Epílogo 5 – Incidente do Dia da primavera (1)

Sendo o único intelectual na Casa Neuschwanstein, Leon não se importava que seu novo emprego fosse no departamento financeiro do palácio imperial.

O problema era que eles praticavam trote, aquele costume nojento.

Depois de beber um barril inteiro de álcool, mesmo sendo um bebedor infrequente, e desmaiar, Leon von Neuschwanstein acordou com o som de pássaros cantando em um jardim ensolarado e bonito, com o capitão da guarda olhando para ele.

“Estou… em casa?”

“O que parece que estou vestindo agora?”

“Um uniforme de guarda?”

“Você já me viu usar meu uniforme em casa antes?”

Sem palavras, Leon ajustou seus óculos tortos e gemeu ao tentar se levantar. Foi em vão. Sentia como se houvesse uma pedra presa à sua cabeça. Seu estômago revirava.

Jeremy olhou desdenhosamente para seu irmão mais novo, que parecia uma barata virada de costas tentando se levantar. Eventualmente, suspirou impacientemente e ofereceu uma mão.

“Que espetáculo você está dando. Estou morrendo de vontade de saber o que nossa mãe bondosa diria se te visse agora.”

“Maldita seja… é tudo por causa do trote, tá?! Você deveria tentar beber um barril inteiro de uma vez!”

“Por que você faria isso só porque te mandaram? Droga, você é uma vergonha para nossa casa…”

“Você está falando como alguém que nunca sofreu trote antes.”

“Obviamente. Eu não ouço pessoas mais fracas que eu.”

Isso era tão razoável que Leon começou a se arrepender dos eventos da noite passada. Ugh, eu deveria ter simplesmente me livrado deles e ido embora. Por que eu fiz o que eles me mandaram?

“Q-que horas são?!”

“O sol está no ponto mais alto. Não acredito que você é o último no seu primeiro dia. Acho que somos irmãos, afinal.”

“Ohhhh, minha cabeça…. não conte ao Elias.”

“E se eu quiser?”

“Ugh, você…” Leon estava prestes a continuar gritando, “não faça isso!” mas então ele engasgou ao perceber. Jeremy não era quem tinha acabado de falar.

“O que você está fazendo aqui?” Leon perguntou a Michael.

“Vim ver meu pai, dã.”

A maneira de falar do pestinha só ficava mais e mais distorcida. Era por isso que chamavam isso de “os terríveis cinco anos”? Leon reprimiu o suspiro que estava prestes a sair de seus lábios. Ele se balançou agressivamente algumas vezes para ganhar equilíbrio.

Não era a visão mais agradável de se ver, então Jeremy voltou seu olhar para seu irmão mais novo e disse gravemente: “Michael, não aprenda com ele.”

“Mhm. Sei que não devo aprender nada com meus irmãos mais velhos.”

“O-o que você disse? Seu pestinha, quem te disse isso?!”

“A mana disse.”

Rachel disse?! Os dois irmãos leões tremeram lado a lado por um senso de traição.

Houve um farfalhar atrás do jovem lobo. Algo dividiu o arbusto e surgiu.

“O que é isso?!”

“Ugh, o que diabos? É só uma criança.”

Por instinto, Jeremy se colocou na frente de seus irmãos e desembainhou sua espada, apenas para parecer desanimado.

O que havia saído do arbusto era um menino tão pequeno quanto Michael. Ele parecia ter se perdido enquanto também estava a caminho de ver seus pais.

“Solta,” Michael gritou rudemente.

O menino se balançou de maneira semelhante a Leon e rapidamente soltou Michael.

“D-desculpa… eu quase caí…”

“Garoto, qual é o seu nome?”

“Theo…”

Theo? Que nome familiar. Jeremy deixou esse pensamento passageiro dissipar no ar e fez outra pergunta. “Não só o seu primeiro nome. Com seu sobrenome.”

Era dever do capitão da guarda devolver uma criança órfã encontrada dentro do palácio aos seus pais.

