Capítulo 82

“Eu sinceramente pensei que você já sabia,” Elisabeth gaguejou. “M-mas isso tudo é coisa do passado agora. Eu prometo que não vejo ela quando olho para você. Estou falando sério.”

“Eu também achava que você já sabia de alguma forma, minha senhora. E independente de você saber ou não, achei que seria rude dizer… deixa pra lá, mas minha querida irmã, por que você trouxe isso à tona?” perguntou o duque.

“I-isso surgiu enquanto discutíamos os eventos recentes… mas por que você está bravo comigo?! Isso é culpa de vocês idiotas que ainda não superaram aquela raposa de—”

“Quem você está chamando de raposa?! Gostaria de lembrar que isso tudo é passado. Por que você precisa trazer isso de volta?!”

“Passado? Ha! Passado, você disse? Do meu ponto de vista, ainda está acontecendo!”

“Eu insisto que, para mim, isso é passado!”

Quem poderia imaginar que os dois irmãos mais poderosos do império seriam pegos tão de surpresa que discutiriam na minha frente desse jeito?

Eu, por outro lado, estava no meio de organizar tudo o que tinha acabado de ouvir. Meu rosto estava sombrio.

Para resumir os fatos que a imperatriz e o Duque Nürnberger confessaram em tons atipicamente envergonhados, a falecida Imperatriz Ludovika e eu tínhamos uma semelhança impressionante.

A primeira paixão do meu falecido marido—aquele cujo nome ele se recusava a me contar enquanto estava vivo—era a antiga imperatriz.

Além disso, ficou claro pelas reações de ambos que o duque de aço também havia amado a antiga imperatriz.

Ela havia conquistado os corações do imperador, do Duque Nürnberger e do meu falecido marido.

E eu me parecia tanto com ela que era praticamente sua reencarnação.

Ha ha… eu estava completamente ciente do fato de que Johan havia se casado comigo por causa da minha semelhança com outra pessoa, mas não sabia o que pensar ou sentir agora.

Eu finalmente entendi por que tanto o imperador quanto o duque eram tão gentis comigo. E eu achava que era só porque eu era a viúva do bom amigo deles…

Eu também podia entender por que Elisabeth costumava ser tão hostil comigo.

“Já basta,” eu disse calmamente.

Os irmãos, que discutiam não melhor do que os filhotes de leão da minha família, imediatamente pararam de brigar e limparam as gargantas constrangidos.

Eu suspirei. “As peças do quebra-cabeça estão se encaixando. Agora entendo por que todos têm se comportado da forma que têm comigo.”

“Espere, mas como eu disse, insisto que já faz muito tempo desde que comecei a vê-la apenas como você mesma. Não sei como isso vai soar para você, mas desde o julgamento há três anos—”

“Eu serei franco e direi que a semelhança pode ter desempenhado um papel, mas em relação à minha senhora, eu nunca senti—”

“Obrigada, a ambos,” eu disse, interrompendo suas desculpas desesperadas com uma resposta calma. “No entanto, isso não importa.”

Elisabeth piscou. O duque limpou a garganta novamente. Era uma visão para lembrar.

Eu não podia dizer que não me sentia triste. Obviamente não. Entender que minha semelhança com outra pessoa era a motivação para a boa vontade ou má vontade das pessoas deixava um gosto amargo na boca.

Talvez fosse pior porque não era apenas uma nobre qualquer, mas a falecida imperatriz…

Ao mesmo tempo, eu não podia deixar de pensar que teria sido muito mais difícil sem a gentileza do imperador ou do duque, seja no meu passado ou na vida atual. Se não fosse pela ajuda deles, provavelmente eu teria perdido minha autoridade na audiência anterior. Minha situação atual seria mais difícil.

As crianças também teriam lutado mais. Quando pensei dessa forma, não me importei.

Mas…

“As crianças sabem?”

Elisabeth assentiu. O duque balançou a cabeça.

“O príncipe herdeiro deve saber. Ele pode ver o retrato da mãe na galeria sempre que quiser.”

Aham. Eu me lembro dele me dizendo que não se lembrava do rosto da mãe. Que mentiroso.

“Bem, não acho que meu filho saiba,” disse o duque. “Eu já proibi esse assunto na minha família.”

“Oh? E por que isso?”

“Vou te contar que é por minha esposa, mas desculpe, minha querida irmã, você esperava que eu pendurasse o retrato de alguém que eu costumava amar na minha casa?”

“Eu não teria ficado surpresa, mas agora estou.”

“Irmã, por favor!”

Em outras palavras, nem Norra nem Jeremy sabiam, mas Theobald sabia.

Jeremy era uma coisa, mas eu não sabia por que me confortava saber que Norra também não sabia.

Sim, pelo menos minhas crianças e Norra eram gentis comigo totalmente por quem eu era.

Está tudo bem então. Está tudo bem, está tudo bem…

E ainda assim, se Theobald se apaixonou por mim simplesmente porque eu me parecia com sua mãe, por que ele não se apaixonou por mim antes?

Quem era Theobald?

Eu também questionava até que ponto o Cardeal Richelieu estava envolvido em tudo isso.

“Ahem. Ah, a propósito, sobre o caderno de esboços que você me deu, minha senhora. Eu queria agradecer.”

Fui interrompida no meio de meus pensamentos complexos. Havia um brilho gentil nos olhos azuis do duque de aço enquanto ele acendia seu cachimbo timidamente.

Em lugar de todo o resto, eu tinha completamente esquecido do caderno de esboços.

