus, olhe para o seu lábio rachado!” Eu gritei. “Jeremy, o que aconteceu? Por que você estava brigando?”

“Ugh. Eu não sei,” Jeremy resmungou. “Aqueles nerds estúpidos me irritaram!”

“O que eles fizeram para te irritar tanto?” perguntei.

Jeremy voltou a ficar em silêncio.

Eu me virei para Elias. “Elias, você sabe?”

Elias deu ao irmão um olhar de satisfação e mostrou a língua, mas apenas balançou a cabeça para mim.

“Não. Eu só vi Jeremy conversando com aquele filho do duque na varanda,” disse Elias. “Eu me perguntei se eles tinham se reconciliado ou algo assim, então fui cuidar dos gêmeos como você pediu. Então ouvi as meninas gritando, fui até lá e encontrei ele brigando com aqueles nerds.”

A informação dele não era útil. Eu me virei para os gêmeos. Eles olhavam para Jeremy com um brilho triunfante nos olhos. Eu tinha a sensação de que eles não sabiam de nada também.

“Não vai me dizer o motivo, Jeremy?”

“Ugh, não é nada sério mesmo—” Jeremy se interrompeu com um espirro e depois tossiu duas vezes. “Shuri, estou doente.”

“Seu pestinha,” eu repreendi. “Você acha que vou deixar passar se fingir estar doente?”

“Não.” Jeremy espirrou novamente. “Eu realmente estou tonto de repente.”

Ele segurou a cabeça com as mãos e enterrou o rosto no meu ombro. Era inacreditável.

Eu deveria tê-lo repreendido e dito que já era suficiente de seus truques, mas lembrei que ele poderia ter contraído sarampo nessa época no passado. Não pude deixar de aliviar um pouco.

Acho que realmente não posso fazer nada, pensei e chorei internamente.

“Você estava completamente bem há um momento,” eu disse. “O que está acontecendo? Deixe eu ve—”

Fui interrompida por um tapa alto. As crianças e eu nos viramos simultaneamente em direção ao som de uma mão batendo na pele, cortando o ar. Tínhamos a mesma expressão meio atordoada nos rostos.

A próxima coisa que vi foi o rosto do filho do duque virado para o lado e o próprio duque aparecendo como a encarnação da fúria. Meu Deus.

Senti os gêmeos se agarrarem à minha saia. O ar na sala ficou frio.

O Duque Nürnberger pressionou as mãos na testa como se para esfriar a raiva. Quando falou novamente, sua voz estava baixa.

“Peça desculpas à Lady Neuschwanstein e a Sua Alteza pela sua grosseria.”

Norra não disse nada.

“Norra!”

Norra mordeu forte o lábio sangrando. Seus olhos azuis eram tão frios quanto os do pai. Ele olhou na direção de Theobald, com os punhos cerrados tão forte que os nós dos dedos estavam brancos.

O duque levantou a mão novamente. “Seu malandro, você ainda—”

“Duque Nürnberger!” eu chamei.

O príncipe herdeiro parecia inquieto. Ele me olhou, mas eu não dei atenção.

Peguei o braço do duque e implorei. “Por favor, acalme-se, Duque Nürnberger. Eles ainda são crianças. Devem ter tido suas razões.”

O Duque Nürnberger não gritou comigo para cuidar dos meus próprios assuntos. Ele olhou para o meu rosto sincero, depois para sua esposa pálida e trêmula. Para meu alívio, ele abaixou a mão.

“Lady Neuschwanstein. Sua Alteza. Peço que perdoem a grosseria que meu filho demonstrou hoje. Acho que seria melhor se nos retirássemos.”

“Sua Graça…”

“Peço desculpas. Eu a verei em breve, minha senhora. Você, venha aqui!” O Duque Nürnberger agarrou seu filho pela nuca.

“Espere, tio,” Theobald chamou. “Por favor, acalme-se e…”

O Duque Nürnberger puxou Norra para fora da sala. A duquesa os seguiu, mordendo nervosamente o lábio. O príncipe herdeiro parecia perturbado atrás deles.

Meu coração se compadeceu do filho do duque. Garotos…

Meu marido também bateu em Elias uma vez por algo que tinha a ver comigo. Isso era de um nível diferente. Deve ter sido humilhante ser repreendido assim na frente de outras crianças da sua idade.

“Shuri, você vai me bater assim?” Jeremy perguntou.

“Por quê? Você quer?”

“Não, não quero dizer isso. De qualquer forma, aquele duque é super assustador quando está com ra—” Jeremy espirrou e tossiu novamente. “Ugh, isso é horrível.”

Dizem que más premonições tendem a estar certas, embora neste caso, fosse mais como déjà vu.

Jeremy realmente adoeceu. E, como esperado, era sarampo.

Dizem que o sarampo reina entre as doenças infecciosas. Eu já tinha passado por isso quando era jovem. Sabia o quão doloroso era.

O mordomo Roberto e eu éramos os únicos na casa que já tinham tido sarampo antes, então os outros trabalhadores e as crianças foram proibidos de ver Jeremy.

“O que é isso…?” Jeremy caiu em outra rodada de tosse. “Droga. Me sinto horrível.”

Era fascinante como ele reclamava mesmo quando estava doente, embora isso não permanecesse o caso por muito tempo.

1. o século XVIII, era usada para descrever as reprimendas ou conselhos que as esposas davam a seus maridos em privado, muitas vezes no quarto, “por trás das cortinas”. Era uma forma de influência feminina discreta, mas poderosa, em uma época em que as mulheres tinham pouca voz pública.[↩]