Epílogo 5 – Incidente do Dia da primavera (3)

“Meu Deus, o que aconteceu agora?”

Antes que Leon pudesse pensar em algo para dizer, Kai se soltou do seu abraço e correu até sua mãe. Ele começou a chorar tão intensamente quanto Leah.

“Uwahhh, Mamãe!”

“Meu Deus, Kai, por que você está chorando? O que aconteceu?”

“E-ele me bateu! Uwahh!”

“O quê?”

Leon estava prestes a esconder o menino de cabelo prateado atrás dele. Leah cambaleou até Shuri, chorando. Ela a pegou e a consolou. Se não fosse pelo olhar de Shuri pedindo uma explicação, ele certamente teria feito isso.

“B-bem, o que aconteceu foi…”

“Quem é essa criança, Lady Nürnberger?”

A condessa parecia estar no seu limite.

Shuri respondeu sem hesitação. “Ele é filho de um parente. Seu pai está atualmente—”

“Desculpa.”

Por que Theo estava prestes a chorar agora? Leon recolheu seus braços silenciosamente enquanto começava a se levantar. Então ele viu Theo, de cabeça baixa e em lágrimas. Era lamentável a maneira como seus pequenos ombros tremiam.

“Desculpa. Eu não deveria ter…”

“Por que você é o único pedindo desculpas? Mamãe, Kai disse coisas ruins para meu amigo primeiro! Ele ficou perguntando sobre os pais dele e chamou ele de filho ilegítimo porque a mãe dele não está por perto!”

A amizade deles tinha apenas algumas horas de duração, mas Michael já estava mostrando grande lealdade. Leon ficou emocionado.

No entanto, as mães não pareciam tão comovidas.

“Ilegítimo… Kai, você realmente disse isso?”

“Uwaaah…! Eu não sei!”

“Você…! Quem te ensinou uma palavra tão ruim?! Foi seu pai?! Aquele homem não tem vergonha, eu realmente—!”

“Aaaaaah!”

Ahhh, a mão amarga da mãe. Orações silenciosas pelo conde sem vergonha.

Leon fez o sinal da cruz ao ver Kai provar a palma afiada de sua mãe depois de perder seu amigo para um menino desconhecido.

Enquanto isso, Leah havia parado de chorar. Ela estava brincando com o cabelo de Shuri.

Michael jogou sua espada de brinquedo sobre o ombro e foi até Shuri com um olhar confiante no rosto. Ele puxou a saia de Shuri.

Ela se abaixou para beijar a testa do filho e colocou Leah em seus braços. Michael a pegou com facilidade. Então, ele foi e se sentou na frente de Anabella e os três começaram a desenhar juntos.

“Lady Hartenstein, acho que já chega…”

“Ufa, eu não sei o que dizer, minha senhora.”

“Nada mesmo. De qualquer forma, ele não deveria ter batido nele. Não é verdade, Theo?”

Shuri sorriu com grande bondade e colocou o braço em volta dos ombros de Theo. Ele olhou para Shuri com os olhos úmidos, depois assentiu rapidamente.

“Eu-eu sinto muito por ter te batido.”

Kai não respondeu. Ele certamente não estava em condições de fazê-lo. Sua bunda devia estar queimando. Ele estava instável em pé.

“Meu Deus, acho que devemos ir agora. Desculpe-me, minha senhora.”

“As coisas acontecem quando as crianças brincam. Por favor, voltem novamente. Adeus, Kai.”

“Adeusinho…”

Ohhhh, que anjo nossa mãe era quando penso nisso! Ela nunca nos bateu!

Sentindo-se subitamente tomado por suas emoções, Leon foi se aproximar de sua mãe anjo.

Shuri se virou para olhar para o rosto dele e piscou de confusão.

“Por que você está chorando agora?”

“Eu-eu não estou.”

“Meu filho foi para casa com quem?!”

Jeremy achou que percebeu alguma ênfase nas palavras “meu filho”.

Seus lábios se contraíram incontrolavelmente enquanto ele respondia: “Ele pareceu gostar do p-pássaro… ahem, do filho do ex-príncipe herdeiro. Eles saíram antes que eu pudesse detê-los.”

“Você está pedindo para eu acreditar nisso agora?”

