Capítulo 61 — Confronto no Templo
Dentro do templo, as coisas não estavam nem um pouco mais calmas. Era desprezível a ideia de ter que capturar uma garota que não tinha nem a idade da sua sobrinha mais velha com tamanha violência, mas Jamal não tinha outra escolha. Era aquilo ou ter que lidar com a fúria de Samir.
Acompanhado de três dos seus colegas, cada um se empenhou em segurar um dos seus membros, mantendo-a sob controle. Eram quatro homens adultos bem desenvolvidos, mas nenhum deles estava confortável com a situação.
— Que droga, cara! — disse um deles. — Somos arqueólogos, não sequestradores, ou seja, lá o que isso for!
— Não tem outro jeito! — respondeu Jamal, enquanto tentava amarrar as mãos de Sarisa. — Já estamos nessa até o pescoço, é isso ou morrer nas mãos daqueles brutamontes.
Não havia pesadelo pior do que aquela garota estava presenciando naquele momento. Ela gritava, tentando de toda forma sair do domínio daquelas pessoas. Mesmo sentindo a falta de firmeza em seus punhos, não possuía a força para se livrar deles.
— ME SOLTEM! SOCORRO! ALGUÉM ME AJUDE!
Jamal tentava endurecer seu coração o máximo possível, enquanto atava o seu braço. O quão mais cedo ele terminasse isso, menos ele teria que se preocupar depois. Era a vida daquela garota ou a de todos os seus colegas, a escolha não deveria ser difícil, mas era dolorosa.
— Me desculpe, garota! Não é pessoal, eu juro — disse Jamal.
— Não fale com ela! — respondeu um dos arqueólogos, juntando os pés da garota. — Ela é nossa pesquisa e acabou. Quanto mais humaniza-la, pior.
— POR FAVOR, ME SOLTEM! EU NÃO FIZ NADA! EU JURO!
As palavras de Sarisa penetravam o coração daqueles homens como facas afiadas. Sua voz não era tão diferente das filhas, netas e irmãs que esperavam em casa. As mesmas pessoas que estavam dispostos a jogar sua humanidade e compaixão fora para proteger.
Jamal pegou um pedaço de pano e envolveu a boca de Sarisa, efetivamente tapando seus gritos. Não demorou muito para suas mãos e pernas estarem devidamente presas, completando sua imobilização.
— Vamos leva-la lá para baixo. Quando Samir chegar, finalizamos o que viemos fazer.
Com um aceno coletivo, os arqueólogos só podiam aguardar e esperar que tudo ocorresse como planejado e pudessem deixar aquele lugar o mais rápido possível. Como se toda essa tensão não fosse o suficiente, a temperatura do corpo da garota começou a subitamente aumentar.
— O que tá acontecendo? Ela ficou quente do nada? — perguntou um dos arqueólogos.
De repente, várias marcas cintilantes começaram a se formar no corpo da garota, iluminando a escuridão intensa que residia naquele templo escuro. Algo ameaçador estava prestes a surgir.
Do lado de fora do templo, as coisas não estavam nem um pouco boas para Kalira. A fumaça estava se dissipando gradualmente e seus sentidos estavam se estabilizando, mas ainda se encontrava completamente rendida, com sua mão direita fraturada e uma dor tremenda em suas costelas.
— Amarre essa vadia, o capitão deve querer dar conta dela depois — disse um dos mercenários.
Seu colega, se agachou e apoiou seu joelho nas costas dela, mantendo seu corpo pressionado contra o chão. Kalira sentia seu tórax sendo esmagado contra o solo, mal conseguindo puxar a menor quantidade de ar. Na forma como estava sendo imobilizada, não havia o menor espaço para conjurar qualquer forma de feitiço relevante.
“Eles ainda não têm certeza se eu sou uma bruxa ou não. Se eu conjurar qualquer feitiço e não funcionar, eles matam esse corpo na hora! Pior, eles podem até ter alguma forma de me matar na minha forma original!”
Quando seu destino parecia encaminhado, um grito gutural e estridente surgiu de dentro do templo, seguido de um feixe de luz fino se erguendo em direção ao céu.
