Capítulo 1 — Um filho da p*ta gigante!
O sol se escondia nas folhagens densas das enormes árvores que residiam na Selva de Concreto. Levando apenas uma mochila, uma camiseta branca de manga longa com uma calça marrom cheia de bolsos, uma bússola e uma garrafa de água pela metade, Huan Shen experimentava pela primeira vez em muito tempo como era estar fora do território do Palácio Congelado.
“Puta merda, parece que estou no inferno! Não lembrava que as terras do Santo Império poderiam ser tão quentes!”
Com um pano no rosto, o emissário sabia que não poderia ficar andando por muito tempo em um lugar como a Selva de Concreto. Nem a trilha que conectava a região de Santa Marília, seu próximo destino, era considerada segura sem os equipamentos especializados para evitar a detecção dos espíritos malignos e dos monstros noturnos.
“Será que estou muito longe? Seria uma merda se eu perdesse o rastro dos desgraçados hoje, aquela pista era a única que eu tinha.”
Havia um motivo para nenhum país querer reivindicar aquela selva para si. Era tão grande e confusa que a criação de uma trilha era considerada um milagre. Além disso, oito em cada dez equipes de exploração enviadas para lá, acabavam desaparecendo misteriosamente. Mesmo assim, muita gente preferia atravessá-la a contorná-la, o que poderia resultar em uma economia de até três dias de viagem.
“Será que tem água pura por aqui?”
Huan Shen perseguia um rastro de um pequeno grupo de bandidos liderados por uma mulher de cabelos vermelhos. Obviamente, havia muitas mulheres de cabelos vermelhos, porém apenas uma andava rodeada de homens com fichas criminais extensas.
Graças à boa vontade e uma promessa de surra, alguns informantes disseram que eles sempre passavam por dentro da Selva de Concreto em seus trajetos. Era uma aposta arriscada, mas ao mesmo tempo bem aceitável. O custo-benefício era bom, caso tivesse o equipamento apropriado. Mesmo assim, estar dentro da área densa da selva, era pedir para ser estripado e engolido vivo pelos monstros que a habitam.
Com o seu facão, Huan Shen abria caminho através daquele lugar abandonado pelos deuses e reclamado pelos demônios. Quando finalmente se cansou, se recostou numa árvore para recuperar o fôlego. Do bolso externo da sua mochila, ele tirou um pequeno caderninho surrado e cheio de rasuras.
“Só para relembrar…um dos barões de Vila Crux solicitou o resgate da sua neta que foi sequestrada por bandidos que carregam a marca de uma palma preta nas costas da mão. Ele acrescentou que era imprescindível que todos os envolvidos fossem mortos. A líder do grupo é uma criminosa conhecida como Hinoka, a Escarlate. Uma assassina que deserdou do clã Shirokage. Acompanhando-a, um pequeno grupo de saqueadores. Tirando ela, o resto do grupo não aparenta ser capaz de competir com minhas habilidades. E toda essa informação com certeza não é um texto expositivo para mostrar a falta de habilidade do autor.”
Huan Shen já tinha matado muita gente. Muito mais do que alguém da sua idade deveria ter feito, mas a vida tinha dessas com os seus escolhidos. O que realmente chamava sua atenção era como todos eles tinham aquela marca nas costas da mão. Por algum motivo, ele tinha a sensação de que deram um enfoque muito grande nessa parte.
“Porra, é verdade! Tenho que garantir que a garota esteja segura!”
Folheando seu caderno, ele viu um rascunho com a qualidade de um desenho feito por uma criança de oito anos de idade. Era para ser algo similar com o rosto de uma garota. Do lado, havia algumas informações escritas.
“Lilian Michar, dezesseis anos, cabelos e olhos castanhos-claro, saúde frágil. Desaparecida enquanto andava com suas amigas em Magna Crux. Outros moradores na área também relataram o desaparecimento de pessoas correlatadas. Isso tá cada vez mais estranho…”
Antes que concluísse sua leitura, escutou um som familiar. Passos descontraídos, acompanhados de conversas fiadas. Mantendo o silêncio, Huan Shen se levantou e retirou uma faca de combate da bainha em sua cintura. Percebendo que o barulho estava ficando maior, ele tomou impulso e escalou a árvore onde estava. Como a folhagem era escura e frondosa, não foi difícil se camuflar lá dentro.