“Então… você viu tudo.”

“Sim. Estou envergonhado… mas entendo por que você insistiu para que eu olhasse,” ele respondeu calmamente. Havia uma mistura de tristeza e doçura em seus olhos.

Os olhos de Elisabeth se arregalaram. “Caderno de esboços? Do que você está falando?”

“Não é da sua conta.”

“Doeria me contar? Quantas vezes te disse que odeio quando você age assim?”

“Você está abusando de sua autoridade.”

Para sintetizar tudo o que havia ocorrido, ficou claro que Theobald teve um papel significativo em criar a distância entre o duque e Norra.

E se meus instintos estivessem corretos, os mal-entendidos que ele causou também haviam sacrificado o Príncipe Letran. Se o segundo príncipe fosse realmente tão temperamental e egoísta como era conhecido, Elias nunca conseguiria suportá-lo.

Me pergunto se a briga deles em minha vida passada também surgiu de algum mal-entendido.

Suspiro…

Se a Imperatriz Ludovika estivesse viva, mil repreensões dela não seriam suficientes.

Theobald era sobrinho do Duque Nürnberger e enteado da imperatriz, que diziam que ela cuidava mais do que de seu próprio filho de sangue.

Alguns meses atrás, seria inimaginável para mim perguntar a qualquer um deles sobre isso, mas a situação e as circunstâncias eram completamente diferentes agora.

Eu poderia deixar de lado a questão do colar de diamantes por enquanto, pois isso poderia levar a mal-entendidos, mas eu poderia questioná-los com segurança sobre o incidente do jogo.

Não só nossa casa agora estava aliada à Casa Nürnberger, mas isso também envolvia o Príncipe Letran. Além disso, Jeremy e Norra já haviam colocado um fim nisso.

Será que nem Elisabeth nem o duque realmente suspeitavam de nada? Eles nunca sentiram que algo estava errado? Nunca?

Eles tinham que ter notado algo se se considerassem pais. Não importava por que eles escolheram fechar os olhos.

Quaisquer que fossem as verdadeiras intenções de Theobald, eu não podia deixá-lo continuar a conspirar assim. Eu não podia permitir que nem eu nem meus filhos fôssemos envolvidos em seus planos.

“Ahem, minha senhora?”

“Por que você parece tão… ahem, gostaria de reiterar que realmente não é mais assim. Por favor, me perdoe. Ela faleceu há muito tempo e…”

“Vossa Majestade, você tem ideia de quais passatempos o Príncipe Letran tem se envolvido recentemente?”

Eu me vi no foco de dois pares de olhos perplexos.

“Se quisermos aproveitar nossa aparência, seria melhor encontrar uma jovem empregada, não acha?”

“E por que precisaríamos aproveitar nossa aparência hoje?”

“Sinto que é mais provável ouvirmos uma história verdadeira dessa forma do que intimidando alguém a falar.”

“Mesmo que estejamos procurando alguém que estava por aqui há cinco anos?”

“Oh, certo!” Jeremy bateu na testa e balançou a cabeça.

Norra não se abalou. Ele olhou para a humilde residência do visconde à frente. Ele parecia pensar que poderia ter confiado em sua aparência, se necessário.

Comparada às propriedades na capital imperial, a casa da vila do visconde era simples e desgastada. Sua atmosfera geral era desorganizada e sombria, para não falar da arquitetura.

Era difícil acreditar que Shuri tinha nascido e sido criada em um lugar assim.

“De qualquer forma, quem diabos é o homem da casa? Por que ele não está em lugar nenhum enquanto sua esposa e filho se envergonham na capital?”

“Ele deve ter sido tão viciado em jogos que não tinha tempo para se importar com o que estava acontecendo com sua família. Consigo ver isso.”

“Espero que ele esteja aqui hoje. Isso seria a maneira mais rápida de—”

“Com licença, posso perguntar quem são vocês?”

A pessoa que falava era uma mulher de meia-idade robusta, vestindo um uniforme de empregada, que havia se aproximado da entrada. Ela devia ter sido compelida pelas aparências distintas dos dois formidáveis cavaleiros conversando nas proximidades.

Jeremy não pareceu se importar de ser interrompido. “Somos da Casa Neuschwanstein,” ele respondeu. “O Visconde Ighöfer está em casa?”

A governanta de meia-idade piscou com essa breve introdução. Ela parecia espantada.

“Desculpe? Neusch… isso significa que você está aqui da parte da Senhorita Shuri?”

“Em resumo, sim. E o visconde?”

“Sua senhoria não está em casa. Hum, a senhorita está bem?”

Jeremy e Norra trocaram olhares. Eles falaram ao mesmo tempo.

“Há quanto tempo você trabalha aqui?”

“Aqui?” a empregada ecoou. “Provavelmente uns quinze anos… por que pergunta?”

A sala de estar na propriedade do visconde era pequena, mas ricamente decorada. Não se podia chamar de elegante ou refinada, pois simplesmente havia sido preenchida com peças caras de móveis descombinados.

Jeremy olhou para o retrato de corpo inteiro do visconde pendurado em uma parede. Não se parecia nada com ele.

“Você deve ter conhecido ela desde jovem, então.”

Norra estava sentado, tomando para si a tarefa de fazer perguntas à governanta idosa.

Jeremy deveria ser o responsável por esse papel, mas por alguma razão, o jovem leão havia permanecido estranhamente silencioso assim que colocou os pés na propriedade.