Capítulo 14 – Duelando contra um Santo Marcial.
O ar no Salão de Jade se partia em estilhaços invisíveis.
Lâminas cruzavam como relâmpagos dançando em meio a trovões. A cada choque entre as espadas de Baek Jin e Hwan Yeong, as colunas ancestrais do salão tremiam como se os próprios céus testemunhassem a colisão de dois destinos inevitáveis.
O duelo já durava sete respirações.
Sete.
E, para um confronto entre dois especialistas no caminho marcial, era o equivalente a cruzar mil golpes.
Hwan Yeong, vestindo sua túnica azul celeste já desgastada pelas ondas de Qi, dava um passo para trás, pela terceira vez. Uma fina linha de sangue escorria pela comissura de seus lábios. Não por um corte físico, mas pela pressão interna que seu corpo sofria ao absorver os contra-ataques precisos de Baek Jin.
— “Quatro portões… com essa ferocidade?” — murmurou mentalmente, os olhos semicerrados. — “Não… isso não é apenas força física. Ele… ele está batendo à porta do quinto.”
Baek Jin avançava com uma compostura quase sobrenatural. A túnica negra se movia ao sabor do vento gerado pelos próprios passos. Seus olhos, acinzentados como o céu antes da tempestade, ardiam com um brilho que não pertencia ao mundo dos homens comuns.
Com o cavanhaque alinhado e os longos cabelos cinzentos escuros presos firmemente, ele parecia um deus guerreiro renascido. Em sua mão direita, a lâmina curva sussurrava como uma serpente negra — não com fúria, mas com precisão assassina.
— “Hwan Yeong…” — sua voz era calma, porém cortante — “não subestime mais minha espada.”
O Santo Marcial rangeu os dentes.
— “Eu não subestimei.” — respondeu entre os dentes. — “Mas agora vejo… que acabei despertando um monstro.”
As palavras ficaram apenas em seus pensamentos. Ele jamais admitiria aquilo em voz alta.
De quantas batalhas havia participado nos últimos anos? Quantos jovens talentos havia esmagado antes mesmo que florescessem? Hwan Yeong tinha seis portões internos abertos — um feito que o colocava entre os titãs silenciosos do mundo murim. No entanto… sentia-se pressionado.
A cada avanço de Baek Jin, seus músculos doíam mais.
A cada bloqueio, seu Qi oscilava.
E, em um instante de confronto direto, quando os punhos se cruzaram, Hwan Yeong viu o brilho azulado emergindo do núcleo espiritual do outro.
— “Isso é…?!”
O quinto portão. Ele viu. Não totalmente aberto. Mas trincado.
Como se, a cada impacto de sua espada, Baek Jin batesse às portas do impossível com os punhos nus.
BANG!
Os dois se afastaram ao mesmo tempo. Baek Jin cambaleou dois passos. Hwan Yeong três.
Os olhos do Santo Marcial se estreitaram.
— “Se eu deixar esse homem continuar… em poucos anos, ele me ultrapassará.” — o pensamento passou como uma flecha — “E se ele abrir o quinto portão agora… posso acabar perdendo essa luta. Mesmo sem usar toda minha força, isso seria… vergonhoso.”
A vergonha. Um sentimento que ele não experimentava há anos.
Então, sem hesitação, Hwan Yeong girou a lâmina em um arco perfeito e liberou o sexto portão.
Um trovão explodiu no salão. A pressão aumentou como o peso de uma montanha sobre o oceano. As runas nas paredes tremiam, e até os anciões nas câmaras ocultas recuaram em silêncio.
Baek Jin sentiu os joelhos fraquejarem por um instante.
— “Esse é… o verdadeiro nível de um Santo Marcial de seis portões?”
Mas mesmo diante da tempestade, ele firmou a postura.
Com os olhos semicerrados, sentiu dentro de si algo despertar. Algo antigo. Um vestígio de sua juventude. O traço de um gênio que uma vez foi o orgulho de toda a Seita Celestial do Norte.
No instante em que Hwan Yeong desceu com sua espada envolta em Qi dourado, Baek Jin ergueu sua lâmina negra para o céu e gritou em seu coração:
— “Mais um passo… apenas mais um…!”
O impacto veio como uma avalanche de relâmpagos.
A lâmina negra de Baek Jin se partiu ao meio.
Seu corpo foi lançado contra uma coluna, que ruiu em pedaços, cobrindo-o em poeira e pedras. Um silêncio absoluto se abateu sobre o salão.
Hwan Yeong permaneceu parado, ofegante. A mão direita tremia levemente.
— “Eu… venci.” — murmurou, mas não havia orgulho em sua voz. Apenas espanto.
Baek Jin se levantou lentamente, empurrando uma pedra que pesava quase uma tonelada. Seus olhos ainda brilhavam. Seus lábios sangravam. Mas ele estava sorrindo.
— “Obrigado… lorde Hwan.” — disse, tossindo um pouco de sangue. — “Essa… foi uma aula valiosa.”
Hwan Yeong respirou fundo.
— “Você perdeu, mas…” — engoliu em seco, sem completar a frase.
Mas dentro dele, pensamentos explodiam em cascata:
“Esse homem tem apenas quatro portões… e me forçou a abrir o sexto.”
“Quantos anos se passaram desde meu auge? Mesmo sem usar cem por cento, fui pressionado… e ele… ainda não chegou ao quinto.”
“Acho… que acabei despertando um monstro.”
Baek Jin se curvou respeitosamente.
