Epílogo 3 – Crise de Natal (1)

“Caramba, está ficando realmente difícil ouvir sua voz por aí. Você é um cavaleiro! Quanto tempo vai continuar irritado?”

Que grandes avanços este mundo viu. Agora podíamos falar com outras pessoas através de montanhas ou oceanos como se estivessem bem na nossa frente. Era o auge da era da exploração.

Elias estava segurando o precioso “dispositivo de mensagens” que só era produzido em Nueva e falando com grande arrogância, como se a pessoa com quem estava falando estivesse ao seu lado.

Claro, a pessoa do outro lado não estava realmente tão longe, nem do outro lado de uma montanha ou de um oceano. Na verdade, estavam bem próximos, vivendo na mesma capital imperial.

O motivo de Elias estar usando o dispositivo de mensagens tão cedo era que ele recentemente havia recebido uma ordem de restrição.

Esta foi a quinta vez apenas neste inverno. Era basicamente um aviso para não aparecer na toca do lobo.

“Preciso ver você em breve. Qual horário funciona para você? Assim que…”

— Você está brincando comigo?

Em contraste com a voz animada de Elias, a voz que vinha do dispositivo de mensagens estava cheia de sonolência e irritação. Elias falou com ainda mais animação.

“Oh, você se chama de duque lobo, mas estava relaxando confortavelmente até essa hora? De qualquer forma, acorde. Preciso falar sério com você sobre algo. Não é como se eu quisesse falar com você, mas a vida nos dá angústias inevitáveis às vezes, então não tenho escolha a não ser—”

— O que você fez desta vez?

“Q-quem você está tratando como uma criança, seu merdinha lobo?! Não é nada disso!”

— Então qual é a dessa besteira logo de manhã?

“Você acha que estou entrando em contato porque adoro ouvir sua voz odiosa?! Eu só, ahem, preciso ver você hoje… então é melhor aparecer em algum momento, tá?! Ou então vou invadir sua casa, mesmo que isso signifique transformar seus cavaleiros idiotas em porcos-espinhos! Maldição, uma ordem de restrição? Você é quem roubou nossa mãe de nós, e ainda por cima, tão descaradamente, você…”

— Ei.

Ao ouvir o tom recém-profundo e perturbador na voz do outro, Elias parou.

“O-o quê? Você tem algum problema?!”

Por um momento, nenhum som saiu do dispositivo de mensagens.

Os lábios de Elias se contraíam enquanto ele esperava nervosamente. Após um breve silêncio, ele ouviu uma voz lânguida e irritante.

— Sua mãe está deitada ao meu lado agora.

E com isso, a luz no dispositivo de mensagens enfraqueceu e ficou cinza escuro.

O salão do primeiro andar da propriedade de Neuschwanstein—este lugar luxuoso e antigo—tornou-se uma terra de silêncio.

Até…

“A-aquele idiota lobo desgraçado!!!!! Ughhhhh!”

Sem surpresa, os trabalhadores, que estavam esfregando os olhos enquanto se preparavam para o trabalho do dia, assim como os cavaleiros, se assustaram com o grande som reverberante do grito de Elias tão cedo pela manhã.

O leão ruivo de Neuschwanstein continuou a lamentar, incapaz de conter sua raiva e tristeza, até cair em silêncio quando seu irmão mais velho chegou e lhe deu um tapa.

As coisas estavam realmente muito estranhas.

Ultimamente, Leon von Neuschwanstein—o único cérebro da Casa Neuschwanstein e um jovem que atualmente se estabelecia como o detetive da casa—vinha ficando cada vez mais desconfiado, especialmente sobre seu irmão mais velho Elias.

Certamente, Elias sempre se comportou de maneira pouco usual desde jovem. Não era surpreendente a essa altura. No entanto, Elias vinha agindo de maneira particularmente bizarra, mesmo levando isso em consideração.

Leon às vezes encontrava Elias sentado quieto e perdido em pensamentos, o que não era nada típico dele. Outras vezes, ele de repente agarrava a cabeça e gritava: ‘Não, isso não!’, talvez por causa de algo que estava imaginando. Além disso, ele vinha recusando todas as atividades sociais, como seus amados bailes e banquetes, para se esconder em casa.

Leon expressou preocupação sobre Elias para Jeremy, mas este simplesmente esperava que ele ficasse assim para sempre.

Leon secretamente desejava isso também, mas como um prodígio detetive, ele não se sentia à vontade fechando o caso tão cedo.

Assim, ele tentou se aproximar do irmão, que passava o dia de maneira incomumente tranquila, para agir como um terapeuta. Esse era o seu objetivo, afinal.

“Elias, você tem tomado pílulas ultimamente? Por que está tão quieto?”

“Cai fora, baixinho!”

“É por causa da ordem de restrição do duque? Quero dizer, por que você teve que ficar estupidamente ciumento do nosso irmão mais novo que ainda nem nasceu? Você é realmente o mais infantil entre nós…”

Leon se viu fugindo da torrente de socos.

Ele se recusou a responder quando lhe perguntou o que estava acontecendo, e quando se ofereceu para ser um ouvinte atento aos seus problemas, respondeu com violência. Leon estava ponderando se era hora de visitar sua querida mãe quando chegaram notícias bem-vindas de Safávida.

Sua irmã gêmea—agora a rainha de Safávida e também a única outra inteligente entre os irmãos—estava avisando que viria passar o Natal com eles e ficar com a mãe grávida.

“Leon! Meu gêmeo! Como você está tão igual?”

“E como você mudou completamente? Ah, devo te chamar de Sua Alteza?”

