O vale diante deles era silencioso demais. Como se o próprio mundo tivesse prendido a respiração. 

    Baek Jin mantinha-se na retaguarda do Pelotão da Lâmina Violeta, seus passos vagarosos acompanhavam o ritmo dos outros, mas seus olhos varriam o ambiente com atenção de um caçador experiente. O cheiro de terra queimada e sangue seco era intenso, embora invisível aos olhos dos mais jovens. A paisagem em ruínas à frente — árvores quebradas, pedras marcadas por golpes de lâminas e manchas escuras pelo chão — não era uma simples floresta. Era um campo de guerra recente. 

    “O Clã Yan… eles estiveram aqui. Ou morreram aqui.” 

    A mente de Baek Jin sussurrava, como se a própria alma reconhecesse o rastro de destruição. Suas lembranças da vida passada não continham aquele vale, mas seu instinto dizia tudo o que ele precisava saber: alguém lutou desesperadamente para sobreviver… e falhou. 

    — Parar. — A voz de Baek Dae Won cortou o silêncio como um aço raspando pedra. Ele girou sua lança com naturalidade e fincou-a no chão com firmeza. — Formem dois grupos. Vamos explorar o vale com cautela. 

    Havia tensão no ar. Seo Jun e Hwa Rin, ainda se recuperando de seus ferimentos anteriores, cambalhavam, mas não reclamavam. Os demais discípulos estavam nervosos, trocando olhares curtos, mãos suando contra os cabos das armas. 

    Baek Jin permaneceu em silêncio. Como sempre. 

    “Servo Mudo.” Era o apelido que lhe deram, e ele o aceitava sem resistência. A ignorância era uma boa máscara. 

    Sua respiração era controlada, lenta. Ele ainda sentia as consequências do Segundo Portão Interno, o Portão da Força. Abrir um dos Oito Portões causava mais do que dor física — ele forçava o corpo a canalizar o Qi com uma violência quase autodestrutiva. Seus músculos tremiam em repouso. Sua alma parecia em constante atrito com seu corpo, como uma fera selada exigindo liberdade. 

    Mas mesmo com a dor, havia poder. Um poder adormecido, prestes a despertar. 

    “O Segundo Portão… Aberto.” Ele repetia internamente. “Se já cheguei até aqui, posso alcançar os Oito. Mas… não agora.” 

    Aos olhos de todos, ele era apenas um servo idoso, de roupas manchadas e corpo encurvado. Cabelos grisalhos presos em um nó simples, a longa barba tocando o peito como as águas tranquilas de um lago. Seus olhos, no entanto, escondiam tempestades — profundas, silenciosas e densas. 

    — Baek Jin — grunhiu Dae Won, lançando-lhe um olhar breve. — Fique na retaguarda, como sempre. Se vir algo, não seja idiota. Avise. 

    Baek Jin apenas assentiu, sem uma palavra. 

    O grupo avançou. As botas pesadas dos discípulos afundavam em lama e folhas molhadas. O silêncio era apenas interrompido pelos rangidos das armaduras, respirações tensas e o ocasional farfalhar de arbustos. 

    De repente, pararam. 

    — Aqui… — disse Hwa Rin, apontando com a espada trêmula para uma clareira coberta de névoa fina. — Há corpos. 

    Baek Jin estreitou os olhos. 

    Eram cinco. Guerreiros caídos. As roupas em frangalhos indicavam o brasão do Clã Yan. Seus olhos abertos para o nada, expressões congeladas em choque e desespero. Nenhum deles parecia ter morrido facilmente. 

    — Isso foi recente… — murmurou Seo Jun. — Eles lutaram até o fim. 

    — Idiotas. — Baek Dae Won cuspiu no chão. — Nem souberam morrer com dignidade. Fiquem atentos, podem haver feras por perto. 

