Capítulo 13 – Santo Marcial Hwan Yeong.
Nas montanhas enevoadas da Seita Espada Celestial, o tempo parecia mover-se mais lentamente. As árvores antigas, de troncos retorcidos e folhas prateadas, estalavam suavemente sob o vento das alturas. Pássaros espirituais planavam acima dos telhados de jade e das torres de treinamento, enquanto cultivadores silenciosos meditam em plataformas de pedra.
Em um dos salões mais antigos da seita, moldado inteiramente em mármore branco e adornado com tapeçarias douradas que contavam os feitos lendários de heróis antigos, um homem de manto celeste repousava em silêncio.
Hwan Yeong, o Santo Marcial e líder da Aliança Justa.
Com mais de cento e cinquenta anos, sua presença ainda era esmagadora. Seu cabelo prateado descia até a cintura, preso por uma coroa ornamentada com cristais de Qi condensado. A aura que o rodeava era pura e pesada, como a luz do próprio céu. Seus olhos eram dois sóis em miniatura, profundos e luminosos.
Diante dele, ajoelhado em posição de respeito, estava seu neto: Hwan Ji-Ran, um jovem de dezenove anos, rosto fino e olhos determinados. Sua túnica de discípulo principal era impecável, e a espada em suas costas brilhava com uma leve luz azulada.
— “Vovô…” — Ji-Ran falou com voz hesitante, mas firme. — “A história sobre a Lâmina Silenciosa… é mesmo verdadeira?”
Hwan Yeong não respondeu de imediato. Seus olhos estavam voltados para uma tapeçaria no centro do salão. Ela retratava um antigo torneio regional, e entre os jovens cultivadores pintados, havia um rapaz de túnica preta, cabelos presos num coque simples, e olhos tão calmos quanto um lago profundo.
— “É verdade…” — murmurou o velho mestre. — “Mas poucos ainda se lembram daquele nome… Baek Jin.”
Ji-Ran ergueu a cabeça.
— “Baek Jin…? Ele era do Clã Baek?”
Hwan Yeong fechou os olhos por um momento, como se evocasse memórias soterradas sob décadas de poeira.
— “Trinta anos atrás, Baek Jin era conhecido como o gênio número um da geração dele. Nenhum discípulo externo ousava enfrentá-lo em combate, e até mesmo os anciões do Clã Baek diziam, em voz baixa, que o trono de Patriarca lhe pertencia por direito. Seu talento para cultivar era assombroso… e sua espada era mais afiada do que qualquer outra.”
Ji-Ran engoliu seco.
— “E o que aconteceu?”
Hwan Yeong abriu os olhos. A luz que neles havia se apagado por um instante, agora voltou mais intensa.
— “O mundo murim é vasto e cruel. Um dia, Baek Jin foi enviado em missão para investigar movimentações estranhas no sul. Não voltou por meses. Quando retornou, seus olhos estavam apagados… sua alma quebrada.”
— “Ele… foi derrotado?”
— “Mais do que isso.” — respondeu o velho, com a voz pesada. — “Enfrentou um dos braços direitos do Lorde Demônio da Seita do Paraíso-Crepúsculo. Era jovem demais. Corajoso demais. E, por isso, imprudente. Seus meridianos foram destruídos. Sua fundação… esfarelada.”
Ji-Ran arregalou os olhos.
— “E… ninguém o ajudou?”
Hwan Yeong apertou levemente o punho.
— “O Clã Baek tentou. Mas há lesões que nem mesmo os maiores mestres do continente podem curar. Sem seu talento, sem seu Qi, ele foi relegado às sombras do clã. Transformaram-no em um servo. Uma sombra que varria folhas e servia chá aos jovens que antes o admiravam.”
O silêncio caiu pesado sobre o salão.
— “Então é por isso que ninguém reconheceu sua aparência atual…” — murmurou Ji-Ran, em voz baixa.
— “Sim. Ele viveu em reclusão por décadas. Dizem que nunca mais saiu do pátio nos fundos da montanha do clã. Seu nome desapareceu até mesmo dos registros dos anciãos. Era apenas… um homem quebrado.”
O jovem discípulo rangeu os dentes.
— “E agora ele voltou. Como um Quase-Santo Marcial… Como isso é possível?”
