Epílogo 3 – Crise de Natal (3)

“Dizem que é melhor tirar o chifre do boi o quanto antes, mesmo que doa. Faz isso enquanto o Jeremy está de bom humor.”

“Ah, você pode me soltar? É muito fácil para você falar, já que não é você quem está na linha de frente…”

“Não é melhor fazer isso agora do que quando ele estiver irritado? Só termina logo—”

“Pra onde vocês foram sozinhos? Não comeram, né? Eu estava pensando em comer na casa da Shuri, já que a Rachel está aqui.”

Com essa sugestão despreocupada do Jeremy, Elias quase mordeu a própria língua sem querer. Por que ele não pensou nisso antes?

“Eu não vou. Lembra? Tenho uma ordem de restrição.”

Apesar de nunca ter seguido as ordens de restrição, Elias usou isso como desculpa, sorrindo sem jeito. Obviamente, ele parecia patético.

Leon e Rachel trocaram olhares perplexos. Jeremy ficou irritado.

“Do que diabos você está falando? Desde quando você se importa em seguir essas ordens?”

“De qualquer forma, acho melhor eu não ir, então…”

“A Shuri vai ficar desapontada se você não for. E nossa pequena rainha está aqui. Por que está tentando escapar agora? O que você está planejando fazer sozinho?”

“Ah… por que o que eu faço é da sua conta?”

“O quê? Ei, por que você está levantando a voz para mim de repente? Vem aqui.”

A atmosfera acolhedora desapareceu. Vendo como a cena se tornou tensa de repente, Rachel rapidamente agarrou o braço de Jeremy.

Urgentemente, ela gritou: “Não fique bravo, Jeremy! Elias está assim por causa do próprio conflito interno!”

“O quê? Ei, me solta. Se ele está passando por algo, tudo bem. Por que ele tem que…”

“A namorada dele está grávida! E ele está assim porque não sabe como te contar!”

Arfa.

Tosse.

A voz de Rachel saiu mais alta do que ela pretendia. Leon e Elias, bem como os guardas sempre de vigia do lado de fora da porta e os trabalhadores por perto, todos fizeram a mesma expressão exata, um coro de queixos caindo.

Enquanto um silêncio perigoso, gelado de choque e medo, passava, Jeremy parecia não ter realmente compreendido o que tinha acabado de ouvir.

Seus olhos, do mesmo verde esmeralda que os de seus irmãos mais novos, piscavam de confusão.

“O quê?”

“A Ohera… ela está grávida. E é por isso que Elias está sofrendo. Ele não sabe como contar para você e para a mãe… agh!” Rachel gritou.

Houve um ruído agudo.

Uma xícara de chá na mesa voou pelo ar e se espatifou contra a parede.

Elias mal evitou a colisão. Como esperado, ele começou a fugir. Não foi exatamente uma escolha sábia.

“Eliaaaaas!”

“Aaaagh! Se acalma! Só se acalma, seu louco! Eu não esperava que isso acontecesse també—”

“Essa é a sua desculpa?! Eu sabia que você causaria um acidente um dia!”

“Se você sabia, deveria ter me parado mais c—Agh! Quer dizer, não foi de propósito!”

“Você quer que eu acredite nessa besteira agora?! Eu te conheço! Você acha que eu não sei que você derramou a água e agora está fingindo para conseguir permissão?! Seu lunático! A vergonha da nossa casa!”

“Dessa vez, não foi de propósito! Eu também estou ficando louco! Aaaaaaaah! Agh!”

Sem se preocupar com o que ele dizia, Jeremy agrediu Elias. Enquanto isso, o segundo lutava para escapar e verbalizava sua indignação.

Esse comportamento vergonhoso dos dois irmãos, que poderiam ser chamados de símbolos da Casa Neuschwanstein, durou cerca de trinta minutos.

Se os gêmeos, que eram os únicos dessa família com um lado intelectual, não tivessem trazido eles de volta à realidade de uma maneira impactante, eles provavelmente teriam continuado o dia e a noite inteira.

“Chega, vocês dois!” Rachel gritou. “Isso não vai resolver nada a essa altura! Precisamos ir comer com a mamãe!”

“Sim, a mãe vai perceber que algo está errado entre vocês dois. Precisamos discutir como vamos dar a notícia.”

Jeremy pareceu despertar então. Ele parou no meio de tentar arrancar as pernas de Elias e virou os olhos flamejantes para os gêmeos.

Um rosnado assustador subiu por sua garganta.

“Foi isso que vocês planejaram antes de virem aqui?”

“Bem, em resumo, sim.”

“Droga. Eu estava me perguntando por que vocês estavam juntos tão pacificamente pela primeira vez.”

Jeremy soltou Elias mais facilmente do que o esperado. Ele se jogou no sofá e envolveu a cabeça com as mãos.

Seguiu-se um curto silêncio.

Elias esfregou a cabeça machucada e foi até o irmão sorrateiramente. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Jeremy falou primeiro.

“O que você está planejando fazer?”

“C-casar… claro.”

“O que ela disse?”

“Obviamente… ela disse que quer se casar comigo. Mas fiquei com medo, achando que todos vocês seriam contra…”

“Então, o que vocês decidiram? Como vocês vão contar para a Shuri?”

Elias piscou. Ele se virou para Rachel, que foi a primeira a tocar no assunto. Rachel olhou para Leon.

Leon foi silenciosamente e se sentou em frente a Jeremy. Rachel também se sentou ao lado de Jeremy. Elias hesitou, depois se acomodou na ponta do sofá.

Jeremy olhou para seus irmãos, perplexo.

