Capítulo 2 — "Temos um Rambo em casa"
Os diamantes partiram, liberando uma enorme névoa por todo o acampamento em uma velocidade absurda. O que era antes nítido, se tornou completamente embaçado e obstruído. A névoa começou a se mover em espiral, abaixando a temperatura do lugar drasticamente. De repente, os saqueadores que estavam se preparando para atacar, não conseguiam mais ver um palmo à sua frente.
— MANTENHAM OS OLHOS ABERTOS! ELE PODE ESTAR EM QUALQUER LUGAR! — gritou um dos saqueadores, segurando firmemente em sua lança.
Hinoka rolou para dentro da sua barraca, fechando ambas as entradas. A névoa ainda não tinha se acumulado na parte interna, porém não demoraria muito antes dela entrar pelos outros orifícios da barraca.
— Merda! Minha mão! AKAE, CADÊ VOCÊ? — gritou Hinoka.
— Senhorita, o que está acontecendo? Por que está tudo coberto de névoa? — perguntou Akae, preocupada.
Com pressa, Hinoka pegou a papelada que estava sobre sua mesa e guardou dentro do baú, trancando-o bem.
— Preste atenção, Akae. Eu preciso que você fique aqui dentro enquanto eu cuido daquele cara lá fora. Não sei qual o plano dele, provavelmente é fugir e chamar reforços. Então se eu não me apressar, podemos estar encrencadas.
— M-mas não podemos apenas fugir, senhorita? Levamos o dinheiro e vamos pra algum lugar onde eles não possam nos achar!
A moça colocou as duas mãos no ombro da sua criada, encarando-a diretamente nos olhos.
— Akae, a Mão Sombria está em todo lugar. Se eles descobrirem que nós deserdamos, não haverá uma noite em que poderemos dormir em paz. Por favor, mantenha as chaves contigo e se esconda. Eu vou te achar assim que tudo isso acabar, entendeu?
Relutante, a garota balançou a cabeça. Hinoka deu um sorriso gentil e pegou a sua kusarigama sobre a mesa. Mesmo que a névoa não tenha sido dissipada, ainda era uma situação de quinze contra um. Ela só iria precisar rastreá-lo e cortá-lo em pedaços. Ela ainda tinha a vantagem do alcance, enquanto ele não possuía nenhuma arma consigo.
— Tá frio pra caralho aqui fora — murmurou Hinoka.
Olhando para todos os lados, ela se lembrou de uma área secreta dentro da barraca. Com pressa, agarrou Akae pelo braço e a levou para um pequeno espaço entre os baús. Puxando o tapete, revelou um pequeno alçapão que levava a um buraco de aproximadamente cinco metros de profundidade.
— Entre aí! Agora! Não posso correr o risco desse maníaco te capturar! — disse Hinoka.
A garota a olhou, com o corpo trêmulo.
— M-mas e você? Você vai ficar bem, irmã? — perguntou Akae, preocupada.
Hinoka deu um sorriso, colocando as mãos no ombro da sua amiga.
— Não se preocupe comigo. Ele é só um gigante burro que não vai resistir a minha velocidade. Daqui a pouco vamos nos ver, como sempre acontece.
Um pouco mais aliviada, Akae entrou no alçapão e apenas observou enquanto sua amiga cobria a entrada com o tapete, deixando a área interna completamente escura. Finalmente mais tranquila para agir, Hinoka colocou a cabeça para o lado de fora da barraca, tentando visualizar qualquer coisa que pudesse.
— As toras são altas demais para simplesmente tentar escalar e ele já deve ter percebido que está completamente farpada. Além disso, tem atiradores do lado de fora, então ele não iria longe. Será que ele está realmente tentando lutar dentro da névoa? Isso é burrice!
Havia técnicas marciais que se concentravam em lutar no escuro ou em ambiente de baixa visualização, como fumaça ou tempestades de areia. Porém ninguém cogitava em lutar em um lugar repleto de névoa gerada por uma granada de dissuasão à frio. E havia motivos bem óbvios para isso:
Era um equipamento militar feito para neutralizar chamas e multidões. O nitrogênio líquido dentro da cápsula era instantaneamente transformado em gás no instante que saía. Como a concentração era enorme, a quantidade de gás também era. Apesar de muito mais quente que sua versão líquida, para um ser humano era um frio tenebroso de cinco graus celsius.
— Eu vou te pegar, desgraçado! — murmurou Hinoka, com a foice em uma mão e o contrapeso na outra.
De repente, seus pés se esbarraram em alguma coisa. Era grande, flexível e causava uma sensação desconfortável. Ao se abaixar para ver do que se tratava, o horror atingiu sua mente: um corpo largado no chão, completamente frio e com o pescoço quebrado. Não havia marcas de conflito, indicando que ele morreu sem nem conseguir reagir.
— Merda! — Ela esbravejou.
