Índice de Capítulo

    O Santo Império era governado pela Família Vargas por quase um milênio, possuindo poucos problemas governamentais ou insurgências. A causa principal dessa estabilidade foi o pacto firmado entre as três grandes famílias: Bladebourne, Hecathia e Shirokage. Os Bakir não tinham tradição, condados extensos ou os mesmos recursos dessas famílias. Porém, ainda eram poderosos para estabelecerem um domínio respeitável em Santa Marília.

    Samir e Marcus trabalhavam para os Bakir havia aproximadamente oito anos. Eram os dois principais no comando da segurança privada daquela família. Embora muitos outros setores pudessem ser precarizados, a segurança privada não era um deles. Salário levemente acima do padrão do mercado, décimo-terceiro, férias, adicional de periculosidade e assistente particular tornava suas profissões altamente cobiçadas pelos seus colegas, o que os incentivava a lutarem mais arduamente pelas suas funções.

    E não chegaram lá à toa.

    Quando o Malavares apagou as chamas, o tecido danificado imediatamente começou a se recompor, como uma teia de aranha sendo tecida. A criatura então se virou na direção do seu agressor, que a encarava com um profundo desdém. Então, o monstro recuou alguns passos, até estar no alcance do tronco que arremessou há pouco tempo.

    — Isso não vai funcionar contra mim — bradou Samir, sacando seu machado na sua mão esquerda.

    O monstro envolveu o tronco com sua enorme mão pútrida e usou sua força tremenda para arremessá-lo com toda sua força contra o mercenário. O tronco voou como uma pedra em sua direção, formando um borrão no ar enquanto viajava. Samir apenas teve tempo para se jogar no solo e deslizar por cima da ameaça, que quebrou duas árvores com o impacto.

    Se aproveitando do momentum, ele rolou pelo chão e correu na direção do Malavares enquanto atirava com sua pistola contra o mesmo. A criatura ergueu seu braço, para evitar que os projéteis atingissem seu rosto. Aquela pequena abertura permitiu o mercenário correr na direção das pernas da criatura, deslizando entre elas. Usando sua perna esquerda de ponto de apoio, seu corpo girou e gerou impulso no braço esquerdo onde estava o machado.

    Samir ativou a runa no machado, fazendo sua lâmina vibrar um segundo antes do impacto da arma nas pernas da criatura. O machado cravou profundamente no monstro, fazendo-o soltar um urro. Ela imediatamente fechou seu punho e formou uma lâmina afiada de madeira pronta para empalar o mercenário.

    — MARCUS! — gritou Samir, enquanto ainda tentava remover o machado da perna da criatura.

    Chegando no tempo certo, Marcus abriu fogo com o seu rifle na direção do braço que estava prestes a atacar. Sua aproximação era lenta, tática e cautelosa. Seus tiros não eram caóticos como os dos seus colegas, mas sim calculados e feitos para amplificar o dano causado por cada disparo. Em menos de um segundo, a lâmina de madeira estava completamente destruída.

    — ABERTURA! — respondeu Marcus, enquanto trocava o pente.

    Usando sua pistola, Samir realizou dois tiros para o alto, acertando diretamente no rosto da criatura, o que a fez cambalear. Então, ele puxou seu machado com as duas mãos e girou seu corpo para criar distância do seu alvo. Naquele momento, seu corpo estava formando o ângulo perfeito na direção do rosto do monstro.

    Usando seu braço esquerdo, ele tomou a inclinação necessária e o usou para arremessar seu machado direto na cabeça do Malavares, cravando sua lâmina com potência total entre os olhos da criatura.

    — ABRIR FOGO! AGORA! — bradou Samir, tomando distância.

    A performance dos dois capitães chamou a atenção de todos os mercenários ali ao redor. Embora já tenham lutado juntos antes, nunca tinha sido contra uma criatura completamente fora do que poderiam esperar. O nível deles em relação aos outros era uma disparidade assustadora. Ao escutarem aquelas ordens, imediatamente apontaram seus rifles contra o monstro e abriram fogo sem parar.