    Mas Baek Jin sabia. Aquilo não era obra de bestas comuns. Havia cortes limpos nos corpos. Qi residual no ar. A luta havia sido entre cultivadores… ou algo ainda mais perigoso. 

    Enquanto os discípulos começavam a revistar os corpos por pistas ou qualquer recurso útil, Baek Jin se afastou levemente, aproximando-se de uma árvore queimada. Encostou as costas no tronco grosso e respirou fundo, sentindo a pressão espiritual pairando no ambiente. 

    “Essas mortes… não foram em vão. O Clã Yan enfrentou algo ou alguém… acima do nível de um simples Guerreiro. Talvez até um Mestre.” 

    Ele fechou os olhos por um breve instante. Suas lembranças do mundo moderno o perseguiam nesses momentos — o escritório cinzento, os trens lotados, a rotina entorpecente. Lá, ele era apenas mais um. Mas aqui… mesmo com o corpo de um velho, ele tinha algo que poucos tinham: determinação inquebrável. 

    “Sofrimento é temporário. Humilhação também. Mas poder…” Ele abriu os olhos. “Poder permanece.” 

    — Baek Jin! — gritou um dos discípulos — Pare de cochilar e venha carregar isso! 

    Ele não respondeu. Apenas caminhou até o corpo do inimigo caído e o levantou nos ombros com facilidade. Os olhos do discípulo se estreitaram por um instante, surpresos com a força, mas logo virou o rosto com desdém. 

    — Hmph. Até servos envelhecidos podem carregar carne morta, não é? 

    Baek Jin não respondeu. Ele não precisava. Sua resposta viria… no tempo certo. 

    Eles continuaram a avançar pelo vale, e com cada passo, os pensamentos de Baek Jin se aprofundavam. 

    “Se o Clã Yan foi massacrado assim, e se formos os próximos… então preciso me fortalecer. Rápido.” 

    A guerra estava apenas começando. E naquele vale silencioso, escondido sob as sombras das árvores mortas, Baek Jin sentia que sua verdadeira jornada começava agora. 

    … 

    O campo de batalha estava silencioso enquanto o pelotão da Lâmina Violeta retornava ao acampamento, suas vestes sujas de poeira e manchas de sangue. O céu, tingido de laranja e vermelho pela queda do sol, parecia carregar a mesma tonalidade opaca da fadiga em seus rostos. Baek Jin caminhava junto aos outros membros, sua expressão vazia como sempre, seu olhar distante e imerso em pensamentos profundos. 

    Os outros membros estavam feridos, alguns mais gravemente, e a sensação de perda pairava no ar. Mesmo que o pelotão tivesse sobrevivido, a guerra contra as bestas e os inimigos humanos exigia muito de cada um. A dor e o cansaço eram tão evidentes que o campo de batalha se estendia muito além do simples combate físico. A alma de cada guerreiro estava marcada. 

    Baek Jin sentia os ecos daquela luta, a pressão do combate ainda reverberando em seus ossos. Seu corpo, ainda uma carcaça envelhecida, não estava preparado para tal esforço. Ele carregava os vestígios de sua fraqueza e, no entanto, algo em seu peito queimava, uma chama que se recusava a se apagar. Ele tinha se retirado para o fundo da formação, longe das interações, mas seus olhos estavam fixos, como sempre, na quietude do céu enquanto o grupo seguia para o acampamento. 

    Mesmo quando seus companheiros de pelotão falavam entre si sobre os desafios da missão, Baek Jin estava ausente, introspectivo, lutando com seus próprios demônios. Sentia os meridianos pulsando em seu corpo, ainda danificados, mas a energia interna agora fluía mais forte. Era um fluxo que não conseguia conter, mas também não podia dominar totalmente. Seus olhos se estreitaram enquanto caminhava, absorvendo aquela energia como um vórtice silencioso. Ele sabia o que precisava fazer. 

