Capítulo 100 — O filho da p*ta gigante dá o seu jeito.
Ren revisou as flechas em sua aljava, enquanto lamentava ter gastado uma das suas flechas de C-4. Embora a ideia de explodir o ônibus inteiro tivesse sido ideia sua, já era um costume se arrepender das suas ações após tê-las realizado. Um dos seus subordinados sugeriu que o plano fosse apenas entrar no veículo, matar todos os detentos e incendiar o que sobrasse.
Era um plano simples, porém rápido e funcional. E isso não era o espetáculo que Ren adorava.
— Como caralhos vamos justificar o que aconteceu aqui? — perguntou um dos subordinados, assistindo as chamas consumirem o que restou veículo.
— Sei lá. Briga de gangues? Cobrança de dívida? Acidente de trânsito? — respondeu Ren.
— Acidente de trânsito? O carro simplesmente explodiu de dentro pra fora e é isso aí?
— Olha, o que importa é que tá feito, né? Duvido que o Santo Império chegue tão longe na investigação. Além disso, é impossível isso ser rastreado até nós.
— Ouvi dizer que eles possuem adivinhos para esse tipo de coisa.
— É, mas eles usam isso para coisas mais importantes. No final das contas, mesmo sendo um investigador imperial, tem centenas deles. Certamente isso vai ficar enterrado na burocracia do pessoal da capital.
— Se você tá dizendo…
— Agora chega de papo! Investiguem tudo para termos a prova da morte. Não queremos nenhuma surpresa desagradável.
A equipe era formada por seis homens armados com coletes de malha de carbono, resistentes a ponto de segurar golpes de facas e até mesmo espadas, kukris embainhadas na cintura e bestas modernizadas. Todos usavam uma máscara branca com um enorme olho cobrindo toda a superfície. Era um disfarce básico, para evitar associações com a milícia de Leonard caso alguém visualizasse.
Enquanto os homens olhavam os arredores, o calor opressivo tanto das chamas, quanto do sol de meio-dia causava um desconforto a todos ali. Alguns corpos tinham sido completamente carbonizados, enquanto outros tinham pedaços de braços e pernas espalhados pelo ambiente.
Era uma cena horrenda e revelava bastante sobre como a brutalidade humana era algo detestável, mas conforme o tempo passava, um sentimento de inquietude permeava todos os milicianos. Ren aguardava pacientemente pelas boas notícias, mas elas estavam demorando para chegar. O homem olhou em seu relógio, percebeu que cinco minutos tinham se passado e nada da prova de morte.
Haviam rumores de que aquele homem tinha enfrentado seis milicianos e derrotou todos sozinho. Claro, ele poderia ter tido ajuda, ferramenta ou qualquer outro truque na manga, além de se aproveitar da escuridão noturna. Porém, ele estava amarrado e envenenado naquele ônibus. Seria impossível conseguir escapar nesse meio-tempo.
Algo estava errado.
Um dos milicianos encontrou um rastro de sangue no solo, conduzindo para fora da estrada.
— Pessoal! Acho que achei algo aqui…
Recarregando sua besta, o homem seguiu o rastro sem aguardar o resto da sua equipe se reagrupar. Possivelmente, era apenas um dos detentos que tentava se agarrar aos últimos segundos da sua vida. Talvez conseguisse uma pista na direção na qual o mesmo seguia.
O rastro seguiu até um cadáver de um homem estirado de bruços no chão. Suas costas tinham quatro ferragens profundamente encravadas em suas costas. Seus olhos arregalados e boca aberta formavam uma imagem tão horrenda que chegava a ser engraçado. O homem soltou um riso involuntário, dando um chute leve nos pés do cadáver, para ver se tinha alguma reação.
— Perdedor de merda — disse ele.
Sua confiança estava tão grande que mal percebeu quando Huan Shen se aproximou sorrateiramente por trás e saltou em suas costas, aplicando um mata-leão em seu pescoço e usando o peso do seu corpo para despencar no chão. Mesmo que estivesse envenenado e enfraquecido, sua força ainda era opressiva.
