Capítulo 33 — Um usuário de chamas que só sabe um movimento VS Um criomante que só sabe criar a mesma coisa.
Uma dor repentina atingiu o peito do sulfurizado. Sua mão se dirigiu a região, apertando-a, enquanto um sentimento de desespero momentâneo atingiu sua mente. Aquilo o deixava impressionado, pois sulfurizados não deveriam sentir dor. Sua visão perfeita ficou levemente embaçada e a resistência das suas pernas oscilou, forçando-o a se agarrar em uma árvore para se manter de pé.
— Será…que a minha hora chegou…? — disse o sulfurizado, ofegante.
Sião sentia que a regeneração do seu corpo não era mais a mesma e que a cada segundo, ficava um pouco mais fraco. Com a morte batendo na sua porta, seria ideal achar um lugar digno para ser enterrado. Antes do inevitável acontecer, o sulfurizado queria dar um enterro digno aos seus irmãos mortos. Embora não fosse tão apegado aos mesmos, deixá-los daquela forma não seria justo.
Quando seus primeiros passos se dirigiram para fora daquela enorme cratera, algo inesperado aconteceu. Um pulso de ar frio percorreu toda a área em volta, extinguindo todas as chamas nas proximidades. A madeira que queimava com intensidade há alguns segundos tinha se tornado tão fria quanto um pedaço de ferro. Toda a luz, todo o calor, tinham se dissipado tão rapidamente que a névoa branca demorou alguns segundos até se estabelecer.
— O desgraçado…o desgraçado conseguiu…
Uma mão esbranquiçada rompeu o solo carbonizado, firmando-se em sua superfície até que todo o corpo que a compunha se erguesse através dele. Huan Shen se apoiou nos joelhos, enquanto tentava recuperar o seu fluxo respiratório. Todos os ferimentos que tinham sido causados pelo fogo estavam completamente fechados.
— Você é bem poderoso, eu admito isso — disse o emissário, estalando os ossos da sua mão.
Um sorriso se esboçou no rosto de Sião.
— Você realmente é um caso à parte! Aquelas chamas eram capazes de demolir um prédio e derreter até suas fundações, mas você reside na minha frente como se nada tivesse acontecido. Não sei se fico lisonjeado ou ofendido.
— Não importa como você vai ficar, sabemos que isso não vai mudar o jeito que vamos resolver esse conflito.
— Não acha irônico que mesmo com tanto poder em nossos corpos, apenas a violência seja a linguagem que conseguimos conversar? Seria esse o paradoxo do poder?
Huan Shen piscou duas vezes, incrédulo com o que tinha acabado de escutar.
— Seu filho de uma puta infeliz, foi você quem decidiu começar tudo isso! Tinha literalmente zero motivos para termos que sair na mão, mas você simplesmente resolveu criar um inferno na terra! Não há paradoxo de poder porra nenhuma, você que é um pau-no-cu mal resolvido tanto na vida quanto na morte. E quer saber? Foda-se você! Eu não vou mais me segurar, seja contra você ou qualquer filho da puta que me encha o saco.
Aquelas palavras perfuraram o sulfurizado como flechas com ponta de aço. Embora dolorosas, eram exatamente o que ele precisava ouvir.
— Então me mostre o seu pior! — respondeu Sião, com um sorriso no rosto.
Sem dar espaço para o emissário agir, o sulfurizado balançou seu braço esquerdo no ar, arremessando um pequeno punhado de sementes na direção dele. O que parecia ser pequenos e inofensivos objetos, imediatamente se transformaram em poderosas bombas, que explodiram imediatamente. O calor da região subiu em níveis absurdos novamente, dissipando todo o ar frio do ambiente. As ondas de choque arremessaram tudo que não tinha se transformado em pó para longe.
— Está ficando previsível! — respondeu Huan Shen.
Quando as chamas diminuíram, Sião conseguiu observar o emissário agachado no chão, completamente revestido por uma densa camada de gelo.
— Isso não tinha simplesmente derretido antes? — sussurrou Sião, um pouco confuso. — Não importa, só tenho que atacar novamente.
Com mais um punhado de sementes, ele as energizou e as arremessou na direção do emissário. Porém, Huan Shen não era conhecido por usar a mesma tática duas vezes seguidas. O escudo congelado se fragmentou enquanto o mesmo se movia na direção das sementes.
— O que você está tentando fazer? — perguntou Sião, confuso.
Com o mesmo gesto de mão que o sulfurizado arremessou as sementes, Huan Shen realizou para arremessar um punhado de pó transparente, mas cintilante. Quando a poeira atingiu uma das sementes, uma enorme estrutura congelada surgiu no ar, capturando todas que tinham sido arremessadas.
— Gelo? É com isso que vai me parar? Eu só preciso explodi-las com um simples comando! — Sião estalou os dedos, mas para sua surpresa, elas permaneceram ali onde estavam. — Ué, por que não está funcionando?
— Do mesmo jeito que suas chamas não são uma manifestação da natureza e sim um produto da magia, o gelo que crio não é apenas “água muito fria”. Ela pode dispersar concentrações de energia mística.
Agora foi a vez de Sião piscar duas vezes, completamente incrédulo.
— Oi??? Dissuadir energia mística? Que porra é essa? Você é mesmo um sulfurizado?
