Epílogo 1 - Lua de Mel (5)

Apesar de toda a minha raiva anterior, fiquei ali, emocionada.

Norra olhou para mim, intrigado, e, como se algo tivesse acabado de ocorrer a ele, remexeu no bolso.

“Oh, e isso…”

“Hmm?”

“Esta foi a aposta. Disseram que era uma edição limitada ou algo assim, então compramos e dissemos que a última pessoa a descer do topo a cederia. Então, bem, está em minhas mãos agora… ahem, não sei se você vai gostar, Shuri.”

Ele não sabe se vou gostar? Se vou gostar? Eu estava sem palavras.

Norra estava segurando… um colar. Era um colar luxuoso com fios de pérolas brancas puras, madrepérolas branco-douradas e um grande safira.

Quase poderia ser considerado um conjunto com o anel de safira no meu dedo.

“Bem, suponho que não possa se comparar ao que seu filho mais velho lhe deu.”

Ele parecia estar se referindo ao colar de peridoto de quatro anos atrás.

Ele estava falando sério?! De qualquer forma, para mim, ele havia… não, mais importante, foi por isso que os dois causaram aquele alvoroço? Esses “fogos de artifício” eram apenas uma desculpa?

“Mas ainda assim…” Eu tentei continuar, mas minha garganta de repente parecia estar queimando, e minha voz não saía corretamente.

Me apressei a levar as mãos aos olhos ardentes e esfregá-los. Norra, que me observava de olhos arregalados, correu para o meu lado.

“Hum, Shuri, não chore. Desculpe. Eu juro que da próxima vez eu não—”

“I-isso não é por causa disso! Não é…”

“O quê?”

“Haa… você está falando sério… você está falando sério…”

Minha voz falhou. Minha visão de repente ficou turva. Eu não sabia por que as lágrimas começaram a fluir dos meus olhos.

Era gratidão? Era porque eu era uma tola? Ou ambos?

Norra piscou, confuso. Ele me observou impotente.

Ele colocou o colar de lado, abriu os braços e me puxou para ele. O calor do seu corpo firme me fez suspirar.

“Você é… um idiota.”

“Eu sei.”

“Agora vejo que você não é o cavaleiro mais forte do império, mas na verdade um idiota.”

“Eu esperava que você nunca descobrisse,” ele suspirou.

Ele se afastou um pouco e limpou meus olhos úmidos com a mão. Ele sorriu, e eu sorri de volta.

“Obrigada…”

“Ahem, obrigado. Eu tive uma aventura emocionante— Tá, tá. Eu não vou mais fazer isso.”

Eu não queria que ele fizesse algo tão perigoso nunca mais. Não havia garantia do que eu faria se algo desse errado com Norra.

Olhei pela janela. O sol havia se posto. O céu estava ficando vagamente escuro. Observamos a cena em silêncio, de mãos dadas, por um tempo. Falamos ao mesmo tempo.

“Shuri.”

“Norra.”

“Você primeiro, Shuri.”

“Não, você.”

“Não, você.”

Ele não precisava ceder isso também. Sorri e encostei a cabeça em seu ombro.

Então olhei para cima, para os seus olhos azuis cintilantes que me observavam e me fariam amá-lo para sempre.

“Eu te amo, Norra.”

Seus olhos azuis pareceram tremer. Talvez eu estivesse imaginando. Um momento depois, senti um beijo tão leve quanto uma pena na minha pálpebra, seguido pela voz mais gentil.

“Eu também te amo.”

Finalmente retornamos à capital imperial após nossa lua de mel de dez dias. Fomos recebidos com paixão. Obviamente.

“Onde está meu presente?! Onde está?? Entregue! Ei, estou feliz por ter esbarrado em você, seu lobo vil! Shuri, você sabe que tipo de carta ele nos enviou sem você saber?!”

“Eli, não seja tão…”

“Mãe, a casa se tornou cada vez mais um canil sem você! Até o Vovô Mordomo disse que deveria se aposentar em breve! E minha pena da sorte desapareceu. Não sei onde foi parar! E Jeremy não conseguiu encontrar suas luvas perdidas! Você é a única que pode encontrá-las, mãe!”

“Espere, me ouça primeiro, Shuri! Aquele cara…”

“Além disso, acho que você deveria proibir Elias de chamar seu marido de ‘aquele patife’!”

