Índice de Capítulo

    Sua mão direita arrancou o fino robe branco que estava em seu corpo, deixando-a completamente revelada. A luz do sol em suas costas causou um brilho intenso, forçando os milicianos a cobrirem a visão. Ayda respirou fundo, embrulhou o tecido em mãos e saltou na direção dos oponentes.

    Em pleno ar, seu corpo canalizou a mana divina em suas veias, chegando até a ponta dos seus dedos.

    Chama Divina: Fumaça da Purificação!

    O tecido em sua mão foi envolto em chamas esbranquiçadas e cintilantes. Então, a guardiã ergueu seu braço e arremessou o robe em direção ao chão, pousando logo depois. Ao atingir o solo, as chamas se espalharam pelas folhas secas e as carbonizou rapidamente. Em menos de um segundo, toda a área estava repleta por uma névoa cheirosa densa que cintilava como um céu estrelado.

    — Que merda está acontecendo? — gritou o segundo, desesperado.

    — Recuar! Isso não vale a nossa vida!

    Porém, não seria fácil fazer isso. A névoa não apenas tornava a visão impossível, mas seus sentidos também estavam incertos. O cheiro era entorpecente e tudo que conseguiam escutar era um zumbido agudo.

    O primeiro miliciano passou a mão em seu coldre, tentando alcançar sua pílula medicinal ou até mesmo a pílula sinistra que seu mestre o tinha dado, mas ao ver a silhueta de uma mulher se aproximando na fumaça, ele se desesperou e tropeçou no galho atrás de si, caindo no chão.

    — F-fique longe! Socorro! Aqui, me ajuda! — gritou ele, em prantos.

    Então, a palma esquerda sutil da Ayda tocou em sua mão, como se tentasse acalmá-lo. Ele ficou confuso, não percebendo que a faca em sua cintura tinha sido surrupiada. Apenas se deu conta quando a moça já tinha perfurado sua jugular e feito um buraco enorme em seu pescoço.

    — Pelo menos assim você vai morrer em paz… — murmurou Ayda.

    O segundo estava literalmente se arrastando para sair daquele lugar amaldiçoado. Parte do movimento das suas pernas estavam inertes, por conta do entorpecimento da névoa. Usando sua faca para se impulsionar, ele estava determinado a ser o único sobrevivente e sair daquele lugar vivo. Iria se demitir e viver como um marceneiro em algum interior, nunca mais iria pegar em uma arma novamente.

    Mas isso não tinha sido combinado com a Ayda, que simplesmente cravou uma longa estaca de madeira em suas costas, atravessando seu coração e o empalando de cara com o chão, finalizando assim o conto dos milicianos que foram investigar o noroeste de Santa Marília e nunca retornaram.

    — A sociedade modernizou tanto seu equipamento, mas nunca aprenderam a lutar contra um conjurador de forma apropriada. Eles realmente acreditam que vão nos superar em números — murmurou, insatisfeita.

    Retirando a estaca do peito do seu alvo, que já residia morto e com formigas adentrando sua boca, a guardiã seguiu na direção para qual a fumaça estava sendo dissipada, pois ela tinha uma característica bem peculiar de ir atrás do ser humano mais próximo fora o seu conjurador. Devido ao seu físico atlético, toda aquela ação tinha sido o equivalente a um simples exercício matinal.

    A guardiã caminhava com os pés descalços pela floresta, seguindo o fluxo sutil da névoa que rumava em direção ao norte. Seus olhos, panorâmicos, seguiam a névoa enquanto capturavam os rastros da garota perdida. Sua mão balançou a lança pelo ar, deixando-a preparada para qualquer surpresa inesperada que pudesse aparecer.

    Não demorou até ver uma silhueta familiar recostada na árvore, ofegando intensamente. Seus passos imperativos a guiaram até a jovem que segurava a mochila com tamanha intensidade, como se estivesse prestes a crava-la em seus ossos. Seus olhos, enevoados pela sua névoa mística, deram de cara com a figura da Ayda.

    Para Lily, aquela era a imagem que sempre tinha sonhado sobre as Amazonas da sua história: olhar penetrante e poderoso, alta como uma montanha, forte como uma leoa e imperativa. Claramente era influência da névoa, mas a jovem acreditava veementemente que tinha descoberto o seu amor por mulheres.

    — O que você está fazendo nessa área de Santa Marília? — perguntou Ayda.