“Finalmente, tenho o terreno alto.”
Daquela altura, ele teve um panorama melhor da região. Embora houvesse apenas árvores retorcidas, riachos misteriosos e lugares mal iluminados por todo o lugar, ao noroeste da sua posição, tinha um grande acampamento habitado a duzentos metros dali. E era da mesma posição onde tinha escutado as vozes.
“Será que são eles quem estou procurando?”
Embora não conseguisse ver com nitidez o que tinha dentro daquele acampamento, ele conseguia ver várias pessoas armadas com bestas, lanças e facas nas proximidades daquele lugar. Todos eram homens, com feições brutas e marcas de cicatrizes espalhadas pelo corpo. Alguns estavam posicionados em cima das árvores, enquanto uns residiam em guarda na entrada do acampamento e outros patrulhavam.
“Eles não têm cara de serem caçadores, membros da polícia imperial ou qualquer outra coisa além dos meus alvos. Mas que tipo de equipamento são esses que eles estão usando? Não tem uma pistola, nem uma espingarda ali no meio. Será que estão tentando manter o disfarce? Vou ter que fazer contato.”
Retirando um pente da sua mochila, o emissário ajeitou o próprio cabelo e pegou uma bolsinha de couro em formato de raposa. Dentro dela, havia cinco diamantes cristalinos e lapidados. Porém, havia algo peculiar neles: todos emitiam um vapor frígido, como se tivessem acabado de sair das profundezas dos lagos na região do Palácio Congelado.
“Quem olha, até pensa que são verdadeiros.”
Com um bastão em mãos e a faca na cintura, Huan Shen seguiu a trilha e andou na direção do acampamento. Ajeitando sua postura, ele sabia que teria que fazer uma batida de campo antes de entrar em combate, mas ainda pensava na melhor forma de fazer isso. Não podia dizer que era um deles, seria facilmente descoberto. Também não poderia se passar como negociador, pois seu porte físico não passava nenhuma ideia de uma pessoa especialista nisso.
“Bom, há uma alternativa arriscada. Só vou precisar ser bastante convincente.”
Conforme seguia seu caminho, não demorou para perceber os “olhos” nas árvores apontando para si. Três homens com bestas tradicionais carregadas o encaravam de forma soturna, bastante tensos. No final do caminho, o portão do acampamento residia intacto e fechado, protegido por dois homens grandes armados com lanças. Foi quando percebeu que atrás de si, dois homens, tão armados quanto, o acompanhavam a uma certa distância.
Havia algo bem peculiar no disfarce que eles utilizavam. Havia rastros de algo tão pesado quanto um animal no chão, além de pelagens penduradas no muro de toras debaixo do sol. Aqueles homens estavam usando casacos de couro, boinas para o sol, calças camufladas e até mesmo ombreiras. Qualquer pessoa que os olhasse sem ter noção do que eles realmente eram, os confundiriam com caçadores experientes.
“Esse nível de coordenação no disfarce não é algo que qualquer gangue da periferia pensaria em fazer. E eles ainda estão usando luvas de couro, escondendo sua tatuagem de assinatura. Que porra é essa?”
No instante que os homens o avistaram, demonstraram um pouco de confusão. Eles seguraram a lança mais intensamente, pensando se deveriam atacar ou evitar a confusão. Embora fossem saqueadores e traficantes, matar pessoas descabidamente poderia trazer muito mais prejuízo do que lucro.
Um dos homens deu um passo à frente, tentando demonstrar um misto de autoridade com uma boa recepção.
— Bom dia, amigo! Isso aqui é área privada. Aconselho que dê meia-volta para evitar se machucar.
Era uma imagem estranha, pois o saqueador que era comumente visto como alguém grande, estava se deparando com alguém em seus plenos um metro e noventa e possivelmente noventa quilos de musculatura. Para Huan Shen, era visível que apenas sua presença causava tensão em todos ali ao redor.
— Bom dia — respondeu ele, com uma expressão séria. — Eu sou do Conselho Fiscalizador Ambiental do Santo Império. Não carrego comigo uma identificação apropriada, pois deixei com meus colegas de trabalho, mas tenho certeza de que você conhece o Setor Sete do Escritório Administrativo de Bela Vista. Meu escritório fica no terceiro andar do Prédio Administrativo Imperial, com o número de registro 559683791.
“Eu acabei de tirar tudo isso do meu rabo.”