“Não faça isso. Não é seu estilo. Phew, faz tanto tempo que não volto, mas nada mudou. É por isso que todos anseiam ver seus parentes? Oh, está frio. Não sentia tanto frio há muito tempo.”

Rachel não estava significativamente diferente de como Leon se lembrava da última vez enquanto expressava seus sentimentos de imediato. Bom, ela parecia ter crescido um pouco, e estava usando roupas e acessórios de Safávida. Seu cabelo loiro cacheado era o mesmo de sempre, assim como o dele, além de seus olhos esmeralda, agudos e brilhantes.

“Pensei que você viesse em um evento simples. Qual é a dessas dançarinas?”

“Saiba que estas não são dançarinas. São minhas guardas. Todas as guardas da rainha são mulheres em Safávida.”

É mesmo?

Leon e os cavaleiros, que nunca tinham encontrado guerreiras antes, ficaram boquiabertos com as guardas femininas de Safávida, com sua pele cobre profundo, vestes finas que mostravam os braços e espadas estrangeiras.

Rachel deu um tapa na parte de trás da cabeça de Leon.

“Você está começando a ficar igual ao Elias?”

“Ugh! Não é isso, tá?! Só é fascinante…”

“Há quanto tempo, Srta. Rachel. Oh querida, quero dizer, Sua Alteza. Você se tornou irreconhecivelmente bonita.”

“Oh, você ainda está aqui, Roberto?! Eu trouxe um presente, imaginando se você estaria…”

Depois que Rachel cumprimentou calorosamente todos os trabalhadores que conhecia desde criança, Leon a puxou de lado e procurou uma oportunidade para desabafar suas preocupações com ela. Mais precisamente, para verbalizar suas suspeitas como o detetive da casa.

“De qualquer forma, Jeremy e Elias parecem estar fora. Devo ir ver a mamãe primeiro. Você virá comigo, não virá?”

“Claro, mas espera, você viu a resposta que eu te enviei?”

“Resposta? Ah, certo. Aquilo. O que é isso? Elias se meteu em encrenca de novo?”

“Receio… que seja o caso. Tenho um mau pressentimento sobre isso.”

Felizmente, nem Jeremy nem Elias estavam por perto. Os gêmeos deram as mãos e se sentaram nos degraus do quintal, olhando para o jardim. Eles pareciam os mesmos de quando eram jovens, exceto pelo tamanho maior.

Rachel foi a primeira a falar. Ela olhou nostalgicamente para a casa de vidro onde as flores estavam em plena floração. Ela falou baixinho.

“É estranho estar de volta depois de tanto tempo. Parece que nunca fui embora.”

“Ainda não consigo acreditar que você se foi, na verdade. Que você e a mamãe não estão em casa.”

“Você está saindo com alguém? E Jeremy?”

“Eu… não sei ainda. Acho que Jeremy encontrou alguém, mas ele não me conta nada, então não tenho certeza.”

“Ooh, o idiota finalmente começou a namorar? Quem será?”

Leon não respondeu. Ele já tinha um pressentimento do que estava por vir.

“Elias ainda está namorando aquela garota?”

“Parece que sim, mas esse não é o problema agora.”

“Qual é o problema agora?”

Leon nem sabia como responder. Ele cruzou os braços e deixou claro com o rosto que era um assunto muito sério.

Em resposta, o rosto de Rachel assumiu uma expressão igualmente solene.

“O que? O que aquele idiota fez agora?”

“Eu também não sei, mas o comportamento dele me faz pensar que ele fez algo grande. Está claro que ele está sofrendo sozinho porque sabe que haverá uma crise se os outros descobrirem. Estou particularmente preocupado por causa do estado atual da mamãe.”

“O que Jeremy disse?”

“Ele não parece muito preocupado. Você sabe como ele é simples. Nós somos os únicos cérebros entre os irmãos, como você sabe…”

“Isso é verdade.”

Os gêmeos balançaram a cabeça. Então, com um brilho sério nos olhos, começaram a se concentrar em seus papéis como os cérebros da família.

“Um problema como este precisa ser resolvido o mais rápido possível. Quem sabe como isso acabará chegando aos ouvidos da mamãe?”

“Mm, você tem razão. Mas… como resolver isso?”

“Primeiro, precisamos encontrar aquele idiota e interrogá-lo! Você sabe onde Elias está agora, Leon?”

Se Rachel fosse atrás dele para começar a questioná-lo, até mesmo aquele boi ruivo acabaria cedendo. Segurando um sorriso irônico, Leon acenou com a cabeça, mas também balançou a cabeça negativamente.

“Provavelmente… foi se encontrar com aquela garota.”

Apesar das deduções de Leon, Elias não estava indo ver Ohera. Ele não estava se encontrando com ninguém.

Com o Natal se aproximando, a rua que atendia aos nobres estava toda decorada para as festividades. Havia um bar nessa rua chamado Bar Dorne.

O segundo filho de Neuschwanstein estava passando o início da noite bebendo álcool perto da janela, onde a luz do sol entrava melhor.

Surpreendentemente, o álcool era fraco e ele não estava bebendo de forma imprudente.

Ele descansava o queixo na mão, as mangas da camisa arregaçadas até os cotovelos, observando o pôr do sol pela janela. Agonia e tristeza estranhas pareciam arder em seus olhos. Ele formava uma bela imagem.

Não poderia haver melhor imagem para retratar um jovem lorde romântico e lamentável suportando a dor de seu primeiro amor—desde que mantivesse a boca fechada, claro.

O Sr. Dorne, o dono do bar, que estava acostumado a atender jovens nobres, rezava para que ele continuasse assim. No entanto, não demorou muito para que seus desejos desesperados fossem destruídos.