Epílogo 2 – Há muito, muito tempo atrás (3)

“O que diabos é isso? É madrugada, você está louco…”

Em vez de fazer perguntas ou reclamações, Albrecht começou com os punhos.

Ele acertou Johannes com tanta força que ele caiu para trás e rolou pelo chão.

Albrecht caminhou até seu amigo, agarrou ele pelo pescoço e o colocou de pé.

“O que você fez?”

Johannes tossiu, “Ei, isso é…”

“Eu perguntei o que você fez!”

A voz de Albrecht não era tão alta quanto antes, mas tinha muito mais intensidade.

Os olhos azuis encaravam os olhos verdes arregalados do outro. Este último parecia entender algo e zombou.

“Você está pensando que eu fiz algo impensável com ela?”

“Então me explique com suas próprias palavras. O que aconteceu?”

“Eu não fiz nada. Depois de ouvir sobre esse maldito casamento, eu fiquei irritado e apenas…”

“Você sabe o que mais odeio em você?”

Johan ficou quieto.

“Diga a verdade. O que você fez?”

Não havia saída. Sempre que Albrecht estava tão firme a ponto de ser letal, até mesmo Maximilian sempre recuava.

Então, Johannes limpou o lábio rachado com a mão e contou tudo a ele.

“Eu… ainda estou processando meu arrependimento.”

Albrecht o encarou, esperando que ele continuasse.

“Haa, eu só… quando percebi, minhas mãos estavam em volta do pescoço dela.”¹

“O quê?”

“Ela gritou, e isso me fez acordar… mas então ela saiu correndo, e eu eventualmente fui embora também. Isso é tudo.”

Os olhos azuis gelados de Albrecht lançaram punhais nos olhos verdes de seu amigo por um tempo.

O silêncio glacial parecia que duraria uma eternidade. Eventualmente, Albrecht soltou o pescoço de Johannes e o deixou ir.

“Vá até ela e peça desculpas.”

“Eu queria, mas a garota…”

“Ela é a imperatriz, não ‘a garota’. Vá até ela ao amanhecer e peça desculpas. Você entende? Você sequer considerou o quanto ela está assustada por causa da sua loucura? Você está orgulhoso de usar sua força bruta contra uma pessoa indefesa em um momento de loucura? E então se esconder como se fosse a vítima?”

Johannes ficou em silêncio. Sua cabeça estava baixa. Seu rosto estava terrivelmente torcido enquanto ele mordia o lábio rachado.

Quando ele finalmente falou, sua voz era tão trágica quanto sua aparência. “Como você pode ser tão… indiferente a tudo isso?”

“O quê…?”

“Eu sei que você era igual. Você, eu, Max… Haa, do jeito que você está falando, quase parece que você quer que eu peça desculpas a ela porque ela é a imperatriz. Eu sabia que você era frio, mas às vezes, é quase assustador.”

Indiferente? Ele acha que sou indiferente?

O filho do duque olhou para seu amigo. A emoção em seu rosto era difícil de descrever. Quando falou, soou desprezível.

“Eu pareço indiferente para você agora?”

Johan não respondeu.

“Pare de chorar e se recomponha. Nem você, nem eu estamos em posição de lamentar e chorar por algo que já passou.”

Eles tinham uma responsabilidade como herdeiros das duas grandes casas. O imperador estava casado. Eles eram obrigados a abandonar seus sentimentos pessoais e agir em nome de suas casas.

Isso era o que ambos tinham que fazer. Foi assim que foram educados, e era assim que deveriam viver.

As doces memórias e sentimentos distantes da juventude deles estavam terminados agora.

Albrecht deixou a propriedade do marquês, virando as costas para o sorriso vazio de Johannes.

Cerca de um ano após o casamento de Maximilian e Ludovika, Albrecht também se casou.

Sua noiva era Heide, filha do Conde Rynaz, que possuía várias grandes minas de carvão.

Absurdamente, embora não intencionalmente, Heide era a melhor amiga de Ludovika. Logo depois, Johannes se casou com uma filha da linhagem colateral.

Mesmo depois que seu amigo tirou seu primeiro amor e mesmo depois de serem empurrados para casamentos por seus pais, seus mundos seguiram pacificamente.

Independentemente do que acontecesse no mundo, eles não se abalaram. Nada poderia derrubá-los.

A esposa de Albrecht, Heide, era uma mulher sensível e introvertida. Ela era completamente oposta a Ludovika, que era como uma fada cheia de vida.

Pálida e frágil, Heide parecia tão fraca que Albrecht foi cauteloso até na primeira noite deles.

Enquanto isso, o pai de Albrecht parecia não gostar de sua nora depois de trazê-la para a família.

Ele estalava a língua e comentava que, se soubesse que ela seria tão fraca, preferiria casá-lo com a filha de Neuschwanstein, a irmã mais nova de Johannes.

Albrecht respondeu prontamente a isso.

“Pai. Por favor, controle-se.”