Então, novos sons surgiram de todos os lugares. Gritos de dor, sons de ossos sendo quebrados e o barulho de uma lâmina rasgando a carne. Ela pensou em ir para direita, mas o som parecia maior na esquerda, mas ao mesmo tempo a parede parecia estar muito próxima para ter alguém ali. Era um pesadelo sem fim.
Enquanto as coisas pareciam ruins para Hinoka, Huan Shen estava no seu campo de caça. Diferente de todas aquelas pessoas, aquela névoa não afetava o seu corpo, o que permitia raciocinar e se mover plenamente. Além disso, lutar em lugares escuros era algo que ele estava acostumado.
“Já recuperei minha faca, hora de acabar com isso antes que a névoa se dissipe.”
Com passos assertivos, o emissário correu na direção de um dos guardas da fortaleza. Tudo que ele conseguiu ver foi uma enorme massa escura se aproximando em alta velocidade, antes de sentir um joelho acertando o seu peito com impacto total, quebrando a sua caixa torácica em cinco lugares diferentes. Ele caiu no chão, tentando recuperar uma pequena parte de todo o ar que seus pulmões perderam. Porém, tudo que recebeu foram duas facadas consecutivas. Uma na traqueia e outra no diafragma.
“Menos dois.”
Huan Shen rolou para a esquerda, deixando o corpo do inimigo se contorcendo enquanto perdia sangue e oxigênio. Seus movimentos em alta velocidade criavam vultos, que confundiam os inimigos que tentavam fazer qualquer coisa. Sem perder tempo, ele correu na direção do próximo alvo, que ao vê-lo se aproximar, estocou o que estava na sua frente com a lança.
— MORRA!
O que não adiantou, pois seus reflexos eram altos. Seu corpo girou rente a arma, esquivando completamente da ofensiva e ainda encurtando a distância entre os dois. O cotovelo do emissário se ergueu junto com seu movimento, acertando com tudo o rosto do guarda, que sentiu sua mandíbula se fragmentar. Ele tentou se manter de pé, mas seus joelhos cederam, deixando-o prostrado. Antes que seu corpo caísse no chão, Huan Shen o segurou pela cabeça, realizando duas facadas em extrema velocidade. Uma na jugular, outra atrás da nuca.
“Menos três.”
De repente, um som seco de disparo perfurou a névoa e passou rente ao rosto do emissário, abrindo um talho em sua bochecha.
“Caralho, isso foi perigoso!”
— ACHEI ALGUMA COISA! ATIREM DAQUELE LADO! — gritou um dos patrulheiros nas árvores.
“Merda!”
Soltando seu alvo, que estava sangrando até a morte, ele se agachou e correu até atrás de uma barraca, enquanto várias setas perseguiam seu rastro violentamente. Mesmo tendo bons reflexos, ser acertado por uma besta iria causar um ferimento grave e poderia acabar custando sua vida.
— ELE TÁ ATRÁS DA BARRACA! CERQUEM ELE!
A névoa se dissipava continuamente. Naquele ponto, ela não cobria mais todo o lugar, mas já estava na altura da cintura de um daqueles bandidos. Contando apenas com sua faca, ele se recostou na parte de trás da barraca, ficando completamente em silêncio. Vários passos se aproximavam cautelosamente da sua posição, o que o fez determinar que havia cerca de cinco deles se aproximando com lanças e adagas em mãos. Ainda tinham dois atiradores no topo das árvores dando cobertura.
“Onde está aquela mulher desgraçada?”
A cada segundo, eles cercavam cada vez mais aquele lugar. Se o cerco se fechasse, ficaria muito complicado cuidar de muitas coisas ao mesmo tempo.
“Quem hesita na hora errada, morre.”
Completamente agachado e aproveitando da névoa restante, ele engatinhou com a faca nos dentes até a perna mais próxima. Tudo que o guarda sentiu foi uma mão segurando suas pernas, seguido de dois cortes profundos em seus tendões. Seus joelhos desabaram com a dor, o que fez todos os outros ao seu redor darem um passo para trás, assustados.
— SOCORRO! ELE TÁ AQUI! — gritou ele, enquanto Huan Shen escalava suas costas.
Foi rápido e sucinto. Uma facada no pulmão para impedir que seu alvo gritasse e outra na parte de trás da nuca.
“Menos quatro!”
Os outros começaram a estocar violentamente naquela direção, enquanto tentavam balançar suas mãos inútilmente numa tentativa de fazer a névoa se dissipar mais rápido. Porém, o emissário já aguardava essa reação. Tudo que eles conseguiram fazer foi acelerar a morte do seu companheiro com suas lanças, pois Huan Shen não estava mais ali.
Ao verem que estavam literalmente batendo em um cachorro morto, eles começaram a se desesperar. Metade do seu pessoal já tinha sumido em menos de três minutos, claramente seu alvo era muito mais habilidoso e letal do que qualquer um ali. Ir contra ele apenas usando as mãos vazias era suicídio. A líder estava desaparecida e não havia nenhuma chance de receberem ajuda.