    A jovem piscou duas vezes, como se tentasse forçar sua consciência a voltar para o mundo real.

    — V-você! Acho que era você quem eu devia encontrar…

    A guardiã franziu os olhos. Então, sua mente relembrou de onde a conhecia.

    — Eu te conheço! Não é a protegida daquele Huaxiano na região agrícola? Ele tá deixando você andar por aí sozinha?

    Lily rapidamente se levantou e colocou a mochila nas costas, como se tentasse nivelar um pouco o tamanho das duas. Porém, ela apenas descobriu que o máximo que poderia alcançar era o seu ombro. Em termos de tamanho, ela não era igual a montanha do seu mentor, mas não ficava muito atrás.

    — Então…meio que ele não teve escolha. Ele foi preso ontem.

    Ayda passou alguns segundos em silêncio. Alguém com força para lidar com uma mutação daquelas ter sido preso em um lugar que não tem nem mesmo estrutura para lidar com um usuário de magia claramente se deixou ser preso por alguma razão. Porém, aquilo não era seu problema.

    — Acontece. Mas isso não explica como você está aqui.

    — Um dia antes de ser preso, ele me orientou que se caso alguma coisa acontecesse, era para procurar a única pessoa que poderia me proteger aqui dentro. Que era para procurar por um bar no meio da estrada e perguntar por uma persa arqueira. Quando perguntei pela primeira vez, não quiseram me contar. Porém, rapidamente mudaram de opinião quando ofereci uns trocados.

    — Eu conheci aquele desgraçado por três minutos e ele já me mandou tomar conta da sua protegida? A arrogância masculina não tem limites? Lamento, garota! Eu tenho meus próprios problemas para cuidar. Não posso ser sua babá.

    — Ele também pensou que você diria isso — respondeu Lily, mexendo na mochila.

    — Se seu mentor achou que dinheiro poderia me comprar, então ele não é tão inteligente quanto aparenta…

    Lily puxou um medalhão de aço da mochila. Embora parecesse apenas uma peça de joalheria comum para a jovem, Ayda sabia muito bem o que era. Conseguia sentir a energia amaldiçoada serpenteando o objeto.

    — Eu sinto algo meio sinistro vindo desse medalhão, mas não faço ideia para que ele serve. Ele disse também que você saberia do que se trata.

    A mão da guardiã alcançou o objeto. Apenas o leve toque causou um frio em todo o seu corpo. Seu pai costumava ter um daqueles. No dia em que precisou usar, ele nunca mais sorriu como antes.

    — Isso é uma promissória, garota. Ela é como a morte: uma promessa que não pode ser quebrada.

    Ao clicar na trava lateral, o medalhão se abriu, revelando um entalhe complexo que formava a figura de uma balança. Na parte superior, tinha uma protuberância farpada. Do lado esquerdo, a balança estava pendendo para o mesmo lado, com um pequeno cristal vermelho formado por sangue.

    — Ele tem certeza disso? — perguntou Ayda, encarando o medalhão.

    Lily pareceu um pouco confusa com o que ela tinha perguntado, pois era apenas um objeto. Ao mesmo tempo, a jovem não conseguia ter muito contato visual com a guardiã devido a ausência das suas roupas.

    — C-como assim? O que isso tem demais?

    Ayda ergueu uma sobrancelha, enquanto mostrava um singelo sorriso. Para ela, Lily era só uma garota que estava dando seus primeiros passos em um mar de infinidades. Para Lily, a mulher na sua frente era um erro do universo, pois era impossível alguém ter tanta presença.

    — Esse singelo item possui uma pequena maldição. Ela é simples, mas eficaz. No instante que eu furar o meu dedo e deixar meu sangue escorrer pelo item, ele se torna minha propriedade. A partir de hoje, se eu quiser que seu mentor investigue as profundezas do oceano, vá ao limite das florestas incas ou até mesmo mate o imperador, ele terá que obedecer a uma ordem minha, sem questionamentos. Caso ele não me obedeça, a maldição da promissória irá bloquear as veias em seu coração e ele terá uma morte dolorosa.

    A garota piscou duas vezes, tentando processar detalhadamente cada uma das palavras da mulher.

    — E-eu não acho que…

    — Ele está investindo pesado em você, garota. A ponto de dar uma promissória para alguém completamente desconhecido. Pegue suas coisas, ou irei te deixar para trás se me atrasar.

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