Índice de Capítulo

    Como se o mundo estivesse prestes a acabar nos próximos segundos, Sião superaqueceu seu corpo como nunca tinha feito antes. Seu sangue estava se movendo tão rápido pelo seu corpo que parte dele evaporava pela sua pele. O gelo começou a derreter, mas para sua infelicidade, Huan Shen era mais rápido.

    Seus braços enormes envolveram seu tronco, erguendo-o do chão com tamanha força que o sulfurizado sentiu suas costelas serem esmigalhadas. Suas mãos se mexeram, tentando canalizar as chamas para ferir seu oponente, mas o emissário não era alguém que parava facilmente. Ele avançou selva adentro a toda velocidade enquanto mantinha seu oponente erguido em seu ombro, completamente indefeso.

    — Desgraçado! Me solta! — vociferou Sião, se debatendo.

    Em questão de segundos, o emissário arremessou o corpo leve do sulfurizado contra o tronco de uma árvore, causando um impacto que não apenas rachou toda a sua base, mas que também fragmentou toda a caixa torácica de Sião.

    Como se não bastasse, Huan Shen usou o momentum acumulado em seu corpo para impulsioná-lo para trás com um salto curto. Assim que seus calcanhares encostaram no solo, ele cravou seu punho no chão. Imediatamente, um enorme cristal afiado congelado rompeu o solo e atravessou o peito de Sião, empalando-o. A árvore foi cortada ao meio, com seu tronco caindo para trás.

    A tamanha violação fez o corpo do sulfurizado entrar em choque. Seus braços tremiam, suas pernas não tinham controle e seus pés nem mesmo encostavam no chão. Sua mente estava completamente embaralhada, pois apesar de não sentir dor, o frio proveniente do cristal era cruel. Seu sangue negro não aquecia mais, pois cada gota dele estava sendo completamente congelado.

    Sião estava encontrando o fim que tanto desejava. E não era a sensação que esperava.

    Huan Shen se aproximou lentamente do homem empalado. Seu olhar cético e frio recaiu sobre sua condição, escondendo um pingo de pena por toda a trajetória de vida e morte daquele rapaz.

    — Era isso que você esperava? — perguntou Huan Shen.

    A respiração dele estava pesada e oscilante, sua mandíbula tremia e a ponta dos seus dedos estavam completamente azuis. Então, um sorriso enegrecido pelo sangue se formou em sua boca.

    —  É pior do que eu esperava, não vou mentir.

    A névoa frígida se dissipava aos poucos da mão do emissário, que não podia fazer mais nada do que sentir um pouco de piedade pelo seu adversário.

    — Isso não precisava acabar assim, sabe bem disso.

    — Aí que você se engana. Eu vivi do meu jeito e morri como eu desejava. Teria me arrependido tanto se meu destino se encerrasse como uma peça descartada por Heferus. E mesmo que tenha uma estaca no meu peito, não posso negar que foi divertido duelar com você.

    “Como ele consegue falar tão naturalmente tendo seus órgãos congelados é algo que está fora da minha compreensão.”

    — Não é todo dia que encontro alguém com uma visão tão positiva sobre morrer. Aproveite seus últimos momentos, cara. Tenho que achar aquela bruxa.

    Pessoalmente, Huan Shen não guardava nenhuma forma de rancor em relação ao Sião e nem aos seus irmãos. Embora tenha os matado de formas extremamente brutais, ainda conseguia simpatizar um pouco com suas condições. Morreram de forma prematura e foram revividos contra sua vontade, para serem desmortos sobre o serviço de um druida sociopata.

    — Ei! Emissário! — gritou Sião, com a voz parcialmente rouca, graças ao frio congelante. Huan Shen inclinou a cabeça em sua direção. — Quando você encontrar aquele filho da puta, faça-o sofrer! Por todos nós!