— Foda-se! Minha vida é mais importante que essa porra! Vou dar no pé! — disse um dos guardas, largando sua lança.
Os outros apenas conseguiram observar incrédulos a decisão do colega. Alguns pensaram em dizer algo, já que a moral daquele grupo tinha ido para o ralo. De repente, um vulto emergiu como um tubarão no meio da névoa, travando o pescoço do desertor com um mata-leão usando apenas um braço. Antes que qualquer um pudesse reagir, quatro facadas consecutivas já tinham sido dadas no peito do homem. Quando finalmente se moveram, ambos já tinham desaparecido na névoa.
“Menos cinco? Eu tô contando certo, né?”
Naquele momento, a névoa já atingia seus joelhos. Não havia mais como Huan Shen se esconder propriamente. Os besteiros já tinham recarregado, estavam com suas miras afiadas, esperando qualquer movimento do homem. Os que portavam lanças, cercaram a última posição onde o viram, apenas para se deparar com o cadáver do seu colega que tinha acabado de deserdar.
— Onde ele está? Olhem em todos os lados! — gritou um deles, desesperado.
Os três bandidos olharam ao redor, tendo apenas um pouco de névoa na altura da sua bota. Olharam dentro da barraca, mas não o encontraram também. Tudo que conseguiram contemplar foram cinco cadáveres dos seus colegas de trabalho. Eles já tinham enfrentado guardas imperiais, mercenários, várias pessoas que entraram em seus caminhos. Porém, nada que fosse tão avassalador em tão pouco tempo. A diferença entre uma pessoa normal e um cultivador era algo aterrorizante.
Os patrulheiros observavam qualquer tentativa de movimento ali dentro de cima da árvore. Não poderiam perder o foco, pois seus ataques, apesar de serem rápidos, demoravam para recarregar. Ambos estavam com as bestas prontas para atacar, de olho em ambas as barracas.
— Fique atento, Rick! Esse cara é perigoso — disse um deles, com o olhar travado na barraca da líder.
— Cuida da tua vida, cara! Vou manter a visão na caravana, ele pode tentar alguma gracinha com nossas mercadorias! — respondeu o colega, com o dedo no gatilho.
Suas respirações estavam agitadas. Era assustador ter que lidar com um alvo que conseguia ser tão letal em seus pontos cegos. Se tudo desse errado, eles poderiam aproveitar que já estavam fora do acampamento e fugirem dali mesmo. Eles sabiam a trilha, poderiam correr sem parar até um ponto seguro.
— Acho que alguma coisa se moveu daquele lado, Rick!
O patrulheiro esbravejou, tentando manter a atenção.
— Eu já disse pra calar a boca, Patrick! — reclamou Rick.
Então, uma mão fria tocou em seu ombro. Sua concentração foi quebrada, à medida que um frio subia na sua espinha.
— Eu não falei porra nenhuma, tá viajando? — respondeu Patrick, mantendo sua atenção.
Quando Rick olhou para o lado, aquela figura sinistra estava bem ali, agachada no mesmo galho que ele, com sua camiseta branca de sangue, olhar vil e com a faca que ceifou a vida de vários dos seus companheiros. Ele estava presenciando a morte na sua frente.
O pobre patrulheiro não conseguiu pronunciar nem uma única palavra, de tão assustado que estava. Huan Shen segurou sua faca pela ponta da lâmina, enquanto mantinha seus olhos encarando o indefeso Rick. Em um súbito movimento, a faca cortou o ar, viajando diretamente para a árvore do seu lado e perfurando profundamente o crânio de Patrick, que caiu duro no chão.
Rick pensou em gritar, mas o emissário colocou o indicador em seu lábio, enquanto fazia o som “shh” com sua boca. Suas mãos estavam trêmulas, sua cabeça estava tão agitada ao ponto de deixá-lo tonto. Seu corpo não conseguia mais obedecê-lo.
— p-por favor…t-tenha piedade, eu juro q-que nunca mais me envolvo com o crime, por favor, eu tô te implorando, me deixe viver, por favor-
Lentamente, Huan Shen retirou a adaga que estava na cintura de Rick, sem perder o contato visual. Então, a mão que estava em seu ombro, rapidamente foi até a boca do patrulheiro, tampando-a completamente. Ele tentou se debater, mas tudo que sentiu foi sua própria lâmina penetrando sua jugular de baixo para cima, perfurando sua língua e atingindo o seu cérebro.
— Eu tenho certeza de que outras pessoas já te disseram isso, seu merda! — sussurrou Huan Shen.
O corpo de Rick bambeou, até cair no chão de cabeça e o estalo do seu pescoço sendo quebrado ecoar pela selva. Sem perder tempo, Huan Shen saltou da árvore até o chão, ao lado do corpo de Patrick.
“Quatro minutos! Meu tempo até que tá bom hoje.”
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.