A ideia de dissuadir energia mística era tão estranha quanto mexer nos conceitos de espaço-tempo. A energia que alimentava a magia, desde os seus primórdios, foi conceituada como uma força invisível que não poderia ser controlada como uma entidade, apenas canalizada e convertida. A ideia de dispersar energia mística era uma aberração por si só.
— Você não deveria sair comprando brigas com qualquer um, garoto. Mas lembre-se do que eu disse: não vou te dar tempo para se arrepender. Se não quiser morrer, lute!
Foi só ter pronunciado a última letra, que Huan Shen imediatamente conectou um chute direto no abdômen de Sião. Seus reflexos defensivos agiram de última hora para tentar protegê-lo, mas não foi o suficiente. Seu corpo voou através das árvores, pois a força do seu oponente era esmagadoramente maior que a sua.
Quando seu corpo atingiu o solo, mal teve tempo de reagir, pois o emissário já estava no seu encalço, com um machado em mãos. Mesmo sabendo que estava em desvantagem temporária, não poderia deixar essa situação ser perpétua.
— EU NÃO LIGO PARA QUEM VOCÊ É! SEU ÚNICO DEVER É ME ENTRETER NOS MEUS ÚLTIMOS MOMENTOS DE VIDA!
As chamas se concentraram na mão do sulfurizado, que a usou para golpear o chão e criar uma poderosa explosão que destruiu toda a vegetação ao seu redor.
— Apareça, emissário! Eu vou te mostrar toda a extensão do poder das minhas chamas! Você vai-
Surgindo no meio das explosões, Huan Shen avançou como uma flecha em sua direção portando seu machado barbado. Sião respirou fundo, fincou seus olhos no trajeto do emissário e assoprou uma torrente de chamas intensas em sua direção. Porém, o emissário já esperava algo assim.
Seu braço direito se ergueu na direção das chamas e criou uma enorme estrutura congelada similar a um escudo torre. Porém dessa vez, ele não planejava usá-lo somente para se defender. Ao fincá-lo no chão, ele desprendeu seu braço do equipamento, canalizou sua energia naquele membro e socou o chão.
Sião, que estava achando muito estranho seu oponente ter parado seu avanço impetuoso no mesmo lugar, teve a sorte de mover a cabeça levemente para trás. Um centímetro à frente do seu dedão do pé, uma estaca congelada e afiada surgiu na sua frente, arrancando um pedaço generoso do seu nariz e parando as chamas contínuas.
Embora não sentisse a dor do golpe, a sensação o incomodava bastante. Um soco do seu braço superaquecido quebrou a estaca de gelo, mas novamente, ele estava se preocupando com o alvo errado.
Huan Shen surgiu no seu ponto cego, acertando uma joelhada poderosa em sua costela esquerda. Sião sentiu seu corpo se retorcer, mas não iria desistir tão facilmente. Aproveitando-se da sua agilidade, ele deu um leve salto para trás e tomou impulso, direcionando um chute circular na direção do rosto do emissário.
— Olha só! Ele sabe bater quando quer! — disse Huan Shen, aparando o chute com seu braço esquerdo.
Com a guarda do seu oponente desprotegida, o emissário avançou seu corpo e se chocou contra o sulfurizado, derrubando-o no chão. Era até engraçado observar a diferença de estatura entre os dois, pois um tinha quase dois metros de altura e o outro tinha parado nos 1,70.
— Tô vendo que tá se divertindo também! — respondeu Sião, totalmente largado no chão.
— Acredite em mim, não encontro satisfação em ter que te matar.
Uma risada amarela saiu dos lábios do sulfurizado.
— E ainda assim, você está se saindo muito bem nisso.
Com a palma de sua mão em contato com o solo, Sião canalizou sua energia mística através do solo e a sobrecarregou. Quando Huan Shen percebeu aquilo, tentou saltar para trás, mas já era tarde.
— EXPLODA!
Uma erupção massiva de chamas rompeu o solo onde ambos estavam, causando um imenso clarão na selva e derrubando ambos dentro de uma cratera. Graças a sua constituição, o fogo não causou nenhum ferimento em Sião, que se ergueu do chão rapidamente.
— Essa foi por pouco… — murmurou o sulfurizado.
Do seu lado, Huan Shen residia ajoelhado no chão, pressionando as mãos nos olhos, tentando aliviar o estresse de tanta luz em tão pouco tempo em seu rosto. Embora não sentisse dor, o incômodo era insuportável.
Sião não teria uma oportunidade mais clara que aquela para finalizar seu oponente. Aproveitando que o emissário estava completamente desnorteado, Sião canalizou chamas intensas em suas mãos e se aproximou por trás. A nuca estava desprotegida e o mesmo tinha confiança na sua velocidade.
— Essa disputa acabou, emissário! Eu venci! — sussurrou Sião, com um sorriso no rosto.
No instante que seu pé diminuiu a distância dele e do emissário, sentiu algo se romper debaixo dele. Seu olhar se direcionou ao chão, quando percebeu que tinha acabado de pisar em um cristal congelado.
— Não achou mesmo que eu mostraria tamanha vulnerabilidade no meio de um confronto, certo? — disse Huan Shen, enquanto o encarava por cima do seu ombro. — O que você tem em poder, te falta em experiência.
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