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    O frio cortante do Desfiladeiro das Neves Cortantes parecia perder força frente à presença silenciosa que emergia do subsolo. A neve, antes calma e imóvel, agora caía em espirais nervosas, dançando como se alertasse o mundo de que algo terrível estava prestes a acontecer. 

    Baek Jin deu um passo à frente. Seus pés pousavam sobre a neve sem fazer ruído. Ao seu lado, Yoo Tae-Min observava em silêncio, ainda impactado pelo que haviam descoberto na Tumba do Imperador da Meia-Noite. 

    Mas o verdadeiro teste não seria entender a técnica… e sim sobreviver ao que os esperava do lado de fora. 

    Ao saírem pela abertura lateral da câmara subterrânea, depararam-se com figuras encapuzadas, organizadas em uma formação de cerco. Homens trajando túnicas negras com bordas vermelhas. Alguns possuíam olhos bestiais, outros dentes afiados como lâminas. A maioria exalava um Qi sombrio e denso, e suas auras variavam entre o pico do Reino Guerreiro e o início do Mestre Marcial. 

    Contudo, à frente deles, um homem distinto se destacava. 

    Alto, com cabelos longos trançados em fios negros como a noite. Seus olhos tinham um brilho carmesim, como brasas eternas. Ele portava uma lança de três pontas em suas costas, e seu manto de escamas negras oscilava com o vento como se tivesse vida própria. 

    — “Tumba roubada, herança profanada… e agora, vocês ousam sair com vida?” — A voz do homem soava firme, como se fosse feita de trovões abafados. — “Em nome da Seita da Noite Eterna, ofereçam suas cabeças e talvez eu permita que suas almas não sejam eternamente escravizadas.” 

    Tae-Min arregalou os olhos. As palavras dele não soavam como ameaça… mas como decreto. 

    Baek Jin deu um passo à frente, e seus olhos semicerraram-se ao reconhecer o símbolo bordado no manto do homem. 

    — “A Noite Eterna… então vocês ainda rastejam neste continente.” 

    O líder da formação estreitou os olhos. 

    — “Você nos conhece?” 

    Baek Jin não respondeu de imediato. Observou cada um dos trinta cultivadores ali. Quinze estavam no pico do Reino Guerreiro. Quatorze no nível inicial ou intermediário de Mestre Marcial. E o líder… sim, ele estava no auge do Mestre Marcial. 

    “Uma formação que poderia massacrar uma seita de médio porte…” pensou Tae-Min, engolindo em seco. 

    Mas ao lado dele, Baek Jin não mostrava a menor sombra de preocupação. Seus ombros estavam relaxados. As mãos cruzadas atrás das costas. E seus olhos… frios como a lâmina de uma espada antiga. 

    — “Tae-Min.” — chamou o mestre, sem tirar os olhos do inimigo. — “Está preparado para sua primeira aula prática?” 

    — “Aula prática…?” 

    — “Sim. Hora de aprender a diferença entre um cultivador… e uma lenda viva.” 

    Antes que Tae-Min pudesse responder, Baek Jin estendeu o braço direito à frente. Um simples movimento. Mas o vento ao redor pareceu parar. A neve congelou no ar. 

    A palma de Baek Jin brilhou com uma luz opaca. Uma aura púrpura envolveu seus pés, seus ombros, seus olhos. 

    Quatro Portões abertos. 

    Auge do Mestre Marcial. 

    Quase-Santo Marcial. 

    O líder da Seita da Noite Eterna recuou um passo. Suor brotou de sua testa. 

    — “Você… você é um dos Quase-Santos do Sul?!” — ele rugiu. 

    Mas já era tarde demais. 

    Baek Jin desapareceu da vista de todos. Um movimento tão rápido que até os cultivadores do Reino Mestre Marcial só viram um borrão prateado. Quando reapareceu, estava entre três inimigos. Suas mãos pareciam tranquilas, mas com um simples toque em seus peitos, o som de ossos se partindo ecoou no desfiladeiro. 

    Três corpos caíram. 

    — “Observe, Tae-Min.” — disse o mestre calmamente. — “Não lute contra a força. Redirecione-a. Controle o ritmo da batalha desde o primeiro instante.” 

    Outro cultivador correu na direção dele com uma espada flamejante. Baek Jin girou o corpo, desviando com meio passo e segurando o pulso do oponente com dois dedos. 

    Com um leve empurrão de Qi, o braço do inimigo explodiu. O homem gritou, mas antes que o som saísse completamente, um chute o lançou contra um dos pilares rochosos, esmagando seu corpo como uma fruta madura. 

    — “Use o ambiente. Use a força do oponente. E acima de tudo… nunca desperdice energia.” 

    Tae-Min observava de olhos arregalados. 

    Em menos de dez respirações, Baek Jin derrubara sete inimigos. Todos com movimentos mínimos, quase casuais. Como se estivesse ensinando caligrafia a uma criança. 

