Capítulo 22 — Tutorial de Como Fazer Bruxaria Atualizado 2025 Grátis 4K Full HD.mp4
Ao explorar um pouco mais o templo abandonado, a bruxa achou exatamente o que procurava: uma câmara de batismo. Situado nas profundezas da construção, o cômodo era totalmente decorado com ladrilhos pretos como obsidiana. A menor fração de luz que adentrava do teto danificado sumia completamente ao incidir com alguma superfície. Na área central, tinha uma larga piscina esculpida à mão.
— Vou construir uma dessas quando tiver meu próprio domínio. Fazer os meus escravos descerebrados trabalharem vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, com seus corpos imortais e resistentes. Quem diria que uma garota não pode sonhar?
A garota de noventa anos acordou do seu sonho desperto e continuou o que estava fazendo. Olhando para a parte interna da piscina, percebeu que a água que estava ali não tinha evaporado ou sequer descido o solo abaixo. A princípio, pensou que poderia ser água recente da chuva, mas só em ver a densidade dos musgos e a aparência rugosa e mineralizada da água, tomou um susto.
— Essa água está aqui desde que o templo foi abandonado! A energia nesse lugar preservou suas propriedades e a protegeu de ter evaporado.
Tocando no chão, ela respirou fundo e usou sua magia para mapear a quantidade de energia sagrada que ainda habitava naquele lugar. Um pequeno pulso foi enviado no solo, mas antes que pudesse reagir, uma força poderosa adentrou seu corpo, atacando-o internamente e arremessando Kalira alguns metros para trás, fazendo-a se esbarrar na parede.
Removendo os restos de pó e pedra no seu corpo, a mulher se levantou enquanto tossia. Se apoiando nos joelhos, um que estava com um pedaço de vergalhão atravessado, ela caminhou mancando de volta até a sala de batismo. Embora sentisse uma dor lacerante, havia um sorriso no seu rosto, o mesmo que aparecia no rosto das pessoas que não conheciam seus limites.
— É disso que estou falando!
Removendo os destroços ao redor da piscina, Kalira começou a realizar seus procedimentos. Com a perna enfaixada após retirar o pedaço de ferro, ela pegou um pedaço de giz e começou a desenhar diversos símbolos e escrituras na linguagem tebana. Embora parecesse complexo, afinal a magia é complexa, aquilo era algo relativamente simples no meio das bruxas. Era um círculo de canalização, usado para estabilizar fluxos selvagens de energia e redirecioná-los apropriadamente. As bruxas usavam esses círculos para manter criaturas perigosas sob controle, por combiná-los com outros feitiços de supressão e submissão.
Como Kalira era uma bruxa, manipular energia sagrada era algo fora da sua expectativa. Porém, mesmo não sendo capaz de lidar com suas particularidades, poderia apenas focar sua energia bruta para um lugar específico e usá-la como combustível. E para o que ela planejava fazer, era algo que a mesma não poderia prover por si própria.
— Certo, o círculo está pronto. Vamos lidar com os corpos.
Cuidadosamente, ela arrastou ambos os cadáveres para a sala, posicionando um ao lado do outro. Não havia nada além do som do vento assobiando pelos corredores e arrastando as folhas nas proximidades. Era mórbido até para os padrões de Kalira.
— Não sou cirurgiã, mas conheço uma coisa ou outra envolvendo órgãos. Posso falhar e sair uma aberração indescritível? Pode, mas pelo menos será divertido!
Com sua unha afiada, ela abriu cuidadosamente o peito do sulfurizado. Rompendo a pele com uma incisão na base do pescoço até o umbigo. Os músculos da criatura eram esbranquiçados, com um tom amarelado do enxofre. O cheiro era forte e deixava a sensação de que se a menor fagulha surgisse ali, um incêndio aconteceria. Suas unhas penetraram os músculos, atingindo a caixa torácica. Os ossos eram rígidos como madeira de cedro, ao mesmo tempo que seu interior era bastante esponjoso. Naquele estado, a quantidade de sangue vazado já tinha sujado boa parte do chão.
— Olha esse cheiro! Isso tá me fazendo perder toda fome.
Não demorou muito até ela chegar onde desejava: o coração. Contendo a excitação, ela pegou o membro com suas duas mãos enquanto removia os ligamentos dele com o corpo. O coração era tão esbranquiçado quanto os músculos, com muito mais tubos para bombeamento sanguíneo devido ao desempenho físico elevado das criaturas. Diferente do que se esperava, o membro era tão frio quanto uma superfície de metal.