As informações eram tão confusas e com tantos nomes grandes e no meio que o homem não conseguiu perceber coisas básicas, como o fato de Bela Vista ficar a cerca de dez dias de viagem em termos de distância ou o fato de que eles não estavam dentro do território imperial para terem jurisdição. Obviamente, o emissário não o deixaria chegar a essa conclusão.
— Calma, o objetivo da minha visita é mais algo preventivo. O conselho está realizando um censo de pessoas que vivem à base de caça e verificando o tipo de equipamento que estão usando, como os métodos também. A mera participação no censo concede recompensas aos participantes.
Sabiamente, ele pegou sua bolsinha e mostrou os diamantes guardados, que brilhavam tanto quanto os olhos daqueles homens ao observar aquilo.
“É como diz o ditado: ‘A ganância é uma mulher ingrata, que te beija e te mata.’ Espera, é ganância ou confiança? Nunca me lembro qual é a versão correta.”
— É só um censo, em menos de cinco minutos vocês estarão mais ricos e eu pegarei a estrada — disse Huan Shen, despretensiosamente.
“Eles não podem me matar imediatamente, já que não podem provar que eu não sou um funcionário do Santo Império. Se alguém desse tipo morrer assassinado, uma investigação com os Inquisidores será aberta. Duvido por tudo que é mais sagrado que esses caras queiram arranjar briga com os Inquisidores.”
Três dos saqueadores se reuniram entre si para discutir as possibilidades. Eles já tinham planos de se mandar dali pela manhã, então irem um pouco mais ricos, não faria diferença. Além disso, era apenas um homem contra um pouco mais de uma dezena deles que estava ali. Depois do censo, era só pegar os diamantes e mandá-lo embora. Mesmo que ele tivesse um corpo daquele tamanho, não tinha arma nenhuma.
— Bom, se você é realmente um oficial do Santo Império, tudo bem então. Siga o mano ali que ele vai te levar até a nossa líder. Ela deve ter as informações que você precisa. Por segurança, vamos ficar com sua faca.
“Isso não vai tornar as suas situações menos difíceis.”
— Não costumo fazer isso, mas como vocês parecem ser gente boa, vou fazer essa cortesia — respondeu, entregando sua faca.
Acompanhado, Huan Shen adentrou o acampamento. A estrutura do lugar era uma área circular cercada por um muro de toras verticais devidamente posicionadas e fincadas no solo. A cada quinta tora, havia uma pequena lâmpada amarela presa no tronco, todas ligadas por um fio de prata.
“Emissores dissuasivos? É por isso que os monstros não devem atacar esse lugar, a luz amarela na frequência certa cria uma repulsa em certos tipos de criaturas. Mas como eles têm acesso a isso? Isso é equipamento de nível militar, não é algo que se acha por aí.”
Dentro do acampamento, havia uma fogueira apagada com vários sacos de dormir próximos. Ali perto, vários saqueadores que conversavam entre si pararam de falar ao ver a figura nova entrando no ambiente. Suas expressões eram confusas e um tanto hostis, provavelmente por não terem noção da identidade dita pelo homem que acabara de entrar.
No lado esquerdo, tinha uma tenda larga com vários caixotes dentro. Huan Shen pensou em perguntar o que era, mas provavelmente diriam que se tratava apenas de peles e que não era de sua jurisdição investigar aquilo. Mas o que chamava atenção mesmo era a enorme barraca no meio do acampamento. Era grande o suficiente para seis pessoas habitarem tranquilamente a parte interna. Atrás da barraca, havia o que parecia ser uma carroça coberta.
“Aquilo parece importante.”
Os homens guiaram Huan Shen até a entrada da barraca no centro do acampamento. Ao entrar, o cheiro forte de couro curtido e madeira antiga emanava de todo o canto. No canto da barraca, vários baús pequenos empilhados e trancados. Uma lamparina estava amarrada no topo, iluminando toda a área uniformemente. No centro, uma mesa de madeira com uma enorme pele curtida residia como toalha. Em cima dela, vários papeis empilhados, junto com uma caneta pela metade do lado e uma vela.
“Isso aqui parece bastante com uma associação de caçadores. Será que eu não me enganei mesmo?”
Em cima da mesa, uma foice de aço otimizada para o combate residia presa na madeira. Na parte do cabo, uma vasta corrente negra a conectava com uma esfera metálica densa e pequena.