Hwan Yeong fitou o neto por longos segundos antes de responder.
— “Porque algumas chamas não se apagam com o tempo. Apenas ardem em silêncio… até que o vento certo as desperte novamente.”
O velho mestre se ergueu lentamente. Sua túnica ondulou com um leve brilho de luz sagrada.
— “Baek Jin voltou. Mas não é mais o gênio do passado. Não… ele é algo novo. Algo perigoso. Ele está além do orgulho, além da ambição. Um homem que perdeu tudo… e ainda assim levantou-se sozinho.”
Neste instante, um som de passos apressados ecoou pelos corredores. Um servo vestido com as cores da seita parou à entrada do salão, curvando-se profundamente.
— “Perdoem a interrupção, mestre… mas…”
— “Fale.” — disse Hwan Yeong, sem virar-se.
O servo respirou fundo.
— “A Lâmina Silenciosa… chegou.”
Um silêncio sepulcral dominou o local. Hwan Ji-Ran sentiu um frio na espinha, mesmo sem ter visto o homem.
Hwan Yeong não sorriu. Mas seus olhos brilharam com um misto de expectativa e algo que raramente sentia: cautela.
— “Prepare o salão de jade.” — ordenou. — “Hoje… as antigas lendas voltam a andar sob o céu.”
…
O Salão de Jade, reservado apenas aos encontros mais grandiosos entre os titãs do mundo murim, exalava uma aura de solenidade ancestral. Suas paredes de jade espiritual, entalhadas com constelações esquecidas e selos de eras antigas, reverberavam uma leve pulsação de Qi celestial, como se o próprio tempo hesitasse em avançar naquele lugar.
Na extremidade do salão, sob o símbolo dourado da Espada Celestial gravado no alto da cúpula, Hwan Yeong permanecia de pé. Seu semblante, acostumado a enfrentar tempestades e massacres sem vacilar, agora revelava sinais de impaciência. Os dedos das mãos ocultos nas mangas longas de seu manto azul celeste se contraíam levemente. Seus olhos, treinados por décadas a não demonstrar emoções, buscavam em silêncio a entrada imponente do salão.
— “Então… ele realmente retornou dos mortos?” — murmurou para si, as palavras evaporando antes de chegarem ao chão.
As portas se abriram.
O som ecoou como trovão abafado, e todos os olhares dos guardas e anciões presentes se voltaram.
A figura que surgiu caminhava lentamente, sem pressa, sem cerimônia, mas cada passo seu reverberava como um tambor ancestral.
Baek Jin havia retornado.
Não como o jovem de vinte anos que o mundo murim uma vez exaltou.
E tampouco como o servo esquecido dos últimos trinta anos.
Diante dos olhos do Santo Marcial, surgia um homem de 34 anos, de presença marcante. Seus longos cabelos, presos em um rabo de cavalo firme, caíam como uma cascata cinza-escura, com tons que oscilavam entre o negro e o prateado, refletindo a luz do salão como um aço polido. Seu rosto, agora maduro e imponente, trazia uma barba cerrada cuidadosamente mantida em forma de cavanhaque escuro, que acentuava sua mandíbula forte e o olhar penetrante.
Vestia-se de maneira sóbria — uma túnica negra sem adornos, apertada nos ombros largos e nos braços marcados por anos de prática silenciosa. Não havia joias. Não havia brasão de clã. Apenas a presença opressora de alguém que retornava dos abismos com as mãos limpas e a alma ferida.
Os olhos de Hwan Yeong se arregalaram.
— “Você…” — ele murmurou, como se as palavras lhe escapassem da garganta — “parece… exatamente como há décadas atrás. Não, parece ainda mais letal.”
Baek Jin fez uma reverência breve, porém cortês.
— “Lorde Hwan. Agradeço por me receber.”
A voz era grave, profunda, e ressoava como um trovão distante no início do verão.
— “Os céus têm olhos, afinal…” — disse Hwan Yeong, ainda absorto. — “Ouvi rumores, é claro. Mas vê-lo com meus próprios olhos… é como assistir um fantasma do passado se materializando.”
Baek Jin manteve o silêncio. Apenas observava. A presença do Santo Marcial diante dele parecia não intimidá-lo nem um pouco.
