Capítulo 32 – Cultivador errante.
O mundo estava em ruínas.
Fragmentos do céu caíam em forma de cinzas douradas, como se os próprios céus houvessem assistido àquela batalha com temor. Entre os montes desfeitos e florestas queimadas, dois vultos se enfrentavam com fúria silenciosa.
De um lado, Jeong Woon, o temido Semi-Deus da Seita do Céu Aberto, arfava com os joelhos quase cedendo. Sua pele rachada pela energia residual da última técnica ainda sangrava. Sua aura, que antes esmagava continentes, agora estava instável, quebrada.
Do outro lado, Baek Jin, o antigo Venerável do Clã Baek, mantinha-se ereto, embora seu corpo clamasse por rendição. Suas vestes estavam rasgadas, a pele marcada por feridas abertas, e a respiração pesada como rocha. Mas seus olhos… ardiam como raios cortando uma tempestade.
O silêncio entre os dois dizia mais do que mil palavras.
Jeong Woon rangeu os dentes, olhando para as mãos trêmulas.
— “Você… um simples ancião esquecido… ousa tocar o topo…?”
A resposta de Baek Jin foi o giro de sua espada espiritual.
A lâmina negra pulsava com energia espiritual.
Ele havia ativado a Terceira Forma da Lâmina da Aniquilação: Defesa do Vazio Inquebrável, e mesmo assim, mal havia conseguido se manter vivo diante do colapso do espaço conjurado por Jeong Woon. Não havia como vencer. Não com seu corpo fraturado. Não sem consumir o que restava de sua essência vital.
Foi então que Jeong Woon, com uma expressão de ódio e orgulho ferido, abriu um portal de emergência.
— “Vou me curar. Mas não acabou, Baek Jin. Quando retornar, levarei sua alma ao Inferno.”
O Semi-Deus recuou.
E Baek Jin, sem forças para impedir, caiu de joelhos no céu vazio.
Mas o colapso não chegou.
Pois naquele instante…
Uma luz azul-violeta o envolveu.
O espaço se dobrou.
E o silêncio absoluto engoliu tudo.
Baek Jin despertou flutuando sobre um mar translúcido. O céu acima era repleto de auroras espirituais, e a gravidade parecia obedecer à sua vontade. A dor havia cessado. O corpo estava envolto por energia espiritual pura, restaurando suas feridas.
Uma voz soou.
Ele respirou fundo.
Não havia júbilo, apenas alívio.
O sistema continuou:
Baek Jin franziu a testa.
A responsabilidade pesava em seu espírito. Cada escolha definiria sua nova trajetória.
Um círculo de elementos comuns flutuou diante dele: Fogo, Água, Relâmpago, Terra, Vento, Metal, Madeira e Natureza.
Seguido de elementos para constituições divinas: Luz, Escuridão, Espaço-Tempo, Vazio e Espírito.
Ele estudou cada um. Pensou em sua trajetória. Nos ataques, nas defesas. Na velocidade. Nas batalhas que enfrentaria. Nos inimigos que ainda estavam vivos.
— “A primeira…”
Ele ergueu a mão.
Um raio cortou o espaço, estalando ao redor de seus dedos.
— “Relâmpago.”
O raio envolveu seu corpo. Seus cabelos flutuaram. O coração pulsava como um trovão. Mas ele não parou ali.
— “A segunda…”
Ele se concentrou novamente.
Do outro lado de sua palma, um vórtice de água pura girou, refletindo as estrelas.
— “Água.”
As duas Leis começaram a girar ao seu redor.
Mas então… algo mais aconteceu.
As águas e os raios se fundiram, mesmo que levemente, formando técnicas híbridas, até então nunca registradas.
O sistema estremeceu.
Baek Jin abriu os olhos.
A energia ao redor explodiu.
— “O caminho está diante de mim. Meus inimigos caminham em silêncio… mas eu…”
Ele ergueu a espada espiritual, agora reconfigurada com os dois elementos. A lâmina parecia líquida em movimento, mas seus cortes trovejavam com fúria celestial.
— “…vou ruir os céus com os dois elementos mais puros da destruição.”
E foi então que um último aviso do sistema brilhou em sua mente:
Baek Jin não respondeu.
Mas seus olhos olharam para o horizonte da Dimensão Nova, onde um portal começou a se formar, girando como uma espiral de água e trovão.
Ele tinha o poder.
Ele tinha o conhecimento.
E agora, com as Leis do Relâmpago e da Água, ele tinha a tempestade.
…
O céu no final da tarde sobre as terras do Clã Go assumia uma tonalidade dourada, tingindo telhados e pátios com tons quentes e nostálgicos. Na parte leste do domínio do clã, erguia-se um edifício simples em estrutura, mas reverenciado por sua tradição e fama: o Restaurante Lua Nova.