    Quando o pelotão entrou no acampamento e os membros feridos foram imediatamente levados para a ala médica, Baek Jin não se dirigiu a nenhum outro lugar. Sua missão, sua verdadeira missão, estava apenas começando. 

    Ele se afastou silenciosamente dos outros, indo em direção a um canto isolado, longe dos olhos curiosos e das perguntas que sempre vinham. Não era hora para respostas. Era hora de mais uma tentativa. 

    Baek Jin se sentou em silêncio, cruzando as pernas com dificuldade. Os sons do acampamento continuaram ao seu redor, mas ele fechou os olhos, buscando em seu interior. O processo era doloroso, quase insuportável, mas ele não iria parar. Abrir os Portões Internos era a única forma de mudar seu destino. 

    O Segundo Portão, o Portão da Força, ainda pulsava em seu corpo. A sensação da dor e do Qi denso dentro dele era como uma chama escaldante. Mas agora, ele tentava algo mais. Ele sabia que se conseguisse abrir o Terceiro Portão, o Portão da Alma, seu poder se expandiria drasticamente. Esse era o portão que separava os verdadeiros guerreiros marciais dos simples cultivadores. 

    Ele concentrou toda sua energia e focou nas acupunturas dentro de seu corpo. A dor foi imediata, como se seu próprio corpo estivesse sendo partido ao meio. Cada músculo, cada osso, parecia se retorcer debaixo da pressão do Qi que tentava liberar. O suor gelado escorria por sua testa, mas ele se manteve firme. Não havia retorno. 

    Os meridianos quebrados dentro dele não eram mais um obstáculo imbatível. A força interior que ele agora possuía era palpável. Seu Qi, tão denso quanto antes era fraco, agora parecia invadir seu corpo com um poder quase avassalador. Ele sentiu a dor, mas algo mais surgiu com ela. 

    Algo mudou. 

    Com um grito silencioso em sua mente, Baek Jin forçou seus meridianos, pressionando-os ao limite, tentando abrir o portão. E foi nesse momento que uma quantidade imensa de Qi foi absorvida de seu redor. Não era o suficiente para completar o processo, mas seu corpo foi preenchido com um Qi tão denso que sua presença imediata gerou um peso no ambiente ao seu redor. Era uma pressão espiritual crescente, intensa, que imediatamente fez com que o ar ao redor de Baek Jin se tornasse denso. 

    De seus poros, a energia espiritual começava a escapar, ondulando pelo ambiente. Seus olhos se abriram, e Baek Jin percebeu o que acabara de acontecer. Ele não havia aberto completamente o Terceiro Portão, mas tinha ultrapassado a barreira para se tornar algo mais. 

    Embora os membros do pelotão estivessem longe, um ou outro soldado e até mesmo alguns discípulos próximos à área perceberam a súbita pressão espiritual que emanava do local onde Baek Jin se encontrava. Eles o olharam com confusão, mas nenhum deles ousou se aproximar. Baek Jin, agora com uma pressão espiritual tangível, se levantou devagar. Ele não havia completado sua transformação, mas o que ele sentiu em seu interior era suficiente para que ele soubesse: estava mais forte. 

    Mais forte, mas ainda invisível. O silêncio era sua única proteção. 

    Ao longe, Baek Dae Won observava de longe, seus olhos estreitando-se. Ele não havia sentido nada extraordinário, mas um sutil desconforto lhe percorreu a espinha. Será que aquele velho… conseguiu avançar? 

    Baek Jin olhou para o horizonte. O pelotão retornaria às suas missões em breve. Mas ele sabia que sua verdadeira batalha ainda estava apenas começando. Não importava o quanto se escondesse. O poder que estava começando a se formar dentro dele não poderia mais ser negado. 

    Com isso, Baek Jin alcança uma nova etapa em sua jornada, tornando-se temporariamente mais forte, embora mantendo sua verdadeira força oculta. Ele está mais perto de se revelar, mas ainda não é o momento. 

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