“Você sabe como Michael é teimoso. O que eu deveria fazer?”

“Bem, isso é verdade.”

O palácio imperial era lindo à luz do dia. Jeremy olhou para o jardim, onde havia encontrado seu irmão modelo estudantil desacordado naquela manhã. As flores estavam florescendo brilhantemente. Ele pressionou a mão na cabeça do cão de guarda.

O cão olhou para ele como se perguntasse por que Jeremy estava descontando suas emoções nele, quando ele estava apenas sentado lá, abanando o rabo de maneira digna. O rei dos animais fingiu não ver o olhar dele. Ele pigarreou.

“Isso também me surpreendeu. Quero dizer, quem poderia imaginar?”

“Droga… quantos anos você disse que ele tinha?”

“Ele disse que completa sete anos neste domingo.”

“Então ele teve o acidente assim que foi levado para Nueva.”

“Exatamente. Aquele cara é tão… tsk, tsk. Tal pai, tal filho.”

“Mas foi Michael quem disse que queria levá-lo para casa?”

“Sim. Ele disse que queria almoçar juntos. Deve ter gostado dele.”

“Sério…? Interessante.”

Norra reconheceu que Michael era uma criança difícil. Bem, era menos que ele fosse difícil e mais que ele tinha uma parede difícil de penetrar. Era surpreendente saber que ele se deu tão bem com uma criança que tinha acabado de conhecer.

“Não acho que a mãe dele fosse da nobreza. Ela provavelmente…”

“Sim. Eu posso imaginar. Você ficaria chocado ao saber quantos filhos ilegítimos meio-imperiais existem em Nueva e Haspa.”

“Eu-eu não quero saber. Droga, ele deveria estar se concentrando no trabalho. Ainda assim, o garoto parece doce. Ele não parece ser distorcido…”

“Hmm, uma disposição doce é uma das características básicas da linhagem Mismarck,” Norra murmurou de uma forma que era difícil dizer se estava brincando ou não. Ele se abaixou para se sentar e começou a acariciar o cão de guarda.

“Jeremy hesitou e perguntou: “Você não está levando isso mal, está?”

“O quê?”

“Sobre o Michael fazer amizade com aquele garoto. Ele vai embora em alguns dias de qualquer maneira…”

“Ele vai ficar um pouco triste, mas quem pode evitar? Quanto mais ele ficar aqui, ele verá muita coisa que não deveria.”

Isso não era o que Jeremy queria dizer com sua pergunta, mas também era verdade.

Jeremy pensou consigo mesmo que Norra sempre parecia perder o ponto. Ele franziu a testa.

“Eu não sei o que o cabeça de passarinho estava pensando quando deixou seu filho aqui.”

“Provavelmente estava tentando dar a ele status.”

“O quê?”

“Ele é um filho ilegítimo. Se ele quer que seu filho seja reconhecido, a primeira coisa que precisa fazer é enviá-lo ao palácio imperial. Ele pode não ser aceito como membro da família imperial, mas se Sua Majestade decidir lhe dar algum tipo de título, então ele será pelo menos tratado decentemente e encontrará uma maneira de se sustentar.”

“Você realmente acha que esse era o plano dele? Você acha que o cabeça de passarinho tem esse tipo de lado…?”

“Não sei. Talvez ele tenha desenvolvido algum senso de instinto paterno, ou talvez ele queira garantir uma carta para jogar mais tarde.”

Jeremy não acreditava nisso, mas se viu desesperadamente esperando que fosse o primeiro caso.

Norra leu a expressão em seu rosto e sorriu levemente. “As pessoas são imprevisíveis.”

“Você tem o vício de dizer coisas horríveis com tanta tranquilidade às vezes.”

“E o seu vício é querer permanecer no sol para sempre. Espero que saiba que meu vício só piora enquanto tento protegê-lo com o seu vício, seu gato tolo.”

“T-tolo…? Ei, você sabe o quão inteligente eu sou?!”

“Você é observador e não é burro, mas odeia enfrentar problemas complicados de frente. Leon é melhor nisso.”

“Eu sou um cavaleiro… não um detetive.”

“Eu não sou um cavaleiro?”

Jeremy sentiu que estava perdendo terreno. Ele mudou de assunto astutamente.