O miliciano se debateu, enquanto sentia o ar se recusar a entrar em seu corpo. Tendo pouco tempo para agir, usou os cotovelos para contra-atacar, acertando o emissário nas costelas com golpes fortes. Huan Shen resistiu quanto podia, mas cada impacto parecia uma facada. Finalmente, uma das cotoveladas acertou na região próxima ao ferimento, causando uma dor tão lancinante que o forçou a contrair o corpo, soltando o homem.
Após respirar fundo, o miliciano imediatamente sacou sua kukri para ver quem tinha feito aquilo, quanto se levantava. Para sua surpresa, era o seu alvo. Embora nunca o tivesse visto pessoalmente, ele realmente parecia tão grande quanto o descreviam. Mesmo com um buraco enorme ao lado na região do intestino, ele ainda parecia ameaçador.
— Filho da puta! Não sei como chegou tão longe, mas sua sorte acaba agora!
Com nada além da ferragem que retirou de si em mãos, Huan Shen se preparou para o primeiro ataque, que não foi nada gentil. Ele avançou com a lâmina e emendou uma série de golpes diretos e fortes, que apesar de serem telegrafáveis, estavam sendo realizados por uma arma bem-feita contra um pedaço de metal danificado. A cada choque, a ferragem torcia e perdia um pedaço.
— Você até que bloqueia bem, bastardo! — disse ele, confiante.
— Imagina se eu tivesse uma arma de verdade?
Com a outra mão, o miliciano sacou sua besta na cintura e disparou contra Huan Shen, que inclinou o corpo o suficiente para fazer a seta passar rente a sua orelha. Usando seu pé, o emissário chutou as folhas secas misturadas com a areia na direção do atacante, que foi forçado a cobrir os olhos e recuar para não comprometer a visão.
Vendo que seu oponente não seria um alvo fácil, ele optou por recuar na direção dos seus aliados. Era melhor garantir o abate do que dar sorte para o azar. O miliciano correu na direção da estrada, alcançando o apito em seu colar para chamar a atenção de todos. O tempo era curto e não compensava erros. Seu peito encheu de ar e quando estava prestes a soprar o instrumento com toda força.
Até algo pontudo perfurar seu pulmão, fazendo-o perder a concentração e dar de cara com a árvore na sua frente, caindo no chão. Sua testa doía e tinha um talho aberto nela, escorrendo sangue por todo o seu rosto. Suas mãos tatearam o corpo em desespero, tentando alcançar o seu apito, que tinha caído do seu pescoço e tinha parado alguns metros na frente.
Desesperado, o homem se arrastou em direção ao instrumento, vendo que o perigo estava chegando na esquina. Suas mãos cravaram na terra, empurrando seus oitenta quilos em frente com toda força possível. Quando finalmente estendeu suas mãos, algo agarrou suas pernas e o arrastou de volta para trás. Tentou gritar, mas seu pulmão perfurado não o deixou.
A última coisa que viu foi aquele homem gigante em cima dele descer uma pedra de dez quilos com toda a força em seu rosto, esmagando completamente seu lobo frontal e metade do seu crânio.
“Miserável do caralho! Aquilo doeu pra cacete!”
Com as mãos ensanguentadas, Huan Shen sentou no chão enquanto a dor no abdômen o devorava vivo. Ao conferir, percebeu que tinha perdido menos sangue do que esperava. Talvez pela natureza hostil do Sangue Herético, ele coagulou rapidamente e impediu a situação de ficar catastrófica. Porém, ainda precisava ser fechado ou senão ele voltaria a sangrar rapidamente.
Revistando o corpo do miliciano, encontrou duas Pílulas de Primeiros Socorros, a kukri largada no chão e uma pequena aljava com as setas usadas para disparar com a besta. Aquelas pílulas tinham um funcionamento instantâneo e poderiam acelerar bastante o selamento da hemorragia em seu tórax.
Ele as olhou mais uma vez, com um profundo senso de arrependimento, sabendo que não iriam funcionar. O Sangue Herético não permitiria que funcionasse.
Se quisesse sair vivo dali, teria que derrotar todos seus inimigos com um buraco aberto em seu abdômen.
Edit: Pessoal, muito obrigado por ter acompanhado até aqui. 100 capítulos é algo que eu nunca imaginei na minha vida atingir. Espero que de onde quer que a Tany esteja vendo isso, ela sinta um pingo de orgulho do seu mais humilde pupilo.
Mais 100 capítulos estão por vir!
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