Epílogo 6 – A Expedição do Anel e a Noiva de Ouro (7)

“Como alguém pode se parecer tanto comigo, mesmo que estivesse apenas fingindo ser eu?” perguntou Jeremy. “O dono da oficina olhou para mim com uma confiança absoluta. Ele me fez sentir péssimo com aquele olhar triste. Não há como ele estar enganado. Não existe outra pessoa na capital imperial que se pareça comigo.”

“Talvez estivessem fingindo ser um cavaleiro. Francamente, não é raro encontrar ladrões que se passam por nobres. Além disso, era noite. Qualquer um com altura e cabelo semelhantes pareceria igual.”

Apesar da demonstração de amizade de Norra, tentando convencer Jeremy com lágrimas nos olhos, Jeremy balançou a cabeça. Elias entrou na conversa.

“Jeremy, mesmo que fosse realmente você, não estaria em seu estado normal. O que quero dizer é…”

“Estar bêbado não é desculpa.”

“Bom, acho que isso é verdade, mas eu nem acredito que você fez isso!”

“Não, e-ele disse que eu fiz! Ele disse que fiz aquelas coisas horríveis… disse que eu vim com alguns outros imbecis e atormentei aquelas pessoas pobres, levando seus filhos…!”

Terríveis lágrimas encheram seus olhos verdes, brilhando com desespero e medo. Elias e Norra simplesmente olharam para ele, sem esperança.

No momento seguinte, Jeremy agarrou o braço de Norra. O movimento foi tão desesperado que Norra não conseguiu recuar.

“No final, eu me tornei igual ao meu pai.”

“Ei… você…”

“Talvez seja algo bom. Pelo menos agora eu sei. Não mereço me casar com Diane. É melhor eu ficar solteiro e morrer assim.”

“O que você está falando agora? Que diabo está dizendo, Jeremy? O que o pai tem a ver com isso? O que há de errado com o pai?” Elias perguntou, confuso.

Ele não recebeu resposta. Norra mal conseguiu se controlar para não dar um tapa no rosto choroso de Jeremy.

Calmamente, disse: “Você pode se recompor? Nada foi comprovado ainda. Vai continuar se afundando assim? Eu te conheço. Nós te conhecemos. Por que está dizendo isso?”

“Mas talvez eu realmente tenha feito! Mesmo que eu diga com certeza que nunca fiz nada assim, e todos acreditem, e se eu realmente fiz? E se eu tiver genes horríveis que nunca soube? E se tudo veio à tona enquanto eu estava bêbado…”

“Ficar bêbado não te transforma em uma pessoa completamente diferente. Entendeu? Nós três podemos ter agido como imbecis ontem, mas foi no jeito imbecil que podemos ser. O Jeremy que eu conheço, o filho da minha esposa, não é alguém que faria algo assim.”

Norra falou com uma estranha certeza. Jeremy finalmente parecia voltar ao normal, um pouco.

“V-você realmente acha isso?”

“Estou dizendo. Não importa o que você faça, deve tentar provar sua inocência. Se começar a se afundar, como se estivesse esperando que alguém te acusasse, apenas abandone tudo. Como chefe da casa a que Diane pertence, não posso deixar Diane ir para um fraco como você.”

Nesse momento…

“Sua graça, seu terceiro filho está aqui para vê-lo”, reportou o mordomo em voz baixa, em meio a toda essa confusão.

Norra ficou com o rosto azedo. “Meu terceiro o quê?”

“Sua graça, se eu pudesse tomar um pouco do seu tempo… o que? O que todos vocês estão fazendo aqui?”

Leon entrou atrás de Eucrates e ficou surpreso ao ver seus dois irmãos mais velhos. Seu comportamento era tão desnecessariamente diferente que, normalmente, resultaria em zombarias e gozações. No entanto, nem Elias nem Jeremy tinham energia para se importar.

Jeremy nem olhou na direção de Leon enquanto permanecia estirado, sem vida.

“Eu não sei. Eu não sei mais…”

“Jeremy, se recomponha,” disse Elias. “O que estava dizendo sobre o pai?”

Leon parecia mais cansado e desleixado do que o normal enquanto observava seus irmãos, que demonstravam uma seriedade atípica.

Ele não podia se comparar ao trio que passou o dia inteiro procurando um anel, sem estar completamente recuperado das ressacas, mas ele definitivamente parecia diferente do habitual.

“Bem-vindo. O que houve com sua aparência? Dormiu fora?”

“Desculpe? Ah, o clube de debates durou um pouco mais…”

“Esses malditos debates acontecem seja dia de festival ou não, hein? Onde perdeu seus óculos?”

“Ah, a armação quebrou. Preciso de um novo par…” Leon gaguejou e desviou o olhar de forma lamentável.

Não é à toa que parecia diferente. Ele não estava usando seus óculos.

Talvez por isso, parecia quase exatamente como seu irmão mais velho. Norra ignorou Jeremy—que segurava seu braço com força—e começou a encarar Leon mais abertamente.

Houve um curto silêncio. Parecia estranhamente significativo. Leon coçou o cabelo loiro bagunçado de forma constrangida e falou relutantemente.

“Erm, você deve estar ocupado. Acho que deveria voltar outra hora.”

“Por que? Não tinha algo para falar comigo?”

“Sim, mas… não é grande coisa. Vou te dizer outra hora.”

“Leon.”

“Sim?”

“Venha mais perto.”

A perplexidade se espalhou pelo rosto cansado de Leon. Elias, que continuava repreendendo Jeremy, pareceu finalmente notar que algo estava acontecendo. Ele olhou de um lado para o outro, entre Norra e Leon.

“P-por que de repente…?”