    A cada bala que se alojava dentro do corpo do Malavares, o calor latente destruía os tecidos que faziam sua regeneração ser possível. Antes que percebesse, o monstro não tinha mais braços para se proteger. Uma das suas pernas já estava completamente esburacada.

    — CESSAR FOGO! CESSAR FOGO! — ordenou Samir, tomando impulso.

    Imediatamente os mercenários soltaram o dedo do gatilho e recuaram alguns passos para trás. Aquilo foi abertura o suficiente para Samir avançar na direção da criatura que residia de joelhos. Usando seus dois braços, puxou o machado de seu rosto, com a lâmina completamente manchada do líquido profano que percorria o corpo do monstro, todo esburacado.

    — Você levou a vida de dois dos meus homens — murmurou o mercenário, encarando a criatura em seus olhos, não mais tão vivos quanto antes. — Vou levar sua vida como compensação.

    Samir aumentou a potência do seu machado até o limite, a ponto de formar um singelo brilho azulado em sua extremidade. Usando suas duas mãos, Samir o balançou da direita para a esquerda, gerando um corte tão limpo que fez a cabeça da criatura girar no ar e sair rolando pelo chão.

    Com um silêncio sepulcral, Samir pegou a cabeça da criatura e caminhou de volta ao acampamento, acompanhado de Marcus. Embora os outros mercenários ainda estivessem um pouco abalados, eles terminariam de finalizar toda a bagunça que tinha rolado do lado de fora.

    — Capitão, o que vai fazer com isso daí? Usar como troféu? — perguntou Marcus.

    O homem continuou caminhando, sem responder a uma única pergunta. Ao chegar próximo de uma superfície plana o bastante, ele pegou a faca que estava guardada na bainha em seu joelho e começou a abrir a cabeça da criatura. Era deplorável como a lâmina conseguia cortar facilmente através daquela textura de massa desforme.

    — Que porra é essa que você tá fazendo, cara? — questionou Marcus, tapando o nariz por causa do mal cheiro.

    Com as mãos nuas, ele a enfiou na região interna da cabeça da criatura, mexendo-a de um lado para o outro, como se estivesse tentando encontrar alguma coisa. Sua expressão era determinada, apesar do enorme fedor que estava impregnando a área.

    — Achei! — disse Samir.

    Quando puxou sua mão completamente suja de volta, parecia haver algo em seu punho fechado.

    — Veja isso daqui, Marcus.

    O mercenário abriu o seu punho, revelando o que parecia ser um pequeno conjunto de sementes coloridas. A coisa mais estranha de tudo aquilo era a forma como a parte inferior de todas estavam tingidas com um vermelho intenso.

    — Não faço ideia do que seja isso que você está me mostrando — respondeu.

    — Isso é um Decalque. É uma oferenda composta de sementes, minérios e intenções, que reagem com a natureza de um lugar e geram uma vida. Ou melhor, uma imitação de uma. Não são tão eficientes quanto os golens e sequer são controláveis, mas são capazes de causar bastante dano.

    — Então é mais uma prova de que estamos sendo alvos de uma bruxa ou um druida.

    Samir riu.

    — Druidas? Não, eles foram extintos a mais de um século. Impossível ter alguém vivo até hoje. Agora as bruxas são outros quinhentos. Seres persistentes, malditos e que parecem um câncer no mundo. Com certeza isso é trabalho de uma delas. Possivelmente, estamos no meio do seu domínio.

    — Se isso é o domínio de uma bruxa, ela nunca vai nos deixar concluir o nosso trabalho. Também existe a possibilidade dela estar com a nossa garota. E agora, o que fazemos?

    O mercenário olhou o relógio em seu braço. Ainda tinha muito tempo até o anoitecer.

    — Deixe dois dos homens aqui vigiando os arqueólogos. Nós vamos fazer uma varredura intensa nas proximidades. Bruxas são vaidosas, não gostam de manter seu domínio em sutileza. Reúna os homens, hoje será o dia de caça às bruxas.

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