Capítulo 42 — A Motivação (Não! Essa obra não foi dropada.)
Navegando na noite sombria vagamente iluminada pela luz lunar, Huan Shen saltava entre as árvores como uma folha levada pelos ares. A ventania intensa balançava a copa das árvores, carregando sua folhagem através da Selva de Concreto. Quando o emissário finalmente parou sobre um galho, seus longos cabelos permaneciam em movimento.
Seus olhos captaram a multidão de sulfurizados alinhados como soldados prestes a agir na primeira ordem dada. Lá no fundo, Heferus e Hinoka residiam um ao lado do outro, como se ela fosse sua guarda pessoal.
“Ele não é burro, sabe que seus soldados de elite não retornaram e que a bruxa possivelmente tem um plano para atacar. Seja lá o que ela estiver fazendo, espero que valha a pena.”
Huan Shen começou a pensar nas possibilidades. Um avanço direto e violento era quase impossível, pois os sulfurizados iriam apenas impedi-lo. Olhando para a parte alta das árvores, notou que algumas poderiam deixá-lo relativamente mais próximo do druida. Um ataque pelo alto e poderia ser o bastante para acabar com a vida daquele bastardo.
“Eu ainda preciso saber onde está o meu coração! Sem ele, tudo isso seria inútil e eu morreria de qualquer jeito. Pense! O que eu poderia fazer…espera, que cheiro é esse?”
Algo familiar adentrou suas narinas. Um odor pungente, desconfortável e desprezível. Algo que era estranhamente comum na Selva de Concreto. Um odor que o emissário conhecia muito bem:
Morte.
“Isso é cheiro de cadáver. Não faz sentido ter cadáveres em decomposição aqui, já que ele os utiliza para sulfurizar.”
Suas mãos deslizaram através do tronco, à medida que seu corpo descia até o solo. Quando seus pés se firmaram no chão, um desconforto atingiu seu interior. Era aquela velha sensação de que algo estava errado ou que alguma coisa muito ruim estava para acontecer. Uma sensação similar quando viu os sulfurizados pela primeira vez de manhã cedo.
Seus passos o guiaram até o que parecia ser uma espécie de desova para cadáveres, devido a sua quantidade imensa de ossos largados. Aquilo o deixou parcialmente confuso, pois não sabia se aquilo tinha sido obra de druida ou simplesmente já existia antes. Então, seus ouvidos captaram algo: o som de um grunhido. Um barulho gutural, seguido de passos pesados. Seus olhos então detectaram marcas grandes de pegada no chão. Sem tempo para analisar, o emissário tomou impulso e saltou na direção do galho mais alto da árvore mais próxima.
Alguns segundos depois, a criatura se revelou: um urso negro anormalmente grande transitava pela área, carregando um esqueleto na sua mandíbula. Aquilo era familiar para o emissário, pois foi aquela mesma criatura com o crânio exposto e veias douradas que estava presente quando ele se encontrou com o druida pela primeira vez.
Não parecia ser uma tarefa muito complicada se livrar daquela criatura, mas o barulho e o excesso de magia poderiam chamar a atenção do druida e dos seus servos. Após alguns segundos, a criatura simplesmente correu selva adentro.
“Me preocupei atoa, não tem nada aqui que preste! Melhor voltar para-”
Foi então que algo familiar encontrou seus olhos. Sua respiração ficou mais densa, uma sensação dolorosa passou pelas suas artérias e um sentimento ruim começou a aflorar dentro de si. O emissário saltou em direção ao solo e seguiu na direção da área mais afastada daquela desova.
A vegetação se abria como uma clareira, indicando o trecho de devastação causado pela fera mutante. As marcas das garras na terra, os galhos partidos e o silêncio absoluto, como se a Selva de Concreto prendesse o fôlego.
Então, ele viu dois corpos.
Esparramados naquela terra revolvida, ambos estavam mutilados por uma brutalidade animalesca. Um deles estava caído de bruços, o tronco retorcido em um ângulo impossível, como se tivesse tentado fugir — ou rastejar. As pernas terminavam no joelho, com marcas dos dentes ferozes do monstro. O outro residia de lado, com o tórax aberto pelas garras e um olho para fora da órbita. Sua arcada dentária parcialmente exposta, pois parte do seu rosto tinha sido arrancado.
O sangue ainda pingava e parecia quente, indicando que tinha ocorrido recentemente. Porém, brutalidade não era algo que particularmente o chocava, pois foi exposta a ela muito cedo.
Mas tinha algo errado ali, algo familiar.
Seus olhos percorreram os cadáveres mais uma vez, tentando encontrar algum tipo de resposta. Então, diante do rosto completamente destruído, a luz da lua o permitiu ver as madeixas loiras de uma mulher.
“Não…não é possível…”
Embora seu corpo não pudesse expressar estresse ou sensações influenciadas pelo medo, sua cabeça estava em um turbilhão. Mesmo que não houvesse apenas uma mulher loira no mundo, só havia uma mulher loira capturada pelo druida naquela manhã.
— Lady Melissa…
O nome escapou num fio de voz, quase como um ato involuntário.
Seus olhos penderam para o outro cadáver, reconhecendo o homem na casa dos cinquenta anos, com a pele negra e cabelo asseado.
— Rodrich…
O som do vento novamente se chocou com suas orelhas, levando as folhas ensanguentadas sobre os corpos. Mais uma vez, a Selva de Concreto tinha engolido suas vítimas. Mas não tinha sido nem rápido ou limpo.
Aquelas pessoas não significavam muita coisa para Huan Shen. Eram duas pessoas aleatórias que tinham sido resgatadas em sua missão. Sua interação não foi uma das mais memoráveis também, apenas uma breve conversa ao redor da fogueira.
Apesar de tudo isso, não podia deixar de se sentir responsável pelo que aconteceu. Estava tão confiante que o sistema de camuflagem poderia mantê-los seguros que não cogitou as outras possibilidades. Se ele tivesse estado lá, as coisas poderiam ter sido diferentes. Por causa da sua falta de responsabilidade, duas pessoas foram mortas. Ele próprio estava morto! Não havia nada a culpar além de si mesmo.
Mas a época em que ele ficava “congelado” pelo sentimento de culpa já tinha passado. O emissário conseguia enxergar as coisas claramente dessa vez.
“Não. Eu não os matei. Isso não foi um acontecimento natural da Selva de Concreto, foi um ato premeditado e determinado por um homem: Heferus!”
Todos aqueles ossos ali tinham sido pessoas que foram vítimas das ações daquele homem, dadas de presente para o seu monstro de estimação. Suas ações, além de crueis, perturbavam o equilíbrio natural. Os sulfurizados eram um erro que precisava ser corrigido o mais depressa possível.
Seus punhos se fecharam com força, iluminando suas veias douradas. Pela primeira vez em muito tempo, uma raiva descomunal tomava conta do seu corpo. Pequenos cristais de gelo rompiam sua pele, tão afiados quanto uma lâmina de aço nova.
— Heferus, eu terei sua cabeça esta noite e oferecerei seu cadáver como sacrifício! — sussurrou.
Com passos lentos, mas firmes, Huan Shen deixou os cadáveres para trás e seguiu na direção dos sulfurizados. A cada pegada deixada no solo, a terra era congelada tão profundamente que emitia névoa pelo ambiente. Seu sangue negro estava se movendo em uma velocidade perigosamente alta no seu corpo, absorvendo e emitindo quantidades absurdas de poder mágico.
“Não vai sobrar uma alma viva que seja ligada a esse filho da puta!”
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.