“Ei. Ei. Me solte por um segundo.”

Norra sacudiu a mão de Jeremy e caminhou até Leon. Sua postura era tão dura que Leon não pôde deixar de se afastar.

“E-eu não fiz nada de errado…!”

“O que está acontecendo agora? Qual o problema com nosso irmão mais novo? O que ele fez?!”

Apesar da demonstração comovente de Elias como irmão mais velho, ele não teve tempo para se emocionar. Sem perguntar se estava tudo bem, Norra agarrou abruptamente o braço esquerdo de Leon. Seria em vão para Leon tentar retirá-lo.

“Espere, Duque, isso…”

“Fique quieto.”

Ele puxou a manga até o fim. Nesse ponto, Leon pareceu desistir. Norra olhou atentamente para o bíceps de Leon. Elias reclamou de frustração.

“Ugh, o que? O que houve? Qual o problema? O aluno exemplar se meteu em alguma encrenca?”

“… não.”

“O que então…?”

“Jeremy, acho que você pode parar de se afundar. Está claro que não foi você ontem à noite.”

A declaração de Norra foi clara e direta. Jeremy, que estava olhando para o nada com os olhos sem vida, lentamente olhou para cima.

“O que você quer dizer…?”

Norra finalmente soltou o braço de Leon. Ele recuou com admiração e sorriu.

“Ha. Maldito. Quem diria que aquelas reuniões de detetives eram na verdade para a streife?”

“O quê?!”

Bam. Tum.

Elias pulou e imediatamente perdeu o equilíbrio. Como resultado, ele caiu no chão. Ele se levantou e correu, ofegante.

“O que isso significa?! Quem é parte da streife?! Esse baixinho idiota?! De jeito nenhum!”

“Estou admirado com o amor fraternal constantemente conflitante de vocês, mas o sinal está bem aqui.”

O sinal a que ele se referia era uma pequena tatuagem gravada no interior do cotovelo de Leon. Uma águia com três pares de asas, como um serafim. Era o símbolo da streife, a polícia secreta da família imperial.

Ninguém negaria que se alguém encontrasse Leon sem óculos e vestido com o uniforme elegante da streife à noite, seria difícil dizer se ele era Leon ou Jeremy. Os olhos de Elias tremiam violentamente.

“N-não pode ser! Achei que apenas cavaleiros pudessem entrar na streife ou streike ou como quer que se chamem!”

“As regras mudaram no ano passado.”

“Por quê? Por que fariam uma mudança tão estúpida?! A tradição é da maior importância…”

“Talvez porque a eficácia deles não fosse tão boa apenas com espadachins? Embora me dissessem que os gêmeos eram os únicos cérebros entre vocês, agora eu entendo.”

Leon ficou ali, sem jeito. Norra continuou expressando admirações enquanto bagunçava o cabelo de Leon. Enquanto isso, Jeremy se levantou e caminhou cambaleando. Ele era a imagem da confusão.

“O que ele está dizendo? Leon, isso é verdade? Sério?”

“Uh, bem. Sim, acho que é verdade.”

“Se é verdade, é verdade. Por que acha que é verdade? É por isso que você tem ficado fora à noite com tanta frequência?”

“Sim, mas…”

“Uau, isso é incrível, seu pequeno canalha. E eu aqui me perguntando se você estava namorando! Por que não nos contou sobre isso todo esse tempo?”

“Bem…”

Leon olhou ao redor, inquieto. Ele não parecia orgulhoso, mas sim morrendo de vergonha.

Ele suspirou e continuou com relutancia. “Eu não estava realmente tentando manter isso em segredo. Mas ainda não faz tanto tempo desde que entrei, e eu queria contar a vocês depois de fazer alguma conquista digna de ser mostrada.”

“Digna de ser mostrada? Por que você precisa sequer de…”

“Porque sejamos honestos. Jeremy é tão famoso que seu nome já é motivo de orgulho. Elias… bem, Elias sempre foi pródigo por natureza, mas mesmo ele agora tem uma família. E Rachel é uma rainha. Enquanto isso, eu não fiz nenhuma conquista digna nem na minha idade avançada. Não sou habilidoso ou único de qualquer forma. Eu não queria ficar falando de algo tão insignificante como isso. Seria vergonhoso. Eu preciso realizar algo corretamente para poder encarar a mãe e também as crianças…”

Jeremy, Norra e até Elias, que estavam fortemente negando a realidade, ficaram emocionados com os pensamentos profundos e louváveis de Leon. Claro, isso durou apenas um momento.

“Mas o que você fez ontem à noite? Você estava na oficina, não estava? Ouvi dizer que você destruiu o sustento deles e arrastou algumas crianças.”

“Isso mesmo! O que diabos aconteceu ontem à noite?! Por sua causa, fui acusado injustamente, humilhado e desesperado…”

“Irmãos, isso… hem, é um segredo nacional.”

Houve um curto silêncio. Jeremy, que estava apenas olhando para Leon, começou a sorrir e estalar os dedos audivelmente.

Leon rapidamente acrescentou: “Isso envolve a rede de inteligência de Haspa. Não me perguntem mais.”

“Isso é ridículo. Você está dizendo que aquelas crianças eram espiões? Eu vi com meus próprios olhos o desespero no olhar do dono da oficina…”

“Crianças? Eles estavam na casa dos 18 anos. E sobre a oficina… ainda não é certo, então apenas os mantivemos sob vigilância, mas cuidaremos de tudo por conta própria, então não se preocupem com isso.”

“Oh? Ouça como ele fala. Aqui eu pensei que ele era apenas um aluno exemplar, mas ele realmente faz trabalho de campo, não é?”