    — “Agora, sua vez.” — disse Baek Jin. 

    Dois cultivadores do Reino Guerreiro avançaram para cercar Tae-Min. 

    O jovem discípulo respirou fundo. Lembrou-se do que vira, do que sentira na Tumba. Do que havia prometido a si mesmo. 

    — “Se eu quiser poder… então preciso conquistá-lo.” — sussurrou. 

    Ele se moveu. A espada curta saiu da bainha como um raio. O primeiro inimigo atacou com uma lança, mas Tae-Min se abaixou, girou o corpo e cortou atrás do joelho do oponente. O homem gritou e caiu, apenas para ter a garganta perfurada em seguida. 

    O segundo hesitou. Tae-Min não. 

    Avançou com um grito feroz, seus olhos escarlates brilhando com fúria e foco. A lâmina cortou em linha reta. O sangue tingiu a neve. 

    Baek Jin sorriu. 

    — “Muito bem… essa é a sede de vingança que molda um verdadeiro cultivador.” 

    O líder da seita, agora pálido, recuava. 

    — “Você é um demônio…” — sussurrou. — “Você… você é Baek Jin! O velho servo do clã Baek!” 

    — “Errado.” — respondeu Baek Jin, caminhando em sua direção. — “Sou apenas um mestre. E você… será lição.” 

    Com um único movimento, Baek Jin ergueu a mão e canalizou o Qi da Tumba. A técnica recém-descoberta respondeu ao seu chamado. Uma sombra negra emergiu de sua palma. Silenciosa. Letal. 

    Selando os Céus — Primeira Forma: Palma do Crepúsculo 

    O líder não teve tempo de gritar. 

    A técnica caiu sobre ele como uma muralha. A alma do homem tremeu, seu corpo foi esmagado contra o chão com força descomunal. O silêncio que se seguiu foi sufocante. 

    Tae-Min ofegava. Estava coberto de sangue, mas firme. Seus olhos agora estavam mudados. 

    Baek Jin caminhou até ele e colocou uma mão em seu ombro. 

    — “O poder que você quer, Tae-Min… tem um preço. E a estrada está apenas começando.” 

    O garoto assentiu lentamente. 

    Atrás deles, os corpos da Seita da Noite Eterna juncavam o desfiladeiro. 

    A neve voltava a cair. Suave. Pura. 

    Mas agora, tingida de vermelho. 

    … 

    No interior do Salão de Missões do Clã Baek, o ar estava denso. As lamparinas penduradas balançavam levemente, lançando sombras oscilantes nas paredes de pedra fria. Cultivadores, discípulos e até instrutores veteranos estavam reunidos em torno do salão central, murmurando em tons baixos, como se qualquer palavra mais alta pudesse despertar uma calamidade. 

    Baek Jin havia retornado. 

    E com ele, não apenas Tae-Min e vestígios de uma tumba ancestral… mas o prenúncio de um novo caos. 

    Sentado à frente da multidão, o Ancião Baek Woon apertava os dedos sobre o encosto da cadeira, seus olhos estreitos fixos na silhueta que se aproximava calmamente pelo corredor. 

    Baek Jin adentrou o salão como uma sombra que ignorava o peso do mundo. Os cabelos longos estavam presos em um nó simples, e sua túnica azul escura trazia marcas de sangue seco nos ombros e mangas. Seu olhar era calmo. Vazio. E por isso mesmo… aterrador. 

    — “Ele voltou…” — sussurrou um dos discípulos externos, com a voz trêmula. 

    — “Ouvi dizer que esmagou trinta cultivadores sozinho… e matou o líder com um único golpe!” 

    — “Impossível… ele era só um velho inútil há uma semana!” 

    Os rumores explodiam como pólvora em uma fornalha. 

    Tae-Min caminhava atrás do mestre, cabeça erguida, mas ainda com os olhos marcados pela lembrança da luta. Sangue ainda secava em suas botas. 

    Baek Jin parou no centro do salão. Encarou os Anciãos sentados à frente. Ao lado de Baek Woon, o Patriarca Baek Mu-Hwan observava em silêncio, com os dedos entrelaçados à frente da boca. Seus olhos eram profundos como um abismo. Impossíveis de decifrar. 

    — “Relate o que viu.” — disse Baek Woon, tentando manter a voz firme. 

    Baek Jin fitou-o por um instante antes de falar. Sua voz era baixa, mas cada palavra cortava como uma lâmina bem afiada. 

    — “A tumba foi profanada por cultivadores da Seita da Noite Eterna.” 

    Um suspiro coletivo ecoou. 

    — “Usavam disfarces de bandidos e estavam eliminando caravanas mercantes, testando a movimentação das seitas locais. Um grupo de trinta cultivadores, dos quais quinze no pico do Reino Guerreiro, quatorze no início ou meio do Mestre Marcial. O líder… estava no auge do Mestre Marcial.” 

    — “E você está aqui. Vivo.” — murmurou Baek Woon. 