“Vocês querem planejar isso agora?” ele rosnou com desagrado.

Eles assentiram.

Um suspiro profundo de arrependimento escapou dos lábios de Jeremy. Soava quase como um gemido.

“A Shuri está passando por coisas importantes agora. Não podemos contar para ela de qualquer jeito. Especialmente você, Eli. Se você for choramingar para a Shuri que quer se casar, eu vou te matar.”

“Eu… eu não vou! Quem você acha que eu sou?! Claro que eu não quero fazer isso, por isso eu estava pensando tanto…”

“Você estava pensando? Você?”

“Isso mesmo! Obviamente, isso requer pensamento! Se aquele vira-lata decidir se opor completamente, a Shuri será a única a sofrer no meio…”

“Você sabia disso, e ainda causou essa bagunça?”

“Aaaagh! Eu disse que não foi de propósito!”

Falando estritamente, o casamento de Elias, não importa com quem fosse, era um assunto da Casa Neuschwanstein. A Casa Nürnberger não tinha autoridade para opinar sobre o assunto.

No entanto, as firmes alianças entre as duas casas tornaram as coisas muito mais complicadas, assim como o relacionamento complexo entre o duque e a duquesa e os irmãos Neuschwanstein.

Nenhum dos irmãos duvidava que a Shuri consentiria alegremente com o casamento de Elias e Ohera.

Jeremy também não tinha grandes reclamações contra o casamento deles. Ele simplesmente não esperava que eles avançassem tanto.

Se houvesse algum obstáculo na situação atual, seria apenas um.

“Jeremy, Jeremy, como você acha que o duque vai reagir?”

“Eu não… eu não sei. Às vezes, ele é mais imprevisível do que eu percebo.”

“Ainda assim, a mãe está basicamente viva por causa da Ohera, então você não acha que ele poderia ceder facilmente? O pai da Ohera é o problema. Ela não fez nada de errado.”

“Isso é verdade, mas… nem todo mundo pensa da mesma forma que nós.”

Mesmo que ela tenha decidido ser uma delatora, o estigma de ser a filha de um traidor é difícil de apagar.

Se não fosse pela proteção da Casa Neuschwanstein, liderada por Elias, ela poderia ter caído muito, muito abaixo.

Isso poderia facilmente ser visto como mais controverso do que Elias se casar com uma garota comum.

Além disso, quem arruinou a Casa Heinrich foi a Casa Nürnberger.

Mesmo que alguém esquecesse a culpa por associação, não poderia deixar de se sentir desconfortável.

Sentimentos pessoais à parte e falando objetivamente, esse era o filho de uma casa aliada se casando com a filha de uma casa traidora.

Ele é quem causou o acidente, mas sou eu quem está juntando os pedaços.

Jeremy suspirou profundamente enquanto engolia lágrimas de angústia. As dificuldades de ser o primogênito significavam fazer coisas assim.

“Por enquanto, vocês todos, não sejam óbvios. Eu vou lidar com o vira-lata.”

“Olá. Bem-vindos, gatinhos. Ah, Vossa Alteza, você chegou.”

“Minha filha!”

“Mããããe!”

A atmosfera na propriedade Nürnberger estava adorável sob a luz rosada do pôr do sol. O duque sorriu calorosamente enquanto a duquesa se inclinava contra ele e abria os braços. Ela estava tão energética que era difícil acreditar que ela estava tão perto de dar à luz.

Rachel correu para Shuri. Durante seu tocante reencontro, os homens Neuschwanstein apenas observavam com prazer tímido.

Ou pelo menos tentavam parecer assim.

Norra parecia perplexo com a falta de reação deles em vez do usual surto de raiva.

“Ei, seu animal preguiçoso.”

“O quê? O que foi?”

“O que está acontecendo? Vocês comeram algo estranho ou o quê?”

“Do que você está falando?”

Jeremy piscou inocentemente. Norra o olhou com os olhos semicerrados.

Enquanto isso, Elias e Leon se viraram descaradamente para longe de Norra e simplesmente observaram a mãe e a irmã como se seus olhos fossem pular para fora. Norra parecia ainda mais desconfiado.

“Você… teve um encontro ruim? Tsk, tsk. Coitado…”

“Não é nada disso, tá, seu vira-lata?!”

“Ah, você me assustou. Por que você tem que gritar de repente?”

“Quando eu…? Ahem, de qualquer forma, esse não é o problema, meu bom amigo. Eu tenho um assunto sério para consultar com você.”

Jeremy baixou a voz. Seus olhos adquiriram um brilho sério. A expressão de Norra passou de desinteressada a entediada.

“Qual é o problema agora? Você realmente estragou seu encontro?”

“Eu já disse que não!”

“Então o que? Ah, ei. Você tem um perseguidor?”

“Não, eu já disse que não!”

Jeremy gritou de irritação e arrancou seus cabelos dourados. Assim que viu seus irmãos mais novos e Shuri entrarem juntos, ele agarrou o braço de Norra e o arrastou em direção ao jardim.

Norra não teve tempo de reagir a essa rudeza repentina.

Eles atravessaram o jardim, verde com abetos e pinheiros, e chegaram a um banco perto de um lago congelado. Jeremy finalmente parou, se sentou no banco e esfregou o rosto. Norra continuou em pé.

“O que está acontecendo? O que está te deixando tão estranhamente tímido? Estou congelando…”

“Ah, você fala assim na frente da Shuri também?”

“Cala a boca. E eu sempre falo com grande sofisticação, vou te contar. Eu só sou assim com vocês.”

A voz de Norra começou a passar de perplexa para irritada.