O garoto anônimo não respondeu imediatamente. Em vez disso, ele olhou para Michael com fascinação, como se nunca tivesse encontrado uma criança da sua idade antes.

Obviamente, Michael não gostava de ser encarado.

“O que está olhando?”

A criança ficou boquiaberta. “Hã? Ah, só… o que você está fazendo aqui?”

“O que você está fazendo aqui?”

“M-m meu pai me disse para esperar aqui…”

Leon segurou a cabeça dolorida com uma mão e se aproximou de seu irmão mais velho.

“Jeremy, olhe os olhos dele,” ele sussurrou.

“Eu vi.”

“Isso não te dá nenhuma ideia?”

“Os membros da família imperial não são os únicos com olhos dourados, seu rato de biblioteca.”

“Mas o cabelo dele também é prateado.”

“Como eu disse, os membros da família imperial não são os únicos com olhos dourados e cabelo prateado.”

“Sério? Eu estava me perguntando se ele era algum filho ilegítimo desconhecido de Sua Majestade…”

“Pense na idade de Sua Majestade.”

“Erm, bem, não é biologicamente impossível.”

“Não seja nojento.”

“Soa meio ruim.”

Enquanto os dois homens estremeciam de nojo, as crianças continuavam a conversar.

“Quantos anos você tem, afinal?”

“Cinco. E você?” perguntou Michael.

“Eu faço sete no domingo. Você mora aqui? Você é um príncipe?”

“Não. Só estou aqui para ver meu pai. Onde está seu pai?”

“Não sei. Ele só me disse para esperar aqui, então eu estou aqui.”

“Seu pai te disse para se esconder ali?”

“Não. Eu fiquei entediado, então fui para fora, depois me perdi…”

Por algum motivo, Jeremy se sentiu cada vez mais inquieto. Esquecendo os fatos que tinha acabado de refutar para Leon, ele interrompeu a conversa das crianças.

“Garoto, qual é o seu nome?”

Jeremy não tinha a intenção de assustá-lo, mas ele era tão grande e sua voz era tão profunda e séria que o menino piscou de medo, com olhos como ouro líquido. O cabelo que caía sobre sua testa era prateado brilhante. Ele era jovem, mas suas características gerais lembravam alguém que Jeremy conhecia.

Será que ele era… de Sua Majestade…?! Jeremy se esforçou para afastar as imagens nojentas de sua cabeça. Ele ficou sério.

“Como você entrou aqui?”

O garoto não respondeu.

“Por que não está falando? Eu perguntei. Como você entrou aqui?”

Michael deve ter percebido o tom de sua voz. “Jeremy, o que está errado?” Seus olhos azuis estavam arregalados.

Em vez de responder, Jeremy se ajoelhou e se colocou totalmente entre os dois meninos. Ele ainda não entendia a situação, mas estava na defensiva por enquanto.

“Qual é o nome do seu pai?”

Silêncio.

“Ei, por que você não responde?”

“Jeremy, acho que ele está com medo de você. É por isso que ele não está falando. Garoto, onde está sua mãe?”

Leon, que tinha a maior semelhança com um lado sensato entre seus irmãos, falou gentilmente. O menino finalmente falou depois de alguma hesitação.

“… tenho uma.”

“O quê?”

“Não tenho uma. Uma mãe.”

Leon e Jeremy trocaram olhares.

“Ele não tem mãe…”

“Eu não sabia, e eu…”

Os irmãos abaixaram a cabeça, tomados pela vergonha. Michael os observava sem entender.

“Onde está seu pai?” ele perguntou.

“Pai não está aqui agora.”

“Eu pensei que você disse que ele te disse para esperar aqui. Quando você chegou aqui?”

“Na noite passada.”

“Sério? Onde você estava antes?”

“Kisalov.”

Michael inclinou a cabeça, confuso. “Kisa… Leon, onde fica isso?”

Nem Leon nem Jeremy conseguiram responder.

Não era que eles não soubessem. Eles foram simplesmente tomados pelo choque súbito e pelo medo provocado pela menção de Kisalov.

“Jeremy, Kisalov não é…?”