Deixando o cadáver do sulfurizado de lado, ela foi até onde Huan Shen residia. Seu corpo imóvel e frio estava dando os primeiros sinais de rigor mortis, o que tornaria o processo bem mais difícil. Removendo os restos de galhos, folhas e terra que caíram em seu enorme buraco no abdômen, percebeu que não foi nada sensato arrastar um corpo humano normal por quilômetros selva adentro.
Do mesmo jeito que uma pessoa coloca uma estátua pequena de valor sobre um móvel, Kalira colocou o coração do sulfurizado em seu peito. Como sabia que não poderia ligá-lo aos seus membros, apenas o deixou ali. A magia faria o seu trabalho.
— Ótimo, essa foi a parte fácil.
Usando sua unha, Kalira arrancou o que sobrou das roupas do emissário e começou a gravar em seu corpo diversos escritos e maldições em toda sua extensão. Algumas eram runas perdidas com o tempo, outras eram palavras de poder em Tebano, sendo encaixadas em qualquer lugar que tivesse espaço o suficiente. Foi um tanto trabalhoso, devido ao fato de Huan Shen ter um corpo relativamente grande.
Todas as maldições e escritas ocultistas tinham um único objetivo: caso tudo desse certo, iria garantir que sua mente estivesse permanentemente nublada e que as únicas palavras que obedeceriam seriam as que ela dissesse. Afinal, isso poderia acabar gerando algo pior que um Frankestein.
Após o corpo dele estar repleto de marcas, a bruxa arrastou ambos os corpos até a piscina, jogando-os lá dentro. A harmonia de uma água parada a centenas de anos foi finalmente quebrada, agitando a terra e as folhas que residiam ali. Os cadáveres afundaram solenemente, desaparecendo na escuridão da água turva enquanto os resíduos se juntavam mais uma vez na superfície.
Kalira estirou a coluna e estralou o pescoço, sentando-se no chão após ter todo esse trabalho. A parte mais importante do ritual estava para começar e não poderia haver falhas. Mas isso não era algo que ela temia, pois sabia que errar não era algo que estava em seu vocabulário.
— Faltam velas, tigelas com ingredientes esquisitos e incensos também, mas não dá para ter tudo. Por causa disso, o ritual vai ficar um pouco mais feio do que deveria.
Seus braços se moviam em harmonia, junto com seus passos rápidos e circulares. No meio da sua performance, seus lábios entoavam cânticos em tebano antigo, uma língua que era misteriosa até mesmo entre as bruxas. Suas palavras reverberaram nos ladrilhos escuros do templo, carregando uma quantidade intensa de magia obscura. As marcações feitas com giz começaram a pegar fogo e a sala começou a ficar mais quente.
Os olhos de Kalira ficaram completamente enegrecidos, as marcas em seu corpo começaram a abrir e as sombras do ambiente cresceram em um nível anormal. Como se isso não bastasse, a sensação de estar sendo observado através delas era esmagadora. Pouco se sabia sobre magia obscura além dos seus praticantes. E até mesmo seus usuários sentiam que não sabiam o bastante para estar utilizando-a.
Quando a força da magia obscura atingiu o pico, o templo reagiu a tamanha profanação. Canalizando a energia sagrada, um pulso extremamente poderoso foi enviado para a câmara de batismo. A potência era tanta que seria capaz de reduzir a poeira tudo em um raio de quinze quilômetros assim que saísse do solo. Porém, antes que tivesse a chance, foi presa e canalizada através do círculo místico.
— ISSO! TÁ DANDO CERTO!
A energia era tamanha que as marcações do giz estavam começando a sumir, indicando que o círculo não aguentaria uma potência maior que aquela. Vendo a chance de tudo dar errado, Kalira estendeu suas garras e cravou na sua própria pele, esguichando sangue nas marcações e reforçando seu poder.
A bruxa logo ficou de joelhos. A quantidade de bruxaria necessária para estimular a quantidade de energia sagrada não tinha sido pouca. A piscina borbulhava intensamente e estava completamente opaca devido a intensidade da luz branca que estava nela. A sensação de calor era reconfortante, mas foi só estender a mão que uma queimadura de terceiro grau surgiu nela, forçando-a a recuar imediatamente.
— Por que diabos a energia sagrada rejeita com tamanha força energia obscura? — disse ela, saindo da sala.
Com o corpo enfraquecido, a bruxa saiu do templo e se recostou em uma árvore próxima. Seu corpo estava com fome, desidratado e a sensação de cansaço era esmagadora. Agora, tudo que poderia fazer era esperar para ver se todo aquele trabalho iria render frutos.
Mesmo assim, ela se recusava a descansar, pois tinha certeza absoluta que estava sendo observada por alguma coisa.
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