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    Um mês inteiro. Ao sair da Selva de Concreto, com nada mais do que uma pequena caixa cheia de pílulas e suas armas, Samir dedicou todo dinheiro que tinha guardado para sumir do mapa. Desviou de todos os contatos ligados aos Bakir, evitou lugares movimentados e finalmente encontrou um comprador obscuro para seus recursos. Cada pílula seria vendida por quinhentas mil cédulas de draconis, o que seria suficiente para construir sua vida em qualquer outro continente do zero.

    Era um plano perfeito. Porém, não era atoa que o mais velho dos Bakir tinha uma reputação de ser uma das maiores promessas na nova geração de nobres do Santo Império.

    — Como diabos me achou? — questionou Samir, sacando o seu machado.

    — Eu tenho uma rede de contatos extensa, Samir. Eu tenho alguns amigos em Primeira Estrela, que conhecem alguns Adivinhos de Hecathia. Em alguns dias, eu sabia exatamente para onde você estava indo e até onde planejava ir. Magia é algo incrível, não é?

    — Sim. Pelo que vejo, você conta com isso para me derrotar, não é? — questionou Samir. — Lamento te desapontar, mas eu igualei o jogo.

    Leonard franziu os olhos, enquanto tentava detectar possíveis fontes de magia na proximidade. Para sua surpresa, o capitão da sua antiga força de mercenários, que sempre se destacou pela sua engenhosidade e táticas formidáveis, agora tinha seus meridianos completamente abertos e drenando mana dos arredores.

    — Então foi por isso que você resolveu abandonar seu posto e sua lealdade? Por ter seus meridianos abertos?

    Samir apoiou sua lâmina no ombro.

    — Foram mais de trinta anos lutando. Enfrentei dezenas de criaturas, homens e outras coisas usando dezenas de táticas possíveis. Apostei minha própria vida em todas elas, sem nenhuma perspectiva de retorno. Só os deuses sabem como cheguei tão longe. Porém, toda minha perspectiva mudou no instante em que meu corpo despertou para magia. Foi como se todo o peso da minha mediocridade estivesse levantado do meu ombro.

    — Não sei se tenho certeza disso, Samir — respondeu Leonard.

    — Por que não, Leonard? Eu tive que abaixar minha cabeça para muita gente mais nova, inexperiente e completamente burra das ideias apenas porque elas tinham o dom dos poderes superiores da magia. Mas isso acabou! Eu me igualei a você! Não sou mais um peão em suas mãos, mas sim um jogador também.

    — Você? — questionou Leonard, rindo. — Acha mesmo que um mês com seus meridianos abertos o colocam sequer aos meus pés?

    — Tem razão, não somos iguais. Eu matei tantos homens que poderia poluir esse oceano caso eu quisesse. Você é só um filhinho de papai que teve tudo na mão: os melhores professores, oportunidades, poder e gente pra limpar o seu rabo toda vez que fizesse merda. Hoje, vou te mostrar como é o mundo dos homens de verdade.

    Seu pé direito formou um buraco na madeira que o sustentava, impulsionando-o na direção do jovem. Seu corpo estava mais rápido, mais forte e seus sentidos muito mais precisos. O mercenário girou em torno do próprio eixo para tomar impulso e entregou uma poderosa machadada na direção da cabeça de Leonard, que aparou o impacto com sua espada.

    — Seus golpes estão melhores! — disse Leonard, provocando-o.

    O mercenário girou seu corpo e parou atrás dele, tentando conectar um chute em suas costas. Porém, Leonard se virou no exato momento e desviou do golpe. Mesmo assim, seu oponente não desistiu das investidas. Segurando o machado com as duas mãos, o ergueu acima da cabeça e realizou um golpe devastador, que forçou Leonard a usar a parte chata da lâmina apoiada pela sua mão.

    — E mais letais também! Isso eu o parabenizo, Samir!

    — Pode me parabenizar quando estiver a segundos da sua morte.

    Imediatamente, Samir soltou sua mão e sacou a pistola em seu coldre, realizando três disparos contra Leonard.

    Liga Solar: Guardião Solar!

    As balas desaceleraram quando entraram em contato com o escudo, mas o calor delas conseguiram causar uma marca na pele do jovem, que rangeu os dentes.

    — O tempo está acabando, Leo! — respondeu Samir, com o mesmo tom sarcástico.

    — Acho que cansei de brincar contigo, Samir.

    Empurrando o machado do mercenário para trás, Leonard fechou o punho e canalizou a mana através dele.

    Liga Solar: Punho Estelar!

    Sua mão começou a brilhar com uma profunda incandescência, iluminando todo o andar. Samir só teve tempo de proteger seu rosto cruzando os braços, antes do impacto atingir seu corpo como uma esfera de demolição. Uma onda de choque se formou no quarto, rachando as paredes e enviando o mercenário em alta velocidade para trás, fazendo-o quebrar a parede do quarto rumo ao lado de fora da casa.