“Uma kusarigama. Ela realmente aprendeu bem com os Shirokage. Eles devem estar bem putos com alguém assim trazendo desonra para a família deles.”
A mulher do outro lado da mesa o olhava assertivamente, como se estivesse extraindo todas as informações possíveis antes que algo acontecesse. Então, um dos saqueadores resolveu quebrar o silêncio.
— Senhorita, esse homem se denomina um oficial do império do setor ambiental e ele gostaria de ver nossos…produtos.
“Não foi bem isso que eu disse, mas tenho certeza de que ele sabe disso.”
— Ah, então você trabalha pro império? E o que te trás a essa humilde associação de caçadores? — disse ela, cravando seus olhos nele.
“Então essa é a mulher que disseram para eu tomar cuidado.”
A voz assertiva e barítona, a moça tinha longos cabelos vermelhos que paravam na altura dos seios. Um casaco de couro com vários bolsos para adagas de arremesso, shurikens e venenos. Sua camiseta branca sem mangas estava manchada de suor, o que não era surpreendente naquele clima quente. Seus braços torneados e com diversas cicatrizes contrastavam com seu rosto de porcelana. Quem a visse em outras circunstâncias e em outras roupas, poderia facilmente confundi-la com uma dama da alta nobreza.
“Bom, dizem que quem vê cara, não vê coração, né?”
Ao lado dela, havia uma garota serviçal. Cabelos e olhos negros, feições similares a da mulher de cabelos ruivos. Ela tinha um olhar curioso, mas modesto ao mesmo tempo, como se não quisesse ser vista no meio daquelas pessoas. Seu corpo era frágil, mas mesmo em um grupo daqueles ela não parecia ter nenhum tipo de ferimento.
— Sim! Já informei minhas credenciais ao seu colega. Em resumo, estou aqui para fazer uma vistoria de segurança nos seus equipamentos. Como isso é uma iniciativa com uma visão social colaborativa, estamos recompensando as associações que estão ligadas.
Huan Shen entregou a bolsinha com os diamantes para Hinoka, que assim como todo saqueador, demonstrou sua ganância imediata com tamanha fortuna. Um pequeno sorriso surgiu no seu rosto, acompanhada da expressão incrédula da garota atrás dela.
— Finalmente o Santo Império está reconhecendo nosso trabalho, hein? Me diga, onde estão seus colegas?
“Hora de fisgar o peixe.”
— Eles estão uns três quilômetros para o leste, próximo à trilha principal. Espero poder sair daqui em cinco minutos, antes que fique mais escuro. Você deve saber bem o quão perigoso esse lugar é à noite — respondeu ele.
— Claro, claro. Por favor, me acompanhe! Eu quero te mostrar nossa mais recente empreitada. Devo dizer que foi bem lucrativa, por sinal — disse Hinoka, com um sorriso no rosto.
A mulher se levantou, dispensando a garota do seu lado. Embora ela atingisse a altura do seu peitoral, seus olhos castanhos denotavam uma sagacidade perigosa. Hinoka fez um gesto para o saqueador atrás do emissário, que se retirou da barraca.
— Interessante a sua escolha da Kusarigama para a caça. Por que não algo mais tradicional?
Hinoka olhou para a sua arma sobre a mesa.
— Tem um valor sentimental para mim. Além disso, é ótima para caçar criaturas grandes — respondeu ela, o encarando. — A corrente para sufocar, a fundo para esmagar seus ossos e a kama para cortar os tendões e a garganta.
“Nossa! Como estamos violentos hoje!”
O emissário apenas concordou com a cabeça e seguiu a mulher. Quando saíram da barraca, ele imediatamente notou uma movimentação estranha. Os homens que antes estavam relaxados, apesar de aparentarem estar no mesmo lugar, todos demonstravam um certo tipo de tensão. Suas mãos estavam mais firmes nas suas lanças, outros até mesmo fingiam andar casualmente para evitar confusão.
“Esse nível de organização não se encontra em qualquer lugar…eu tô realmente indo atrás de um grupo aleatório de traficantes?”
Os dois caminharam tranquilamente até estarem em frente a carroça coberta que ele viu mais cedo. Apesar de ser enigmático para o emissário, era perceptível a presença de sons ali dentro. Alguma coisa estava se mexendo entre correntes, mas a sensação de que não se tratava de um animal era enorme.