Hwan Yeong finalmente soltou um suspiro longo, como quem aceita um destino inevitável.
— “Você sabe, Baek Jin… durante muito tempo, você foi o orgulho silencioso do Clã Baek. Quando tinha apenas vinte anos, era considerado um dos Dragões Escondidos de todo o Norte. Mas então… desapareceu.”
O Santo Marcial caminhou alguns passos, em círculo, como se reorganizasse memórias esquecidas.
— “Disseram que enfrentou um cultivador demoníaco nas Montanhas Negras. Que teve seus meridianos destruídos em batalha. Que retornou ao clã como um aleijado… e depois foi relegado à vida de servo.”
Baek Jin respondeu com a mesma tranquilidade.
— “A verdade raramente importa, lorde Hwan. Apenas as aparências e os feitos sobrevivem.”
— “E agora…” — continuou o ancião, com um sorriso enviesado — “você retorna como… A Lâmina Silenciosa. Aquele que derrotou um Mestre Marcial da Seita da Noite Eterna com um único golpe.”
Os olhos de Baek Jin cintilaram brevemente.
— “Foram… aulas práticas para meu discípulo.”
— “Aulas práticas?” — Hwan Yeong riu suavemente, com um toque de amargor e admiração. — “Muitos dizem que você já é um Quase-Santo. Que abriu quatro portões internos. Isso… isso não é algo que se vê em alguém de fora das grandes seitas há séculos.”
— “É apenas o resultado de cultivar em silêncio.” — respondeu Baek Jin, encarando-o de igual para igual.
Hwan Yeong cerrou os punhos.
— “Então… você é mais forte do que nunca. Mais letal. Mais maduro. O tempo não te enfraqueceu, Baek Jin. Ele te forjou.”
Baek Jin não respondeu.
O silêncio pesou no salão como o próprio céu.
E então, o Santo Marcial Hwan Yeong tomou sua decisão.
— “Há décadas, sonhei em ver sua espada verdadeira. Mas nunca tivemos essa chance.” — sua voz ficou mais firme, seus olhos queimando com a sede da verdade — “Antes que você retorne à sua sombra… permita-me testar sua lâmina.”
Baek Jin inclinou levemente a cabeça.
— “Está sugerindo um duelo, lorde Hwan?”
— “Um duelo amigável.” — respondeu o Santo Marcial, dando um passo à frente. — “Apenas trocas de golpes. Nada mortal. Quero ver o que sua lâmina esconde após tanto silêncio.”
Baek Jin respirou fundo.
Seus olhos brilharam com uma luz fria. Então, lentamente, estendeu a mão ao lado do corpo.
De sua sombra, uma lâmina negra e curva emergiu, como se moldada pela própria noite. A energia ao redor oscilou. O ar tornou-se mais denso.
— “Então olhe com atenção.” — disse Baek Jin. — “Pois essa lâmina não foi forjada para exibição.”
Hwan Yeong sorriu. E em um instante, liberou sua aura.
O Salão de Jade tremeu.
O Qi celestial do Santo Marcial explodiu como uma tempestade controlada, ondulando como marés de luz dourada e prata, envolto em glifos sagrados que dançavam ao redor de seu corpo.
Baek Jin permaneceu imóvel.
Não havia pressão visível em seu corpo. Apenas o vazio. O absoluto silêncio de alguém que havia transcendido a necessidade de exibir força.
Então, sem aviso… os dois se moveram.
As lâminas colidiram com um estrondo que ecoou por todo o templo.
O chão de jade rachou. As colunas tremeram. Guardas nas extremidades cambalearam. As tapeçarias foram lançadas para trás como se atingidas por uma tempestade súbita.
Mas no centro do impacto, os dois permaneciam ali. Lâminas cruzadas. Olhos nos olhos.
— “Você… evoluiu.” — disse Hwan Yeong, suando pela primeira vez em muitos anos.
— “Eu apenas retornei ao que sempre fui.” — respondeu Baek Jin, empurrando a lâmina adiante.
A batalha entre lendas não era mais uma promessa. Era realidade.
E o mundo murim jamais seria o mesmo após o reencontro dessas duas forças adormecidas.
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