— “Prometi não quebrar nada… espero que me perdoe pela coluna.” — disse com ironia sutil, o sangue ainda pingando do queixo.
Hwan Yeong soltou uma risada breve.
— “Essa coluna é antiga… mas não tão valiosa quanto esse duelo. Vá. E cultive. O mundo murim precisará de você… mais cedo do que pensa.”
Baek Jin assentiu. Os guardas abriram as portas do salão sem que fosse necessário um comando.
Ao sair, sua presença parecia diferente.
Não por causa da derrota, mas por causa do limiar que tocara.
Havia tocado o quinto portão. O corpo ainda não havia assimilado, mas a alma sim.
E aquilo era o suficiente.
— “Voltarei.” — sussurrou para si mesmo, caminhando pela escadaria de jade que levava de volta ao domínio do Clã Baek.
Dentro do salão, Hwan Yeong ainda olhava para o ponto onde o outro havia caído.
Seus dedos ainda tremiam levemente.
E então ele sorriu, amargo.
— “…Aquele homem… já não pertence a este tempo. Ele pertence aos céus.”
O monstro havia sido despertado.
E o mundo ainda não sabia o preço que pagaria por isso.
…
A poeira ainda dançava entre os raios do entardecer quando Baek Jin desceu as escadarias de jade.
Cada passo ecoava baixo no pátio silencioso do Salão da Ascensão Marcial, onde mestres e monstros haviam cruzado lâminas por gerações. Mas agora, aquele som era apenas dele.
Seu corpo, ainda marcado pelo duelo com Hwan Yeong, doía.
Os músculos se retesavam, o sangue ressoava em seus ouvidos, e o Qi dentro de seus quatro portões pulsava como tambores antes da guerra.
No entanto, não era o corpo que mais pesava naquele momento.
Era a alma.
Enquanto caminhava pelas trilhas de pedra que levavam de volta aos limites do território do Clã Baek, seu olhar vagueava pelas copas das árvores antigas, pelas nuvens que se distorciam ao longe… e então, fechou os olhos.
E lembrou.
Trinta anos atrás.
Um jovem com longos cabelos negros, amarrados em um laço carmesim, descia com velocidade a colina sul do Salão Marcial. Seus olhos eram afiados como punhais, e sua risada ressoava alta, como se o mundo fosse pequeno demais para conter seus sonhos.
Aquele era o antigo Baek Jin.
“A próxima geração será minha.” — dizia com orgulho juvenil, enquanto seus irmãos marciais o seguiam, rindo, cheios de esperança.
O talento que ele carregava nos ossos era tão puro que até os Anciãos o tratavam com reverência. Os portões internos haviam se aberto para ele com facilidade assustadora. A cada batalha, a cada exame marcial, era como se um novo dragão acordasse em seu corpo.
Mas então… Wei Donghae apareceu.
Não um cultivador comum.
Um servo direto do infame Lorde Demônio Wei Long — o flagelo do norte, aquele que trouxera calamidade às seitas de todo o continente.
Wei Donghae não era apenas um assassino. Ele era uma sombra. Uma espada silenciosa que cortava o destino dos gênios antes mesmo que suas asas se abrissem.
A emboscada fora cruel.
Ninguém do clã sabia. Nenhuma proteção chegara a tempo.
Quando o corpo do jovem Baek Jin foi encontrado, ele ainda respirava — mas seus meridianos estavam quebrados. Como raízes apodrecidas, retorcidas por dentro.
O clã tentou curá-lo. Os Anciãos imploraram por pílulas celestiais e elixires raros.
Mas não houve salvação.
De estrela em ascensão, Baek Jin foi reduzido a servo. Um cultivador caído. Um nome esquecido nos registros silenciosos do Clã Baek.
Uma lenda interrompida antes de florescer.
Agora, décadas depois, aquele mesmo corpo caminhava outra vez pelas trilhas do poder.
Mas não era mais o mesmo Baek Jin.
Era um homem reencarnado. De um mundo moderno, onde as leis eram diferentes, mas onde o desejo de vingança era ainda mais vívido.
Seu olhar se estreitou enquanto caminhava.
— “Wei Donghae…”
Esse nome ainda queimava como ferro quente em sua memória. Um nome que trazia o gosto do sangue, o som de ossos se partindo, e o cheiro de derrota.
— “Na minha vida anterior, vi muitos tiranos se esconderem atrás de muralhas-escritório e fortalezas empresariais, esperando que o tempo apagasse seus pecados.”
— “Mas neste mundo, os céus têm olhos.”
Ele parou diante de uma pequena ponte de pedra. O som da água correndo por baixo era calmo, mas em sua mente, era como se mil trovões rugissem.
— “Aquele que destruiu os sonhos de um garoto… aquele que cortou minhas raízes…”
Seus punhos se cerraram, os dedos estalando com o fluxo instável de Qi.
— “Você não escapará.”
— “A promessa que fiz naquele dia… gravada nos ossos… será cumprida.”
O vento soprou por entre as árvores, como se os próprios céus respondessem.
E dentro de si, Baek Jin sentiu o eco do quinto portão. Ainda trincado. Ainda fechado.
Mas não por muito tempo.
A cada passo, sua presença parecia mais sólida. Como uma espada sendo forjada com cada batida do martelo.
Wei Donghae talvez pensasse que seu crime havia sido esquecido.
Mas a lâmina silenciosa que ele havia tentado destruir… agora caminhava novamente.
E ela queria sangue.

Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.