Isso foi seguido por um cinzeiro voando em sua direção, mas desta vez, Albrecht o pegou com a mão.

Sua nova esposa Heide era muito mais tímida do que ele vagamente lembrava da juventude.

Antes, ele assumia que ela era simplesmente comparativamente tímida a Ludovika, que também era energética. Quando ele a viu agora, ela parecia extremamente sensível e cautelosa.

Ele não queria que sua esposa ficasse em uma situação difícil por causa dele.

“Hoje… Elisabeth e eu decidimos ir a um salão.”

Apesar de sua aparente timidez, de vez em quando ela encontrava coragem para falar com ele. Por exemplo, quando tomavam café da manhã sozinhos.

No começo, ele simplesmente ouvia porque não sabia como responder. Demorou um pouco para perceber que, se não respondesse, ela também pararia de falar.

“Um salão…? É um que eu conheço?”

“Erm, a loja de roupas da Madame Rose…”

“Ahh… receio que minha irmã incomode você demais. Você pode dizer a ela que prefere não ir se não quiser. Caso contrário, ela não entende.”

“N-não é isso. Eu apenas…”

“Então, estou aliviado, mas temo que, se vocês duas se aproximarem demais, serei deixado de fora.”

Quando ele falou de maneira brincalhona, um pouco de cor apareceu em suas bochechas e seus olhos azuis ganharam um pouco de brilho. Foi bom de ver.

Às vezes, ele se perguntava como seria se a pessoa em frente a ele fosse outra e não ela, mas sempre que isso acontecia, ele rapidamente apagava o fogo e fechava a porta da nostalgia.

Ludovika era agora a esposa do imperador.

Sua esposa era Heide. Não Ludovika.

“Quando você herdar o título do pai, prometa-me que me deixará casar com quem eu quiser.”

Sua irmã Elisabeth disse isso no dia do casamento de Albrecht. E ele prometeu que o faria.

Ele pensava nisso como a melhor coisa que poderia fazer por sua irmã, que cresceu sob a pressão de se tornar a esposa do imperador.

No final, ele não conseguiu cumprir sua promessa.

Antes de herdar o título de seu pai—ou seja, pouco antes de ganhar poder suficiente para manter a promessa de sua irmã—, a Imperatriz Ludovika deixou este mundo.

Isso foi alguns meses após um parto difícil com seu primeiro filho, Theobald, e menos de três anos após se casar com Maximilian. Uma primavera cruel.

“Albie… cuide de… Theo por mim… eu sei que você pode protegê-lo… por favor,” ela sussurrou para ele enquanto a vida deixava seus olhos vagos.

Antes da morte, aqueles olhos com tom de limão que capturaram seu coração, estavam devastados e desolados, mas também estranhamente bonitos.

Albrecht teve que usar toda a sua força para não cair de joelhos e chorar ali mesmo.

Ele teve que se impedir de se agarrar a ela e dizer que ela não podia partir assim e o que todos os outros fariam se ela partisse assim. Ele conseguiu sorrir.

Johannes segurou seu desespero de maneira semelhante.

Depois que os dois amigos se despediram dela da mesma maneira, ela morreu nos braços do marido, sorrindo mais tranquilamente.

Ao contrário de seus dois amigos, Maximilian não conseguiu esconder sua tristeza.

Na tarde da morte de Ludovika, ele se agarrou ao corpo da falecida imperatriz e chorou. As pessoas tiveram que tirar suas mãos dela.

Maximilian correu para fora do palácio e não voltou nem mesmo quando a noite caiu.

Foi Albrecht quem finalmente encontrou o imperador.

Ele encontrou o jovem imperador deitado nas margens do Lago dos Alpes, onde ele e Ludovika haviam se casado.

O céu escuro estava pontilhado de miríades de estrelas, como lágrimas congeladas.

“O ar está frio, Sua Majestade. A floresta é perigosa a esta hora.”

Maximilian permaneceu quieto.

“Por favor, desista de pensamentos idiotas como seguir os passos dela. Sua Majestade não está em posição de fazer isso.”

Maximilian, que estava olhando para o céu com os olhos desfocados, se sentou e olhou para ele.

Seus olhos dourados, brilhando sombriamente na escuridão, pareciam expressar desgosto.

“Tenho a sensação… de que tudo isso foi de acordo com o seu plano.”

“Sua Majestade…?”

“Sua arroganta casa fez isso, não fez? Se Ludy morrer, você pode empurrar sua irmã para mim. Eu não sabia que lobos eram tão habilidosos em assassinato.”

Demorou um pouco para Albrecht entender completamente suas palavras.

Ele… assassinar ela…? Cooperar em sua morte? Ele… deixar ela partir assim?

Depois de um breve silêncio, Albrecht desceu de seu cavalo e socou seu velho amigo e senhor.

Maximilian revidou.

Os dois amigos brigaram por um longo tempo sob o céu estrelado nas belas margens do Lago dos Alpes e choraram até se exaurirem.

1. MANO[↩]