    Samir caiu completamente devastado no manguezal, tendo o impacto amenizado pela água rasa da região. Sua costela direita estava quebrada e parte do seu esterno fraturado. Ao olhar para o seu machado, ela tinha partido em três pedaços. Seu corpo estava parcialmente submerso.

    — Então é assim que vai ser? — murmurou Samir.

    Seu olhar pairou em Leonard, que o encarava do topo do segundo andar, com aquela cara irritante de superioridade. Ele não entendia como podia perder de uma forma tão humilhante para um garoto que mal tinha começado a sua vida e que não possuía a mesma experiência vasta em combate.

    Leonard saltou do segundo andar até a área onde Samir tinha caído, pousando perfeitamente em pé. Sua espada permanecia completamente radiante e seu corpo estava completamente intacto, após ter invadido passado por quinze homens armados.

    — Você entendeu algo muito errado, Samir — disse Leonard, enquanto se aproximava a cada passo do seu oponente. — Esse pode sim ser o mundo dos homens, mas não dos homens medíocres. E você é alguém medíocre fingindo ser algo além disso. Se soubesse o seu lugar, não estaria morrendo nesse lugar sujo e miserável.

    O jovem nobre girou a espada em sua mão e a cravou no abdômen de Samir, com tamanha força que seu corpo ficou preso no chão. A lâmina incandescente queimava suas entranhas, enquanto fazia a água do mar borbulhar. Mesmo afundando em dor profunda, a única coisa que permitiu a Leonard escutar foi um pequeno e rouco gemido.

    — Durão até os últimos momentos, hein?

    Samir ergueu sua cabeça, mantendo-a fora da água.

    — Sempre quis dizer isso… então não tem… outro… momento melhor para falar — disse Samir, com dificuldades. — Vai se fuder, Leonard! Você… os Bakir… os Caraveche… e toda a… Mão Sombria!

    Com um simples aceno com a cabeça, Leonard colocou seu pé no abdômen do Samir, forçando todo o seu corpo a ficar submerso na água. Alguns segundos depois, o mercenário começou a se debater, tentando respirar de todas as formas. Porém, a força do seu oponente era muito maior que a sua naquele momento. O tempo foi passando, o ar foi saindo do seu corpo e sua visão escurecendo, até não sobrar mais nada.

    Algumas horas depois…

    Uma mesa, duas cadeiras e uma lamparina sobre a mesa do que sobrou do casebre. Leonard tomou um gole do seu café favorito em um copo de isopor, enquanto finalizava a sua carta. Pela casa, quatro dos seus homens rondavam o que sobrou da construção, procurando qualquer coisa que pudesse ser útil.

    Diferente dos mercenários e da milícia, que eram formados por humanos comuns, sua força especial era completamente composta por “Despertados”, ou seja, pessoas que também aprenderam a circular mana pelos seus corpos.

    — Amor! Você prometeu que tiraríamos essa noite apenas para curtir — disse Denise, entediada.

    — E ainda vamos. Mas eu preciso relatar ao meu pai sobre o meu progresso com brevidade.

    Um dos seus homens se aproximou, carregando uma caixa nos ombros.

    — Senhor, achei isso daqui no sótão — disse ele, abrindo-a.

    Embora não esperasse encontrar qualquer coisa útil ali, aquela caixa mudou suas perspectivas. As pílulas ali dentro eram radiantes, cheias de energia e perfeitamente refinadas. Leonard pegou uma delas em mãos e as olhou atentamente.

    — Que lindas! — disse Denise, com seus olhos brilhando.

    — Consegue me dizer do que são feitas, Denise?

    A jovem pegou uma delas e colocou em suas mãos. Canalizando sua mana, a garota infundiu um pouco dentro da pílula. Quando ela refratou sua energia pelos componentes e retornou para si, Denise tomou um susto, soltando-a dentro da caixa.

    — O que foi? É veneno? — questionou Leonard.

    — Não! Pelo contrário, é puro até demais. Não consegui identificar os elementos porque todos estavam fundidos com extrema perfeição! Amor, isso é uma pílula perfeita! Não devem ter sido feitas por qualquer processo conhecido pelos colégios alquímicos. Deveríamos levar isso para minha instrutora e quem sabe-

    — Não — respondeu o jovem, friamente. — Eu sei de alguém que terá bom uso para elas. Friedmann, mantenha a caixa selada, pegue mais alguém e leve de volta até a mansão em Santa Marília. Vou cuidar dela depois.

    Com um aceno de cabeça, o homem removeu a caixa da mesa e saiu porta afora. Era mais um problema resolvido, que iria gerar novas oportunidades no futuro.

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