“O-o que diabos há com você?! Como você ousa interromper seu respeitável irmão mais velho?!”

“Bem, você é quem interrompe nossa respeitável mãe sempre que tem a chance!”

“Ei! O que isso tem a ver com qualquer coisa?!”

Enquanto os irmãos mais novos brigavam alto, o filho mais velho, que tinha se tornado irreconhecivelmente confiável e maduro, trocava cumprimentos com seu amigo.

“Eu estava desesperadamente esperando que você fosse varrido por uma onda e desaparecesse. Que pena.”

“Que malandro,” Norra respondeu com facilidade.

“Você esperava um filho leal quando é o padrasto maligno? De qualquer forma, o que é isso? O que há com a adaga?”

“Seu presente. Será útil para quando você decidir que esta vida não é para você.”

“Isso é algo que um pai deve dizer ao filho?”

“As crianças devem ser criadas de maneira dura.”

“Ohhhhh, Mãe Shuri! Aquele cara acabou de me dizer para me matar! Como ele pode dizer algo tão cruel para mim?!”

Os olhos de Norra brilharam enquanto Jeremy se agarrava a mim e fingia chorar.

Este último agarrou meu braço de qualquer maneira e sorriu triunfantemente.

“Shuri, acho que o padrasto malvado já está tentando nos separar.”

“Nos separar?”

“Ele nos disse que poderíamos escrever para você apenas em nossos sonhos e nos advertiu para não interromper sua lua de mel.”

“Oh? Sério?”

“Sim, estou te dizendo. Isso não é malvado?”

“Eu tenho prova! Wahaha! Olha aqui. Aquele cara…”

“Vocês todos, saiam.”

O silêncio caiu sobre a sala.

Jeremy, que havia desenrolado um pedaço de papel amassado, Elias, que havia estado tagarelando incessantemente, e Leon, que estava balançando uma caneta-tinteiro perto do ouvido, fingiram que não o ouviram.

Enquanto isso, Norra sorriu de maneira assustadoramente amorosa e disse mais uma vez: “Eu disse para saírem da minha casa.”

“O que… ei, o que você está falando de repente?”

“Desgraçados felinos que tentam afastar a mãe do pai merecem ser expulsos. Então saiam. Eu não quero ficar bravo na frente de Shuri.”

Neste ponto, eu esperaria que Elias gritasse: “Desde quando você é nosso pai?!” Em vez disso, ele abriu e fechou a boca em silêncio, seja pelo espanto de nunca ter visto Norra tão furioso antes ou porque percebeu seu próprio erro.

Os três meninos coçaram a cabeça e saíram pela porta. Tive que suprimir as risadinhas que escapavam de mim. Fui até Norra e envolvi meus braços ao redor de sua cintura.

“Então, que tipo de carta você escreveu?”

“Quero dizer… eu estava apenas respondendo à deles. Eles disseram que deveríamos voltar em três dias, trazer presentes, dizer a Shuri para escrever imediatamente e outras coisas desse tipo. Eu tirei um tempo para responder de qualquer maneira. Eu não sabia que eles ainda estariam chateados com isso.”

“Eles devem ter ficado entediados sem você.”

“O que eu não estar aqui tem a ver com alguma coisa?”

“Você é o único que aguenta as brincadeiras deles. Na verdade, qualquer outra pessoa teria ficado brava muito antes.”

“Puxa…” ele resmungou baixinho. Ele levantou a mão e acariciou meu cabelo. Então, com uma nota de resignação, bem como alguma insinuação maliciosa, ele sorriu.

“Vai ser uma visão e tanto quando eles tiverem um novo irmãozinho. Você não acha?”

Não era particularmente reconfortante ver o grande leão sentado nos degraus de pedra em frente à porta ornamentada do duque, girando uma adaga inocente.

Me esforcei para sorrir de qualquer maneira e fui até meu precioso filho mais velho.

“O que você está fazendo?”

Jeremy fez beicinho ao responder: “Estou… me arrependendo obedientemente.” No entanto, seu rosto imediatamente clareou, e ele mostrou um sorriso.

Sorri de volta e me sentei ao lado dele. “Parece que vocês se deram bem. Não foi muito difícil?”