Não importava se era um jovem discípulo faminto ou um Ancião com décadas de cultivo – ali, todos compartilhavam o mesmo teto, o mesmo vinho e a mesma língua afiada.
As mesas estavam cheias, e a fumaça do incenso se misturava com o aroma do licor espiritual, transformando o ambiente em um mar de palavras e boatos.
— “Você ouviu?! Dizem que a causa da guerra entre a Liga da Lâmina Celestial e a Seita do Céu Aberto foi por causa de uma mulher!”
— “A Capitã da Liga, Qian Xue… dizem que sua beleza faz flores se curvarem e espadas hesitarem. O herdeiro da Seita do Céu Aberto ficou obcecado por ela.”
— “Obcecado é pouco! Ele queria forçar um casamento, mas quem diria… Baek Jin aleijou o braço do garoto como se quebrasse um graveto.”
— “Esse Baek Jin… virou um monstro, não é? Dizem que agora é um Quase-Semi-Deus. E com aquele poder oculto misterioso que dizem que ele possui… é como se fosse guiado pelos próprios céus!”
Risos, comentários maldosos, louvores exagerados.
No fundo do restaurante, em uma mesa isolada e coberta pela sombra de uma coluna de madeira antiga, um homem ouvia em silêncio.
Tinha a aparência de um bêbado comum.
Alto, cerca de 1,82 metros, vestia um manto simples de cor acinzentada. O rosto parcialmente oculto por um chapéu de palha gasto pelo tempo, escondia os olhos que por vezes cintilavam em tom âmbar quando a luz os alcançava. Mechas prateadas caíam de seus longos cabelos negros, e uma cicatriz diagonal cruzava o olho esquerdo, desbotada, mas ainda viva com o peso das lembranças. Um cavanhaque malfeito adornava seu queixo.
Duas cabaças de licor espiritual repousavam em sua cintura, já meio vazias.
Ele sorvia o líquido como se fosse água, balançando suavemente o corpo como se estivesse prestes a desmaiar.
— “Baek Jin… esse nome não cessa no mundo mortal, de novo e de novo as pessoas desse lugar o mencionam, então?”
Sua voz foi engolida pelo burburinho, mas em sua mente, imagens do passado surgiam como estilhaços.
Uma espada cravada em um trono. Um manto rasgado pelo vento. Um nome banido do mundo.
Bebeu mais um gole. A garganta queimava, mas ele não se incomodava. Suas pernas, vacilantes, finalmente cederam ao álcool acumulado. Pagou a conta com uma moeda de prata enferrujada, e saiu cambaleando pelas ruelas de pedra.
O entardecer esfriava. As sombras se alongavam.
Num beco esquecido pelo mundo, entre sacos de arroz úmido e tábuas podres, ele caiu de cara num poço de lama. Seus cabelos se sujaram, o chapéu escorregou, mas ele permaneceu deitado, rindo para si mesmo.
Foi então que surgiram.
— “Olha só o que temos aqui, irmãos…”
— “Um bêbado com duas cabaças de licor caro… deve ter mais grana no bolso.”
— “Velhote, levanta e entrega tudo antes que o tornemos parte da lama!”
Cinco homens surgiram dos cantos do beco. Roupas rasgadas, sorrisos tortos. Três deles portavam facas, um segurava um porrete de ferro. O último, um cultivador de nível Guerreiro Marcial Inicial, ostentava um sabre torto no cinto.
O homem de chapéu de palha não respondeu.
Continuou rindo… até que ficou em silêncio.
O vento soprou.
As folhas se agitaram.
Então ele se ergueu com lentidão, como se seu corpo fosse feito de montanhas.
Seus olhos estavam abertos agora — intensos, afiados, olhos de alguém que já viu o nascimento e a queda de impérios.
Com um único gesto, retirou a espada que estava escondida sob seu manto, uma lâmina de aparência comum, mas antiga e silenciosa. A lâmina cortou o ar… e os cinco corpos caíram sem som. Sem sangue. Sem grito.
A espada foi embainhada.
O bêbado virou-se para o céu, olhando para a lua crescente.
— “Então é aqui… Clã Baek… Baek Jin… a Lâmina Silenciosa…Estou chegando…”
Ele caminhou para fora do beco, os passos firmes, embora carregados de lodo. Mas o mundo ao redor parecia nem respirar, como se o próprio ar estivesse tentando não provocar sua fúria.
Seu nome?
Poucos lembravam. Falar era proibido. Temido.
Um renomado cultivador do Continente Ocidental, aquele que perdeu tudo em uma única guerra, um passado apagado pelo tempo e pelas tragédias.
Mas seu destino estava traçado novamente.
E seu novo caminho apontava para Tianlong.
Para onde Baek Jin estava.
Para onde a história estava sendo reescrita.
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