— O que vocês possuem aqui para manter no escuro? — perguntou Huan Shen, de braços cruzados.
Porém, nenhuma resposta veio do outro lado. Quando ele se virou, percebeu o que esperava: os saqueadores estavam todos ali, encarando-o enquanto se divertiam com a sua aparente confusão. Hinoka colocou as mãos na cintura, olhando-o com uma pura expressão de desprezo.
— Funcionário administrativo do Santo Império uma ova! Esses calos na sua mão não se formaram usando uma caneta. Você também está muito casual para um Imperial. E o setor ambiental? Fora das fronteiras? Não esperava realmente que alguém acreditasse nisso, né? Quem é você e o que está fazendo aqui?
Permanecendo em silêncio, o emissário deu um passo na direção da lona cobrindo a carroça e a puxou de uma só vez. Todos os saqueadores deram um passo para trás, impressionados. Quando a cobriram, foram necessárias três pessoas para cobri-la corretamente.
Finalmente descoberta, a enorme carroça guardava quatro pessoas acorrentadas e em más condições. Havia três mulheres, duas adultas e uma no final da adolescência. Havia um homem também, que parecia estar bastante desnutrido. Era possível sentir o fedor vindo de pessoas que deveriam estar sem cuidados básicos de higiene por cerca de uma semana. Eles mal conseguiam reagir, permaneciam ali parados, em um estado de semiconsciência constante.
— Gostou do que viu? — perguntou Hinoka, zombando. — São seus novos companheiros de viagem. Me pergunto o quanto pagariam por você. Quer dizer, você é um filho da puta gigante, com certeza deve conseguir alguma coisa se rastejar bastante.
Todos os saqueadores riram, vendo o quão simples tinha sido sacanear aquele homem. Aparentemente, ele só tinha tamanho e não inteligência.
— Vou te dar uma última oportunidade: quem é você e quem te mandou aqui? — perguntou ela.
O emissário estava em completo silêncio, observando aquelas grades. Ele não era uma pessoa que era considerada relativamente boa com as palavras, então em vez de responder, tirou aqueles segundos para refletir. Ele nem tinha pisado o pé no território imperial e já se arrependia profundamente de ter que lidar com a natureza maligna humana na forma mais nua e crua.
— Não vai responder? Que seja! — ela olhou para seu lado esquerdo. — Vocês três, vão lá e quebrem os joelhos dele. Quem sabe sentindo dor, ele não queira abrir a boca?
Huan Shen respirou fundo. O ar que saiu dos seus pulmões estava um pouco mais frio do que o normal. Então, ele se virou em direção onde os saqueadores estavam. Os que estavam indo quebrar sua perna, acabaram parando onde estavam.
— O acampamento que vocês utilizam é muito bem estruturado. E a estrutura circular parece bem útil para economizar espaço. É uma pena que será essencialmente por isso que vocês vão morrer — respondeu o emissário.
Hinoka ergueu uma sobrancelha. O que ele estava dizendo parecia algo absurdo, mas dentro de si, havia uma pontada de dúvida, a mesma que a deixava bastante temerosa em relação com aquelas palavras.
— O medo deve ter te deixado maluco, cara! Apenas fale tudo que queremos saber e aceite sua nova vida como propriedade de algum ricaço em um desses países estranhos por aí! — disse Hinoka.
— Isso é uma questão de termodinâmica. O ar frio tende a descer e o ar quente a subir. Como é ar, ele tende a se espalhar e se dispersar. Porém, como esse lugar é fechado por todos os lados, demoraria um pouco mais para ele se dispersar. E como neblina densa é ar frio, então essa área inteira ficaria “submersa” em um véu branco.
Hinoka deu um passo para frente e cerrou os punhos.
— É mesmo? Que pena que não tem neblina aqui agora para salvar o seu rabo, não é?
— É só usar uma granada de dissuasão à frio. Iguais aquelas que dei para você em formato de diamante.
A autoconfiança se transformou em desespero em questão de segundos. Com pressa, a mulher retirou os cristais do seu bolso em seu casaco para se livrar deles, mas já era tarde demais. Uma sensação morbidamente congelante atingiu sua mão, enquanto os diamantes se rachavam continuamente.
— Gostou do que viu? — perguntou Huan Shen, com um tom óbvio de ironia. — Porque não verá muita coisa a partir de agora!
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