“Claro que não. São todas as coisas que você costumava fazer. Você aproveitou a viagem?”

“Foi agitada, mas agradável. E você?”

“O que você quer dizer?”

“Está namorando alguém? Algum de vocês?”

“Bem, Elias está como sempre. Leon ainda parece mais interessado em livros do que em namorar, e eu…”

Ele se interrompeu. Começou a murmurar de maneira incompreensível. Meus olhos brilharam.

“Jeremy? Você está…?”

“Bem, eu não posso chamar de namoro, mas acho que encontrei alguém que parece legal.”

Parece legal? O que isso significa?

Não pude deixar de sorrir. Nunca tinha visto Jeremy assim, corando com os olhos fixos no chão.

“Fico feliz. Meu Deus, o filho mais velho finalmente fez algum progresso.”

“Ahem, se eu me decidir, eu sempre… ahem, de qualquer forma. Nada é certo ainda. Vou apresentá-la a você mais tarde.”

“Sim, sim. Ela é filha de uma casa nobre que eu conheço?”

“Talvez. Talvez não.”

“Que tipo de conversa vaga é essa agora?”

“Ela é da linhagem colateral dos Nürnberger.”

Oh? Meus olhos se arregalaram. Jeremy coçou timidamente a cabeça loira e falou de maneira evasiva. “É porque… o pai de Norra me convidou para um banquete lá. E lá…”

“Você conheceu alguém de quem gostou lá?”

“Suponho que você poderia dizer isso. Você mal poderia chamá-los de parte da linhagem colateral. Eles parecem basicamente separados. De qualquer forma, eu ia mencionar isso antes, mas então Norra ficou bravo e…”

Céus, quem ele está chamando de bravo…?

Ele parecia ser o único que ficou bravo enquanto estávamos fora.

Eu cuidadosamente estendi a mão e afastei o cabelo espalhado sobre sua testa. “Contanto que você esteja feliz, pode conhecer quem quiser.”

“Então, aquele cara horrível está te tratando bem, certo?”

“O quê? Você duvida?”

“É menos dúvida e mais irritação. Ele é o cara que roubou minha mãe.”

Eu explodi em risadas. Jeremy riu e apoiou a cabeça no meu ombro. E então, a próxima coisa que aconteceu foi…

“O que…? Por que vocês dois estão se aconchegando juntos? Isso é favoritismo!”

“Eli, onde você estava?”

“Oh, nós fomos assistir a uma briga que estourou ali,” Elias respondeu despreocupadamente. Ele deu uma grande mordida em uma maçã. Deus sabe de onde ela veio. Leon silenciosamente se sentou ao meu lado. Ele de repente suspirou e murmurou.

“Ele ainda está bravo?”

“Ele não está bravo, Leon. Ele estava apenas sendo travesso porque vocês estavam sendo travessos.”

“Mas ele parecia genuinamente bravo. Até Elias não conseguiu dizer nada.”

“Ei! Não foi que eu não consegui. Eu só não quis! Se eu quisesse, um patife como aquele… ahem, um homem como aquele poderia ficar mole nos meus braços!”

Nem Leon nem Jeremy o ouviram, é claro.

Depois de um breve silêncio constrangedor, Elias mudou de assunto. “De qualquer forma, por quanto tempo não podemos entrar lá?”

“Quem sabe? Você não acha que dependeria do seu comportamento? Por quê? Você quer entrar?”

“Você não pode voltar para nossa casa?”

“Eli…”

“Hmph.” Elias fez beicinho de forma irritada, depois se agachou na minha frente. Seu rabo de cavalo vermelho balançou ao vento da noite. “Hum, sabe.”

“Hum?”

“Eu honestamente preferia quando você era apenas nossa mãe. Estou apenas dizendo que sinto falta daqueles dias.”

“Eu também.”

Leon falou enquanto olhava para o céu rosado do entardecer.

Jeremy permaneceu em silêncio, mas ele olhou para mim e riu como se não pudesse deixar de concordar.

Eu queria que Rachel estivesse aqui. Eu sorri radiante.

Estendi a mão e acariciei o cabelo vermelho de Elias, então disse: “Eu também preferia quando vocês eram mais jovens.”

Epílogo 1 – Lua de Mel – Fim