— Que porra é essa? — perguntou o soldado que estava imobilizando-a.
A atenção dos três caíram sob o templo, curiosos, confusos e temerosos com o que estava acontecendo lá. Porém, Kalira não deixaria passar essa oportunidade escapar tão fácil. Com sua mão quebrada, ela apontou seu dedo indicador no homem que estava em cima de si, transformando sua unha em uma longa e afiada garra negra. O soldado teve apenas tempo de ver a ameaça e inclinar seu corpo levemente, evitando que atingisse seu coração.
“Merda!”
A lâmina atravessou seu ombro, atravessando sua omoplata e rompendo sua clavícula do braço esquerdo. O homem recuou, urrando com a dor. Seu parceiro viu aquilo imediatamente e ergueu seu rifle, com o dedo no gatilho. Porém, um segundo antes que conseguisse puxar, a bruxa trouxe sua mão para trás, como se estivesse algo bem na sua frente.
O homem sentiu um enorme puxão em todo o seu corpo, como se anzóis penetrassem sua carne e o imobilizassem temporariamente. Sua musculatura ficou completamente rígida, estimulada por uma dor lancinante em seus nervos.
“Isso deve me fazer ganhar tempo-”
Antes que conseguisse emendar algum outro feitiço, o soldado com o braço machucado usou o que prestava e emendou um soco direto na face da mulher, balançando sua consciência e derrubando-a no chão mais uma vez, o que consequentemente rompeu o feitiço que prendia sua sombra.
— ABRIR FOGO! — gritou o mesmo, quando sentiu seus braços livres.
Embora tenha sido uma pancada forte o bastante para deixar uma marca no rosto da bruxa, não foi o suficiente para nocauteá-la. Antes que o mesmo pudesse completar aquela frase, Kalira imediatamente rolou pelo chão e saltou em direção a uma coluna, frações de segundo antes de uma torrente de projéteis vararem o solo e as colunas que protegiam suas costas.
“Se uma dessas coisas me atingir em cheio, posso esquecer uma reencarnação!”
Um dos homens pensou em ir atrás para finalizar o serviço, mas o outro colocou seu braço na frente, realizando um sinal negativo com a cabeça.
— O que foi? Ela está vulnerável! — murmurou.
— Ela é uma bruxa, deve estar esperando que façamos exatamente isso! Viu que só precisou de meio segundo para ela fuder com o meu braço e quase nos matar. Temos que encurralá-la do mesmo jeito que fizemos antes!
— Saquei! Vamos usar o gás mais uma vez. Coloque sua máscara.
Como soldados bem treinados, colocaram seus respiradores em tempo hábil e liberaram duas bombas consecutivas de fumaça lacrimogênea, criando um enorme corredor de fumaça branca expansiva por toda a área ao redor do templo. Não era possível enxergar plenamente em nenhuma direção enquanto o gás persistia.
— Cubra minha retaguarda, não sabemos onde ela possa tentar fazer alguma coisa — disse um deles, com seu rifle em mãos.
O outro estava com o braço de apoio machucado, então teve que se contentar apenas com sua Beretta em mãos.
— Ela já deve estar caída e se contorcendo em algum lugar. Não vamos perder tempo! Cubra o lado direito que eu vou pelo meio.
O outro soldado ergueu uma sobrancelha, duvidando do plano do seu colega.
— Tem certeza que separar é uma boa ideia?
— Você quer passar o dia todo nesse jogo de pega-pega? Temos que terminar aqui logo e ver o que aconteceu dentro do templo! Caso você se depare com a bruxa, não perca tempo e coloque a porra de uma bala na cabeça dela, depois mais cinco no peito. É simples, não é? Não fomos treinados para esse tipo de coisa? Faça sua parte e eu faço a minha.
Com a confiança em linha, os dois soldados se desprenderam para tentar ocupar o máximo de território possível. Com a quantidade de gás liberado, seriam aproximadamente dois minutos até o gás perder concentração e começar a se dispersar rapidamente. Era tempo o bastante para agir.
Mas será que eles realmente tinham a vantagem?
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