“Não diga isso…” Jeremy rosnou como se não quisesse nem ouvir as palavras.

Leon insistiu de qualquer maneira. “Nueva…”

“Eu disse para não.”

“Esse… garoto… por acaso… é… o filho do ex-príncipe herdeiro…”

Oh Deus, por que aquele cara sempre foi tão bom em causar problemas?! Velhos hábitos nunca morrem!

Jeremy suprimiu o impulso de segurar a nuca e gritar. Ele cerrou os dentes. Ele deveria simplesmente se sentir aliviado por não ser o imperador?

“Estou tão perplexo quanto vocês… mas estou aliviado que foram vocês que o encontraram.”

“Como… deixa pra lá. Não estou interessado em saber quem foi ou qualquer coisa sobre isso. No entanto, gostaria de questionar seriamente por que ele deixou seu filho aqui no palácio imperial, Vossa Majestade.”

“Entendo suas preocupações, Sir Jeremy, mas essa criança é inegavelmente um filho ilegítimo. Um filho ilegítimo não pode se tornar parte da família imperial—”

“Essa não é minha preocupação! Isso é colocar uma criança em perigo! Desculpe-me, Vossa Majestade, mas todo o império está plenamente ciente do relacionamento entre o Príncipe Theobald, minha casa e a Casa Nürnberger. O que ele esperava ao deixar seu filho aqui? Existem muitos que estariam dispostos a machucar a criança para ganhar favor entre nós…”

“Você é mais atencioso do que eu esperava, Sir Jeremy. Você falaria assim mesmo se ele não fosse um filho ilegítimo?”

“Isso não é óbvio?”

Seguiu-se um breve silêncio. Enquanto Jeremy se esforçava para se acalmar e organizar seus pensamentos, o Imperador Maximilian suspirou suavemente.

“Theobald disse que acabou de saber sobre ele também. A mãe da criança morreu há alguns anos. Ele foi criado por uma mulher que diz ser sua tia. De qualquer forma, ele será devolvido ao pai em breve. O que você teme não acontecerá.”

“O… Príncipe Letran ainda não sabe?”

“Que bem virá ele saber sobre isso?”

Isso era verdade. Em alguns dias, o menino voltaria para Nueva para viver lá. Mais pessoas sabendo sobre isso só levaria a mais caos. Ele até se parecia um pouco com o pai.

Jeremy se sentiu deprimido ao sair da câmara de audiência.

“Eu disse que era estranho…”

“Essa é sua única reação a tudo isso?”

“O que você vai fazer?”

“O que você quer dizer? Ele vai voltar depois de alguns dias. Você está se sentindo melhor?”

“Não. Meu estômago está revirando muito.”

“Apenas vá para casa e descanse.”

A hora do almoço estava chegando. Jeremy tinha uma expressão dividida no rosto. Ao seu lado estava Leon, que estava uma bagunça. Eles estavam lado a lado em frente às escadas. Do outro lado, as duas crianças estavam calmamente jogando pedras no lago.

Uma era o filho do Duque Nürnberger. A outra era o filho ilegítimo do príncipe herdeiro. Eles eram uma dupla estranha.

“Devo me sentir aliviado por ele ser um filho ilegítimo…?”

Era uma coisa estranha de se dizer, mas também verdade. Se a criança fosse filho legítimo de Theobald, isso teria causado um grande alvoroço. O pior é que haveria ameaças muito maiores à sua vida.

“Eu disse. Vá para casa e descanse. O que está fazendo parado aí?”

“Estou apenas intrigado.”

“Você nunca viu uma criança antes?”

“Não é isso… eu só não posso acreditar que o pai daquela criança é o sujeito que ficava andando por aí com nossa mãe. Quero dizer, este é o filho de um cara que você e o duque detestam. É estranho ver Michael brincando com ele.”

Você também o odeia. Jeremy reprimiu um sorriso amargo e deu de ombros.

“Não é preciso muito para te fascinar.”

Nesse momento, o filhote de lobo jogou os seixos em suas mãos no chão e correu em direção a seus irmãos.