    Respondendo com um simples aceno, Huan Shen desapareceu selva adentro, enquanto o corpo de Sião se tornava rapidamente uma escultura gélida. Pequenas lágrimas negras se formavam no canto do seu olho, como um resultado de múltiplos sentimentos entrando em conflito. Desespero, satisfação, medo e ansiedade. O que haveria do outro lado para Sião? Será que sua alma seria perdoada por tamanha transgressão contra a vida? Quando seus olhos se fecharam e abraçaram a escuridão, não foram capazes de abrir novamente.

    “Finalmente, um pouco de paz nesse caralho! Eu morri lutando, acordei lutando e vou ter que lutar daqui a pouco. Eu devia ter continuado morto, isso sim!”

    Após uma manhã tão intensa, Huan Shen se permitiu recostar em uma árvore e respirar fundo. Dando uma olhada na sua pele pálida mais uma vez, era assustador imaginar como após tamanha carga destrutiva de magia, seu corpo se recuperava continuamente. Embora soubesse que muita gente moveria mundos por essa habilidade, principalmente os magos que ainda existiam, a ideia de que seu corpo se consumia lentamente até restar sua casca vazia era algo que poderia ser bastante perigoso nas mãos erradas.

    “Nem consigo imaginar a quantidade de desgraça que poderia acontecer se caísse nas mãos de um terrorista, um outro druida maluco ou algum demônio. Pior! Se isso caísse nas mãos do Santo Império! Não tem jeito, vou ter que matar aquele filho da puta.”

    Olhando para o céu, percebeu que o sol estava prestes a atingir o seu ápice no céu. A luz incidia na selva com toda potência, deixando as sombras macabras que a pertenciam enfraquecidas.

    “Esse pode ser o melhor período para confrontar uma bruxa das sombras.”

    Com nada além das suas roupas e um cajado, Kalira mancava em direção a área mais distante possível de onde aconteceu o confronto. Os barulhos gerados pelo impacto e a perturbação na magia do ambiente eram facilmente perceptíveis, porém fazia pouco mais de cinco minutos que ela parou de sentir qualquer coisa relacionado ao confronto.

    — Merda! Eu nem soube se meu projeto durou tempo o bastante contra aqueles sulfurizados! Espero que ele tenha ganhado tempo o suficiente para mim. Haverá outras oportunidades de arrancar a cabeça daquele druida infeliz.

    Embora seu sulfurizado não tivesse vindo com ela, os resultados da sua pesquisa e criação já estavam em sua mente. Se saísse dali com vida, poderia sumir no mundo como sempre fez e depois de um tempo, retomar com os experimentos. O triste era que ela estaria deixando o templo de graça para seu arqui-inimigo.

    — Por que a vida tem que ser tão injusta desse jeito?

    Perdida em seus pensamentos, algo chamou sua atenção. Um som de folhagem balançando esporadicamente, embora não tivesse vento por ali. Foi então que a ficha caiu.

    — Os desgraçados me acharam!

    Completamente sem magia, a mulher usou todas as forças das suas pernas para correr. Não estava muito longe da saída, mas vencer um sulfurizado na corrida era uma assinatura de derrota garantida. Mas como o barulho ainda estava distante, poderia ter uma chance.

    Suas pernas ágeis se desviavam de cada tronco, pedra e galho no caminho. Aos poucos, sua esperança de sair daquele lugar aumentava. De repente, o som seco do chão se rompendo e uma parede transparente na sua frente a pegaram de surpresa. Seu corpo quebrou o objeto com o impacto, mas a bruxa acabou caindo no chão, sendo alcançada pelo cansaço e fadiga.

    Suas pernas tremiam, pois seu corpo ainda não havia entrado em perfeita sincronia. Seus braços estavam pesados e sua cabeça parecia estar amarrada no chão. Então, uma sombra gigante surgiu sobre seu pequeno corpo. Seus olhos pairaram sobre o vazio branco que habitavam nas órbitas do sulfurizado que tinha construído mais cedo. Sua expressão fria e ambígua gerava uma incerteza amedrontadora na mulher, que não sabia o que iria acontecer em seguida.

    Foi então que o ser colossal que a observava do topo resolveu proferir algumas palavras:

    — E agora? O que eu faço contigo, bruxa?

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (1 votos)

    Nota