“A propósito, encontrei Leon, que é melhor do que eu, parado lá esta manhã.”

“Não pode ser…?”

“Sim. Ele deve ter participado de um trote muito mal.”

“Tsk, tsk. A vergonha da família leão.”

“De fato. Um aluno exemplar não pode ser assim…”

Os dois amigos zombaram juntos do intelectual excessivamente obediente. Então, de repente, ficaram sérios.

“Vou sair do trabalho mais cedo hoje, capitão.”

“O quê? Já? Por quê?”

“Temos um convidado desconhecido em casa. É meu dever como chefe da casa voltar para casa cedo.”

“Convidado? Ele é só uma criança…”

“Estou apenas preocupado que Shuri fique desagradada. Anna está lá também, e você disse que Leon também está lá?”

“Erm, você sabe que Leon tem vinte e três anos?”

“E você tem vinte e sete. Quanto o Eli…”

“Você está nos tratando da mesma forma que crianças agora?!”

“Se prefere não ser, então apresse-se e case logo.”

Com essa lógica, Elias era um exemplo bastante estranho, dado que ele era alguém que já era casado, mas Jeremy não apontou isso.

Ele simplesmente corou e gaguejou: “E-eu vou, tá?! Vai ser em breve…”

“Em breve, em breve. Estou cansado dessa palavra. Quanto tempo vai demorar? Estou intrigado que você ainda não tenha sido dispensado. Ou é porque vocês dois simplesmente não gostam tanto um do outro?”

“N-nós gostamos, tá? Não, nós amamos um ao outro! Você sabe…”

“Então por que você continua vagando?”

A mente de Jeremy ficava vazia toda vez que ouvia esse tipo de pergunta.

Ele mordeu o lábio e depois olhou fixamente para o rosto entediado do amigo.

“Você não sabe como me sinto.”

“Estamos jogando vinte perguntas de novo?”

“Não, isso não é sério…!”

“Ugh, então o que é? Qual é o problema então? Por que você tem tantos problemas psicológicos, cara?!”

“P-problemas psicológicos? Do que você está falando?! Eu tenho o corpo e a mente mais saudáveis, tá?!”

“Tanto faz. Eu desisto.”

Norra estalou a língua impacientemente e se afastou.

O cão de guarda tentou seguir os passos do duque como se compreendesse que eram da mesma espécie, mas Jeremy o impediu.

“Eu estou com medo!” ele gritou com grande fervor.

Que tipo de comentário estranho era esse agora? Norra olhou de volta para Jeremy, espantado. Ele encontrou os ombros largos do amigo caídos com uma expressão lamentável no rosto.

“Eu nem sabia que você podia sentir medo.”

“… edo.”

“O quê? Eu não consigo te ouvir.”

“Estou com medo… de acabar como nossos pais.”

Seguiu-se um breve silêncio. Norra olhou friamente para Jeremy. Jeremy levantou a mão e pressionou os olhos.

“Não é que eu seja burro o suficiente para ainda ter ideias como essas. Isso não é o que me preocupa… eu só… o mesmo sangue corre nas minhas veias.”

Norra ficou em silêncio.

“E se eu machucar ela sem querer? E se eu machucar meus filhos…?”

Os sentimentos que ele tinha na juventude eram memórias distantes e desbotadas agora. Esse não era o problema. Ele não estava nem mesmo incerto sobre como se sentia.

Talvez fosse simplesmente porque ele tinha visto muitos maus exemplos antes dele, incluindo seu próprio pai. Ou talvez fosse porque ele era um perfeccionista.

Jeremy não conseguia se imaginar criando uma família — com Diane ou qualquer outra pessoa.

Até mesmo pessoas que pareciam perfeitas aos seus olhos cometeram erros terríveis. Quem pode dizer que ele também não mudaria? Ele tentava ser fiel aos seus sentimentos presentes, mas não podia deixar de ser atacado por esses medos de vez em quando.

Talvez fosse melhor ficar solteiro pelo resto da vida. Jeremy estava preso nesses pensamentos deprimentes quando Norra finalmente falou depois de olhar para ele por um tempo.

“Uau, e eu pensei que você não tinha pensamentos nessa sua cabeça…”

“Ei!!!”

“Sobre o que vocês estão brigando agora?”