    Baek Jin apenas assentiu. 

    — “Ele não resistiu. Três movimentos foram suficientes.” 

    O silêncio que se seguiu parecia interminável. Não era apenas surpresa. Era medo. Um medo que crescia como ervas daninhas nos corações daqueles presentes. 

    Porque todos sabiam o que significava eliminar um cultivador no Auge do Mestre Marcial com tamanha facilidade. 

    — “Você está dizendo… que derrotou um dos líderes da Seita da Noite Eterna com três movimentos?” — perguntou um Ancião com a voz embargada. 

    — “Não.” — respondeu Baek Jin. — “Estou dizendo que o executei. Derrotá-lo implicaria em alguma dificuldade. Ele sequer tocou em mim.” 

    As palavras caíram como um trovão. 

    — “Céus…” — alguém murmurou. — “A Lâmina Silenciosa… é real.” 

    O apelido surgiu como fogo em palha seca. 

    Lâmina Silenciosa. 

    Não por gritar. Não por se exibir. Mas por ceifar vidas com uma frieza tão aterradora que a própria morte parecia calar-se em sua presença. 

    Nos dias seguintes, os rumores se espalharam como uma tempestade atravessando montanhas. 

    Das vilas fronteiriças até os grandes pavilhões de artes marciais, o nome Baek Jin — ou como passaram a chamá-lo, a Lâmina Silenciosa — varria o continente. Mercadores cochichavam sobre o velho cultivador que derrotou uma força de elite com as próprias mãos. Jovens discípulos treinavam com vigor, sonhando alcançar aquele nível de poder. Mas em algumas seitas… o nome não causava admiração. 

    Causava pânico

    Na fronteira norte, na Seita Espada Celestial, o Líder da Aliança Justa, o Santo Marcial Hwan Yeong, meditava em um salão de jade. Seu corpo resplandecia como se banhado em luz sagrada, e sua espada espiritual flutuava acima da cabeça. Ao ouvir o relatório dos espiões sobre a morte do líder da Seita da Noite Eterna, ele abriu os olhos lentamente. 

    — “Baek Jin…” — murmurou. — “Esse nome desapareceu por três décadas.” 

    Um dos guardas se ajoelhou. 

    — “Há rumores de que alcançou o nível de Quase-Santo. Com quatro portões abertos.” 

    Hwan Yeong não respondeu de imediato. Seus olhos vaguearam até uma tapeçaria antiga mostrando os grandes heróis da história murim. 

    — “Se ele ainda estiver crescendo… poderá me alcançar.” 

    Do outro lado do continente, nas profundezas do Deserto do Fim das Areias, o Lorde Demônio Wei Long, líder da Seita do Paraíso-Crepúsculo, gargalhava enquanto bebia sangue de um cálice esculpido em osso humano. 

    — “Hwahahaha! A Lâmina Silenciosa matou aquele idiota?” — bateu o cálice na mesa. — “Excelente. Isso fará os cães da Aliança Justa se mexerem. Mais caos… mais corpos… mais Qi para devorar.” 

    Seu olhar escureceu por um momento. 

    — “Mas se ele for mesmo o mesmo Baek Jin de antes… terei que esmagar esse velho antes que ascenda ao trono dos Santos.” 

    Os dois grandes pilares do mundo murim… agora estavam de olhos voltados para o mesmo nome. 

    Baek Jin. 

    Enquanto isso, no Clã Baek, Tae-Min observava o mestre de longe, sentado sob uma cerejeira no pátio lateral. A expressão do jovem era de reverência… mas também de inquietação. 

    — “Mestre…” — disse, aproximando-se. — “Por que não escondeu sua força? Agora todos o temem.” 

    Baek Jin não respondeu de imediato. Suas mãos estavam cruzadas sobre o colo, os olhos voltados para o céu nublado. 

    — “Medo… é uma espada de dois gumes.” — disse por fim. — “Alguns se afastarão. Outros tentarão me destruir antes que eu me torne incontrolável.” 

    — “Então por quê?” 

    O velho mestre sorriu. 

    — “Porque os ratos precisam saber que o dono do templo voltou.” 

    Naquele momento, um corvo negro pousou sobre o muro. Preso em sua perna, um pergaminho selado com cera roxa. 

    Baek Jin estendeu a mão, leu o conteúdo rapidamente e entregou a Tae-Min. 

    — “Convocação oficial da Seita Espada Celestial…” — murmurou o jovem. — “Eles querem se encontrar com você?” 

    O mestre assentiu. 

    — “O jogo começou. E cada rei começará a mover suas peças.” 

    E assim, nas sombras do mundo murim, onde Dragões Escondidos e Tigres Agachados tramavam silenciosamente, a figura solitária da Lâmina Silenciosa tornou-se o novo eixo do caos. 

    Mas o mundo ainda não compreendia… que essa lâmina, fria e silenciosa, jamais recuaria. E que o sangue a banhar seu fio… era apenas o começo. 

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